Rachel estava sentada no sofá observando Quinn que fora até a cozinha pegar um pouco de água, ainda estava meio perdida e confusa pelo que acabara de acontecer. Sua mente girava e seu coração estava acelerado, sentia suas mãos suarem e um sorrisinho bobo vir a sua boca sempre que percebia observar cada movimento de Quinn como se quisesse fotografá-los...

            A loira se virou para ela com um sorriso nos lábios, Quinn caminhou até o sofá e fez carinho na bochecha de Rachel com as costas de sua mão. A morena corou levemente e baixou os olhos, sorrindo. Quinn deu um beijo carinhoso na testa dela e disse brincalhona:

            - Imagino a bagunça que deve estar em sua cabeça nesse momento.

            - Por que? – Rachel perguntou confusa e levantando os intensos olhos castanhos para Quinn, a loira pegou a mão dela e beijou, ainda com aquele sorriso tranqüilo e repleto de paz, tão diferente daquele sorriso maldoso de anos atrás que lhe provocava arrepios e a fazia temer uma slushie no rosto. Em seguida, respondeu:

            - É o lógico, tivemos nossas brigas e discussões e até pouco tempo atrás, eu era a sua médica e agora, nós somos...

            Quinn não completou a frase, respirou fundo e tentou continuar com o sorriso, estava insegura, mas em vez disso, só conseguiu baixar os olhos temendo que Rachel pudesse quebrar aquele fino cristal que penetrara dentro de si no instante que se beijaram. Esperara tempo demais por Rachel e agora que tinha descoberto o gosto dos lábios da morena, não queria perder mais nada, só a queria perto.

            Eu quero que ela seja só minha, eu demorei tempo demais. Acho que mereço uma recompensa.

            Rachel olhou para ela com uma expressão divertida no rosto, sentindo a ansiedade arder dentro de si. Queria saber o que era para Quinn naquele momento, de uma forma desconhecida, seu coração parecia ter esquecido as decepções e estava disposto a dar uma segunda chance aquele sentimento que ela prometera nunca mais sentir.

            Quinn continuou a respirar pesadamente e um silêncio esquisito tomou o espaço entre elas. Rachel tocou o queixo da loira levemente com o indicador e ergueu o rosto dela, restabelecendo o contato visual. Sorriu gentil e perguntou inocentemente:

            - Somos o que, exatamente?

            - Não sei... – Quinn respondeu com um sorriso apaixonado e aproximando-se para dar um selinho em Rachel. – Depois de oitos anos, eu posso ser qualquer coisa, desde que eu esteja com você.

            Rachel ficou calada, sem saber o que pensar e o que responder. Ela piscou várias vezes e sentiu algumas lágrimas chegarem aos seus olhos, a morena deu um sorriso de lado sem saber muito que atitude tomar. Nunca me disseram esse tipo de coisa! Quinn segurou sua mão e ficou calada, olhando para a morena com carinho e paixão. Esperando uma resposta.

            Rachel suspirou e acariciou a mão de Quinn com o polegar, seu coração estava inchado de felicidade como nunca estivera antes. O que sentira por Finn parecia um mero detalhe perto do que estava ardendo agora em seu peito, a morena pigarreou para chamar a atenção de Quinn e perguntou, insegura:

            - Seria pedir muito se eu dissesse que prefiro descobrir com o tempo?

            Quinn não deixou transparecer a sua decepção, tinha que ser compreensiva... Rachel precisava pensar não só em si mesma, mas também em sua carreira. Por mais que a morena estivesse na Broadway, Quinn sabia que ela ansiava por mais na televisão e no cinema e ter uma relação como aquela ainda podia conturbar e muito, a carreira dela.

            Ela não me empurrou, nem me xingou e muito menos foi rude... Só o fato dela me respeitar,  já é uma conquista. Eu não posso exigir mais dela.

            - Não seria muito, aliás, é o esperado. – Quinn disse com um sorriso malicioso nos lábios, a morena olhou pra ela com um olhar confuso e ainda divertido. A loira aproximou-se dela e percorreu a bochecha e a mandíbula dela com os lábios, sentiu Rachel soltar um pequeno gemido de prazer. – Só que esse tempo vai ser bem curto, logo você vai saber o que quer... Sou bem persuasiva quando quero.

            - Ah é? E você acha que eu quero o que agora? – Rachel perguntou divertida enquanto colocava a mão entre os cabelos da loira e respirava profundamente o cheiro de rosas que agora, parecia tão familiar a ela. Quinn soltou um gemido e mordeu levemente o queixo da morena, depois subiu o rosto até a altura do ouvido da outra, ainda sentindo a mão de Rachel acariciar seus cabelos.

            - Eu não vou responder porque seria uma vislumbre da antiga Quinn Fabray, convencida e cheia de si. – Quinn murmurou com um ar sexy no ouvido da outra, Rachel arrepiou-se e mordeu o lábio, segurando-se. Puxou a loira levemente de volta, forçando-a a encará-la e disse sincera:

            - Você é linda Quinn e não precisa ser modesta, tudo bem?

            - Obrigada, mas... – Quinn começou a dizer com um sorriso agradecido, ela puxou o corpo pequeno da morena sobre o seu. No começo, Rachel a olhou um pouco assustada, mas sentou-se em seu colo e relaxou quando as mãos da loira foram para sua cintura. Rachel abaixou a cabeça e sentiu os lábios de Quinn tocarem suavemente os seus. – Eu acho que a única linda aqui é você.

            Há oito anos, Quinn Fabray seria incapaz de dizer que me achava linda. Como os tempos mudam e céus, como eu agradeço isso!

            Quinn capturou os lábios de Rachel com um beijo sensual e doce, a ex-cheerio apertou a cintura da diva e mordeu o lábio inferior dela com um ar completamente luxurioso. Depois segurou o rosto da morena e o ergueu levemente, beijando o pescoço com vontade e prazer. Gemidos podiam ser ouvidos dos lábios de Rachel, Quinn se afastou da morena para respirar.

