The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 22
Interrogada


Notas iniciais do capítulo

Oi minhas amoras, tudo bem com vocês?

Mais um capítulo fresquinho pra vocês e esse promete muitas revelações hein... =O

Gente, eu e a Bellah estamos muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito felizes, alcançamos os duzentos reviews! Queriamos agradecer de coração a todas vocês de coração que acompanham a FIC e deixem seus reviews lindos! Obrigada! Vocês são nosso motivo para proseguir com a FIC!

Bom, é isso. Esperamos que gostem do capítulo. Boa leitura e até lá em baixo!



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POV PEG:


Buscadora. Palavra que sempre me causara arrepios, principalmente depois que Lacey, minha própria Buscadora, matara meu amigo, Wes. Mas, o universo é realmente pequeno e inconstante. Jamais imaginei que um dia me tornaria uma Buscadora. E agora, eu teria que fazer isso. Por Ian. Pela nossa família. Era única saída, a única alternativa.

Ian havia sido capturado, agora eu tinha certeza. Uma alma agora dominava seu corpo, mas aquele beijo era a prova que eu precisava. A prova de que ele ainda lutava por mim, pelo nosso filho, assim como eu lutava por ele. Mas o que eu iria fazer para reencontrar Ian novamente? Como iria levá-lo de volta em segurança par casa? E se a alma o tivesse suprimido, pra sempre?

Eu estava com medo. Medo de que o meu plano de me passar por Buscadora, assim como eu me passava por Pet, desse errado. Tinha medo de colocar todos em perigo. Tinha medo que ... nunca mais as coisas voltassem ao lugar. Medo de nunca mais sentir o perfume de Ian. De nunca mais ouvir sua voz me dizendo que tudo iria ficar bem... Mas eu tinha prometido a mim mesma que iria até o fim. Que iria encontrá-lo nem que fosse a última coisa que eu fizesse na minha décima e última vida. E era isso que eu iria fazer. Caminhei de volta a Delegacia, desta vez, decidia a ir até o fim com o meu plano.


Mas eu, eu tenho que continuar tentando.
Tenho que manter minha cabeça erguida.


 

Rumei novamente em direção à primeira porta do corredor. A Sala de Maya. A cada passo, meu coração disparava e batia mais e mais rápido. Bati na porta devagar, com as mãos trêmulas.

– Pode entrar – Ouvi uma voz responder. Aquela voz me parecia família... parecia até a voz de... Lacey... Ignorei os meus instintos e abri a porta, entrando na pequena Sala, após ajeitar minhas roupas.

Uma mulher baixinha estava sentada em sua poltrona giratória, atrás da mesa de mogno. Ela usava preto do queixo aos pulsos – um terno conservador com uma blusa de seda com uma grande gola por debaixo. Seus cabelos eram pretos, também. Ele era na altura de seu queixo e estava colocado atrás de suas orelhas. Seus olhos cor de oliva brilharam quando me viram. Ela me olhou dos pés a cabeça. Ela não tirava os olhos de mim.

Entrei em choque. Todo meu sangue pareceu congelar naquele instante. Maya era idêntica... copia fiel, sem tirar nem por de Lacey! Mas... Lacey estava nas Cavernas... então... ela só podia ser... IRMÃ GEMEA DELA! Eu estava frente a frente com a irmã de Lacey!

– Suponho que você seja Pétalas Abertas Pra Lua, certo? – Ela perguntou, quebrando o silêncio. – Sente-se.

– Sim. É... um prazer conhecê-la, Buscadora Maya. – Falei tentando parecer o mais natural possível.

– Bom, eu andei dando uma olhada em seu prontuário médico e... vejo que você tem apresentando amnésia temporária. Certo? – Maya perguntou e logo notei que meu prontuário era um dos papeis que estavam em cima de sua mesa. Apenas assenti. – Você... realmente não se lembra de nada? Algum rosto, ou algum local, em que você talvez estivesse nesse tempo em que esteve desaparecida?

- Não... minhas memórias estão fragmentadas. Ela... parece ter sido danificada pela acidente.

