CAPÍTULO 35

POV's Nico

“Não sou sua namorada, filho de Hades” ela falou, ainda de costas.

“O que? Você está... terminando comigo?” eu estava absolutamente chocado. Ela estava realmente terminado comigo? Impossível, ou bem, eu achava que era, até alguns instantes atrás... “Mas o quê? Como...? Mas...” eu tentei diversas vezes concluir uma pergunta ou frase coerente, mas não tive sucesso e simplesmente fiquei olhando pra ela, boquiaberto. Ela ainda não tinha se virado.

“Não estou terminando com você...” quando ouvi essas palavras, eu suspirei aliviado.

“Por um segundo, você realmente conseguiu me enganar” falei, deixando uma risada escapar. “Que susto!”

“Você não me deixou terminar. Não estou terminando com você, porque nós nunca tivemos nada” a voz dela estava fria e cortante como uma faca de aço deixada à uma temperatura de 100º negativos transpassando meu coração. Como assim nós nunca tivemos nada? Ela deve estar pirando. Ela disse que me amava, disse de uma forma que não dava espaço para dúvidas ou desconfianças e agora está dizendo que nada aconteceu entre nós dois?

“Do que você está falando?”

“Eu nunca vou tocar em um homem, sou uma donzela pura e casta.” tudo bem, ela definitivamente está pirando.

“Do que você está falando? Está parecendo Thalia e as outras Caçadoras” falei. “Stella, o que está acontecendo?”

“Eu não sou a Stella” ela falou, se virando pra mim.

“Acho que você devia descansar um pouco.” falei, achando que isso devia ser efeito da luta de hoje mais cedo.

“Não preciso descansar filho de Hades, preciso que você e seus amigos venham me libertar logo. As forças de Céos estão se organizando e se não se apressarem o fim da civilização ocidental que conhecemos é certo.”

“Te libertar? Do que você está falando? Stella, ac...”

“Já disse que não sou Stella.” ela falou. Então eu a olhei nos olhos, esperando pelo tom magnífico de verde amendoado e encontrando uma cor nada esperada.

POV's Bloom

Eu estava no quarto que dividia com a Flora. As meninas tinham saído para passear pela cidade, junto com seus namorados, eu não sabia onde o Sky estava e não estava com a mínima vontade de ficar com o resto das pessoas, então fiquei deitada, escutando música e lembrando da garota que vi no café da manhã. Eu tinha certeza absoluta que era a Stella e ela estava junto com um garoto. Mas o que diabos ela estava fazendo aqui? Aliás, essa história toda era completamente ridícula.

Usar uma pedra esquisita que funciona como um tipo de bússola que aponta pra outra pedra do seu tipo, só pra achar alguém que não quer ser encontrado e que tinha deixado bem clara sua opinião a respeito disso. Stella não queria ser achada e eu não diria a ninguém além das meninas sobre ter visto ela. Seria errado guardar segredo delas, mas não contaria nem ao Sky, nem aos outros meninos.

“Stella, no que você fi se meter” suspirei.

Depois de algum tempo (muito longo e tedioso, diga-se de passagem), escutei batidas suaves e ritmadas na porta. Me levantei, sem vontade nenhuma e abri a porta.

“Olá, Bloom”

“Oi, Flora” respondi. “Onde estão as outras?”

“Musa, Tecna e Layla estão no quarto delas” respondeu Flora, entrando no quarto. “Por quê?”

“Tenho que contar uma coisa a vocês” falei.

“Sobre ela?”

“Sim” suspirei. “Espera aqui que eu já volto” falei, saindo do quarto e batendo na porta em frente a nossa.

“Bloom” falou Tecna, me analisando com seus olhos perspicazes. “Qual é o problema?”

“Reunião, no meu quarto, agora” falei, sem dar mais explicações.

“Okay, vou chamar as outras” ela respondeu e eu nem esperei mais nada, voltei direto pro meu quarto.

Flora me esperava, sentada na cama, distraidamente fazendo flores surgirem e desaparecerem sua mão. Ou melhor, ela parecia distraída, mas assim que eu entrei, ela olhou pra mim e eu pude ver a pergunta oculta em seus olhos verdes.

“Elas já estão vindo” falei e desabei no pequeno sofá do quarto.

“Ai, onde nós nos metemos?” suspirou ela, tão baixinho que não tenho certeza de ter escutado direito.

A porta do quarto se abriu, dando passagem para Musa, Layla e Tecna.

“Tudo bem, já estamos todas aqui, pode começar Bloom” falou Musa, sentando-se em minha cama, enquanto Layla sentava ao lado de Flora e Tecna se recostava no sofá, ao meu lado.

“Okay” falei, me sentando mais reta. “É bem óbvio que estamos aqui para falar sobre a Stella” elas concordaram com um aceno de cabeça. “Ela está aqui” falei, sem rodeios. Para outras pessoas essas três palavras pareceriam bobas, mas para as meninas e para mim, elas tornavam a vida drasticamente mais complicada..