            Ai Meu Deus! Estou viciada nela!

            Mal a loira tomou ar, Rachel a puxou pela gola da camisa. Beijando-a com força e desespero. Quinn segurou sua nuca com uma das mãos enquanto a outra brincava com a barriga bem delineada da morena, Rachel afastou-se e mordeu o lábio, olhando para Quinn com calor. Quinn deu um sorrisinho safado e aproximou-se novamente para um novo beijo.

            Nesse momento, as duas ouviram um pigarro atrás de si.

            Rachel realizou um movimento misto, pulando do colo de Quinn para o sofá e virando-se em desespero para o dono do barulho. Leroy Berry estava parado com os braços cruzados, numa expressão séria que na verdade, estava segurando uma risada. Quinn levantou-se automaticamente e jogou os cabelos para trás, Rachel suspirou desiludida e permaneceu sentada com a cabeça baixa.

            - Me desculpe, Leroy. Eu estava fazendo uma massagem em Rachel. – Quinn deu uma desculpa com uma cara de pau incrível que seria capaz de fazer qualquer um acreditar nela. Rachel imaginou quantas vezes a loira tinha passado por essa situação, afinal, Quinn era uma mulher linda e segura de si, com certeza havia muitas atrás dela.

            - Imagino o tipo de massagem que você estava fazendo nela... Rachel parece ter adorado em vista dos sons que eu acabei ouvindo lá em cima! – Leroy disse com um tom de voz falso, mas que aos ouvidos das duas meninas parecia extremamente sério e decepcionado. Quinn colocou as mãos nos bolsos e olhou culpada para o homem, Leroy acabou rindo e deixando a máscara cair. As duas garotas olharam-se confusas enquanto ele sufocava em risos:

            - Não acredito que vocês chegaram a acreditar em mim! Eu sempre soube que uma hora ou outra, isso ia acontecer! Fiquem tranqüilas meninas, só vim aqui porque Hiram achou que vocês tinham se matado e me obrigou, mesmo eu dizendo que as bocas de ambas estavam ocupadas demais para falar, que eu viesse ver se ainda estavam bem...

            Leroy saiu dali segurando a barriga que doía de tanto rir. Quinn virou-se para Rachel e deu de ombros com um sorriso divertido e aliviado na face, a morena levantou-se do sofá e enlaçou a cintura dela, as mãos de Quinn envolveram seu rosto e aquele toque parecia o mais perfeito que tinha recebido desde então.

            - Eu realmente acho que você tem que ir, não quero nem imaginar o que podia ter acontecido se meu pai não tivesse aparecido. – Rachel murmurou com um sorriso sensual e beijando os lábios da loira devagar, Quinn massageou a nuca dela e disse rindo:

            - Melhor eu ir tomar um pouco de ar frio e acalmar esse calor aqui dentro.

            Rachel concordou com ela e a levou até a porta, Quinn sorriu e acenou antes de apanhar seu casaco. Quando a loira se virou para saor, Rachel segurou o pulso dela e pediu:

            - Eu quero um beijo de boa noite.

            - Eu vou dar todos os beijos que você pedir, minha linda. – Quinn disse apaixonada antes de se aproximar e prensar Rachel no batente da porta. Enquanto sentia os lábios doces e sexys de Quinn sobre os seus, Rachel sentiu-se como se estivesse no lugar e no momento certo. Sentiu como se a sua vida tivesse a trazido ali.

            O bom da vida são as surpresas.

            Quinn estava com um sorriso enorme no rosto quando o táxi parou em frente a casa de Santana e Brittany, estava tão absorta em seus pensamentos que acabou dando uma nota de cinqüenta dólares para o motorista que sorriu agradecido pela gorjeta gorda que ganhara.

            Parece que eu voltei a ser adolescente!. Essa sensação é a melhor e mais positiva dentre tudo o que eu já senti. Quem diria que Rachel Berry viraria minha cabeça do avesso e mostraria o real sentido da felicidade.

            A loira apanhou a chave reserva que se encontrava embaixo do tapete e tentou não fazer barulho, mas não adiantou. Mal abrira a porta e a luz da varanda se acendeu, seguida de passos pesados enquanto a porta abria-se de supetão.

            Santana Lopez estava parada com os braços cruzados sobre o peito, um olhar mortífero e uma cara cansada. Estava de mau humor e impaciente.

            Péssima combinação, estou ferrada nas mãos dela.

            - Você não vai entrar nessa casa enquanto não me dar uma explicação decente para todo esse seu rolo com Rachel! – Santana disse com aquela voz venenosa e aquela expressão séria e ardilosa no rosto. Quinn deu um muxoxo irritado e disse, inconformada:

            - Você não pode fazer isso comigo!

            - Não só posso, como já estou fazendo! Eu sou sua amiga Q, mereço explicações! Não vou ficar no escuro sendo que te contei tudo sobre a Britt na faculdade... – Santana justificou-se um pouco mais amena e encarando Quinn com um ar que dizia claramente “depois de tudo que passamos juntas, é o mínimo que você pode fazer”. Quinn deu um sorrisinho sarcástico e apoiou a mão na porta dizendo:

            - Não tenho culpa se você é uma boca aberta que conta tudo!

            - Mas eu confiei em você! – Santana retrucou com a voz um pouco elevada, Quinn ergueu as sobrancelhas visivelmente espantada com a reação inesperada e engraçada da amiga, a loira deu um sorriso e disse:

            - Eu confio em você, só não estou pronta para agüentar seus comentários amáveis sobre Rachel e sobre o que sinto por ela.