- Então... o que te trouxe aqui?

- Eu... quero ser uma Buscadora. – Falei o mais calmamente possível. A expressão de Maya mudara completamente assim que compreendera minha frase. Ela estava realmente surpresa, mas não demorou muito para ela se recompor e voltar a me olhar fixamente com seus olhos cor de oliva, iguais aos da irmã, Lacey.

- Pétalas, não se importaria se eu fizesse algumas perguntas, não é? – Ela perguntou, me fitando com um ar debochado e sério, ao mesmo tempo. Ela estava preparada para capturar qualquer deslize meu, qualquer erro. Ela era realmente idêntica à irmã, Lacey, em todos os aspectos, até mesmo no gênio.

- Claro que não – Respondi tentando ser o mais segura possível. Eu tinha que mostrar a ela que estava certa dos meus objetivos. E de certo modo, eu estava. Iria encontrar Ian não importa o que acontecesse...

– Ótimo. Antes de você começar como Buscadora me esclareça uma coisa, Pétalas. – Ela começou – Sua história ficou muito conhecida pelos Buscadores, sabia? E me deixa realmente intrigada. Por que, realmente é intrigante como uma jovem desaparece por todo esse tempo, e reaparece no nada, num acidente de carro e decidida a se tornar Buscadora. – Ela disse com os olhos brilhando de curiosidade, procurando algo que me entregasse - Me diga, por que decidiu se tornar Buscadora tão de repente? Sinceramente, isso soou meio estranho pra mim. Você não tem o perfil de uma Buscadora.

Respirei fundo, como eu iria responder aquela pergunta? Eu não podia falar a verdade a ela. Não podia falar que queria me tornar Buscadora para reencontrar meu parceiro HUMANO que fora capturado.

– Quero me tonar Buscadora por um único motivo, Maya. Quero encontrar humanos resistentes. – Respondi com convicção. Não era tudo mentira. A única diferença, é que eu queria encontrar apenas um HUMANO, meu Ian.

– Alguém em especial? Talvez? – Ela disse séria – Alguém que tenha sido importante pra sua hospedeira – Ela completou especulativa, mas eu apenas neguei com a cabeça. – Não sei não... me dê um motivo para que eu te aceite como Buscadora e tenha certeza que não vou me arrepender depois.

Engoli seco. O que eu iria fazer para convencê-la? Eu tinha que pensar em algo e rápido, então, pela primeira vez, resolvi que falar a verdade era a melhor solução.

– Por que eu estou fazendo isso por... Amor. – Falei convicta e nunca estive tão certa como naquele momento. – Quero tornar esse mundo um lugar melhor para minha mãe e também para todos.

Maya permaneceu em silencio, me olhando especulativamente. Com certeza, ela não esperava aquela resposta.

- Muito bem, você me convenceu. – Ela disse por fim, estendendo a mão em cumprimento – Você começa daqui dois dias.


[...]


Entrei na casa de Sophia a passos pequenos. Depois do meu último encontro com Maya, eu ficara fragilizada com qualquer natureza de conversa séria. Eu não ia a uma Confortadora desde o início da minha nova vida, havia até esquecido do que tinha que fazer e como tinha que me comportar. E a falta de Ian continuava sendo uma ampola de desgosto injetada na minha veia, o que só tinha piorado depois que eu o vi na delegacia aquele dia. Invadido.

-E então, como foi à semana? - Perguntou, gentil como todas as Almas.

Será que ela queria mesmo saber? Bom, para começar, meu sobrinho estava morrendo de febre, o amor da minha vida tinha sido capturado, e a cada dia que se passava eu estava mais e mais longe de salvá-lo sem sequelas, ao tentar encontrá-lo eu sofri um terrível acidente do qual eu e meu filho milagrosamente escapamos por pura sorte e para completar uma estranha que fazia doer meu coração de saudade por causa da semelhança com os olhos do meu amor, queria que contasse todos meus segredos a ela.

Mas é claro que eu não ia dizer nada disso.

-Foi boa – Disse sorrindo – Estou me habituando à vida antiga.

