The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 8
Ressuscitada


Notas iniciais do capítulo

Hey amores, mais um capítulo repostado!
Espero que gostem! *-*
Nesse há muitas mudanças, e acho que, modéstia parte, com o toque da minha Bff Bella, ficou perfeito *-*

My All_ Mariah Carey

Estou pensando em você
Hoje à noite em minha solidão insone
Se é errado amar você
Então meu coração não vai me deixar agir certo
Porque me afoguei em você
E não sobreviverei sem você do meu lado
Eu daria tudo de mim para ter
Só mais uma noite com você
Eu arriscaria minha vida para sentir
Seu corpo junto ao meu
Porque eu não consigo deixar de
Viver na lembrança de nossa canção
Eu daria tudo de mim pelo seu amor hoje à noite

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Capítulo 8

Ressuscitada

POV. Peg:

O fim que eu esperava era apenas escuridão.

Nada de dor.

Apenas o vazio e negro, como o universo.

Eu contei até cinco mentalmente, esperando a dor aguda da bala perfurando meu crânio. Cada segundo parecia enquanto eu apertava os olhos, esperando enfim estar livre da dor.

Minha respiração estava ofegante e imagens da minha família na caverna, minha pequena existência feliz durante o último ano povoando minha mente. O sorriso da minha irmã, Mel. O jeito animado e feliz de Jamie. O riso trovejante e a expressão de pôquer de Jeb. A bondosa face de Doc. Seus nomes coloriam minha mente.

E sem sombra de dúvidas, ter que deixá-los era a parte mais difícil de partir. Mas estranhamente o fim não me fazendo abrir os olhos com dificuldade, piscando para sobre as pálpebras.

Ian estava sentado ao meu lado, encolhido sobre o próprio corpo enquanto segurava a arma com as mãos trêmulas. Sua cabeça apoiada sobre os próprios joelhos e seu corpo tremendo por causa dos soluços, agudos e dolorosos.

– Ian...

Eu sussurrei.

Assistir aquela cena era como se uma faca estivesse sendo enfiada no meu peito. Ian não merecia sofrer daquela forma. Nunca mereceu. Ele merecia a felicidade, mesmo nesse mundo dominado pelas Almas. Ele merecia muito mais do que eu era capaz de dar a ele. Seus olhos de Neve, Safira, Meia Noite, nunca haviam contido tanta dor. Ele estava sofrendo como nunca antes, e eu sabia disso. Eu podia ver facilmente o brilho das suas lágrimas.

Lágrimas de dor, sofrimento e de perda.

– Me. Desculpe. Peg – Sua voz soou um misto de dor e decepção – Eu. Não. Posso. Fazer. Isso. – Ele se abaixou até minha altura, engatinhando até mim. Enterrou a cabeça no meu estômago, seus braços envolvendo minha cintura. – Não posso mata-la! Não posso!

– Tudo bem, Ian – Segurei seu rosto entre minhas mãos tremulas – Vai... Ficar... Tudo... Bem.

– Você não pode ir! Eu não posso viver sem você Peg! Eu prefiro morrer!

–Ian. Não. Diga. Isso. – Murmurei sentindo as lágrimas molharem os meus lábios ressecados pelo calor do deserto – Você. Precisa... Seguir. Em. Frente. Por mim. Por nós.

– Eu não posso, não posso.

Ian balança a cabeça, a voz aguda.

– Me prometa... Prometa que será feliz... Por... Favor. – Digo com dificuldade – Tem que me prometer agora, Ian.

Nesse momento, eu já não sinto mais dor. Meu corpo está em transe, dormente. Em choque, eu acho. Já não consigo nem mesmo sustentar meus próprios pensamentos. Ian move os lábios e beija meus olhos, mas já é tarde.

– Não chore Peg. Não chore.

Estou pensando em você

Hoje à noite em minha solidão insone

Se é errado amar você

Então meu coração não vai me deixar agir certo

Porque me afoguei em você

– Eu. Te. Amo. – Falei em meio às lágrimas. – Sempre vou... Te amar. Sempre.

Era tão bom poder sentir Ian perto de mim... Senti-lo por uma última e derradeira vez. Isso fazia meu coração inchar de uma alegria sonolenta e me aquecia por dentro. Era como fechar um ciclo. Foi ali que começamos e era onde terminaríamos. Isso me trazia um tipo estranho de serenidade.