            - Falando assim, parece que eu sou uma cretina. – Santana comentou irritada antes de bufar, Quinn podia ver a raiva borbulhando dentro da amiga. A loira deu um suspiro e pensou que, talvez, fossa a hora certa de abrir-se com alguém sobre sentimentos que estavam tomando conta da sua vida. Quinn bagunçou os cabelos já bagunçados de Santana e disse, tranqüila:

            - Tudo bem, eu te conto tudo. Desde que você me prometa não fazer nenhum comentário maldoso, porque eu sempre fui muito compreensiva com você!

            - Compreensiva Q? Você me xingou de todos os nomes possíveis quando eu me expliquei na faculdade e... – Mas Santana se calou, porque Quinn revirou os olhos para ela, Santana percebeu que era melhor manter o silêncio mesmo. A latina abriu espaço para que Quinn entrasse na casa, as duas sentaram-se nos primeiros degraus da escada, caladas.

            Quinn respirava profundamente, juntou as mãos e entrelaçou antes de apoiar o corpo nos joelhos. Olhou para Santana que esperava obediente e calada, a latina fez um pequeno e gentil gesto de encorajamento que acabou fazendo Quinn sorrir, sentiu cada pedaço de si quase explodir em felicidade. A loira balançou a cabeça negativamente, rindo de si mesma.

            Estou parecendo uma garotinha apaixonada, recomponha-se Fabray. Você é uma mulher feita, está quase terminando a faculdade e morrendo de amores por aquela pequena diva...

            - Eu estava na casa de Rachel, ela queria que eu examinasse uma dor que ela estava sentindo na cabeça. – Quinn disse com aquele mesmo sorriso intocado em seu rosto, Santana deu uma risadinha curta e comentou, brincalhona:

            - Você saiu ás nove daqui para examiná-la e pelo que eu sei, uma visita de médico costuma ser bem rápida. São quase uma da manhã Fabray, tá na hora de você começar a me contar o que aconteceu!

            - Quer saber o que aconteceu hoje ou o que vem acontecendo? – Quinn perguntou maldosa, atiçando a curiosidade da latina que arregalou os olhos e engoliu em seco. Santana fechou os olhos por alguns segundos e quando os abriu, tinha um brilho compulsivo neles, ela disse:

            - Quer dizer que as coisas entre vocês vêm rolando há tempos e você negando desde que chegou aqui? Você continua muito boa em mentir, Q. Mas pode ir contando tudo agora que se entregou!

            Quinn soltou uma gargalhada rouca e deu um soco de leve no ombro da amiga, Santana sentiu a bolha de preocupação dentro do seu peito explodir. Quem sabe fosse Berry a única capaz de trazer um pouco de felicidade para Quinn... Soava medonho e grotesco, mas o amor nunca foi muito normal para Santana Lopez.

            - Ela chegou ao hospital há alguns meses após uma queda na qual bateu a cabeça e naquele dia, por pura coincidência, eu era a médica responsável pelo atendimento de emergência... – Quinn começou a dizer saudosa, vendo as imagens se passarem como um filme em sua cabeça. Santana sorriu quando viu o brilho que a amiga tinha nos olhos, semelhante ao brilho da vez em que ganharam as Nacionais. – Desde então, eu tenho cuidado dela.

            - E como você veio parar em Lima junto com ela? – Santana perguntou intrigada, Quinn sorriu para ela e respondeu:

            - Minha chefe me deu férias forçadas alegando que eu precisava de descanso e Rachel acabou precisando de uma médica para acompanhá-la na viagem. Então, eu acabei vindo pra cá para observá-la.

            - E você, inocentemente, seduziu a pobre da Berry com esse seu charme e essa beleza infernal. Você é uma cretina, Fabray! – Santana disse com um ar irônico, fazendo Quinn arquear a sobrancelha confusa e perguntar:

            - Desde quando você defende Rachel? E mais... Como você sabe que fui eu que a seduzi?

            Santana arregalou os olhos em uma expressão de espanto, em seguida, a latina soltou uma gargalhada histérica que com certeza, acabara de acordar a pobre Brittany. Quinn pode ouvir alguns passos pesados no andar de cima, a loira fez uma careta repreensiva para Santana e respondeu:

            - Se eu soubesse que você acordaria a B, nem tinha te contado. A menina te agüenta o dia todo e você ainda não a deixa dormir a noite!

            - Se eu quisesse deixá-la acordada durante a noite, não seria dessa forma, queridinha. – Santana respondeu com um ar malicioso e arqueando a sobrancelha daquele jeito que Quinn tinha raiva. A loira revirou os olhos enquanto observava uma Brittany sonolenta e perdida chegar e aninhar-se perto de Santana. – Pode parar de tentar mudar o assunto, você vai me contar tudo!

            - Contar o que? – Brittany perguntou inocentemente enquanto pousava a cabeça no ombro da latina, Quinn sorriu quando observou a latina afagar os cabelos da loira com carinho antes de se virar novamente para a conversa. Santana entrelaçou os dedos de Brittany com os seus e disse, rindo:

            - Quinn estava contando que ela está transando com a Berry!

            - Não...! Que porr...! – Quinn gaguejou e corou furiosamente, enquanto olhava feio para a latina que morria de rir sob o olhar incrédulo de Brittany. Quinn respirou fundo para se acalmar e apressou-se a responder:

            - Eu não estou transando com ela, B.

            - Mas se acertou com ela, não foi? – Brittany perguntou com um sorriso gentil na face e fazendo Quinn e Santana olharem para ela impressionadas. Brittany nunca fora muito brilhante para as coisas práticas, mas parecia entender bastante quando se tratava de sentimentos. Santana pigarreou e perguntou:

            - Como você sabe disso?

            - Simples... – Brittany disse com o sorriso aumentando ainda mais e olhando de esguelha para Quinn antes de olhar para Santana com amor. – Ela está com o mesmo brilho nos olhos que você tem quando olha para mim e eu sei que você me ama, S.

            Sinceramente? Ás vezes acho que a Santana não merece a namorada que tem.