Ela sorriu também, indicando uma poltrona em frente a um sofá, separados por uma mesa de centro de madeira escura. Sentei no acento de tecido creme receosa. Decidi primeiro saciar minha curiosidade antes que começássemos a falar de mim.

- Posso fazer uma pergunta? Você tem algum irmão, ou algo do tipo? - Perguntei assim que ela sentou no sofá a minha frente.

- Eu mesma, sim. Todos nós temos milhões – Ela riu baixinho – Mas minha hospedeira deve ter dois, eu acho. Homens se não me engano. Por quê? Esse corpo é familiar?

Fiz que sim.

-Vagamente. - Eu disse sem querer entregar nada.

-Meu corpo sente falta dos irmãos. Ela não os via algum tempo antes da Invasão.

-Consegue lembrar seus nomes? - Perguntei insistindo. Ela torceu a ponta do rabo de cavalo tentando lembrar-se, vasculhando a memória da Hospedeira.

-Eram... Karl, eu acho... Karl... Kayle... Kyle! É isso sim... E o outro...

- Ian? - Perguntei, sem poder evitar. Ela fez que sim devagar, sem entender como eu sabia e me observou por algum tempo, analisando-me.

-Como sabe?

Não podia dar uma resposta dizendo que não sabia. Até uma Alma desconfiaria disso, sem contar que Sophia era inteligente, sagaz, eu não poderia enganá-la sendo tão ruim como mentirosa. Será que eu podia confiar nela? NÃO! Ela era uma Alma. Uma inimiga! Bem, por outro lado... Ela era irmã de Ian. Agora eu tinha certeza disso. Ela poderia me ajudar.

-Você... Pode guardar um segredo.

Pedi baixinho. Ela me olhou estranho afinal, ambas éramos Almas. Mentiras e omissões não faziam parte da nossa cultura. Mas por fim ela fez que sim, a curiosidade humana faiscando em seus olhos.

-Eu não sou Pétalas Abertas para a Lua

Ela abriu a boca e ficou assim por alguns segundos, enquanto eu revirava meu estômago de medo de ter confiado na pessoa errada, ou melhor na Alma errada Ela esboçou algumas palavras mas nenhum som saiu dela. Ela fez uma careta de raiva por um segundo mas já desfez, parecendo sentir-se estranha. Raiva também não fazia parte de quem éramos. Só então um fiapo de voz escapou da sua garganta.

-Você... Mentiu, você... Quem. É. Você?

-Meu nome é Peregrina nesse planeta. Você já foi uma Ursa? – Ela afirmou com a cabeça. – Cavaleira da Besta.

Ela pensou um pouco e seu olhar se iluminou.

-Você é uma lenda! Você... Espere... O que está fazendo nesse corpo? Fiandeira de Nuvens tinha certeza que esse era o corpo da filha dela.

-E era. Até um ano atrás.

Ela continuou me olhando, esperando eu continuar. Como eu não disse mais nada ela chegou mais perto e sussurrou como se alguém pudesse nos ouvir:

-Me conte tudo. - Exigiu. Mordi meu lábio inferior, temerosa, acariciando minha barriga por instinto.

-Você tem que prometer. Prometer que não vai falar para ninguém nunca, nunca, nunca...


-E... Eu prometo, Cavaleira da Besta.

-Peg. Meu nome é Peg. E eu não sou mais Cavaleira da Besta..

Eu comecei do começo. Era uma vez uma garota chamada Melanie que se recusava a desaparecer. Dotada de uma incrível força de vontade ela corrompeu e incorruptível Alma que fora inserida nela e a induziu a ir atrás de sua família humana. Depois de uma longa jornada no sol escaldante no deserto, em um mar de areia que quase lhes rendeu a morte, a Alma e sua Hospedeira encontraram uma célula humana resistente. Porém ela era uma traidora, uma mentirosa, não era Melanie, não podia ser.