Meus olhos foram se fechando devagarzinho, pouco a pouco, contra a minha vontade. Queria que eu pudesse ficar um pouco mais.

– Fica comigo, fica comigo, fica comigo... Por favor...

Ian repetia desesperado, beijando cada centímetro do meu rosto pálido. Seus lábios estavam quentes em contraste com a pele fria.

Senti uma onda de alivio em saber que eu não agonizaria por muito tempo. Senti as minhas mãos se soltarem lentamente das de Ian, caindo desfalecidas. Queria que elas voltassem para onde estavam, queria segurá-lo até o fim. Mas quando tentei fazê-las se mover, mas não tive sucesso. Sentia-me presa a um corpo já morto.

Meu coração batia lentamente. Tão lentamente que era difícil escutá-lo. Eu estava surpresa de ainda estar consciente àquela altura. Tudo a minha volta parecia escurecer e a minha visão tomada por pequenos pontinhos prateados.

Fitei os olhos de Ian pela última vez e meus lábios projetam o mais leve sorriso. Os olhos que me seguraram nesse planeta. A minha âncora. O pilar mais forte sobre o qual eu construíra a minha vida. A minha razão de viver. Essa era a última imagem que irei levar. Algo tão forte que eu esperava nem mesmo a morte seria capaz de apagar.

–Te amo. Para sempre, meu humano.

O azul me chamou com carinho para a imensidão e eu me deixei levar. Eu iria para qualquer lugar com aquela cor gravada dentro de mim.

POV. Ian:

Quando os nossos pequenos inimigos prateados e invisíveis invadiram o planeta, eu perdi tudo. Perdi minha família, meus amigos, minha vida, minha identidade. Achei que nada poderia ser pior do que isso.

Mas nada daquilo doeu tanto quanto naquele momento, enquanto segurava o corpo mole de Peg em meus braços. Estava perdendo a minha razão de viver. Estava perdendo-a e não havia nada que eu pudesse fazer para evitar isso. Só podia segurá-la e implorar que não se fosse.

– Eu. Te. Amo. – Peg balbucia com dificuldade, sua voz rouca e as palavras saindo atropeladas devido ao choro – Sempre vou... Te amar. Sempre.

Suas palavras me acertaram em cheio, trazendo mais lágrimas em meus olhos. Ela estava se despedindo. E mesmo que a palavra adeus não estivesse presente, era como se tudo fosse mais real. Mais seco e intragável. Mal sabia ela que aquelas palavras ficariam marcadas em mim, para sempre.

Peg estava morrendo.

Morrendo em meus braços.

Morrendo.

Morrendo.

Morrendo.

Oh meu Deus, eu estava perdendo ela!

A dor no peito era quase insuportável. Meu coração parecia se despedaçar dentro de mim, deixando tudo transbordar. Dor, angústia, desespero, impotência. A pessoa que eu mais amo estava morrendo, agonizando em meus braços e eu não podia fazer nada. Ela nunca mais iluminará meus dias com seu brilho. Este pensamento é absurdo.

– Fica comigo, fica comigo, fica comigo... Por favor...

Balbuciei de forma incoerente em meio ao meu desespero, beijando seu rosto pálido inteiro e apertando seu corpo sacudido pelos espasmos dos meus soluços que eu não conseguia mais segurar. Forcei-me a me controlar. Não queria machucá-la.

Meu coração perdeu o ritmo, atropelando sua própria batida quando vi seus olhos cinzentos com o anel prateado marcando sua presença angelical se fechando lentamente, como que em câmera lenta. Como que me provocando a fazer alguma coisa. Suas pálpebras piscaram lutando para continuar ao meu lado. Vamos você consegue. Mas a luta foi perdida, e seus olhos se fecharam e ela soltou um suspiro fraco.

– Te amo. Para sempre, meu humano.

Seus lábios inertes e trêmulos, quase num tom arroxeado, projetaram um sorriso que me fez estremecer.

Não queria aceitar de forma alguma que eu a estava perdendo, não queria aceitar que nunca mais voltaria vê-la. Que eu acordaria todos os dias para a realidade de que ela não existia mais. Era como se eu tivesse sido jogado num imenso buraco sem fundo. E estava caindo e caindo e caindo para sempre.

