Saint Maria escrita por Tai Flores


Capítulo 23
Capítulo 23




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Levantei, fui para o banho e depois sentei em cima de uma caixa para tomar o café da manhã. Meu pai me apressava, pois logo o caminhão estaria lá para levar a mudança e o táxi também iria chegar e nos levar para a rodoviária. A viagem iria ser bem cansativa, pois a nova cidade era um muito longe, mais ou menos umas dezessete horas de ônibus. O lugar era fora do estado. Eu não estava nem um pouco eufórica, muito menos minha família. Foi ruim abandonar tudo o que construímos em Saint Maria por causa de dois bandidos que poderiam me perseguir. O juiz nos disse que a quadrilha de seqüestradores poderiam se vingar diante da prisão dos homens que me atacaram.

Nunca mais fiquei sabendo dos três homens que me salvaram. Eles mal mostraram os rostos e também nem falaram seus nomes. Se bem que eu nem conseguia me concentrar neles diante daquela situação. Foi horrível e espantoso para qualquer um de nós quatro. Fiquei pensando no desespero de minha mãe quando soube disto. Acho que meu maior nervosismo tenha sido pelo fato de ficar preocupada com a saúde de minha mãe. Mas no final, tudo correu bem.

Quando levantei da caixa, ouvimos o caminhão buzinando junto de um carro da policia. Eles estavam lá para o fim de minhas esperanças em ficar ali. Não era mentira e nem sonho, era pura realidade. O que mais me confortava neste momento era a questão da nossa segurança ou da minha segurança. Isso era muito importante para meus pais e irmãos.

Foi tão doloroso ver os móveis, as caixas, os objetos, tudo indo para o caminhão. Mais doloroso ainda foi ver o táxi apontando no inicio da rua. Mamãe me mandou pegar a mochila que tinha um casaco, algum lanche para a viagem e a corrente de coração que Bill havia me dado. Corri lá para dentro e terminei de me arrumar. Quando voltei lá fora, vi o carro de Simone parando na frente de casa. Dele desceram Tom e ela. Fiquei esperando mais alguém descer do carro, mas infelizmente só os dois estavam ali. Minha mãe ficou surpresa ao vê-los. Chegando mais perto Simone começou a cumprimentar-nos:

- Olá. – disse ela e Tom de um modo geral. – Vim somente para me despedir de vocês. Vou sentir saudades, principalmente de Anie.

- Obrigada Simone. – falou mamãe. – Nunca achei que viesse se despedir de nós depois de tudo que aconteceu.

- Pois é Sandra. – começou a médica. – Mas deixamos esse assunto para lá, pelo menos agora, né? Anie, eu quero te dizer que você é muito especial para a nossa família. Seu sorriso alegrou a vida de meu filho. E por falar nisso, no dia do acidente de Bill, ele havia ido comprar seu presente de aniversario. Mas desculpe por não trazer, eu não achei. Procuramos pela casa inteira, mas infelizmente não achamos. Era linda, uma correntinha de coração. Bill nunca foi de fazer compras, mas naquele dia ele fez questão de sair e fazer isto. Embrulhou em uma caixinha vermelha com um laço de fita dourado.

- Você disse correntinha com o pingente de coração? – perguntou minha mãe interrompendo a médica.

- Sim, sim. – respondeu Simone. – O presente de Anie estava em meu quarto e de repente sumiu. Não achei mais.

- Filha, - começou mamãe. – essa corrente não é aquela que você disse que achou na área de casa no final da festa pela noite? Mostre-a.

Na hora minhas pernas começaram a tremer e as mãos ficar suadas. Como eu iria sair daquela situação? Se eu contasse a verdade, iria dedurar Bill e eu não queria fazer isto. Mas se eu mentisse mamãe brigava feio comigo. Por fim o medo me fez abrir a mochila e também a boca.

- Não, eu não posso contar nada. – disse eu aos prantos depois de pensar bem. – Jurei que não iria contar.

E sai correndo e direção da casa que já estava vazia. Fui para meu ex quarto e sentei bem no cantinho chorando. Minha mãe e Simone saíram atrás e me encontraram no quarto. A médica se agachou e começou a conversar gentilmente comigo.

