Cap. 32 – cinco dias antes do final

A noite foi uma das mais frias do ano, os galhos das arvores se contorciam e criavam um ruído agonizante em meio à floresta. Nenhum animal se fazia ouvir, a Lua estava totalmente coberta por nuvens densas deixando a noite ainda mais escura, apenas uma vela iluminava nosso quarto e as sombras criadas por ela se contorciam a cada brisa de vento frio que escapava para o calor do quarto através das frestas na madeira próxima a janela. Nada incomum as noites frias de Forks se a mesma pudesse ser considerada apenas mais uma noite.

Alice finalmente teve a visão do local de encontro e fomos surpreendidos com ela durante uma conversa rotineira na sala de Carlisle. O encontro dar-se-ia ali mesmo, no jardim que Esme tanto ama cultivar em exatos cinco dias. A visão foi curta e já sabíamos o por quê, como Abáe podia controlar o que é visto ou não da mente daquele que tomaria a decisão, só foi permitido a nós conhecer o dia e local, nada mais.

Depois disso, todo o clima de família feliz foi destruído, nenhuma brincadeira foi feita e até mesmo Emmett, que costumava tirar sarro de tudo, ficou em silencio abraçado a Rose. Mais uma vez a vida de todos estaria em perigo e mesmo com toda a forca que temos quando unidos, o receio de perder alguém sempre nós rondava, cada um com sua jóia mais preciosa nos braços, o amor ali não podia ser medido separadamente, pai, mãe, filhos e amados, todos entrelaçados, fundidos em um só amor.

Nesta noite fria, mesmo meu coração apertado com o medo do amanha eu também podia sentir todo este amor, em minha cama agora dormiam minha vida, meu destino e minhas duas jóias. Não suportaria perder a nenhum deles e tampouco velos sofrer por algum motivo e assim passei a noite, velando seus sonhos e memorizando cada sinal, cada curva, cada cheiro.

O dia amanheceu sem sol como era o esperado, as noites frias vinham sempre acompanhadas de manhas nubladas e com garoa e não foi diferente desta vez. Seth dormia com Kham em seu peito e Sun em seu braço, a visão mais doce que vi em toda minha vida, mesmo dormindo meus bebes se mantinham unidos, as mãos sempre juntas e um leve sorriso no rosto de cada um. Dormi do lado oposto, abraçada por Luna que também não desgrudava do pai, suas mãos unidas sobre Kham eram a prova disso.

Levantei-me silenciosamente e segui para a cozinha, queria preparar o café e surpreende-los na cama, mesmo por que hoje Luna precisaria se alimentar de sangue e não queria que Micaella presenciasse a cena. Quando cheguei a sala senti um cheiro doce de canela e chocolate no ar.

-Bom dia Nala! Posso chamá-la assim? Reparei que todos o fazem. – Micaella me cumprimentou parando apenas para verificar se era eu mesmo que havia entrado na cozinha, suas mãos estavam firmes em um fouet e batiam uma massa clara que logo percebi serem panquecas.

-Bom dia Micaella. Ah, sim, já lhe disse que não tem problema. Mas o que esta fazendo na cozinha tão cedo? – eu realmente estava impressionada com o tanto de bolinhos e Paes que estavam sobre a mesa –

-Desculpe. Eu quis ser útil a vocês já que estou aqui como hospede temporária e percebi o quanto seus filhos e marido comem, quis ajudar – deu de ombros – Não sei se vocês gostam, mas preparei bolinhos de chocolate e canela, fiz paes de iogurte e panquecas com calda de morangos, tem suco de laranja na geladeira e café quente no bule do seu lado.

Juro que salivei a cada palavra que ela dizia. Como ela conseguiu fazer tudo isso com o que tinha em minha geladeira, claro que a mantinha sempre abastecida, mas era raro ter algo que pudesse ser preparado para o café da manha já que normalmente comiamos junto a Esme pela manha, ela adora reunir os que ‘’comem’’ em sua casa.

-Que horas você se levantou? – perguntei já colocando o café fumegante em uma xícara e beliscando uns pedaços do pão –

-Não muito cedo para falar a verdade, eu preparei quase tudo ontem, só precisei colocar no forno agora pela manha. Sabia que voltariam tarde e passei a tarde na cozinha. – Micaella se sentou ao meu lado já com um prato repleto de panquecas quentinhas. –

-Garota, quer se mudar para minha casa de vez? – ambas rimos e continuamos na cozinha fofocando um pouco, todo a minha volta pareceu relaxar com aquela situação tão comum para famílias normais –

Perdidas no tempo nem percebemos que todos haviam acordado.

-Bom dia meu amor! Bom dia Micaella! As duas resolveram pular da cama? – Seth se aproximou me dando um beijo enquanto me entregava Sun e sentava a meu lado com Kham em seu colo.

-Bom dia família! – minha espoleta também estava ali e cumprimentou a todos com um beijo estalado –

-Nossa! Quanta coisa gostosa. Quem acordou animada?

-Micaella quis agradecer a hospitalidade com o café da manha.

-Olha, nem precisava, mas se quiser agradecer com o almoço e o jantar também não teria problema nenhum. – Seth falava com a boca cheia e todo brincalhão, não resisti e lhe joguei um pedaço de bolinho o repreendendo. O espertinho apanhou o pedaço com a boca fazendo todos rirem –

Passamos um bom tempo a mesa falando amenidades e tentando alimentar os bebes com alimentos pastosos para compensar a falta de leite. Não que tivesse secado, mas não era mais o suficiente para os dois e tínhamos que improvisar com alguma outra coisa. Eles logo pegaram gosto por frutas raspadas e fizemos uma papinha com maca para os dois.