Essa garota tinha um irmão mais novo chamado Jamie, que não era mais do que um garotinho forçado a crescer rápido demais por causa das dificuldades. E ele acreditou nelas, acreditou do fundo do coração de que sua irmã ainda estava viva por trás daquela prata em seus olhos. Melanie também tinha um tio, chamado Jebediah, mais conhecido como tio Jeb que por pura sorte era o líder dessa célula resistente, sem falar em justo e gentil. Ele protegeu as duas.

Contei como Jared me odiava e quisera me matar mais de uma vez. Contei sobre os amigos que eu fiz, dos nossos hábitos nas cavernas e de como Ian enxergou dentro de mim. Sophia só balançava a cabeça afirmativamente, sem dizer uma palavra, absorvendo tudo. No fim do dia, minha garganta estava esgotada e eu ainda não tinha chegado nem à metade da minha história.


-O que você acha? – Perguntei quando era quase hora de ir embora – Dá para guardar meu segredo? Por favor?

Implorei. Ela ficou quieta por mais alguns segundos até tomar sua decisão.

- Eu acho... Que vamos precisar nos ver mais do que três vezes na semana... E por mais tempo.


3 Dias Depois


Olhei para o espelho novamente encarando meu reflexo. Levantei minha bata favorita para esconder minha gravidez da minha nova mãe. Era difícil esconder os sintomas, não comentar nada, mas era isso que manteria a mim e ao meu filho seguros até que pudéssemos salvar Ian e ir para casa. Minha barriga já era inegável se vista de frente e nua, elevada e redondinha, grande para o tempo. Passei a mão de cima a baixo na pele esticada, acariciando meu bebê com carinho.

De repente, algo me fez parar com um grunhido; Algo parecido com... Um suave... Cutucão. Um não... Dois, três, quatro, cinco. Uma goleada de chutes! Levei a mão livre à boca sorrindo, emocionada e surpresa, de olhos marejados. Seu primeiro chute! Desejei a mão de Ian ao lado da minha sentindo nosso filho comigo, mas quando abri os olhos, ele não estava ali e eu não estava em casa. Uma lágrima escorreu solitária pela minha bochecha.



Alguém sugou o ar fortemente na porta, fazendo-me desviar os olhos do espelho da penteadeira a minha frente. Fiandeira de Nuvens fitava minha barriga com espanto, com as mãos tapando a boca escancarada. Abaixei a bata e fechei os braços protetoramente ao redor do meu ventre como se seu olhar pudesse feri-lo. Eu havia sido descoberta. Abri a boca, mas nada saiu de lá por alguns primeiros segundos.

-Mãe... Eu só... Eu... Eu...

Não consegui desenvolver a frase, nem inventar nenhuma história sequer em minha mente, e antes que eu pudesse voltar a falar, seus olhos se reviraram e ela caiu no chão com estrondo.

-Mamãe! - Me ajoelhei ao seu lado, procurando seu pulso. Fora apenas um susto, suspirei, um grande susto. Fui até o andar de baixo e disquei enquanto subia as escadas novamente. Aninhei a cabeça dela em meu colo enquanto uma voz conhecida atendia.

-Sophia? Finny descobriu. – Eu disse observando o rosto tão parecido com o meu – E acho que ela não aceitou muito bem.


[...]


Eu fiquei no andar de baixo fazendo o jantar enquanto Sophia examinava Fiandeira de Nuvens. Algo bem leve para digerir porque, quando acordasse, minha mãe já teria muita coisa o que engolir. Eu mexia a sopa nervosamente, com uma das mãos pousada na barriga elevada onde meu filho havia se aquietado. Devia estar dormindo tranquilo depois de tanto brincar. Eu desejei poder pegá-lo no colo e niná-lo até que seus olhinhos se fechassem, sua boquinha formasse um bocejo minúsculo e suas mãozinhas pousassem em mim mantendo-me perto para protegê-lo.

Porém, agora eu tinha que protegê-lo de outra maneira, inventando um jeito de não nos entregar, não perder nossa situação neutra, pelo menos até que Maya confiasse o suficiente em mim. Mas como eu o faria? O que diria a Fiandeira de Nuvens? Não podia explicar abertamente aquela criança dentro de mim. Ela ficaria horrorizada com a ideia de que eu me envolvera com humanos, mesmo que eu não fosse Pet. Ela não era como Sophia, nunca ia entender, e isso podia comprometer meu plano.

