Palavras de Heagle escrita por Heagle


Capítulo 127
A ameaça. Ou "O trote". Como preferirem.


Notas iniciais do capítulo

Olááá minhas leitoras e leitoreslindos. Eu sei, me desculpa ter sumido por uma semana ou mais... é que nesses ultimos dia, minha vida tomou um rumo que até então eu desconhecia. Vocês sabem que sou diretamente ligada à Marietta, né? Pois bem, na mesma forma que a vida dela tava mudando... a minha esta mudando. Agora.
Sexta feira sai meu resultado da UNESP, que é a universidade estadual daqui do meu estado. Farei Jornalismo em Bauru, se tudo der certo. Porém, antes disso... fui abençoada com uma bolsa integral de studos na fundação, de Jornalismo também, e fui efetivada no meu serviço.
Haja coração pra aguentar tantas notícias, ein? Agora, seja que Deus quiser, tudo vai dar certo. E espero que gostem desse cap, fiz com um pouco de inspiração, mas muito muito carinho.
E a cena de você é IMPORTANTISSIMA para a reta final da primeira temporada da nossa fic. Conto com vocês para avaliar.
Beijos, Heagle.



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Querendo ou não, as coisas mudaram. E ao menos percebi.


Depois do episódio do banheiro, em que a gastrite e o remorso pioravam minha situação, o clima entre eu e Matthew havia esfriado.


Temendo cair em contradição a qualquer momento, comecei a evitar conversas longas. Limitava-me a dizer um “agora preciso ir” ou “estou cansada, vou para meu quarto”. Com o tempo, as conversaram tornaram-se ainda mais curtas, quase que um cumprimento. Toda vez que sentia que Matthew queria compartilhar algo comigo, dava uma desculpa e saía.


– Lamento que isso esteja acontecendo. – disse Melissa, abraçando-me, quando percebeu o que estava acontecendo. – Lamento mesmo. Vocês são tão tolos. Tão...


– Você promete que nunca, nunca vai contar nada para Matthew? – implorei, juntando as duas mãos. – Prefiro viver longe dele do que...


– Marie, sempre estive contigo, não? Não vou dizer nada. Eu te prometo.


Afastando-o de mim, aquele fantasma da traição, do ciúmes e do remorso ficavam longe de mim. Talvez, realmente, fosse o melhor.


Juro que não foi proposital. Acho escroto esse negócio de tentar fugir dos problemas, mas não sei explicar. Foi natural, e inevitável.


Quando dei por mim... estávamos em março. Reta final das gravações nos bastidores, que conseguimos adiantar, e muito, no mês de fevereiro.
Alguns ajustes, repetições de cenas, muita dedicação e companheirismo. Era isso que a equipe de “Os Murphy” precisava, para que tudo saísse como planejado.


Justamente o que precisava para tirar da cabeça meus problemas emocionais. Com a arte de escrever, com a vida que levava junto de meus personagens que agora tomaram vida... me sentia viva, livre, e muito feliz. Como uma águia. Afinal, não sou realmente isso, uma águia que escreve?


– Sonhando? – brincou Synyster certo dia, cutucando-me na mesa de café. Pensava exatamente nisso, com os olhos fixos no cenário montado.


– Bem, tecnicamente sim. – ri, balançando a cabeça. – Hum... que horas são?


– Hora de ir almoçar. – esticou-me a mão, como se fosse um daqueles cavalheiros medievais. – Vamos para nossa casa, teremos tempo suficiente.


– Xi... se Tim deu tempo “suficiente” para almoçarmos em casa... significa que ficaremos até de madrugada gravando. – deduzi, conhecendo muito bem as intenções daquele diretor maluco. Era bem a cara dele fazer isso. Fornecer o almoço, mas tirar a janta.


– Bem, foda-se. – riu, esperando ainda uma resposta minha. – Mel e Matt foram na frente. Podemos ir... estou com uma fome de porra.


– Ui, fome de porra. – ironizei, com um sorriso maldoso. – Vou contar para a Mel sobre seus hábitos exóticos de saciar a fome.


– Vai tomar no seu cu. – murmurou, puxando-me com força. – Vamos, vai.


– Oh Synyster, você realmente é o cunhado que SEMPRE pedi pra Deus.


– Eu sei, eu sei. Sou Synyster FUCKING Gates, o perigote das mulheradas. – gritou, erguendo a mão como se fosse um guerreiro.


Ah cara... como eu me divertia com ele. A vida podia ser assim, não acham? Sempre com aquela sensação de “Fucking Gates”. Sempre com sorrisos, de bom humor, cheio de malícia e besteira... mas muito, muito feliz.


