- Estás bem?

- Sim estou, estou bem.

Os braços estenderam-se num abraço apertado. O corpo demasiado grande para ser totalmente envolvido como uma criança.

- Eu sei que não estás.

A ansiedade começou a borbulhar. A garganta apertava-se num nó. O espírito numa tensão.

O desejo de extrair aquele sentimento através das lágrimas estava a apoderar-se dele mas não permitiria fazê-lo frente a ela.

Quem inventou a ilusão, pensava, sabia muito bem o que tinha feito porque a dor, usando aquela espécie de técnica para hipnotizar um coração ferido, tornava-se num embalar de feridas e muitas das vezes resultava.

Naquele momento agradeceu não ter que mentir a si mesmo e ter quem o compreendesse.

Ter alguém que lhe dissesse que ficar triste por uma pessoa partir para sempre não era algo que se devesse esconder.

- Ela já não vai voltar, pois não?

Adeus meu Amor.
Adeus minha amiga.
Você tem sido a única,
Você tem sido a única para mim.

 Precisava que alguém lhe dissesse a verdade. A verdade irrefutável que o coração custava a aceitar. A mulher abanou a cabeça negativamente.

Sentou-se na beira na cama, deixando os braços caírem em cima dos joelhos.

- Ela morreu de uma maneira digna.

- Eu sei.

- Naruto-kun, tu amaste-a muito, não é verdade?

- Amei-a no passado, sim, é verdade.

Lembre-se de nós e tudo que costumávamos ser,
 Eu já te vi chorar. Eu já te vi sorrir.
Observei-a dormindo por um instante.
Eu seria o pai do seu filho,
Eu passaria uma vida inteira com você,
Eu conheço seus medos e você conhece os meus,
Nós tivemos nossas dúvidas (…)
E eu te amo, juro que é verdade,
eu não posso viver sem você.

- Eu vou ajudar-te.

Obrigado, Hinata. Tu és muito especial para mim.

- Não tens de me agradecer. Estou aqui contigo, como sempre estive, e espero vir sempre a estar.

*

Sakura.

O banheiro estava envolto num nevoeiro devido á água quente que estava ligada.

Queria fazer sentir a minha presença. Tocar-lhe. Ter a sensação da sua pele nos meus dedos. Os cabelos loiros a deslizarem. Abraçá-lo. Dizer-lhe palavras ao ouvido. Olhá-lo nos olhos. Beijar-lhe os lábios. Sentir as suas mãos a tremer sobre a minha cintura.

Não podia.

Se ao menos conseguisse ver um sorriso a contornar os lábios fazendo os seus olhos azuis brilharem.

Não podia.

Porque simplesmente…

Roubei o que ele tinha de mais precioso.

A alegria de viver.

Gostava de ter sido outra pessoa. Gostava de me ter apercebido mais cedo dos meus sentimentos por Naruto.

E agora?

Ele já estava com a Hinata há tanto tempo.

Lutar por ele?

Estou morta.

Agora restava o que era verdadeiramente por dentro.

Algo oco. Sem emoção. Sem vida.

Como é que se pode amar toda a nossa vida alguém e só dar-nos conta disso quando já não podemos lutar por essa pessoa?

O loiro deixava a água quente cair sobre as costas enquanto tinha as palmas das mãos contra o vidro embaciado.

Mesmo que ele não me visse, aproximei-me, tacteando o seu peito.

Ele não sentia. Eu não sentia.

Mas a dor estava bem viva entre nós.

Coloquei-me de frente para o vidro no meio dos seus braços.

Desenhei desajeitadamente a sua face.

As gotas de água deslizavam á medida que contornava os riscos.

Desejava de alguma maneira puder demonstrar-lhe…

Que não o esqueceria. Que por mais egoísta que fosse da minha parte…

Que não me esquecesse.

サ

ク

ラ

Pensei que já não podia chorar.

Afinal…

- Sakura, o que é que eu vou fazer agora sem ti?

Adeus meu amor.

Adeus minha amiga.

Você tem sido a única,

Você tem sido a única para mim.

O meu coração estava tão pesado naquele instante que pensei que ia ceder. Os dedos quando deslizaram enquanto escreviam o meu nome, parecia algo tão penoso, alguém de quem ele queria não sentir nada, que tudo o que sentia naquele momento acabasse.

- Perdoa-me Naruto.

Segurei o seu rosto. Estávamos tão próximos. As lágrimas caiam abundantemente dos seus olhos. Não conseguia aguentar vê-lo chorar e cai também num pranto. Queria consola-lo.

Mas como?

Parecia um milagre, ao segurar a sua face, ele arregalou os olhos, fazendo-me querer que estava a sentir o meu toque.

E ainda seguro sua mão na minha,
Quando estou dormindo.
E eu irei aguentar minha alma no tempo,
Quando eu estiver ajoelhando aos seus pés.

- Sakura-chan.

Sussurrou baixinho, e mesmo não me vendo, sabia que podia sentir-me…

Porque do coração ninguém nos tira.

Naruto abraçou o vazio, mas de certa maneira, senti-me feliz, por ele dar-se conta de que estava ali.

Finalmente e por apenas um instante a alma de Naruto ficou em paz.

-Sakura-chan, ela é especial para mim… - estava a olhar-me directamente nos olhos. - Mas tu eras a única.

- Eu te amo, Naruto.

- Agora é tarde demais.

Estou tão vazio, querida, estou tão vazio

Estou tão, estou tão, estou tão vazio.

Fim.