-Como eu vou te proteger agora, meu amor?

Perguntei a ele ou ela, abaixando o fogo azul abaixo da sopa. Sophia desceu as escadas e encostou-se no batente da porta da cozinha.

-Desculpe mesmo te incomodar. – Pedi encarando-a. – Como ela está?

-Confusa e aturdida. Assustada, eu ousaria dizer... – Ela respondeu. – Mas felizmente, bem. E você não incomoda pequenina, chame quando quiser.

Sorri fracamente para ela, cansada, puxei uma cadeira e me sentei com um suspiro. Sophia puxou outra e sentou-se a minha frente.

-Isso era para ser um momento alegra sabe? Quero dizer, o primeiro chute do meu filho! Ian ficaria louco sentindo os movimentos do “seu garotão” ou da sua “doce garotinha.” Mas ao invés disso eu tenho que escondê-lo, dia a pós dias, de tudo e de todos... – Suspirei novamente, fungando para evitar que lágrimas subissem aos olhos – Isso é tão deprimente...



Cada passo que estou dando
Cada movimento que eu faço
Parece perdido sem nenhuma direção
Minha fé está abalada


 

Sophia sorriu compreensiva como sempre, pegou minha mão e a apertou demonstrando que estava ali por mim se eu precisasse. Ela era uma boa amiga, e a única que eu tinha no momento. Confiar nela fora a melhor coisa que eu fizera desde que acordara naquela Estação de Cura.

-Querida, você tem que lembrar que se você estivesse em casa ele não estaria com você. Tudo o que você fez estava certo, era o que tinha que acontecer. E você está aqui por um motivo e por um motivo apenas. Amor. Você está aqui porque ama o seu marido e quer salvá-lo. Nunca se esqueça disso. – Ela sorriu tristemente e lançou um olhar em direção à escada – Ela quer falar com você.

Fiz que sim, suspirando novamente. Levantei-me e peguei uma bandeja, enchi um prato fundo com sopa, um copo com suco de maracujá, coloquei uma colher ao lado do prato e subi nervosa os degraus um a um, até o quarto onde Fiandeira de Nuvens repousava em sua cama, que também tinha dossel, porém a sua era de casal. Pousei a bandeja na mesa de cabeceira e sentei no canto da cama. Ela desviou os olhos da janela iluminada pelo sol e me encarou.

- Como se sente? - Perguntei. Ela olhou do meu ventre para o meu rosto algumas vezes, e pude ver que ela queria uma explicação. Fiz que sim devagar.

-Mãe, eu tive medo. Eu não... Não sei... Não lembro quem é o pai dessa criança... Mas eu sei... Que era importante para mim. Por isso... Eu me tornei uma Buscadora, para encontrar meu parceiro. Eu não te contei porque tive medo que não gostasse de eu ter crescido tanto. Eu não queria te magoar.

Ela respirou fundo e tomou minhas mãos pequenas nas delas, me encarando com uma expressão contrariada. Sua sinceridade e inocência machucaram ainda mais meu pobre coração maltratado.

- Não posso ficar brava com você meu bebê. Ás vezes, eu também tenho medo, faz parte desses Hospedeiros. Mas viu como foi bom que você me contou? Agora eu entendo tudo, os pesadelos, sua fome constante, tudo. Sei que você sofreu um trauma grande, e as coisas ficam difíceis nesses Hospedeiros, mas você tem que se lembrar de confiar porque isso é parte de quem NÓS Almas somos. – Ela sorriu e acariciou meu rosto com uma das mãos – E quer saber, para mim você vai sempre ser o meu bebê. E o seu bebê? Eu queria ser avó um dia mesmo. Porque não agora?

