100 Puzzle Pieces escrita por themuggleriddle


Capítulo 7
072.Fixed


Notas iniciais do capítulo

#072. Fixed/Consertado



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O ambiente estava tão claro que Sherlock teve que voltar a fechar os olhos devido à claridade que os irritava. Franziu a testa quando voltou a abri-los, olhando em volta, percebendo que estava no que parecia ser um quarto de hospital... Tudo claro, organizado, estéril e com cheiro de limpeza. Abaixou os olhos claros e olhou para o seus próprios braços: no seu punho direito havia uma pulseira típica dos pacientes de hospitais e, sobre sua mão esquerda, um cateter enfiado em sua pele, preso no lugar com esparadrapo.

“Você é um imbecil.”

Sherlock ergueu a cabeça para ver seu irmão parado na frente de sua cama, encarando-o de maneira séria.

“Bom dia para você também, Mycroft.” Sua voz saiu rouca e o rapaz teve que pigarrear para fazer com que aquela sensação esquisita e seca saísse de sua garganta.

“Não estou brincando, Sherlock.”

“Você nunca brinca.”

“E você brinca demais, não acha?”

O mais novo deu de ombros. “Chamo isso de aproveitar a vida.”

“Aproveitar a...?” O irmão mais velho bufou e apressou-se para o lado do outro, agarrando o seu braço esquerdo e o levantando até a altura de seus olhos. “Isso é aproveitar a vida? Me diga, Sherlock! Aproveitar a vida pra você é jogá-la por água abaixo!?”

O rapaz encarou as marcas avermelhadas em seu antebraço por um tempo, antes de suspirar e virar a cabeça para o lado. Mycroft respirou fundo e deixou o braço do irmão cair sobre a cama novamente, antes de puxar uma cadeira que estava por perto e sentar-se, apoiando os cotovelos sobre o colchão duro e escondendo o rosto nas mãos.

“Desde quando?”

“Faz algum tempo já.” Sherlock não se virou para olhar o irmão.

Quanto tempo?”

“Um...” Sua voz saiu tão baixa que o outro quase nem conseguiu ouvir. “Um ano, mais ou menos.”

Deus!” Mycroft balançou a cabeça. “Por que, Sherlock? Por que diabos você tinha que fazer isso?”

“Eu só fazia quando estava entediado.”

“Espera... Você está me dizendo que se drogava porque ficava entediado?” O homem teve que se conter para não dar com a cabeça do irmão na cabeceira da cama do hospital. “Essa é a desculpa mais idiota que alguém pode dar!”

“Mas é a verdade!” O mais novo virou-se e encarou o outro. “Minha mente se rebela contra a estagnação,” Sherlock murmurou, desviando o olhar novamente e prendendo os olhos azuis na janela. “Dê-me problemas, dê-me trabalho, dê-me o criptograma mais complicado e a analise mais confusa e eu estarei na minha própria atmosfera. Aí sim poderei dispensar a ajuda de estimulantes artificiais...” O mais velho percebeu que o irmão tentara achar a palavra mais bonita para na ter que falar ‘drogas’. “Mas eu detesto a rotina sem graça da nossa existência. Eu necessito de algum estimulo mental.”

Mycroft ficou em silêncio, observando o rapaz. Realmente, desde pequeno Sherlock fora uma criança que nunca se satisfazia em ficar quieto, diferente dele, que ficava contente em poder sentar-se em um canto calmo da casa e afundar-se em livros. Seu irmão precisava de estimulo, precisava andar, correr, se exercitar... Tanto física como mentalmente. Quando estava na escola, sempre voltava para casa dizendo que tudo o que a professora dizia era chato, quando estava com os amigos, dizia que os outros garotos eram entediantes, quando se sentava com a família, reclamava que a conversa entre seus pais não tinha nada mentalmente excitante. Mycroft sabia muito bem que o Holmes mais novo tinha pavor a rotinas, ao tédio, a calmaria.

“Você já está terminando a faculdade.”

“Sim.”

“Quando terminar... Arrume um emprego que consiga satisfazer essa sua ânsia de estimulo mental,” o mais velho falou. “Posso ajudá-lo com isso, caso queira.”

Sherlock virou o rosto, olhando diretamente para os olhos escuros do irmão. “Acho que consigo fazer isso sozinho.”

“É claro que consegue... Apenas fique vivo até a sua formatura.”

“Tentarei.”

Mycroft suspirou.

“Sherlock.”

“Diga.”

“Prometa que não vai mais se drogar.”

“Mas...”

“Assim que sairmos daqui, eu vou ir até o seu dormitório e me livrar de todo e qualquer vestígio de drogas que existir lá dentro,” o homem explicou. “E vou vigiá-lo.”

“O que? Vai colocar o governo britânico na minha cola?”

“Se for preciso, sim.”

O mais novo ficou em silêncio por alguns segundos, antes de voltar a falar.

“Posso ficar com os cigarros?”

Sherlock...”

“Tabaco, droga lícita.”

“Tanto faz, se você quer acabar com os seus pulmões, fique a vontade.”

Os dois caíram no silêncio. O rapaz suspirou, virando o rosto para olhar o quarto mais uma vez, finalmente percebendo o quão exausto estava. Sentiu alguma coisa quente contra a sua mão gelada e olhou para baixo, vendo a mão do irmão mais velho enroscada na sua.

“Você deveria dormir, está com uma aparência horrível.”

“Você também, Mycroft.”

O Holmes mais velho deu de ombros.

“Você...” Sherlock umedeceu os lábios enquanto falava. “Contou para a mamãe?”

“Não.”

“Não conte.”

“Sherlock...”

“Invente alguma história, você é bom nisso,” o mais novo murmurou. “Mas, por favor, não conte.”

O homem apertou os dedos do outro de leve, antes de erguer a mão para tirar uma mecha de cabelos escuros da frente dos olhos claros do de Sherlock.

“Não se preocupe.”

Mycroft observou enquanto os olhos do irmão perdiam o foco e se fechavam lentamente. Realmente, Sherlock estava para lá de exausto...


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