Como ninguém precisaria fazer nada de importante hoje e resolvemos passar o dia em La Push junto aos outros lobos e a família dos mais novos. Seria uma oportunidade para Luna rever Samy e Kali voltar as raízes também. Ambos ficaram proibidos de ir a tribo nestes últimos dias para não criar problemas com os mais novos. Os lobos após a transformação reagem de forma irracional ao cheiro de vampiros é por isso os mantivemos afastados no inicio.

Os pais de Helen e Lamaki Young estavam apreensivos com toda a historia e também assustados com a realidade delas, vampiros, lobos e bruxos, todos os seres místicos de historias infantis ou historias indígenas que mais pareciam lendas estavam reunidos nesta pequena e chuvosa cidade e conviviam entre humanos a algumas décadas sem serem notados. Ambos tiveram dificuldades em assimilar tantas informacoes em tão pouco tempo e receberam todo o apoio dos mais velhos.

Rafael e Nita eram ótimos pais e auxiliaram os filhos em todos os momentos, quando Helen foi abrigada a cortar seus cabelos, sua mãe permaneceu firme a seu lado e também o fez, compartilhando com a filha deste momento de amadurecimento e mudança. Os jovens agora tinham seus corpos marcados pelo símbolo Quileute e passaram pelo ritual da fogueira compreendendo a aliança existente com os vampiros da família Cullen e as uniões criadas a partir desta aliança.

-Mãe, vamos logo.

-Estou indo querida, só estou separando as mamadeiras. –Luna só faltava me arrastar pela sala –

-Ai, ai. Pronto, já separei tudo. Nossa, até parece que não vê o Samy a uns 15 dias. –Luna rosnou para mim. Minha filha rosnou, acabei rindo é claro, a ansiedade dela era tão grande que acho que se demorássemos mais dois segundos ela me atacava.-

-Não rosne para sua mãe filha. – Seth também se divertia com a ansiedade da filha – Agora vamos, Samy esta ai fora com o carro.

Luna passou como um raio por nos dois quase me levando ao chão. Sai rindo com Seth e os bebes devidamente cobertos e aconchegados nos braços. Passando pela porta dei de cara com dois jovens, um de frente ao outro apenas se observando. Samy estava muito diferente do garoto de aproximadamente 15 anos que vivia pulando minha janela, agora parecia um homem maduro, tão alto quanto o pai, de cabelos curtos e espetados, corpo completamente definido e um sorriso bobo nos lábios.

-Nossa! – assoviei em direção a ele -

So então os dois pareceram sair do transe e correram para os braços um do outro. Seth até pigarreou, mas nada separou aqueles dois. Eles realmente só se deram conta da platéia quando finalmente param o beijo para respirar.

-Bom, agora que os germes foram devidamente trocados podemos ir? – Seth deu um soco no ombro de Samy e já foi abrindo a porta traseira do carro para que eu entrasse no carro. Micaella também foi conosco e a forcei a ir na frente, tinha que separar o casal de namorados, do contrario iríamos causar algum tipo de acidente de transito.

Fomos direto para a casa de Emily, Kali seguiu mais cedo com Jacob e a família Young se reuniria conosco na hora do almoço. A casa de Emily sempre manteve seu ar hospitaleiro e acolhedor agora, possuía também, os traços delicados de uma mãe, a entrada da casa estava coberta por flores cor de rosa que caiam da cerejeira que a mesma plantara no dia do nascimento do filho. O contraste do rústico com a delicadeza das flores deixavam sua casa com aparência de uma casa de bonecas.

Nos mulheres nos reunimos na cozinha e iniciamos nosso trabalho, cozinhar para dezenas não é um trabalho fácil e quando esta dezena se multiplica e tem fome de lobo fica ainda mais difícil. Os pequenos ficaram comigo e faziam a alegria na cozinha, em meio ao calor do forno a lenha eles despertaram animados e muito dispostos a deixar nossa tarde mais amena. Samy e Luna desapareceram pela floresta e avisaram que voltariam na hora do almoço, Jacob e os outros ficaram no quintal jogando conversa fora. Vez ou outra Seth vinha na cozinha buscar algo para beliscar e eu tinha certeza que a razão era outra, ele não agüentava ficar muito tempo longe dos filhos.

Estávamos arrumando a grande mesa da cozinha e algumas do quintal para receber a todos quando a família Young chegou, os quatro não pareceram se importar com a presença de Luna e logo estávamos conversando animadamente. Também temíamos pelo encontro deles com Kali e por esta razão protelamos um pouco.

Estávamos todos no quintal e conversávamos amenidades sem nos importar com o frio da tarde, ficar entre lobos parecia aquecer a todos, quando Jacob anunciou a presença de seu filho e todos buscaram por ele em um ponto especifico da floresta. Helen estava distraída com Sun e pareceu não perceber a aproximação de meu sobrinho até que o ouviu cumprimentar a todos.

-Boa tarde a todos.

A cabeça de Helen virou em direção a voz e seus olhos brilharam. Kali inclinou sua cabeça para o lado na tentativa de melhor observar a garota e seus músculos enrijeceram naquele momento, ambos tinham sua respiração acelerada assim como o batimento cardíaco. O sorriso bobo nos lábios, típico dos apaixonados, era visível a qualquer um.

-Seth, ele teve?

-Não Nala, ela teve. Kali agora pertence a ela.