Ela disse com um risinho de empolgação idêntico ao que eu costumava dar. Sorri tristemente. Eu sabia que ela ainda estava magoada com Pet, mas eu não era ela e não podia resolver aquilo no momento. Eu tinha que resolver assuntos de Peregrina, e isso incluía mentir, porque mentir era o que os humanos faziam para sobreviver, e eu era uma humana. Era um preço pequeno a pagar pela felicidade de segurança de todos que eu amava. Mesmo que isso significasse tornar miserável a vida da mãe da minha Hospedeira.

Argh... Aquilo estava cada vez pior.



Só tenho que continuar

E eu, eu tenho que ser forte
Apenas continuar insistindo



POV. Sophia:


* Era uma noite linda para ser pego. Haviam nos encurralado naquela cidade abandonada. Logo eles abririam a porta do hotel há muito fechado e pegariam a mim e à minha filha. Eu tinha medo, medo por Allie, meu bebê, minha criança, tão indefesa, tão doce, chorando baixinho agarrada a mim. Eu não queria que a minha menina, tão doce, fosse invadida e apagada, como se nunca tivesse existido. Como uma lembrança antiga.

-Allie – Sussurrei – Allie, olhe para mim meu amorzinho.

Ela levantou os olhinhos azuis, idênticos aos meus, porém inchados de tanto chorar e vermelhos de tão cansados.

- Estou com medo, mamãe. Quero ir para casa, com papai.

- Não podemos querida, sabe disso tão bem quanto eu.

Ela fez que sim.

- Papai não existe mais... - Murmurou triste. Como eu podia salvar meu anjinho, que só queria ir para casa, ter a vida normal que sempre mereceu? Uma ideia me ocorreu. Tinha que funcionar.

-Allie querida, seu eu pedir uma coisa, você faz para mim?

Ela fez que sim.

- Ali no canto tem um tubo de ventilação, embaixo da cama. É bem grande para você passar. – Ela afirmou com a cabeça mais uma vez. – Quero que você se esconda lá e só saia quando os homens maus forem embora.

-Você vai ficar comigo? É escuro embaixo da cama.

-Não. A mamãe não cabe lá embaixo.

Ela fungou, claramente tentando ser forte e segurar o choro. Minha pequena guerreirinha.

- E os homens maus não vão pegar você?

- Não sei minha linda... – Eu a abracei forte. Não queria me separar dela, deixá-la sozinha, nunca, nunca, nunca, mas se esse fosse o jeito de salvá-la eu o faria e faria mil vezes se possível, mesmo que aquilo partisse meu coração. – Eu te amo tanto, meu bebê... Tanto... Que até dói...

-Eu também amo você, mamãe. Não quero que os homens maus te peguem...

-Shhhh... Vai dar tudo certo...

Tentei acalmá-la.

-Não vai não. Papai nunca voltou e você não vai voltar também.

Ela disse de cara feia. Como tinha o gênio da minha família! Parecia meu irmão Ian em pessoa! Abracei-a mais uma vez e então relutantemente a soltei. Coloquei primeiro a mochila com nossas coisas. Ali tinha tudo o que ela precisaria para sobreviver sem mim. Então a ajudei a entrar na tubulação. Acariciei seu cabelo e beijei sua testa.

- Tem bastante comida na mochila. Coma um pouquinho todo dia, quando acabar, pegue algo de um mercado, mas não deixe ninguém ver seus olhos. Nunca deixei nenhum homem mal ver seus olhos, e acima de tudo, nunca. Acredite. Em. Um. Deles. Eles não são bons como parecem ser.

Ela fez que sim e recoloquei a grade no duto de ventilação. Só podia ver seus olhinhos azuis cintilando na escuridão embaixo da cama do hotel.

- Não saia até ter certeza de que foram embora. – Ela fez que sim, determinada a me obedecer. – Eu te amo.

Disse uma última vez, em tom de despedida.


Acordei num sobressalto, sentando-me na cama. Lágrimas banhavam meu travesseiro. Tudo não passava de um sonho. Um pesadelo, na verdade. Pesadelo que me assombrava todas as noites. Oh céus! Era tão difícil lidar com as emoções humanas!