            Santana deu um sorriso sem graça e corou levemente, mas Brittany levantou o rosto dela e aplicou um selinho na namorada que logo direcionou as mãos para a cintura da outra e a puxou para perto. Brittany riu entre o beijo enquanto Quinn pigarreava desconfortável e dizia:

            - Eu ainda estou aqui, sabiam?

            - E vai desaparecer agora! – Santana disse irritada enquanto sentia Brittany dar leves beijos em seu pescoço, Quinn pode ver os pelos arrepiados da latina e não conseguia parar de rir. – Pode ir Q, você sabe muito bem onde é seu quarto!

            - Sim, eu sei e vocês também. Portanto, sem muito barulho essa noite, preciso dormir! – Quinn disse entre risadas e recebendo um olhar mortífero de Santana, Brittany deu uma risada e puxou a latina para outro beijo, fazendo-a se esquecer do mau humor.

            Quinn balançou a cabeça ainda rindo das duas e passou por elas ao subir a escada, seu coração estava enorme dentro do peito. Parecia que o sentimento e a realidade tinham inchado-o a ponto de quase explodir.

            Felicidade... Era disso que eu precisava.

***

Será que você podia descer aqui? Santana está me interrogando e eu estou começando a ficar com vergonha. Beijos, Rach.

            Quinn acordou na manhã seguinte com os olhos ardendo e um pouco de dor de cabeça, ficara até mais tarde lendo alguns artigos sobre Neurologia. Como médica, aprendera que era melhor prevenir do que remediar e com aquele problema de Rachel, ela preferia prevenir.

            A loira precisou ler a mensagem duas vezes antes de enfim, conseguir entendê-la. Porém, quando a entendeu, praticamente pulou da cama e colocou a calça de um moletom velho que encontrou pelo caminho. Ajeitou o cabelo no espelho enquanto escovava os dentes e desceu as escadas aos saltos, não contendo a felicidade dentro de si.

            - Bom dia, amores! – Quinn exclamou entusiasmada e dando um beijo em Brittany que estava ocupada com o bacon no fogão, a outra loira deu um sorriso enquanto oferecia a bochecha para Quinn beijá-la. Em seguida, Santana saiu da sala e comentou mal-humorada:

            - O que uns beijos não fazem com pessoas que estão na seca, não é?

            - Se beijos resolvessem problemas, imagine sexo? Você viveria de bom humor todos os dias, lindinha... – Quinn disse em tom brincalhão e fazendo a expressão de Santana mudar da água para o vinho, a latina passou por ela com brutalidade e foi recebida com um abraço tranqüilo de Brittany. Quinn observou as duas por alguns instantes com um sorriso divertido e em seguida, virou-se para Rachel.

            Desde quando Rachel ficou ainda mais bonita? Melhor... Desde quando ela está assim, tão apaixonante?

            Rachel tinha alguns resquícios das risadas dadas há alguns instantes, pequenas lágrimas escorriam por sua face e a respiração estava ofegante. A morena se aproximou a passos pequenos e corando um pouco, abrindo um sorriso enorme e envergonhado. AQUELE sorriso de Finn... Quinn deu uma risadinha rouca e apanhou o pequeno corpo da diva com uma mão enquanto a outra acariciava a face direita dela, Rachel fechou os olhos e disse:

            - Bom dia... Espero que não tenha te acordado!

            - Eu não me importo de acordar por você todos os dias... – Quinn disse tranqüila, antes de puxar Rachel mais para perto de si e beijarem-se levemente. Rachel suspirou entre o beijo, exalando um ar quente que provocou arrepios pelo corpo de Quinn. A morena sorriu e beijou a bochecha da outra, antes de dizer:

            - Se fosse Santana, estaríamos à beira de uma guerra mundial, não é?

            - Sim, ela pode ser muito chata quando quer... – Quinn murmurou, afagando a face da diva com movimentos circulares do dedão, Rachel sorriu e deu mais um selinho antes de responder novamente:

            - Pode. Eu acabei de ver que realmente, ela pode ser muito chata.

            - Dá para vocês duas pararem de me elogiar aí na sala e virem comer o café-da-manhã? – Santana gritou irritada lá da cozinha, provocando sonoras risadas nas duas garotas. Quinn deu um sorriso e gritou de volta:

            - Eu vou me trocar e já volto!

            Quinn deu um último selinho em Rachel e subiu as escadas aos pulos enquanto a diva a observava com uma expressão boba na face. Santana aproximou-se dela, segurando uma xícara de café e comentou irônica:

            - Se me pagassem por cada carinha boba que vocês duas fazem, eu ficaria rica!

            - Eu estaria ainda mais, Lopez... Você faz carinhas bobas quando vê Brittany desde o ensino médio! – Rachel disparou um pouco irritada, o gênio da latina ainda a tirava do sério. Santana fechou a cara e revirou os olhos, Brittany veio rindo da cozinha e entrelaçou a cintura da latina por trás, beijou o pescoço dela e disse:

            - Sant só está com ciúmes, não ligue!

            - Ciúmes? Da Fabray? Você tá maluca? – Santana exclamou inconformada e virando-se para encarar Brittany que ria junto com Rachel, a latina estava desconcertada. Quinn desceu a escada, já completamente vestida e disse, cheia de si:

            - Sim, você sempre teve uma paixão doida por mim e eu sempre soube, Sant!

            - Eu nem vou te falar nada, Fabray... Você já sabe que ainda não recuperou os anos perdidos comigo! – Santana disse ameaçadora e cutucando Quinn, a loira a empurrou de brincadeira enquanto gargalhava e virou-se para Rachel, oferecendo a mão.

            Rachel olhou impressionada para ela, nunca uma pessoa oferecera a mão para ela antes de sair de casa. Quinn vacilou um pouco o sorriso, mas Rachel logo apanhou a mão dela. Assim que se tocaram, a loira a puxou para perto novamente e Rachel se aninhou nos braços dela, sentindo aquele perfume de rosas invadir seu espaço novamente.