“Então, o que vamos fazer?” falou Layla, depois de um longo silêncio. Eu abri a boca pra pedir sugestões e dizer que não tinha nem pensado nisso ainda, mas escutamos batidas na porta e automaticamente caímos em silêncio de novo.

As batidas continuaram, aumentando de ritmo e parecendo mais impacientes, se é que meras batidas podem parecer impacientes. Vendo que ninguém ia se movimentar para abrir a porta, eu me levantei e fui até ela, parando com a mão na maçaneta e murmurando um “ajam naturalmente” para as garotas, que logo começaram a conversar sobre uma história maluca que eu nem me dei ao trabalho de ouvir, simplesmente fingi estar rindo quando finalmente abri a porta. Eram os meninos. Os cinco, pensei, sentindo uma pontada de tristeza, lembrando que nosso grupo nunca seria o mesmo, lembrando do jeito brincalhão de Brandow, mas ele se fora para sempre. Eu tinha certeza que se continuasse pensando naquilo iria começar a chorar, porque cada um deles era parte da minha vida. Meinhas amigas eram mais que irmãs pra mim, os garotos eram mais que irmãos e o Sky, era a pessoa com quem eu queria viver para sempre. Mas um dos meus irmãos tinha sido arrancado de mim... Senti meus olhos arderem, mas antes deles transbordarem, uma voz me arrancou desses pensamentos.

“Aleluia!” exclamou Riven, erguendo as mãos para o céu. Eu agradeci mentalmente por ele falar alguma coisa “Achei que nunca iam abrir a porta.” ele continuou.

“Você é muito impaciente” repreendeu Musa, que apareceu de repente ao meu lado.

“De onde você saiu?” perguntei, e ela só deu de ombros, sem responder a pergunta. No lugar dela, quem respondeu foi Riven, com aquele tom super irônico que ele tem:

“Do quarto”

“Ninguém te perguntou” rebateu Sky, mas apesar das palavras, ele falou em um tom brincalhão com um sorriso no rosto. Riven revirou os olhos.

“Podemos entrar?” perguntou Nabur, olhando pra dentro do quarto, onde as meninas ainda fingiam uma conversa típica.

“Ahn... claro, me desculpem” falei, sorrindo e dando passagem para eles.

Riven pôs o braço em volta da cintura de Musa e sentou-se com ela no sofá que eu antes ocupava com Tecna (que agora estava na minha cama, ao lado de Jimmy).

Sentei no sofá com o braço forte de Sky em meus ombros.

“Então, do que vocês estavam falando?” perguntou Sky.

“Coisa de garotas” respondi em uníssono com as meninas. Eu não pude ver, mas tenho certeza que os meninos reviraram os olhos para nossa resposta.

“Sei... Vocês sempre dizem isso quando querem esconder alguma coisa de nós” falou Jimmy, ajeitando os óculos.

“Isso é a mais pura verdade” concordou Nabur, recebendo um tapa de Layla. “Ai” ele protestou.

“Nada a ver” rebateu Flora.

“Tudo a ver, Flora” falou Riven.

“Será que é tão difícil assim entender que nós precisamos de privacidade às vezes? Nossa, nós somos meninas e vocês são garotos...” começou Tecna.

“A gente até entende que vocês precisam de privacidade às vezes.” Elliot interropeu ela. “Mas ultimamente nunca nos falam nada” a voz de Elliot estava cheia de mágoa.

Agora que ele falou, percebi que era mesmo verdade, nós costumávamos contar tudo uns pros outros, mas agora estávamos nos distanciando cada vez mais.

O quarto ficou em silêncio, um silêncio irritante, mas parecia que ninguém estava disposto a quebrá-lo, bom pelo menos eu não estava.

“Eles merecem saber” Flora falou em voz baixa.

“Saber o quê?” eles perguntaram desconfiados. Ninguém respondeu, e depois de alguns segundos de silêncio, elas começaram a olhar pra mim, fazendo com que os meninos também o fizessem. Droga, sempre sobra pra mim!

“Bem...” comecei, sem saber como explicar tudo de forma resumida. “Basicamente, nós descobrimos algumas coisinhas enquanto vocês estavam em sua busca inútil pela Stella. Nós já sabíamos que ela tinha fugido, antes daquela garota aparecer, nós conseguimos mandar uma carta de volta pra ela. E... sabemos onde ela está agora” fiz uma pequena pausa, me preparando para o efeito das últimas palavras.

“O QUÊ?!” eles falaram, ou melhor praticamente gritaram em uníssono.

“Ela disse que sabemos onde a Stella está” respondeu Layla, falando cada palavra devagar, mas eles continuaram com uma expressão chocada.