Todos os dias, ela estava presente em meus pensamentos. Eu não conseguia afastar a imagem daquela garotinha sorridente da minha mente... a pequena Allie... Eu sentia tanta falta dela, meu coração parecia se partir em pedaços... Como era possível... sentir falta de alguém em que eu nunca vira na verdade? Mas aquela garotinha era importante, eu sabia disso! Ela era... era filha da minha Hospedeira. E cada célula do meu corpo chamava por ela. Eu queria poder protegê-la, abraça-la, estar com ela.... Minha pequena... era incrível como eu amava aquela garotinha. E o mais incrível ainda, é que eu daria a vida sem pestanejar... Por ela.

‘’- Aii... Minha cabeça dói... Eu... Não consigo me lembrar... O que aconteceu comigo?’’ – Reclamou uma voz, surpreendentemente, na minha cabeça. Senti meu corpo enrijecer... Quem... Estava... Falando? – QUEM. É. VOCÊ?

‘’- Eu sou... Uma alma... E você é meu corpo Hospedeiro, nesse planeta.’’ – Expliquei calmamente, mas ainda em choque... Ela não... Deveria estar falando comigo! Deveria?

‘’- Oh meu Deus!‘’ – Ela exclamou desesperada, completamente em choque – ‘’Allie!’’

Senti uma onda de tristeza e saudade cortar o meu coração. Eu arquejei e lagrimas vieram aos meus olhos. Eu nunca havia sentido nada nem parecido com aquilo. Um terrível sentimento de perda encheu meu coração e eu senti algo molhado escorrer dos meus olhos. Eu estava chorando. Mas não eram minhas lágrimas. Eram lágrimas DELA. Lágrimas de dor, saudade e perda.

‘’ – Eu sinto muito... ’’ – Murmurei baixinho, e foi tudo o que eu consegui dizer.




POV PEG:


* Dias Depois


Respirei fundo e contei até três antes de abrir a porta da Delegacia. Aquele seria meu primeiro dia, como Buscadora e eu estava muito apreensiva. Com deveria agir? O que iria falar? Eu não poderia cometer qualquer deslize, pois Maya estava preparada para capturar qualquer erro meu. Seria uma sentença de morte.

Entrei a passos pequenos na Delegacia, caminhando até o balcão onde Alicia digitava algo distraidamente.

– Olá Alicia! – Cumprimentei-a sorrindo francamente. E naquele momento, começava o meu plano para salvar Ian.

– Olá Pet! Maya já esta te esperando, na sala dela.

- Obrigada – Respondi nervosamente.

– E boa sorte – Desejou Alicia – Acredite, você vai precisar.

Apenas assenti, sorrindo. Eu ia precisar mesmo de sorte. Enfrentar a irmã gêmea de Lacey não seria nada fácil.


POV ESPECTRO DE FOGO:


‘’ – Eu ainda não sei como você conseguiu me convencer Ian O’Shea!’’ – Resmunguei, à medida que caminhávamos em direção à Delegacia – ‘’ Buscador! Isso é loucura! ‘’

‘’- Posso ser bem convincente quando me convém Espectro de Fogo’’ – Ian disse sarcástico.

‘’- Mas não vai se acostumando não. Você não vai me convencer a fazer tudo o que quer. ’’ '

‘’- Veremos’’ – Ian falou com um leve toma de malicia. O que ele estava planejando? Então, ele jogou mais um flash de memórias em minha mente:

‘’ Estávamos sozinhos no quarto. Peg abria lentamente os botões da minha camisa xadrez, fazendo todo meu corpo se arrepiar. Envolvi meus braços musculosos em sua cintura, puxando-a delicadamente para que ela ficasse ainda mais perto de mim.

- Eu te amo, Ian. Pra Sempre. – Ela murmurou baixinho em meu ouvido. Então, eu a pego nos braços e a carrego até a nossa cama.

Nossos lábios a milímetros de distância. Eu a beijei longamente, sentindo o gosto doce de sua boca, a língua colada junto a minha e minha mão acariciando delicadamente sua coxa.

Ela me beijou novamente, os lábios mais rígidos e doces nos meus. Suas mãos em meu peito e as minhas em sua cintura.