            - Rachel não come bacon, vou levá-la para tomar café fora... – Quinn anunciou animada e desanimando-se em seguida, quando Brittany fez uma carinha triste. – Desculpa B, podemos marcar um jantar, tá bem?

            - Por mim, vocês podiam desaparecer! – Santana comentou amarga e recebendo um beliscão e uma careta feia de Brittany, essa loira deu um sorriso compreensivo e acenou com a cabeça, voltando para a cozinha. Quinn revirou os olhos e puxou Rachel para a porta, antes de sair, virou-se para Santana novamente e disparou:

            - Você nos ama Lopez, assuma!

            Santana mostrou o dedo do meio para Quinn e fechou a porta na cara das duas, Quinn gargalhou e virou-se para Rachel. O sorriso dela desapareceu, sendo tomada por uma expressão mais branda e tranqüila, a loira pigarreou e disse:

            - Sei que é clichê, mas você está linda hoje.

            - Obrigada. – Foi a única coisa que Rachel conseguiu dizer antes de entrar no carro, porque momentaneamente, ela sentiu-se como se tivesse sido elogiada pela primeira vez, pelo seu primeiro namorado no primeiro encontro.

            - O que você quer comer? – Quinn perguntou tranquilamente enquanto olhava o trânsito de Lima, tão calmo e diferente da correria de Nova York. Rachel dirigia, mas sempre que conseguia desviar os olhos do trânsito, observava Quinn.

            Ela sempre foi tão bonita e agora, depois de todos os anos... Está perfeita.

            - E não adianta ficar calada, quero que escolha um lugar para irmos. Sei que Lima não tem muitas opções vegans, mas a gente pode dar um jeito! – Quinn completou um pouco desconcertada ao notar que Rachel não a respondera antes, a diva percebeu a inquietação da outra e amenizou a situação:

            - Não precisa disso tudo, eu posso muito bem comer em qualquer lugar.

            - Ah claro, você vai conseguir me olhar enquanto eu devoro um prato cheio de bacon? – Quinn perguntou desafiadora e pousando a mão sobre a coxa de Rachel, com a sobrancelha arqueada daquele jeito sexy e misterioso. Rachel deu um sorrisinho de lado, Quinn não sabia do que ela podia ser capaz. Ficou calada por alguns instantes, já tinha chego ao seu destino, estacionou o carro e respondeu:

            - Eu tenho outras imagens suas em minha cabeça que podem muito bem me distrair enquanto você devora o pobre animal.

            - Ah é? E quais são? – Quinn perguntou sexy enquanto se aproximava, a loira teria se aproximado mais caso o câmbio não tivesse entre elas. Rachel deu uma pequena risada e elevou os olhos castanhos e quentes a mesma altura dos castanho-esverdeados, conseguiu ler a paixão neles. A morena passou o dedo indicador levemente pelos lábios de Quinn e murmurou, rouca:

            - Imagens suas de cheerio, outras cantando no Glee... Eu as acho extremamente sexys, sabia?

            - Você não pode brincar comigo assim, em público. – Quinn disse em tom de aviso, mas mesmo assim, tentando se aproximar ainda mais e mordendo a ponta do dedo indicador da outra de leve. – Os tempos mudaram, Berry. Eu posso ser ainda mais perigosa quando quero!

            Rachel deu um sorrisinho de lado e aproximou-se de Quinn para beijá-la, porém, quando iam enfim concretizar o beijo, a morena abriu a porta do carro e saiu, deixando a médica no vácuo. Quinn ficou que nem boba por alguns segundos, mas logo que retomou a racionalidade, saiu e bateu a porta do carro.

            - Eu disse para você não brincar comigo!

            - Agora você soou exatamente como eu me lembrava! – Rachel disse em tom brincalhão, pegando a mão de Quinn e beijando-a. – Parece que a Quinn malvada retorna quando negam um pouco de fogo para ela!

            - Não é negar fogo, o que você fez está mais para tirar doce de uma criança! – Quinn disse indignada, mas mesmo assim aceitando o abraço que estava recebendo de Rachel, a diva estava rindo sem parar e aquela risada estava fazendo seu falso mau humor ir para o ralo. As pessoas olhavam para as duas, algumas sorriam enquanto outras pareciam ocupadas demais para observar uma segunda vez.

            Mas o que os outros pensavam, importava? Rachel estava começando a acreditar que não importava mais nada, podia ser clichê, mas nada importava se Quinn não estivesse com ela.

            O engraçado é que agora, parece tudo tão natural.

            - Eu não tirei nada de você, só estou deixando para mais tarde... – Rachel sibilou ao pé do ouvido de Quinn, ainda abraçada com ela, ouvindo o coração de Quinn bater no mesmo compasso do seu. Sentiu o abraço ao redor de si enrijecer, a loira se afastou dela e disse com um sorrisinho repleto de intenções:

            - Mais tarde? Eu vou cobrar, viu?

            - Pode cobrar, será bem recompensada! – Rachel disse sexy e depois, saiu andando naturalmente para dentro do estabelecimento, a loira acompanhou e as duas sentaram-se no fundo do local.

            Rachel sentia-se flutuando, parecia que todos os anos de falsas promessas e falsos amores valeram à pena. Parecia que toda a negação estava fazendo sentido... Parecia que tudo estava trazendo-a de volta para Quinn.

            - Você realmente vai ficar só nessa torrada integral com tofu? – Rachel perguntou preocupada, Quinn decidira ser cavalheira o bastante e pediu a mesma coisa que ela, em respeito aos animais. Porém, parecia que agora, a loira estava muito arrependida da escolha que fizera.

            - Eu acho que posso lidar com um café-da-manhã ruim... – Quinn respondeu enojada e apanhando o garfo ao lado do prato, cutucando o tofu e olhando para a torrada com confusão. Rachel conteve uma risada, Quinn olhou irritada para ela e continuou a estudar a comida. A morena beliscou o braço da outra e disse:

            - Não precisa comer senão quiser, eu posso conviver com você sendo uma financiadora da matança de pobres e inocentes animais.