“Mas... então porquê?...” Sky foi o primeiro a falar, mas não falou nada coerente, apenas palavras soltas, o que me fez rir, as meninas também riram. Nós rimos até eles nos interromperem, dessa vez gritando de verdade.

“JÁ CHEGA!!!” eles gritaram, me fazendo pular de susto. “Querem fazer o favor de explicar o que diabos está acontecendo aqui?” continuou Elliot.

“Ahnn...” começou Musa, “Bem... é que...”

“Espera!” interrompeu Tecna. “Primeiro temos que ter certeza que eles vão guardar segredo”

“Querem que a gente esconda a localização da Stella quando todos estão loucos atrás dela?” perguntou Nabur, franzindo a testa.

“Enquanto nós mesmo estamos procurando ela e o futuro da nossa dimensão está em jogo?”

“É, é isso mesmo.” falei.

“Vocês estão loucas??” perguntou Elliot, mas pareceu mais uma pergunta retórica.

“Não, não estamos” respondeu Flora. “Se vocês nos deixassem falar, talvez vissem o sentido”

“Isso não faz o menor sentido para mim e duvido que vá fazer.” falou Riven.

“Não faz mesmo” concordou Sky.

“Claro que faz!” rebateu Layla, se levantando e aparentando muita raiva. “Vocês não eram assim tão... insensíveis”

Essas palavras deixaram eles boquiabertos.

“Não somos insensíveis” sussurrou Elliot, parecendo envergonhado.

“Estão parecendo” falou Flora.

“Tudo bem, eu desisto...” falou Riven se levantando e erguendo a mão direita. “Eu juro solenemente que vou fazer exatamente tudo o que vocês, Musa, Flora, Layla e Tecna mandarem, inclusive se mandarem manter segredo sobre a Stella”

“Okay, você pode saber” falei, aproveitando para lançar um olhar magoado ao meu namorado.

“Eu também juro obedecê-las” falou Elliot, que recebeu um sorriso satisfeito de todas nós.

“Eu também” concordou Jimmy.

“Eu também” respondeu Nabur.

“Eu também...” respondeu Sky, depois de um momento de hesitação.

“Vocês já podem partilhar do nosso segredo, nobilíssimos cavalheiros” falou Musa, numa voz solene e séria que fez todos rirem.

“O que vamos falar aqui tem que ser mantido em completo segredo, entenderam?” todos concordaram com a cabeça e eu continuei falando. “A Stella está aqui”

“Na cidade?” perguntou Jimmy, franzindo a testa de preocupação.

“Pior...” respondi, triste. “No hotel. Aquela pedra realmente é atraída para ela”

“Então o que vamos fazer?” perguntou Flora.

“Sinceramente, eu ainda não consegui pensar em nada.” respondi.

“Bem... nós temos que descobrir em que quarto ela está, assim vamos poder falar com ela tendo menos chances dela tentar fugir” falou Tecna como a verdadeira estrategista que ela era.

“Como vamos conseguir isso? Nunca vão querer nos dar informações de outros hóspedes” falou Musa.

“Nossa, encobrir ela vai dar mais trabalho do que eu pensava.” resmungou Riven.

“Só por curiosidade, por curiosidade, será que vocês saberiam me dizer se a pessoa da recepção é homem ou mulher?” perguntei, dando uma de Stella.

“No que isso ajudaria?” peguntou Sky.

“Homem ou mulher?” insisti.

“Homem” respondeu Nabur.

“Ótimo, isso facilita as coisas” falei.

“Facilita o quê?” perguntou Jimmy.

“A execução do nosso plano” respondi. As meninas pareciam ter entendido, mas os rapazes estavam completamente confusos, mas eu tenho certeza que quando eles souberem qual é o plano eles ficariam muito irritados.

POV's Nico

“Te libertar? Do que você está falando? Stella, ac...”

“Já disse que não sou Stella.” ela falou. Então eu a olhei nos olhos, esperando pelo tom magnífico de verde amendoado e encontrando uma cor nada esperada. Seus olhos antes cálidos e brilhantes agora tinham um tom prateado frio que me pareceu muito familiar.

“Q-quem é você?” perguntei.

“Você sabe quem eu sou... não posso me demorar, filho de Hades” ela respondeu. “Estou cada vez mais fraca, fique atento aos sonhos...” nessa hora ela pareceu engasgar e seus olhos ficaram mais dourados, mas logo voltaram ao frio prateado “Nossa, ela é bem persistente... Siga para o Sudoeste, a entrada está n... ” ela engasgou de novo e seus olhos foram do prateado frio ao dourado quente e do dourado quente ao verde amendoado que eu tamo amava, e então seu corpo desabou eu tentei alcançá-la mas não consegui, a sorte foi que o corpo dela pairou no ar a centímetros do chão, e depois pousou suavemente.

“Mas o que diabos está acontecendo aqui?” perguntei pra ninguém, indo até Stella, pegando-a no colo e a levando para a cama.