Suas mãos frias soltaram das minhas, caindo sem forças.

– NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO!

Balancei a cabeça com força, minha voz saindo estrangulada. Tornei a envolver suas mãos nas minhas e levando-as ao meu rosto.

–Eu te amo, fica comigo, por favor! Não vá! Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo!

Em meio ao meu desespero, eu chacoalhava seu pequeno e frágil corpo, completamente imóvel, movendo meu corpo para frente e para trás, do mesmo jeito que eu fazia quando mamãe fazia quando tínhamos pesadelos, ou não conseguíamos dormir.

– Eu não sei viver sem você, Peg. Eu te disse... – Sussurrei soluçando, me lembrando da expressão desolada de Lily após a morte de Wes. – E eu não menti! O que fazer agora sem você?! Como eu vou voltar para casa?! Como vou contar a todos que perdi você?! Como eu vou continuar, sabendo que você está aqui?! Como, como, como?!

Ela era tudo pra mim, e agora... Tinha ido embora. Embora e para sempre, deixando em meu peito uma ferida que jamais irá cicatrizar. Levava com ela um pedaço de mim. Levava meu coração devoto. Levava a minha vida. Eu não tinha sentido se ela não estivesse ali. A minha vida não se estenderia por mais nem um segundo sequer. E por mais que não nos encontrássemos no que quer que haja mais a frente, é preferível. Lá não doerá tanto.

Eu daria tudo de mim para ter

Só mais uma noite com você

Eu arriscaria minha vida para sentir

Seu corpo junto ao meu

Deitei o corpo de Peg com cuidado na areia e olhei seu rosto rígido por uma última vez. Estendi a mão para limpar suas últimas lágrimas e me inclinei para lhe dar um último beijo que é frio, rígido e doloroso, uma vez que ela não está mais ali. Meu coração bate uma vez, se contorcendo.

Com as mãos trêmulas, peguei a arma que estava a alguns metros de mim. A arma que eu usara para salvar Peg e que agora usaria para por fim a minha vida inútil, sem ela. Apenas um tiro, e tudo estaria resolvido. Nem mesmo a morte nos separaria. Seríamos como Romeu e Julieta! Juntos pra sempre.

Cinco. Quatro. Três. Dois. Um. Contei mentalmente, envolvendo o indicador ao redor do gatilho. Não tinha medo. Não tinha arrependimentos. Só dor.

De repente, quando estava prestes a apertar o gatilho, senti a picada de uma agulha no pescoço. Uma injeção? Alguém injetou alguma coisa em mim? Mas que m... Imediatamente, senti meu corpo amolecer, dormente. Tudo em minha volta começou a girar, e a minha visão começou a escurecer.

Caio na areia. Vejo Peg deitada ao meu lado. Alguém está ao lado dela, um vulto. Quero gritar para que não toque nela, quero socá-lo, quero segurar a mão dela e dizer que assim que eu resolver isso estaremos juntos. Mas não tenho forças para nada disso.

Estou perdendo a consciência.

>>>>>>

Minha cabeça e meu corpo doíam. Estava confuso e atordoado.

Estava com a sensação de ter dormido por dias. Ouvi um som estranho e contínuo. Ao mesmo tempo tenho a impressão de já tê-lo ouvido antes, há muito tempo. O... Mar?! Onde estou? O que está acontecendo?

Com os dedos de juntas doloridas, examinei a superfície onde estava deitado. Era um colchão de verdade e havia um travesseiro sob minha cabeça. Abri meus olhos devagar até eles se acostumarem com a luminosidade que entra pelas janelas. E quando eles finalmente se acostumaram com a luz, levo um grande susto.

Uma garota. Uma garota de aproximadamente quinze anos me observava, curiosa, mordendo o fino lábio inferior. Ela tinha longos cabelos ruivos presos atrás da cabeça por uma trança e olhos cor de avelã. E para minha surpresa, seus olhos eram completamente... Humanos.

– Calma, calma! Está tudo bem. Eu não vou te machucar. – Ela disse, percebendo que eu me afastei bruscamente. Seus olhos brilham de animação. – Eu sou como você! Eu sou humana! – Ela piscou os olhos iluminados pela luz do sol que vem de fora – Eu me chamo Alysson. Qual o seu nome?