            - Da forma que você fala parece que é muito cruel comer um pequeno pedaço de bacon todos os dias... – Quinn justificou-se, ainda concentrada em descobrir se existia algo além do que via no prato. Rachel afagou a pele do braço da loira e disse, mais séria:

            - E você acha que não é ruim matar milhões de animais para satisfazer a sua gula? Pior ainda é o seu caso, Fabray. Você não come pequenos pedaços e sim, pedaços enormes de bacon!

            - Pra falar a verdade, faz um bom tempo que eu não como bacon... – Quinn disse rindo enquanto encarava Rachel com uma expressão de falsa desculpa. A diva sorriu para ela e desenhou pequenos círculos no braço de Quinn. – Com toda a correria no hospital, eu não me alimento muito bem.

            - Isso que é engraçado, os médicos perdem a própria saúde para cuidarem da saúde alheia... – Rachel comentou um pouco mais séria, Quinn arqueou a sobrancelha de um jeito engraçado para ela e disse brincalhona:

            - Da forma como você fala, parece que nós vamos morrer a qualquer momento.

            - Eu ainda sou boa com dramas, Fabray... Você mesma viu todos os meus shows, sabe que eu me dou melhor no drama do que na comédia! – Rachel respondeu na defensiva e arrancando sonoras gargalhadas de Quinn, as pessoas começavam a reconhecê-las e em um ato de puta proteção, Rachel afastou a mão da outra rapidamente quando um casal de idosos olhou para as duas com repreensão.

            Quinn olhou confusa para ela e depois, olhou ao redor... Entendendo tudo perfeitamente.

            Ela está com medo.

            A loira não exigiu nada dela, mas deu um sorriso agradável e tranqüilizador. Rachel corou levemente e olhou para o teto do local, sem saber o que fazer. Um silêncio incômodo perpetuou-se entre as duas, o clima estava pesado e Rachel sentia-se culpada por ser tão impulsiva. A morena pigarreou e disse, enquanto se levantava:

            - Eu vou ir ao banheiro.

            - Tudo bem, eu espero aqui. – Quinn disse educadamente e dando um sorriso agradável, Rachel sentiu uma melhora de si e rumou para o banheiro.

            Preciso respirar um pouco.

            Rachel percorreu a distância até o banheiro a passos rápidos, Quinn a observou atentamente durante todo o caminho. Claro que ela aceitava toda a avalanche de sentimentos que se passavam dentro de Rachel, mas estava difícil compreendê-los. Mesmo sendo compreensível pensar na carreira antes, será que não era a hora da diva pensar um pouco em si mesma e se deixar levar?

            Quem diria que eu ia reclamar da ausência do tradicional egoísmo da Berry.

            Quinn sorriu para si mesma, se Rachel precisasse de dez anos, daria dez anos para ela.

            - Quinn Fabray?

            O sangue de Quinn gelou, ela esperava que nunca mais fosse ouvir aquela voz. A médica levantou-se e depois se virou lentamente para olhar quem tinha a chamado.

            Finn Hudson estava parado ali, com aquela mesma cara de tapado e aquele ar perdido e confuso. O rapaz olhava para ela surpreso e sorria sem parar, Quinn achava que o sorriso dele estava começando a deixá-la desconfortável. A loira colocou uma das mãos no bolso e murmurou, constrangida:

            - Olá, Hudson.

            - Você sabe muito bem que é Finn, pra você... – O rapaz respondeu descontraído e dando uma piscadela cheia de intenções para Quinn, ela revirou os olhos e em seguida, olhou sobre o ombro a procura de Rachel. Ela vai surtar se ver que ele está aqui, agora, se ela vai surtar por causa dele ou por minha causa... É uma dúvida.

            - Acho que o tempo me fez perder um pouco da intimidade... – Quinn justificou-se, tentando dar um sorrisinho, mas produzindo uma careta de volta.  Finn coçou a cabeça e respondeu cheio de si:

            - Sim, mas acho que o tempo não nos faz esquecer certas coisas...

            Por que eu fui ficar com ele na noite do baile? Ele vai ficar jogando isso na minha cara pelo resto da vida! Maldita coroa! Eu devia ter bebido mais e ter cometido a loucura de ficar com Rachel naquele dia, pelo menos não teria que lidar com péssimas lembranças como esta de ir para a cama com Finn Hudson.

            - Mas faz com que aprendamos a lidar com elas. – Quinn respondeu friamente, fazendo Finn arregalar os olhos assustado e lembrar (e muito) aquela Quinn Fabray assustadora que conseguia tudo que queria na época do ensino médio. O rapaz pareceu desconcertado e ficou olhando para o teto, ele respirou fundo e depois de alguns segundos, perguntou como se nada tivesse acontecido:

            - O que te traz de volta à Lima?

            - Acompanho uma paciente... – Quinn respondeu, ainda séria e irritada com o rapaz que olhava para ela em um misto de saudade e admiração. Meu Deus! Será que eu o seduzi tão bem assim? Parece que ele nunca vai me esquecer! – Rachel Berry, acho que você se lembra dela.

            - Não precisa ser grosseira, Q. Acabamos de nos reencontrar! – Finn pediu um pouco indignado com a forma pela qual estava sendo tratado. Claro que ele sabia que tinha sido um ogro com Rachel, mas se tivesse a chance de se redimir com ela, ele o faria. – Rachel foi muito especial na minha vida, eu vou lembrar dela, independente de tudo.

            - É que você não aparentava isso, quando a traiu comigo diversas vezes... – Quinn acabou deixando as palavras saírem rapidamente pela sua boca, num tom maldoso que há muito tempo ela não usava. Como ele ainda ousa vir falar comigo depois de tudo que rolou entre eu, ele e Rachel? Finn parecia ter perdido a fala e os dois ficaram em um silêncio muito desagradável.

