- Há há! – Riu Mariana das coisas engraçadas que Amanda estava contando.

Todos estavam sentados em torno de uma fogueira que Apolo fizera, enquanto ouviam as histórias do colégio interno que tanto os fazia rir. Já estava escurecendo. No horizonte eles podiam notar o Sol se distanciando cada vez mais em um ritmo lento.

- Eu lembro disso! – Comentou Rita rindo.

- Nossa! – Poseidon enxugou uma lágrima provocada pelo ataque de risos – Vocês passam por essas loucuras todos os dias?

- Ah! Você não viu nada! – Disse Amanda. Ela estava contando a maior parte das histórias, coisas que adorava fazer. Amava quando conseguia arrancar risadas de seus amigos, e também amava quando eles a faziam rir. – Lembram da vez em que o Rodrigo desenhou uma carinha feliz em um pedaço de papel e pôs contra o rosto para que a professora não visse que ele estava dormindo?

Todos riram novamente (Zeus riu sem que ninguém notasse) lembrando ou imaginando a cena.

- Ela ficou morrendo de raiva de mim! – Riu Rodrigo.

- Todos os professores morrem de raiva de nós. – Rebateu Bia.

- Então que se ferre. – Disse Nina encolhendo os ombros sem ligar – Não vai mudar nada se nós tentarmos sermos normais mesmo. Acho melhor continuarmos assim e rirmos todos os dias das desgraças alheias.  

- Momentos filosóficos da Nina. – Disse Amanda – São sempre tão inspiradores.

Todos os semideuses concordaram com Nina. Eles não tentariam mudar, até por que... O colégio ia continuar um inferno e os professores continuariam cruéis. Por isso resolveram simplesmente continuar daquele jeito e falar: “Que se ferre” para o resto mundo.

- Ei... Como nós fomos parar naquele colégio interno mesmo? – Perguntou Amanda sem lembrar.

- Cara! É mesmo! Eu... Quase não me lembro mais. Estou a tanto tempo naquele lugar que parece até que eu nasci lá. – Disse Rhamon – Acho que... Os meus pais tiveram essa idéia depois de verem uma palestra... Algo do tipo.

- “Filhos, melhor não tê-los”! – Lembrou-se Flávia, que estava abraçando Apolo.

- É! Meus pais viram isso também! – Concordou Vinícius – Foi por isso que eu fui parar naquela escola!

Os onze meio-sangues (tirando Bruna, que fora mandada lá á pedido de Ártemis) concordaram lembrando que o mesmo tinha acontecido com cada um deles.

- Todos nós fomos mandados para lá por causa da droga da palestra?! – Perguntou Rodrigo.

- Pelo visto sim. – Concordou Rita – Quem era a mulher que deu palestra mesmo?

- Sei lá, mas é algum tipo de retardada. Ela resolveu dizer para os nossos pais que é melhor não ter filhos só 16 anos depois. – Respondeu Nina rindo da terapeuta.

- Uhm... Espera. – Disse Amanda pensativa – Depois de passar por todas essas coisas, eu consegui tirar uma boa lição de vida.

- Amigos são importantes? – Perguntou Apolo.

- Cuidado com quem você arruma briga? – Perguntou Ares.

- Família é uma coisa estranha? – Perguntou Hades.

- Quando você roubar um celular deve sempre colocá-lo no silencioso? – Perguntou Hermes.

- Não. – Respondeu Amanda para todos eles – Que ninguém nesse mundo é normal. E também, que coincidências nunca são meras coincidências e sim perigos mortais do destino.

- Ah! Eu entendi! – Exclamou Rodrigo se levantando e indo para o lado de Amanda (que também estava de pé) para poder olhar os Deuses um por um – Quem era aquela mulher? Vocês sabem!

- Ahm... Quem quer marshmallow? – Falou Apolo repentinamente animado.

- Ótima hora para uma história de terror. – Sugeriu Hades trocando de lugar, desconfortável.

- Depois! Não vai mudando de assunto não! – Reclamou Rodrigo – Não tentem disfarçar também! Vocês sabem muito bem quem era ela, por isso podem ir contando!

Os deuses ficaram mudos e trocaram olhares nervosos entre si.

Zeus respirou fundo sabendo que sobraria para ele a tarefa de responder a tal pergunta de Rodrigo. Afinal... Ele era o Deus dos deuses.

- Isso é um assunto delicado. – Disse olhando para o céu e depois para cada um deles novamente – Não foi escolha nossa, mas... Acabou não sendo completamente ruim.

- Explica melhor! – Exigiu Rodrigo incomodado – Como ficar em uma escola interna, ser esquecido pelo mundo, e ser tratado como um anormal por seis anos pode não ser completamente ruim?!

- Vocês se uniram tornando mais fácil que a profecia tomasse o seu rumo. – Respondeu Zeus prontamente.