– Ian. – Respondi, confuso – Ian O’Shea.

– Nunca imaginei que existiam outros humanos! É incrível!

Ela estava extasiada, como se quisesse sair pulando por aí. Sorri de leve ao perceber a semelhança entre a garota e Jamie. Com certeza, ele gostaria muito de conhecer alguém da sua idade.

– Aonde... Onde eu estou?

Perguntei, levando a mão à cabeça e olhando ao redor.

– Você está na nossa casa. Numa praia deserta a 200 km de Tucson.

– Como é que... Eu vim parar aqui?

– Tínhamos ido à cidade para reestocar alimentos e, quando estávamos voltando pelo deserto encontramos você e aquela garota, a alma, muito ferida.

Tudo voltou à tona como um inesperado soco no nariz, todas as lembranças daqueles minutos infernais. Peg! Peg se foi... A minha Peg está... Está... Morta. Oh, não.– Ah não, Peg, NÃO! NÃO!

Sentei-me na cama de um salto, fechando as mãos em punhos e pressionando-os contra a cabeça, tentando fazê-la parar de doer, mas sei que nada vai fazer isso. Não percebi a presença da menina até que ela voltou a falar.

– Eu acho... Que você precisa ver alguém. – Alysson disse, dando um sorriso amigável. – Vem comigo!

Alysson foi me guiou pelo lugar, um amontoado de casas de palha frente à imensidão azul do pacífico. Um verdadeiro paraíso, totalmente isolado do mundo dominado pelas almas.

Ela foi me apresentando a algumas pessoas que encontramos no caminho, que eu cumprimentei sem muito empenho, imaginando o que Alysson queria com tudo aquilo.

Ela me contou que eles são uma resistência de 15 pessoas no total e que o pai dela é o líder do grupo.

– É aqui!

Ela disse, cutucando meu ombro e, apontando para uma das casinhas mais a frente. Empurrou-me naquela direção, e me encorajou a entrar com um gesto.

POV Peg:

– Como ela está?

Perguntou uma voz masculina, apreensiva. Sabia que nunca a escutei na minha vida. Estava com medo. Onde eu estava? Morrera? Minha mente estava confusa e dolorida. Era impossível organizar os meus pensamentos. Minha cabeça rodava, incoerente.

– O caso dela é muito delicado, Gil. Ela perdeu muito sangue durante o caminho, e foi muito difícil retirar a bala que estava alojada perto das costelas. Por pouco o tiro não foi fatal...

Respondeu uma voz feminina. Também nunca a tinha escutado. Quem são essas pessoas, afinal?

–Bom. – O homem pensou um pouco – Isso é um problema, Tracy. Essa garota não é humana... Ela é um alienígena e não podemos deixar ela aqui, na nossa casa... E se ela alertar os Buscadores? Estaremos perdidos!

A mulher – Tracy – Pensa um pouco e estala os lábios.

– Não sei não, maninho... Sabe, ela me parece tão... Inocente... Não acho que ela seja capaz de fazer mal a alguém... E me parece que ela e aquele humano têm uma ligação muito forte... Você mesmo viu... Ele quase se matou quando pensou que ela estava morta... Se você não tivesse impedido, ele teria se matado por ela! Acho que isso é mais do que prova que ela está do nosso lado nessa guerra.

– Isso está complicado... Mesmo se isso for verdade... Só vamos saber o que realmente aconteceu quando o garoto que estava com ela acordar.

Garoto? Ian! O humano de quem eles estavam falando é o meu amor! O meu Ian! Ele tentou... Se matar por minha causa? Imagens de seu rosto, do seu lindo sorriso, e de seus olhos neve, safira e meia noite invadiram a minha mente. Será que ele faria isso?

Tentei abrir os olhos, mas a luz ofuscou a minha visão, me fazendo piscar.

Porque eu não consigo deixar de

Viver na lembrança de nossa canção

Eu daria tudo de mim pelo seu amor hoje à noite

– Ela está acordando!

Comemorou a voz de uma criança, entusiasmada, o que me deixou mais confusa ainda. Finalmente meus olhos se acostumaram com a luz.