- Não precisa ficar nervosa querida. – disse ela com lagrimas no olhar, mas que ainda não caiam em seu rosto e também pedindo para minha mãe nos deixar sozinhas.   – O que você não pode contar? Pode me dizer, eu não vou falar para ninguém. Confie em mim.

- Não, eu não posso falar nada. – respondi. – Por favor, não insista.

- Anie, - começou Simone novamente. – você é muito pequena para esconder algo assim. Se me contar eu te ajudarei. Juro que não vou contar para Sandra o que me disser aqui.

- Mamãe vai brigar comigo e o Bill também. – disse eu escondendo o rosto entre as pernas.

- O que tem Bill nesta historia? – perguntou ela com delicadeza.

- Você jura que não vai falar pra ele que eu te contei?

- Juro querida. Mas agora me fale o que aconteceu.

Senti confiança e respirei fundo antes de começar a falar.

- Bill veio aqui na noite de meu aniversario entregar o presente.

- Você tem certeza disso Anie?

- Sim. Foi ele mesmo quem trouxe. Ainda comeu brigadeiros e depois foi embora. Mas me pediu para não falar nada pra ninguém que ele havia estado aqui. Ele me disse que tinha fugido do hospital, mas logo iria voltar. Por favor, não brigue com ele.

Neste momento as lagrimas caíram dos olhos de Simone. Acredito que ela tinha se desesperado pelo fato de Bill ter fugido do hospital.

- Mas me conte mais sobre esta visita. – disse ela chorando muito.

- Eu estava na área de casa sentada olhando as fotos de meu aniversário e de repente ouvi ele me perguntar se podia olhar também. – comecei. - Eu levei um susto grande quando o vi, mas depois me acalmei. Por favor, não fale nada que contei por que ele pode se zangar comigo.

- Claro querida. – disse Simone chorando muito. – Ele estava com que roupa?

- Deixa ver se me lembro... – disse a ela. – Ah, estava com um casacão de couro preto e calça preta. Mas por que quer saber sobre a roupa?

- Nada querida. – respondeu ela dando-me os braços.

Naquele exato momento Simone chorava muito e seu abraço foi tão apertado que nunca mais esqueci. Depois desta conversa, me acalmei e voltei para o táxi. Lá minha mãe me mandou entrar no carro, pois Simone queria conversar com ela a sós. Fiquei cuidando as duas, mas Tom foi me distrair contando coisas engraçadas sobre o irmão.

- O que a senhorita esta cuidando? – perguntou ele.

- Sua mãe esta muito triste, mas não sei por que. Você sabe? – questionei.

- Não deve se preocupar com isso Anie. – respondeu ele. – Sabe que você é muito curiosa?

- Eu sei. – disse a ele. – Bill sempre me fala isto.

- Bill sempre foi assim, brincalhão. – comentou Tom. – Acredite que uma vez ele colou chiclete nos olhos de um tio nosso. Outra vez ele furou o pneu da bicicleta de um garoto que roubava o lanche dele na escola. Teve até uma vez que ele desligou o disjuntor de energia elétrica da nossa rua e as pessoas acharam que tinha mesmo faltado luz. Ainda bem que ninguém soube quem fez isto, se não nós dois estaríamos muito ferrados. Mas não vá fazer isto que eu acabei de contar.

- Claro que não Tom. – disse quase chorando de tanto rir.

- Eu sei que não vai. – respondeu ele. – Você é especial e tem a cabeçinha no lugar. Lá vem sua mãe, agora vocês tem que ir, pois se demorarem mais um pouco vão perder o ônibus.

- Obrigada Tom. – disse mamãe. Filha chegue bem para o canto e depois sente em meu colo, pois Preto e Nico vão aqui atrás junto conosco.

- Anie, - começou novamente Simone. – sempre pense em meu filho com muito carinho, pois com certeza ele sentirá o mesmo por você.

Depois disto o táxi começou a andar e os dois ficaram abanando até o carro desaparecer na rua. Simone estava muito aflita e Tom estava com olhos vermelhos e com cara de quem não havia dormido por uma semana. A aparência dos dois estava totalmente critica. Eles achando que Bill estava se recuperando e na verdade ele já estava totalmente recuperado.


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