- Eu te amo - Consegui falar em meio a nossos lábios colados.

- E eu te amo ainda mais ''

‘’ – Ok Ian! Chega! Eu já entendi! Agora que, por favor, quer parar de tentar me manipular!’’

‘’ – Não estou te manipulando’’

‘’ - Ah não?’’

‘’– Não, só joguei algumas lembranças na sua mente. Não é minha culpa se você se deixa levar pelas emoções. ‘’

‘’ - Ah claro! Você me manipula, me traz até aqui, e depois diz que a culpa é minha?’’

‘’ – Ah pare de reclamar! Você sabe que eu não te obriguei a nada! Você veio aqui por vontade própria! Ou estou mentindo? ‘’

‘’– Ok, você venceu.'’’ – Disse derrotado – ‘’Mas fique sabendo que eu posso entregar vocês quando bem entender. ’’ '

‘’ – Eu sei que você não faria isso!’’

‘’- Se eu fosse você, não apostaria suas fichas nisso, sou um Buscador agora, esqueceu?’’

– Espectro de Fogo? – Chamou a atendente, tirando-me da minha pequena discussão com Ian. – Maya está a sua espera.

POV PEG:


– Entre – Respondeu a voz de Maya de sua sala, assim que eu bati pela segunda vez na porta. Suspirei, rogando que desse tudo certo.

Maya estava sentada na sua cadeira, com sempre, mas desta vez, ela não estava sozinha. Pude notar a silhueta de alguém, sentado a frente de Maya. Seria outro Buscador?

– Olá Maya.

– Olá. Pronta para seu primeiro dia como Buscadora?

- Sim!

– Pet, esse é o Espectro de Fogo – Ela disse calmamente – Ele será seu novo parceiro de trabalho. Vocês irão trabalhar juntos como Buscadores.

- Olá Espec... – Interrompi a frase no mesmo instante que aquele par de olhos Neve, Safira, Meia Noite encontraram os meus. Ian! Ian seria meu novo parceiro de trabalho!

‘’ Ian!’’ Tentei pronunciar, mas as palavras pareciam presas em minha garganta. O que eu iria fazer? Ou dizer? Eu não via Ian desde aquele nosso beijo... Naquele dia que nos encontramos aqui, na Delegacia. Maya estava bem na minha frente, esperando que eu dissesse alguma coisa. Assim que me viu, Ian também arregalou os olhos surpresos. Podia sentir ele tentando lutar com a alma para dominar seu corpo.

– Olá Espectro de Fogo! – Falei me recompondo do choque. Eu tinha que continuar com o plano, e agora, eu teria a ajuda do MEU amor, do MEU Ian. Sabia que ele também iria lutar, até o fim. – Será um prazer trabalhar com você!


‘’Mantenha a sua fé’’



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Notas finais do capítulo

E ai, e ai, gostaram? Espero que sim!

POis pe, muitas revelações nesse capítulo! E ai, gostaram do aparecimento da irmã do Ianzinho e do Kyle? Pois é gente, a Allie, se lembram dela? Ela é sobrinha do Ianzinho! Viram, agente avisou que ela era familia... kkkkk

E então, que tal reviews? Recomendações?

E há florzinhas, não se esqueçam de dar uma passadinha na nossa nove FIC ok? Ficariamos HIPER felizes com a sua presença lá também! : http://www.fanfiction.com.br/historia/166367/Wanted_-_Dead_Or_Alive

Pois é, a Peg e o Espectro vão trabalhar juntos como Buscadores! O que será que vai acontecer hein?

Há, já ia me esqueçendo, hoje tem trechinho do próximo capítulo:

'' E então Peg nos separou e olhou direto em meus olhos, com os olhos brilhando de lágrimas de felicidade.

—Ian? - Perguntou.

-Não. Não foi Ian que quis fazer isso.''

O que será que vai acontecer hein???? = O. Deixei vocês curiosas néh? hahahahaha.

Bom isso só no próximo capítulo amores! Não percam hein!

Bjos e Até o próximo post!