Uma mulher alta, de cabelos curtos lisos e olhos cor de esmeralda me observa. Ao lado dela está um homem de cabelos castanhos, mesclados com alguns frios brancos, e uma linda garotinha de uns seis anos, de cabelos loiros e olhos cor de safira, iguaizinhos aos de Ian! Os olhos deles congelam, arregalados

– Ian? Onde está Ian?

Seu nome saltou dos meus lábios, e meus olhos procuraram freneticamente algum vestígio da sua presença. Tentei me levantar, mas as mãos ágeis da mulher alta me impediram.

– Calma, está tudo bem! É melhor você continuar deitada, por causa do ferimento – Ela falou, e só então notei que há algo ao redor do meu corpo, por baixo da minha blusa. São faixas. Era estranho. Não sentia nada além de uma vontade intensa de encontrar Ian. – Eu sei que você deve estar assustada, mas eu não vou te machucar. Eu sou médica e cuidei do seu ferimento. – Ela completou – Você não vai chamar Buscadores, não é? Somos humanos pacíficos.

– Quem... São vocês?

Perguntei, apertando os olhos, percebendo pela primeira vez que são, mesmo, humanos.

– Eu me chamo Tracy. Esse é o meu irmão, Gilbert. E... Essa pequena aqui é a Allie

Ela disse, apontando para a garotinha, que se aproximou mais da cama, acenando e sorrindo.

– Eu sou Peregrina, mas meus amigos me chamam de Peg.

–Seja bem vinda a nossa casa Peg!

Após um minuto de silêncio, não consegui mais segurar minha curiosidade.

– Por que... Vocês me salvaram? Por que confiaram em mim? Eu sou uma alma e... Podia muito bem ser uma Buscadora...

– Acho que estar ao lado de um humano prova que você está do nosso lado... – Tracy sorriu – E enquanto você estava inconsciente, chamava por ele o tempo todo.

– Ian! Onde ele está? Eu quero vê-lo... Quero falar com ele.

E antes que eu completasse a frase, a porta da cabana se abriu.

– Ian!

Grito seu nome, estendendo os braços, emocionada.

– Ah Peg! Minha Peg!

E de repente o mundo estava todo estava brilhando como se eu tivesse ingerido todo um carregamento de Sem Dor. Ian correu até mim, me apertando forte em seus braços, como se quisesse se certificar que eu realmente estava ali, viva. Sã e salva. E eu estava. E o melhor de tudo: Ele estava também. Enterrei meu rosto em seus cabelos, deixando as lágrimas caírem sem impedimento.

– Ian, você está me esmagando, amor.

Disse, meio sem fôlego. O ferimento perto das costelas começou a lançar ferroadas doloridas coluna acima.

– Meu Deus, me desculpe! – Sua voz soa preocupada agora, afrouxando os braços em torno de mim. Algo me dizia que não era só por aquilo que ele se desculpava – Você está bem?

Ele perguntou olhando-me diretamente nos olhos. Assenti, me aconchegando em seus braços. Ian sentou-se na cama e me ajeitou em seu colo, pousando o queixo no topo da minha cabeça.

– Peg, eu tive tanto medo de te perder... Tanto medo... – Ele choramingou, enterrando o rosto nos meus cabelos, ficando tenso de repente. – Nunca. Mais. Faça. Isso. Comigo!

Ele ordenou, enchendo meu rosto de beijos. Ri de leve, empurrando-o.

– Você não vai se livrar de mim tão cedo O’Shea. Temos uma vida toda pela frente.

Ele concorda unindo novamente nossos lábios, com todo carinho e amor que somente meu doce humano poderia ter. Rapidamente nos esquecemos da audiência a nossa volta. Podia sentir o sabor de nossas lágrimas. As dele e as minhas.

– Obrigada por ter nos salvado. Jamais poderíamos achar uma forma de agradecê-los.

Murmurei agradecida a Tracy e a Gilbert.

– Não foi nada, Peg. – Tracy deu de ombros, meu nome parecendo soar estranho em seus lábios – Estamos no mesmo lado nessa guerra, não é?

Fiz que sim, sorrindo para meus novos amigos.

>>>

Os dias passaram rapidamente, e a cada dia eu me sentia melhor. Logo Ian e eu poderíamos voltar para casa! As pessoas da praia eram ótimas, prestativas e atenciosas, mas a verdade era que eu sentia muita falta de casa. Não via a hora de rever a minha família. Jamie e Mel e Jared e tio Jeb e até o cabeça dura do Kyle.