(***)


Chegamos em casa por volta da uma hora da tarde. É... meio difícil para mim, uma vez que em Barra Bonita, tínhamos o hábito de comer pelas 10:30 ou 11:00 da manhã. Nada que uma louca como eu não se acostume, afinal... toda hora é hora de comer, minha teoria de vida (obesa).


– Zacky, como o bom vagabundo que é, vazou mais cedo dos estúdios e decidiu bancar, mais uma vez, o mestre cuca. – anunciou Melissa, batendo na mesa como se fosse um tambor. – Por isso, vamos preparar nossos estômagos para o que está vindo. Quem precisa de anti-ácido?


– Vai se fuder, filha da puta. – praguejou Zacky, chegando com uma bandeja bem colorida e apetitosa. Isso, APETITOSA, milagres acontecem. – Pra quem não consegue fazer algo comestível como eu, sempre há uma rede de fast foods prontinha para ajudar. Quem quer, quem quer, quem quer?


Todos nós levantamos a mão, com o garfo em punho. Ajeitamo-nos nas cadeiras e começamos a devorar aquela maravilhosa bandeja de comida mexicana. É, isso mesmo, comida mexicana em Londres.


Bendita globalização cultural e culinária.


(***)


(Terceira Pessoa).


“Por que a Marietta está evitando falar comigo?”, pensava Matthew, enquanto enfiava na boca um nacho com muita pimenta. “Talvez... esteja preocupada, como eu, com as gravações finais do filme, afinal... ela tem bem mais motivos que eu. Marie é a escritora. Deve estar com o coração a mil”.


Olhou de esgoela para a jovenzinha e sorriu, tentando disfarçar o prazer de vê-la sorrir, na companhia de Mel e Zacky. Syn estava no banheiro, talvez, quem sabe, fazendo suas necessidades.


Mas, aquele sorriso que ao mesmo tempo era tão reconfortante, tornara-se suspeito. E como cabeça de homem (tanto quanto de mulher) só pensa merda na hora errada, pôs-se a cogitar hipóteses. Entre elas, a que mais temia, como se Marietta tivesse guardado na mala da viagem e mantido, para fazer uma “surpresa!” quando achasse conveniente.


“Marietta voltou com Hugo... e para não me contar, porque sabe que sou contra... tem me evitado. Será que ela seria tão boba assim de perdoar um cara só porque ele vai morrer? É, legal, ele vai morrer, mas o que minha querida escritora tem a ver com isso? Foda-se ele... Marie tem uma vida inteira pela frente. Não merece penar como viúva eternamente. Só que... se ela realmente o amar? E isso fazê-la fazer? AH, cale-se Matthew Sanders, eles estão olhando. Devem estar percebendo sua cara de bosta diante dessa ideia. Vai, finge que precisa revisar as falas do filme e... sobe pro seu quarto. Vai... age como homem enquanto tem dignid....”


– Vou cagar. – gritou, balançando a cabeça, levantando-se da mesa. Subiu, ignorando as piadinhas de Zacky (é, piadinhas, tais como: “não pode ser mais grosso do que entra na sua bunda, seu viado”, ou “chamem a ambulância, vamos morrer por intoxicação de enxofre”.


“Bela forma de manter a dignidade, ein Matthew? Seu idiota”, pensou enraivecido, trancando-se no quarto. Esfregou as mãos pelo rosto e olhou para o espelho; hábito adquirido há certo tempo, toda vez que sentia raiva e confusão.


Já estava acostumado com suas putices.


– Hum... esquece. Vou treinar as falas. – riu, dando um giro com os calcanhares.


Pegou o celular de dentro da jaqueta, jogou-o sobre a cama, e deitou, procurando os papéis na escrivaninha.


– Porra, porra, cadê você, filho da puta? Vou limpar minha bunda com você se não aparecer, to falando sério. – ameaçou, como se um script pudesse REALMENTE se sentir intimidado. – Caralho, estou falando como um serial killer do papel. Hum... PRONTO, achei essa porra. – comemorou, acomodando-se na cama. Procurou a página quatro, e olhando para as cenas, começou a cantarolar, em um sussurro íntimo, quase que mudo.


“We keep writing, talking and planning, but everything's changing...”


– Pensando bem... a parte “We all know what to do but no one does it” me soa familiar. – riu, bagunçando os cabelos. – E estou ficando meio nóia mesmo... não sei se canto, se penso ou se estudo. Decida-se, Matthew.