- Ah, legal! Estarmos juntos é um prêmio de consolação, então?! – Resmungou Rodrigo – O nome. Diz o nome da desgraçada que fez isso conosco!

Zeus lançou um olhar severo para ele. Amanda sussurrou para Rodrigo que talvez ele tivesse sido rude demais.

- Cuidado, meu jovem. – Alertou Zeus – Ela não aceita insultos de ninguém. Costuma guardar muito rancor facilmente, principalmente de meio-sangues.

- Hera! – Gritou Nina virando-se de repente para Zeus – Foi ela, não foi?! Ela me odeia! Odeia todo mundo! Eu sabia! Ela tornou uma vida um inferno desde que eu nasci, não foi?!

- Ah... Bem... – Zeus queria mentir, mas não conseguiu – Sim. Mas... Acredita, Nina. Poderia ser bem pior.

- Porra! – Exclamou Nina – Pior do que isso?! – Que medo dessa mulher!

- Ok. Vamos mudar de assunto antes que alguém seja atingido na cabeça por um raio, pedra, ou objeto cortante. – Sugeriu Apolo – Que tal falarmos sobre o que vocês farão?

- O que nós faremos? – Perguntou Flávia sorrindo feliz.

- Você não é uma gracinha? – Apolo apertou as bochechas dela e depois voltou a sorrir para os outros – Vocês voltarão para o Acampamento Meio-Sangue. Não vão ter mais problemas por um tempo. Poderão se divertir lá, sabem? Caçar monstros nas florestas, comer á vontade, treinar arco e flecha... Tudo de bom.

- Lá é um lugar legal. – Sorriu Flávia para Apolo.

- Ah, é ótimo. – Falou Dionísio em sarcasmo, e revirando os olhos.

- Porque insiste em dizer a sua opinião? – Perguntou Ares – Ninguém liga, e ela não conta mesmo.

Todos riram um pouco. Atena abraçou Bia.

- Você vai ficar com seus irmãos e irmãs do chalé. Eles vão te ensinar tudo o que deve saber.

- Mesmo? – Perguntou Bia admirada.

- Claro, corujinha. – Sorriu Atena – Eu tenho muito orgulho de você, Bia. Você é uma filha especial. Pode ser uma estrategista brilhante, e muito mais.

Bia e Atena se abraçaram novamente. Dionísio resmungou algo sobre ter mais uma nerd chata para incomodá-lo no Acampamento, quando olhou para Vinícius.

- É... Parece que vamos ter que ficar juntos.

- Fazer o que... – Resmungou Vinícius.

- Amanda. – Sussurrou Hermes para que ninguém ouvisse o que ele iria dizer. Ela sentou-se novamente ao seu lado, e ele continuou – Você conhece os irmãos Stoll, não é mesmo?

- Sim. – Assentiu ela confirmando. Estava feliz por se lembrar que Connor e Traivs seriam seus irmãos – O que tem eles?

- Fique perto deles e tente aprender todos os truques que puder. – Hermes estava sorrindo, enquanto falava com ela – 57 travessuras? Você tem um talento especial digno do Deus dos ladrões.

- Obrigada. – Amanda fez uma pose de “fuck yeah” e riu junto de seu pai.

Rodrigo olhou para Hades curioso. O Deus dos mortos olhava seus parentes sem com um sorriso minúsculo no rosto, como se no fundo ele achasse aquele momento em família extremamente precioso.

- Se a Nina quiser ver Zeus, ela vai para o Olimpo. Mas e se eu quiser te ver? Vou para o inferno?

- O nome técnico é “Mundo Inferior”. – Corrigiu Hades – E, sim. Você terá que descer para me encontrar, porém isso não dará trabalho para você. Você consegue viajar pelas sombras. Ou se estiver cansado demais para isso, pode deixar o Teisk te levar.

Rodrigo parou para pensar naquilo por um minuto, e depois surgiu em sua mente uma curiosidade.

- Como é o inferno? – Hades franziu o cenho sem acreditar que tinha realmente ouvido aquilo – Ou Mundo Inferior. Como você preferir.

- É... Grande e escuro. – Respondeu.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos.

- Resumiu tudo. – Comentou Rodrigo.

Afrodite começou a falar com Rita.

- Se você gosta dele, eu posso te dar uma mãozinha para você ter uma linda vida amorosa! – Sorriu a deusa – Só basta pedir.

- Não... Acho que não precisa. – Respondeu Rita um pouco incerta – Acho que eu não quero que ele seja obrigado a gostar de mim.

- Bem... De qualquer jeito. Se você mudar de idéia. – Afrodite parecia ligeiramente desapontada – É só me chamar.

Depois de Apolo tocar algumas outras músicas que fizeram Ares e Mariana resmungarem e revirarem os olhos, todos comeram marshmallows assados na fogueira. Aos poucos uma Lua cheia e linda surgiu no céu, brilhando cercada de estrelas. Os onzes nunca viram um céu tão limpo e aberto.