            Ambos se olhavam. Quinn tinha uma raiva contida nos olhos castanho-esverdeados enquanto Finn parecia procurar as palavras... O rapaz pigarreou diversas vezes e abriu a boca em outras dezenas tentando se justificar, mas não conseguiu. Quando Quinn estava para se virar e ir buscar Rachel no banheiro, ele disse em tom culposo:

            - Eu gostei dela, mas eu sempre te amei, Q... Você foi a minha primeira garota e sempre vai ser meu primeiro amor!

            Quinn olhou para ele incrédula e um tanto quanto impressionada. Ela achava que o tempo curava feridas e que Finn podia esquecer-se dela num piscar de olhos... Mas não era aquilo que acontecera. Ela elevou os olhos castanho-esverdeados em direção a ele e murmurou, receosa:

            - Estamos velhos demais para isso, Finn...

            - Mas isso não quer dizer que seja tarde demais. – Finn respondeu firme e olhando com esperança para Quinn, porém, a loira permaneceu impassível.

            Meu coração nunca pertenceu a ele.

            Finn aproximou-se dela, mas ela não o repeliu. Por alguns instantes, ela acreditou que ele fosse beijar seus lábios... Porém, o homem se afastou tão rápido quanto se aproximara e disse:

            - Nos vemos por aí, Q.

            Finn deu um aceno e um sorriso triste antes de lhe dar as costas e sair pela porta de entrada da lanchonete, Quinn ficou encarando o nada, perdida em seus pensamentos e em suas lembranças com ele que no momento, não significavam mais nada para ela. Ouviu passos rápidos atrás de si, virou-se e deparou-se com Rachel.

            Ela viu tudo.

            A morena estava fazendo tudo inconscientemente, aliás, perdera a noção de muita coisa quando seus olhos depararam-se com Finn Hudson próximo a Quinn Fabray. Aliás, ela não soube por quem sua vista ficou vermelha e suas mãos queimaram, muito menos sabia quem era dono do seu ciúme atual. Ela só queria sair dali.

            - Rachel, não era nada disso que você está pensando. – Quinn disse receosa enquanto observava a morena deixar algum dinheiro sobre a mesa, apanhar a bolsa e colocar o casaco. A diva levantou os olhos com um ar enfurecido e respondeu, irônica:

            - O que era pra eu pensar, Quinn? Que vocês ainda possuem uma ligação especial? Sinto muito, mas eu sei disso desde o baile do último ano, aliás... Muita ingenuidade minha acreditar em tudo que você me disse!

            Quinn bufou irritadiça e naquele momento, realmente desejou que Finn Hudson desaparecesse da face da Terra. A loira segurou o braço de Rachel levemente enquanto ela procurava alguma coisa na bolsa, mas a morena separou-se com um ar gélido. Quinn respirou fundo, tentando se acalmar e disse:

            - Eu não menti sobre nada, ok? Eu gosto de você, eu quero você por perto... Não acha que se eu quisesse Finn, já tinha beijado-o no instante que ele veio falar comigo? Ele que quer ficar comigo enquanto eu, quero e sempre quis ficar com você.

            Rachel parou de remexer na bolsa e por um breve momento, Quinn acreditou que ela tinha compreendido. Mas essa esperança rapidamente esvaiu-se de sua mente quando os olhos castanho-chocolate gélidos ergueram-se para ela, Rachel deu um sorrisinho irônico e respondeu:

            - Sempre quis ficar comigo e mesmo assim, ficou com ele antes.

            Rachel preparou-se para fazer uma saída triunfal quando ouviu a impaciente voz de Quinn sibilar:

            - Não faça drama, Berry... Você sabe muito bem o que eu sinto por você.

            - Sei mesmo? Depois de uma noite, você acha que tá tudo bem esclarecido pra mim? Acha que todas as minhas inseguranças desapareceram? – Rachel questionou sentida e se aproximando da outra, mesmo com a enorme diferença de altura, Quinn sentiu-se esmagada pela força que a morena exalava. – E outra, não peça para uma atriz da Broadway parar de fazer drama, é ofensivo!

            Dizendo isso, Rachel Berry aprumou a postura e saiu pela porta da lanchonete, Quinn jogou-se na cadeira e passou a mão sobre a testa. Sentindo seu corpo latejar pelo ataque da diva, agora sim ela parecia e muito com a Rachel Berry da qual se lembrava.

            Como sempre, o Finn tinha que aparecer para estragar tudo.

***

            Os dias se passaram e a véspera do Natal chegou. Nos primeiros dias após a discussão na lanchonete, Quinn procurou e ligou para Rachel sempre que podia, mas nunca obteve resposta. Rachel isolou-se na casa dos pais, não atendia telefone, celular e muito menos, respondia e-mails.

            Até que Quinn se cansou e se acomodou. Por mais que machucasse toda aquela insegurança e imaturidade de Rachel, ela até compreendia. Depois que sua cabeça esfriou, ela percebeu que teria exatamente a mesma atitude da diva.

            Rachel nunca teve boas relações e ver que eu, que prometera fazê-la feliz estava de papo com a única pessoa da qual ela gostara e a magoara, com certeza a confundira e a deixara ainda mais insegura...

            A médica também cansou-se das brincadeirinhas e comentários maldosos de Santana a respeito das duas, aliás, a latina escondia, mas estava querendo matar Rachel. Ela dissera para Rachel não machucar Quinn e no primeiro encontro, já deixava a loira cabisbaixa e preocupada. Com certeza, aquela era a quebra de promessa mais rápida da história.

            Devido a isso, Santana estava mexendo os pauzinhos para trazer Rachel para comemorar o Natal com ela, Brittany e o resto do Glee Club. Já enviara os convites e fizera um trato com os pais de Rachel que se comprometeram a levar a filha amarrada até lá, se fosse preciso.