Seu olhar, sempre tão misterioso e simpático para Marietta, percorreu o quarto todo. Pousou, por instinto, no celular que tocava, exibindo “número restrito”.


Demorou um tempo para perceber que não era mais um devaneio de sua mente insana. Sim, o celular tocava, e ele precisava atender.


– Alô? – perguntou, jogando os papeis no chão. – Quem fala?


– Não importa quem fala. – disseram do outro lado, numa voz abafada e modificada (justamente para não ser reconhecida). – Toma cuidado, Matthew Sanders.


– Hã? Tomar cuidado com o que? Com você, seu brocha do caralho? – gargalhou, achando graça na tal “brincadeira”. – Tá, quem é? John, é você seu filho da puta?


– Não é você que deve tomar cuidado. Marieta Genoom, gosta dela, não? Seria realmente trágico se uma bala vinda da janela perfurasse sua pequena cabecinha, tão genial e pensante. Ela pode estar na minha mira agora, Matthew, e você não vai saber.


– NÃO METE A MARIETTA NESSA CONVERSA, SEU DESGRAÇADO! – berrou Matthew, dando um soco no colchão. Se aquilo fosse uma brincadeira, de quem quer que fosse, seria de muito mal gosto. – FALA QUEM É VOCÊ, AGORA!


– Ficou estressado? Oh, que instigante. – riram. – Você vai se arrepender de ter brincado conosco. Você vai se arrepender de ter brincado comigo. Vamos, apresse-se em dizer para a polícia o que estou te falando. Não vão descobrir... além, claro, que os dias de sua querida companheira estarão contados... e reduzidos, depende.


“Estou de bom humor hoje. Posso ser bom e dar-lhe, quem sabe, mais algum tempo de vida. Ou não. As histórias de Heagle fariam falta... mas... esse sentimento não substituiria aquele maravilhoso prazer de ser vingado. O que acha, meu caro?”


– Eu acho que se tocar na minha Marietta, você é um homem morto. Escreve que eu te digo, você é um homem morto. Venha ao meu encontro, seu maldito, e vou te mostrar realmente do que sou capaz. – rugiu, tacando o celular na parede.


Suas mãos, desgovernadas, tremiam. As pernas bambas, não sabiam qual direção seguir.


Na mente de Matthew, apenas uma coisa importava: saber se Marietta estava bem.


– MARIETTA, MARIETTA GENOOM. – berrou, abrindo a porta com violência. Desceu as escadas com tanta pressa que quase tropeçou, por duas vezes, em seus degraus. – APARECE, PELO AMOR DE...


– Ah, pra que tanto escândalo, meu Deus? – gritou Marietta, surgindo da sala de jantar. – O que aconteceu?


Matthew não soube explicar o alívio que sentiu ao vê-la bem. Achou graça, pra sermos sinceros, do que acabara de acontecer.


Um homem vivido, de 30 anos, nervoso por causa de um trote. Era um trote, na certa, já que Marietta, no momento, estava bem. Deve ter sido algum amigo lazarento dos Estados Unidos...ou até mesmo alguém da casa, com o intuito de deixá-lo louco.


No momento, não deu importância ao fato. Pôs a mão no peito e sorriu, tentando fingir naturalidade:


– Ér... esqueci de te falar que... gostei dos seus sapatos.


– Hum... obrigada? – agradeceu sem entender, afastando-se novamente.


Matthew subiu as escadas novamente.


“Talvez eu precise relaxar. Estou ficando nervoso a toa. Oh, céus, como se fosse o primeiro trote que eu levo na vida. E aquele que falaram que Jimmy estava morto, numa casa do subúrbio, enquanto ele ria do meu lado, tomando absinto? Esses filhos de uma puta manca e arrombada não sabem mais o que fazer pra encher nosso saco”, pensava, deitando-se novamente em sua cama.


– Mas... eu juro, que se algo acontecer... vou até no inferno pra descobrir quem é. Uma arma e um litro de álcool... é o suficiente para mim. – suspirou, fechando os olhos.


Por Marietta, era capaz de fazer tudo. Ou quase tudo, dependendo da ocasião.


(***)


– Ligou?


– Sim.


– Então?


– Ficou estressadinho, mas não sei se botou fé. Artistas cansam de receber trotes ameaçadores.


– Daremos um tempo nisso. Quando todos menos esperarem, agiremos. E sabe o quão divertido será, pegá-lo de surpresa?


– Imagino.


– Vamos, antes que nos encontre.


E se afastaram.


Quem são eles? Não cabe a mim responder.


Não agora.


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