- É um presente de Ártemis para você, filha. – Disse Íris para Bruna.

- Mãe... – Bruna olhou para sua mãe um pouco apreensiva – Eu fiz a coisa certa? Quero dizer... Quando pedi para Ártemis para eu continuar a tomar continuar protegendo eles? Eu... Devia ter ido com as caçadoras?

- Você fez o que quis fazer. Não havia uma escolha certa ou errada. – Disse a deusa sorrindo compreensiva – Só lembre-se de que... Você deve pensar bem antes de fazer uma escolha. Pense bem nisso.

Bruna não entendeu muito bem, mas ela conseguiu pegar a mensagem principal. Ela tinha feito a escolha certa.

Ares estava falando com Mariana sobre como seria ter que conviver com os irmãos e irmãs do chalé 5.

- Tsc. Acha mesmo que eles vão implicar comigo? Eu fui na missão. Eu invoco javalis. Não tem quem se meta comigo. – Disse Mariana – E também... Se quiser mexer comigo, eu meto a porrada!

- Essa é a minha garota. – Assentiu Ares rindo de como seus outros filhos estavam ferrados. Mas pelo mesmo não seria problema dele.

- Pois é... – Disse Dionísio se pondo de pé – Reuniões familiares são ótimas, mas temos que ir logo para o maldito acampamento.

- Ir para onde? – Perguntou Mateus, que tinha passado o tempo todo conversando com seu pai.

- Para o Acampamento Meio-Sangue. Será que é surdo? – Respondeu Dionísio revirando os olhos – Vamos logo. É bem ali atrás das árvores.

Todos se levantaram e disseram “tchau” para seus pais. Natália abraçou Poseidon e Nina riu com Zeus.

Rhamon olhou para sua mãe um pouco apreensivo. Ele imaginava se ele e seus amigos ainda viriam a ter problemas, porém seu pensamento foi cortado pelo sorriso de Deméter.

- Se cuide, Rhamon. E cuide deles também.

- Pode deixar. – Assentiu Rhamon – Obrigado, mãe.

Amanda se despediu de Hermes, mas parou para amarrar os cadarços do tênis. Estava quase acabando quando sentiu alguém se aproximar.

- Vamos ver se você agüenta conviver com os meus filhos do chalé 5. Realmente espero que ele arranque o seu couro, cabeça de vento. – Sorriu Ares sombrio, cruzando os braços.

- No fundo, no fundo eu sei que você me ama, titio Ares. – Comentou Amanda brincando, mas ele fez uma terrível careta para ela – Ou não. Tudo bem.

Os deuses foram voltando para o ônibus um á um. Seu pai já tinha ido, junto de Zeus, Poseidon, Hades, e Íris. Os outros andavam até lá. Menos Deméter. Ela ficou parada olhando Rhamon correr atrás de seus amigos que já começavam a sumir no meio da paisagem. Só Nina e Bia é que estavam um pouco para trás.

Amanda viu nos olhos da Deusa um pouco de tensão, e acabou olhando para Ares com os olhos levemente arregalados.

- Qual é o problema dessa vez? – Perguntou tensa.

- Nenhum, cabeça de vento. – Respondeu ele dando de ombros, porém algo em sua voz não parecia certo. Como se no fundo ele soubesse que algo estava errado, e estava tentando alertá-lo o contrário.

- Não acredito em você. – Disse ela devagar.

- Idiota. Então da próxima vez não me pergunte droga nenhuma. – Reclamou ele revirando os olhos.

Amanda olhou novamente para a colina. Quis sair correndo e alertar os seus amigos que algo provavelmente estava errado de novo. Porém ela não o fez.

- Tenha uma boa noite, Ares. A gente se vê por aí. – Falou ela calmamente tentando ser gentil. Ela sorriu para ele, e depois olhou para os amigos se afastando – Ei, Nina!

Nina virou-se e forçou a vista para ver Amanda.

- O que é? – Perguntou ela gritando ao longe.

- Você está me devendo os 20 dólares da aposta! Lembra? Eu achei o objeto perdido!

- Fuuu! – Exclamou Nina – Excelente hora para eu me mandar!

- Eu vou te alcançar! – Amanda Freitas, filha de Hermes manda nas corridas! – Exclamou ela rindo e correndo atrás dela. A filha de Zeus começou a correr também.

Ela e Rhamon estavam, no fundo, preocupados com o que ainda podia vir. Entretanto eles sabiam que se seus amigos soubessem de suas suspeitas, eles ficariam preocupados e não teriam descanso. Por isso resolveram, individualmente, que não falariam nada. Até por que... Pela primeira vez em um tempo eles estavam de férias. E o melhor de tudo... Estavam juntos, e por ora aquilo já bastava.