Depois da minha quase morte, o meu amor e de Ian ficou ainda mais forte do que nunca. Ele estava sempre me enchendo de mimos e cuidados, e eu me sentia muito feliz, porque ele parecia feliz.

E Cassie, como eu previra, começou com ondas de provocação diária. Quase todos os dias ela dava em cima de Ian descaradamente e me ofendia sempre que podia. Eu não a entendia, e meu estômago se revirava sempre que ela se aproximava. O que eu havia feito para ela?

Soltei um suspiro insatisfeito, lembrando-me do dia que a conhecera.

– Vamos Peg, só mais um pouquinho.

Ian insistiu, levantando a colher cheia de sopa de ervilhas.

– Eu estou sem fome, amor. Já disse.

Resmunguei apertando os lábios. Aquele era o nosso terceiro dia naquele lugar paradisíaco, pelo menos era o que eu contava. E desde que acordei da minha quase morte, Ian praticamente não saia do meu lado. E isso me lembrava dos tempos antigos, de minha outra vida, quando ele era o meu guarda nas Cavernas.

– Muito bem, senhorita teimosia – Resmungou com uma careta nada satisfeita – Vou ter que relatar a Tracy que a paciente dela não está se alimentando direito. Como pretende ficar boa assim?

Eu enruguei o nariz, insatisfeita.

– Já disse que estou bem melhor, meu amor.

Ele suspirou.

– Não sei não, Peg. – Balbuciou preocupado – Mas essa sopa me parece mesmo estar uma delicia, tem certeza que não quer mais?

– Ian!

Resmunguei e ele riu.

– Está bem, está bem.

Disse em rendição

– Já disse que estou bem, e com um enfermeiro desses 24 horas, tenho certeza que vou estar novinha folha em alguns dias.

Ele sorriu, satisfeito.

– Vem aqui, minha pequena.

Ele disse estendendo os braços para que pudesse me aconchegar. Mas ainda que eu pudesse aproveitar o calor dos seus braços, a pequena porta improvisada foi aberta, a voz de Gil interrompendo nosso momento.

– Boa noite! – Ele cumprimentou sorrindo e seus olhos pousaram na no prato de sopa praticamente intacto, rolando-os em seguida. Aquilo era tão Jeb. – Espero não estar atrapalhando o descanso de vocês, ou Tracy me mataria.

Ele riu.

– Oh não, de forma alguma.

– Isso é bom. – Concordou – Na verdade, eu gostaria de apresentá-los a algumas pessoas que estão muito curiosas para conhecê-los. Sabe, a história de vocês fez muito sucesso por aqui.

Ian e eu fizemos que sim em uníssono.

– Podem entrar, pessoal.

Ele gritou.

Um a um, meus olhos foram captando vários humanos adentrando no quarto. Ao todo foram quinze pessoas. Oito mulheres e sete homens. Com certeza todos queriam ver o milagre, por si mesmos.

Gilbert foi apresentando a todos, apontando um a um.

– Essa é a Alysson, minha filha, que vocês já conhecem – Apresentou a jovem de cabelos vermelhos com sorriso orgulhoso – E esses são Nicolas, Brian, Charlie, Peter, Lucas, Andrew, Dean, Summer, Camila, Jéssica, Jimmy Garret – Pausou por alguns segundos – Tracy e a pequena Allie, que vocês já conhecem também, e por último...

Cassie?!

A voz de Ian saiu cortante, completamente surpresa.

– Ian! Eu não acredito!

A voz sensual e desconhecida saiu do pequeno grupo de humanos.

Então eu a vi pela primeira vez.

Era uma mulher extremamente bela, de estatura mediana, seus cabelos castanhos e brilhantes caiam na altura dos ombros, olhos num tom de mel derretido e os lábios perfeitamente desenhados e carnudos.

Um rosto belíssimo, parecia esculpido. Ela andou até Ian, abraçando-o com um entusiasmo desnecessário.

– Espera, vocês já se conhecem?

Gilbert indagou.

– Sim... Ela era... Era...

Ian balbuciou, coçando a cabeça, sem graça.

