Saint Maria escrita por Tai Flores


Capítulo 24
Capítulo 24




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Fiquei olhando pela janela me despedindo de Saint Maria, das medias montanhas verdes, da terra em maior parte avermelhada por causa de sua antiga formação geológica. Fazia pouco tempo que o sol havia saído de sua toca, mas já brilhava muito forte no céu azul. Lembrei de olhar para a praça, e até chegar nela fiquei observando as outras coisas. Passamos perto da casa de Ana e para minha surpresa, ela estava na esquina com seus pais para me dar adeus. Os três abanaram em direção do táxi muito emocionados. Ana era minha melhor amiga e eu estava sentindo muito em ter que deixá-la. Juramos que nossa amizade nunca iria terminar por mais distante que nós estivéssemos. Ela estava chorando e eu também.

O táxi nem parou, pois estávamos atrasados e poderíamos perder o ônibus para a nova cidade: Passo Fundo. Ao passar pela avenida principal do centro, fiquei atenta. A praça estava lá, diante de meus olhos, mas não vi ninguém nela. Fomos contornando-a até a rua em que dava na rodoviária. Fiquei um tanto decepcionada em não dar um último adeus a Bill. Provavelmente nem lembrou, ou talvez tenha lembrado. Será que tinha acontecido alguma coisa? Pensei em várias coisas, mas mesmo assim não descuidei um só milésimo da praça. Fui perdendo as esperanças na medida em que o carro andava. Baixei a cabeça por um segundo e quando ergui novamente, ele estava lá.

Bill não havia esquecido de mim, foi besteira de minha cabeça pensar nisso. Ele estava sentado ao redor do chafariz, molhando as suas mãos com as unhas pintadas de preto. De lá ele me abriu o mais belo sorriso de todos, e eu fiz o mesmo para ele. Até o carro sumir e terminar minha visão da praça, Bill ficou sorrindo e em seu olhar dava para ver lágrimas que por algum motivo não caíam. Dos meus olhos caíam cachoeiras e isso era do fundo do coração. Meu coração ficou tão apertado que chegava a me sufocar. Deu até uma dor no peito quando levantei a mão e dei o último aceno. Fechei os meus olhos e esperei passar aquela sensação ruim, mas que ao mesmo me confortava.

Na verdade eu queria dar um último abraço naquela pessoa que mudou minha vida. Parei de admirar as coisas, pois sabia que o coração de Bill estava triste. O meu coração dizia isso. Naquele momento, eu descobri que Bill não era somente um amigo, mas sim alguém muito especial. Meu sentimento era puro e verdadeiro, igualmente ao que eu sentia pelos meus irmãos. Era automático, ele sentia a mesma tristeza que eu sentia. Até mesmo quando ele sofreu o acidente, eu senti a mesma angustia que ele deve ter sentido ao cair quase desacordado no asfalto.

Depois de uns dez minutos ou mais, chegamos à rodoviária. O nosso ônibus estava em seu Box de partida e assim que descemos do táxi, corremos para colocar as nossas malas dentro dele. Mas a corrida foi um pouco em vão, pois ele deveria ficar parado por ali mais uns dez minutos. Sentamos no banco do lado de fora, e ali ficamos esperando.

Bem distraídos, meu pai, Preto e eu, levamos um susto ao ouvir mamãe gritar. Achamos que havia acontecido algo, mas, no entanto era meus padrinhos que foram se despedir de nós na partida. Eles estavam nos esperando já faziam mais de meia hora. Foi uma choradeira só por causa disto. Minha mãe chorou, minha madrinha chorou, eu chorei... Quase lavamos a calçada inteira da rodoviária.

O motorista passou correndo por nós e tivemos que entrar no ônibus. Particularmente não gostava de despedidas, mas aquela era necessária, pois mamãe não havia derramado uma lágrima naquele dia e isso não era nem um pouco comum. Corríamos o risco de ela passar mal na viagem por causa do nervosismo, mas largando o choro ela havia se acalmado.

O ônibus ligou e os acenos logo começaram e não pararam mais. Meu braçinho já estava cansado e abanar, mas continuei a me despedir de meus padrinhos. Começamos a andar bem devagar e saímos de lá com vários sorrisos que nos confortava.

Fui sentada ao lado de minha mãe e meu pai foi do lado de Preto e Nico foi sentado ao lado de uma moça muito bonita, com quem conversou a viagem inteira. Sentamos todos bem pertinho. Puxei a cortina da janela para melhorar a visão e me deitei no banco para ficar olhando. Não demorou muito para eu pegar no sono. Dormi uma boa parte da viagem. Sonhei que estava em um lugar bastante arborizado, parecia um parque natural, coberto de vegetação bonita e que se estendia por vários quilômetros. Andava pelas pontes de madeira que ficava em cima do rio que passava e fazia um barulho maravilhoso. Depois corri agachada por uma trilha fechada ouvindo um barulho de água caindo e batendo em alguma coisa. Pensei que fosse uma fonte, mas quando cheguei ao final da trilha, avistei uma bela cachoeira. Tudo era tão lindo que o sofrimento que estava em meu coração sumiu depois que acordei.

Olhei para o lado e vi minha mãe dormindo e voltei a olhar pela janela. Vi muitos animais na beira da estrada em terras fechadas por cercas. Tinha vacas, cavalos, ovelhas, e até mesmo galinhas. Deveríamos estar em um lugar muito distante da cidade. Na realidade, faltava muito para chegarmos ao nosso destino, umas oito horas. Já havíamos percorrido cerca de nove horas.

Minha barriga começou a fazer um barulho estranho, era fome e então peguei a mochila para comer algo. Abri e dei de cara com a corrente que Bill havia me dado. Logo sua imagem veio em minha mente. Lembrei de tantos momentos que esqueci de comer. Aquele presente foi a única coisa que me restava dele. Era muito valioso, não por ser de ouro, mas sim por que foi dado e também recebido com o coração. Nada poderia ser comparado com isso.


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