O local era bem animado, cheio de vida, risadas, brincadeiras e bebidas, era assim que a guilda da Fairy Tail era: Viva! Cada integrante fazia suas coisas de costume, como uma grande festa que nunca tinha fim. Entretanto em um canto da gigantesca sala, estava sentada uma moça, já mulher, que usava sua armadura reluzente em volta do corpo, como uma forma de proteção, mas que também possuía uma armadura em volta do coração, impedindo que as pessoas o alcançassem, pelo menos, era essa a intenção.

   Erza apenas observava seus companheiros brincarem e rirem, com os olhos longe. Olhou para o pequeno prato que permanecia em sua frente, mexia com o garfo na comida, mas sem comê-la. “Podia ter sido diferente”. Não conseguia deixar de pensar em seu passado, mesmo com tudo acabado, mesmo com tudo resolvido, a mulher ainda sentia um aperto no peito. “Eu podia ter sido mais forte”. Uma parte de si estava feliz que seus antigos companheiros estivessem bem, mas um em especial, aquele que mais se preocupou, aquele que mais amou, ainda estava longe. Depois do incidente com a Oracion Seis, Gerard foi preso. “Eu não consegui fazer nada”. Foi tirado dela novamente.

“Podia ter sido diferente”

“Na primeira página da nossa história

O futuro parecia tão brilhante

Então essa coisa se tornou tão mal

Eu não sei porque eu ainda estou surpresa

Até os anjos têm seus planos perversos

E você leva isso para novos extremos

Mas você sempre será meu herói

Mesmo embora tenha perdido a cabeça”

Erza cerrou os punhos, queria salvá-lo, queria que ele estivesse ali, ao lado dela, se possível, gostaria que ele nunca mais se afastasse, mesmo assim, quando finalmente ele saiu daquele pesadelo, ele foi levado, cruelmente retirado dela. A moça ainda se lembrava da cena, todos seus companheiros lutando para que o conselho não levasse Gerard, mas ela interveio, e assim, ele se foi. “Adeus”

- Erza?

A mulher de cabelos cor de escarlate voltou de seus pensamentos, chacoalhou a cabeça para afastá-los e encarou aquela que a chamava, era Lucy, a menina segurava suas próprias mãos e olhava a mais velha com preocupação.

- Você está bem, Erza?

- L-Lucy, é claro que eu estou bem. – forçou um sorriso.

- Posso me sentar com você?

- Claro, sinta-se a vontade.

As duas permaneceram em silencio, apenas observando a imensidão da sala e a muvuca que seus companheiros faziam. Lucy sabia que algo estava errado com a amiga, mas como falaria?

- Lucy...

Para a surpresa da loira, quem começou a falar foi Titânia.

- Você gosta de escrever romances, não é?

- Hã? Ah! S-sim, eu escrevo, mas nem está muito bom!

- Me diga, como seria o final de um romance onde a pessoa que a protagonista amou foi preso? – Erza encarava o prato, um olhar triste.

Lucy percebeu toda a dor que a ruiva estava sentido, toda essa feição era devido a Gerard, todos sabiam muito bem que a pena dele seria a morte ou prisão perpétua, e isso magoava, e muito, a cavaleira. A loira respirou bem fundo.

- Eu acho... – ela começou – que eu escreveria que a protagonista nunca pararia de lutar por aquilo que ela deseja. Iria até o fim se for necessário e tentaria, com todas as forças, livrar seu amado da cadeia. Crimes podem ser perdoados, e tenho certeza de que se esse prisioneiro fez com que a mocinha se apaixonasse por ele, com certeza, ele é do bem! Ninguém deve pagar por crimes pela eternidade, todos merecem uma segunda chance! Portanto, Erza, nunca pare de acreditar!

A mulher continuou a encarar a mais nova, os olhos arregalados e cheios de água, deu um pequeno sorriso.

Ela suspirou.

- Essa protagonista é bem bobinha, não é? – Erza sorria.

Lucy apenas sorria junto, ela sabia que era desse jeito que a mais velha se abria com os outros.

- A protagonista não é boba! Ela é forte! Forte por agüentar tudo! Forte por lutar! Forte por acreditar!

- Sabe, Lucy! Você escreverá um ótimo romance.

- Obrigada, Erza!

Lucy se levantou sorrindo e deixou sua amiga para trás, sabia que ela precisava de um tempo sozinha. Erza agora observava a janela, uma mão servindo de apoio para a cabeça.

“Estou aqui por você, mesmo que aquele ódio retorne, o seu ‘eu’ natural não irá desaparecer. Eu...”

- Amo você.

Lá fora o sol estava se pondo, e possuía uma linda cor escarlate, assim como os cabelos de Erza, o mesmo pôr-do-sol do dia em que Gerard se foi, mas aquele cenário, naquela época não foi visto por ela, o choro e a tristeza a impediram de observá-lo naquele dia, entretanto, esse era apreciado, por sua beleza e peculiaridade.

“Gerard, você pode ver esse pôr-do-sol? Eu continuo aqui, esperando por você.”

“Erza, sei que, em algum lugar, você está vendo o mesmo céu que eu, espere por mim, eu ficarei ao seu lado.”

“Como você está? Está sofrendo? Será que você consegue me sentir?”

“Fique bem, minha querida. Nenhuma dor no mundo é capaz de apagar o que fiz, mas continuarei lutando, por você. Para poder estar contigo outra vez.”

“Não quero me lembrar de você como “aquele que amei, mas se foi”, Gerard”

“Continue vivendo sua vida ao máximo, logo irei alcançá-la para estarmos juntos novamente.”

“Quero te abraçar.”

“Quero envolver-lhe em meus braços.”

“Não desista de viver.”

“Não desistirei.”

“Eu esperarei por você, não importa quanto tempo passe.”

O sol se pôs, deixando para trás a negritude da noite e os primeiros brilhos das estrelas aparecerem. Erza se levantou e olhou para aquele céu, elevou seu rosto e sorrio para a lua que acabava de mostrar sua face.

“Você vai voltar pra mim, não é mesmo, Gerard?”