– Eu era namorada dele antes da Invasão! Mas terminamos antes da Invasão começar... Infelizmente... – Murmurou forçando um biquinho de indignação – E então Ianzinho, não vai me apresentar a sua amiguinha?

Cassie me olhou dos pés a cabeça, como se eu fosse menor que uma formiga.

– Cassie, essa é a minha noiva, Peg!

Ian me apresentou, unindo nossas mãos.

– O que?! Não brinca! A sua noiva é... Uma... Alma!

Seus olhos triplicaram de tamanho.

– Sim, eu a amo e tenho muito orgulho dela. – Ian a cutucou, envolvendo os braços com cuidado em volta da minha cintura. – Algum problema com isso, Cassie?

A resposta de Ian foi um trunfo pra mim. Eu sabia que não deveria sentir isso, mas cada parte de mim gritava: ‘Bem feito!’

– Oh não, nenhum problema, querido. Apenas acho que você merece coisa bem melhor... – Ela falou, me fuzilando com os olhos. – Vocês checaram os olhos dele, Tracy?

Eu não ouvi o que médica respondeu. Uma onda de raiva invadiu meu peito, e como se tivesse vida própria minhas mãos se fecharam em punho, e tive que apertá-las para não levá-las até o rosto de Cassie.

Urgh!

Senti uma sensação entranha tomar conta de mim. De repente, minha mente fértil começou a imaginar os dois juntos namorando, antes da invasão.

– Agora que todo mundo se conheceu, vamos deixar os nossos hospedes descansarem – Tracy anuiu. – Qualquer coisa que precisarem, podem chamar-nos.

Todos foram saindo do quarto um á um. Fiquei encolhida contra o peito de Ian, tentando segurar as lágrimas que insistiam em querer cair. As palavras de Cassie não saiam da minha cabeça. Definitivamente, conhecer a Ex-namorada de Ian não me fez nada bem. Bom, talvez isso seja só insegurança. Ciúmes. Mas, estranhamente, algo me diz que os meus problemas com ela só estão começando.

Aquele era nossa última noite na praia. No dia seguinte, bem cedinho, iríamos fazer a nossa viagem de volta. Gilbert – ou Gil, como gosta de ser chamado - resolveu fazer um luau naquela noite. Ian me explicou que um lual é um tipo de festa a beira da praia. Fiquei animada. Não era como se eu já tivesse ido a alguma festa humana antes.

Tracy, que se tornou bastante minha amiga, me deu uma roupa bem bonita para o lual, embora ela deixasse as ataduras de fora, e isso fosse um pouco desconfortável. Ela disse que eu tenho que ficar bem bonita para o meu Ian, para ver se Cassie se tocava de vez e sai de perto dele.

À menção do nome dela, e imaginando como ela se sentiria, segui seu conselho e coloquei a roupa.

A lua brilhava forte no céu. O clima estava ameno, descontraído. Ian estava do meu lado, o braço ao redor dos meus ombros, perto da fogueira. Tudo corria perfeitamente... Até Cassie aparecer. Ela andou em nossa direção, com sua roupa extremamente provocante, seus seios perfeitamente delineados pela camiseta fina.

A festa acabou, pensei, estremecendo. Ian percebeu isso e olhou para mim, esfregando meu braço e beijando o topo da minha cabeça, como se dissesse: Deixe comigo. Nada vai acontecer.

– Peg, querida, será que você me emprestaria o Ian para uma dança?

Ela disse, no tom provocador de sempre. Soltei um suspiro.

– É ele quem decide Cassie. Eu sou a noiva dele, não a dona.

Disse cruzando os braços, infeliz, fazendo questão de enfatizar a palavra noiva.

– Vamos Ianzinho, é só uma dança! Eu não vou te morder.

Ela disse, piscando pra ele. Deus, até mesmo a voz dela me irrita. Como isso é possível?

–Eu prefiro ficar aqui, Cassie. É onde eu pertenço.

Ian falou, envolvendo os braços em minha cintura.

– Ah não! Eu não aceito um não como resposta!

Ela falou, puxando Ian pela mão até que ele se levantasse. Ela se ajoelhou a minha frente enquanto ele suspirava e praguejava, limpando a areia dos shorts novos.

– Queridinha, é melhor você tomar cuidado. Eu tenho meus encantos e vou usá-los. É melhor você não ficar no meu caminho, Peg. – Disse, mostrando o desprezo que sentia pelo meu nome. – Sabe o que dizem? Quem brinca com fogo, acaba se queimando...

Ela sussurrou no meu ouvido, soltando um riso irônico. Depois se afastou, voltando a puxar Ian para mais perto da fogueira, onde Tracy gargalhava enquanto era rodopiada por Gilbert e Summer tocava uma música chamada Ironic no violão.

Depois, ela envolveu os braços no pescoço de Ian, puxando ele pra mais perto. Ele tentou se afastar delicadamente, mas ela continuou ali, prendendo seu corpo ao dele. Naquele instante a minha vontade foi de ir até lá e voar nos cabelos dela, mas me controlei. Cassie encostou a cabeça no peito dele, enquanto seu corpo se movimentava de acordo com a melodia.

Senti meu sangue ferver de raiva. Não conseguiria ficar ali mais nem um segundo! Nunca tinha sentido isso por ninguém e isso estava me destruindo. Mas a detestava. Será que Ian não percebia? Será que ele não percebia o que ela está tentando fazer?! Ela queria nos separar! Ela o queria de volta e vai fazer tudo para que isso aconteça. Ela parece ser o tipo de pessoa que as outras Almas viviam me alertando sobre. O que eles diziam ser a verdadeira essência humana.

Levantei-me e saí andando sem rumo pela orla da praia. O mar estava calmo. Quando me dei conta, já estava um pouco longe do acampamento. Caí no chão, desamparada e puxei minhas pernas para perto, afastando uma pontada de dor. Fiquei encolhida como uma bola na areia, chorando feito uma criança. O choro ajudou um pouco a aplacar a dor estranha no meu peito.

– Peg! Peg, é você aí? Peg, precisamos conversar!

Ouvi uma voz me chamar, apreensiva. Era Ian.

–Vai embora, Ian! Eu quero ficar sozinha!

Disse, enxugando as lágrimas que caiam com as costas da mão.

– Peg, me desculpa amor! – Ele se ajoelhou ao meu lado, encostando a cabeça na minha e sussurrando em meu ouvido. - Eu não queria magoar você. Se eu soubesse que Cassie ia ser tão inconveniente, eu...

– Ian... – Gemi, baixinho - Será que você não percebe o que ela está tentando fazer? Ela quer você de volta! Ela quer separar nós dois...

– Acontece que você – Ele tocou a ponta do meu nariz com o indicador - É a única dona do meu coração. Cassie ficou no passado, eu só tinha dezesseis anos. Era um menino. Você é meu presente e meu futuro.

Ele sussurrou, me puxando para mais perto dele. Meu coração batia descompassado. Já não conseguia mais segurar minhas lágrimas, que começaram a cair copiosamente.

– Eu tenho tanto medo de te perder, Ian... Medo que... Você se arrependa de ficar comigo... Que deixe de me amar...

– Não diga uma bobagem dessas. É só você que eu amo, Peg! Perdoe-me se eu fiz alguma coisa para você pensar diferente. Não importa o que aconteça... Eu sempre estarei ao seu lado e sempre vou te amar!

Envolvi o pescoço dele com os braços e o puxei mais para perto até seus lábios tocarem os meus. Ele me abraçou me puxando mais forte contra seu peito. Nossos lábios se moveram juntos.

– Isso significa um perdão?

Ian perguntou com um sorriso malicioso e os olhos safira que me hipnotizam em um só segundo.

– Sim - Pensei um pouco e me corrigi - Mas eu ainda estou brava. Se você deixar ela se aproximar de você de novo daquele jeito, eu... – Ian me silenciou com um beijo. – Eu não sei o que eu faço.

Suspiro o resto da frase. Ele ri e me pega em seu colo e solto um gritinho de surpresa.

– O que está fazendo?

Indaguei um sorriso crescendo em meus lábios.

– Você me deve uma dança, minha noiva– Respondeu e eu podia sentir borboletas no estomago - E não aceito não como resposta.

– E quem disse que eu diria não?

Respondi e ele apressou os passos para que nos juntássemos aos outros novamente.

''E não sobreviverei sem você do meu lado’’


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Notas finais do capítulo

Repostado 03/06
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