            No dia da festa, a arrumação estava a pleno vapor, comandada por Santana que perseguia os pobres empregados mandando-os fazer isso e aquilo. Quinn estava se arrumando no quarto enquanto sentia o cheiro delicioso que vinha da cozinha, Brittany estava coordenando tudo por lá.

            A loira sentou-se na cama e suspirou cansada, olhando para o celular por puro costume e não se surpreendendo-se com a ausência de resposta. Era óbvio que Rachel ia demorar para querer falar com ela, era óbvio que Rachel ia sumir.

            Debaixo daquela fachada forte, ela é, na verdade, uma garotinha indefesa.

            Quinn suspirou e apanhou uma das camisas mais novas que tinha dentro do guarda-roupa. Depois que entrou na faculdade de Medicina, descobriu que não havia muito tempo para se arrumar e portanto, abandonou os vestidos e optou por calças e camisas que eram mais confortáveis e mais fáceis de se vestir.

            Escolheu uma calça social presta e uma camisa social branca, depois foi atrás de um cinto e um sapato. Estava terminando de colocar os brincos e passando maquiagem quando ouviu batidas na porta, murmurou um “Já vai!” desinteressado e surpreendeu-se em seguida, quando Kurt e Mercedes entraram em seu quarto.

            - Por que chegaram tão cedo? – Quinn perguntou um pouco perdida entre calçar os sapatos e colocar a corrente com o pingente de crucifixo no pescoço. Percebendo a dificuldade da amiga, Kurt apressou-se a ajudá-la com o colar e depois, remexeu no cabelo loiro dela atrás de um penteado.

            - Santana pediu para vermos se você estava viva e se ainda possuía um pouco de orgulho. – Mercedes murmurou séria enquanto balançava a cabeça negativamente para os penteados que Kurt sugeria, Quinn revirou os olhos entediada com aquela conversa e Kurt completou:

            - Segundo ela, você deixou seu orgulho em algum lugar depois que se humilhou dias a fio pela Berry.

            - Eu não estou me humilhando, ao contrário da Santana, eu tenho sentimentos e pretendo vivenciá-los. – Quinn respondeu mal-humorada enquanto observava pelo espelho as loucuras que Kurt estava querendo fazer em seu cabelo. Do nada, o rapaz os soltou e eles caíram sobre seus ombros, ele e Mercedes pareceram felizes com o resultado.

            - Quando você assumiu que gostava dela, também assumiu todos os dramas e as crises. Aprenda a lidar com isso tudo. – Mercedes aconselhou com um sorriso enquanto ajudava Quinn com a maquiagem, passou um lápis bem forte evidenciando os olhos da loira e em seguida, passou uma camada bem leve. Quinn era bonita por si só.

            Os três olharam-se pela última vez no espelho e saíram do quarto. No corredor, Kurt enganchou seu braço com o de Quinn e disse:

            - Você está gritando que é lésbica com essa roupa... – Mercedes olhou repreensiva para ele e Quinn apenas sorriu com o comentário. – Mas garanto que é a lésbica mais linda por aqui, adorei a calça.

            - Obrigada Kurt. – Quinn agradeceu sincera e dando um beijo no rosto do rapaz, Mercedes sorriu para os dois. Os olhos atentos de Kurt percorreram a sala cheia de convidados e focalizaram Rachel Berry conversando animada com Sam na extremidade oposta da sala. Onde se encontrava a saída para a piscina.

            Ele teve uma brilhante idéia que foi ofuscada pela figura enorme de Finn Hudson que atravessava o salão e chamava a morena para dançar.

            - Calma, Fabray. Não cometa um homicídio! – Mercedes aconselhou Quinn que tinha os olhos faiscando em fúria. Tem que ser muito cara de pau para dizer que me ama e logo depois de levar um fora, ir atrás dela. Kurt olhou de Quinn para Finn e desceu as escadas correndo, trazendo Santana carregada minutos depois.

            - Santana, precisamos de sua ajuda. – Kurt pediu suplicante e Brittany que passava por ali, acabou parando para ouvir também. A latina bufou impaciente e disse:

            - Se tiver algo a ver com a Berry, não vou ajudar. Ela não merece a Q.

            - Deixe sua paixão louca pela Q para mais tarde... – Kurt disse sério, fazendo Quinn e Mercedes segurarem as risadas e Santana xingá-las baixinho, Brittany estava prestando atenção no visgo. – Quero que você tranque Rachel e Quinn para fora, na piscina. Elas precisam conversar.

            - Acho que nem vai precisar... – Brittany comentou sonhadora enquanto olhava para um ponto fixo do outro lado da sala, todos os olhares foram para lá nesse momento e conseguiram visualizar uma cabeça castanha sair para a porta. – Rachel acabou de sair para a piscina e parecia muito brava.

            - Mas por que ela ficaria brava? Finn costumava ser o amor da vida dela... – Santana disse um pouco receosa e esperando uma reação violenta de Quinn, mas a médica estava com os olhos fixos naquela região. Kurt empurrou Quinn e recebeu um olhar indignado em troca, em seguida, ele ordenou:

            - Tá esperando o que? Vai atrás dela!

            Quinn pareceu levar um tranco e sorriu para os amigos, Mercedes ainda gritou:

            - Pegue um casaco para aquecê-la!

            A loira atravessou o bolo de pessoas rapidamente, ignorando alguns conhecidos que a chamavam para uma conversa. Apanhou um de seus casacos no armário de entrada e chegou a porta de vidro que levava a piscina primeiro que Finn, que vinha logo atrás.

            Finn observou Santana correr, trancar a porta e fechar as cortinas que davam para o pátio. Ele ficou sem entender mais nada e nem procurou entender também, porque Kurt o puxou para junto de Puck que acabara de chegar.

            No topo da escada, Mercedes e Brittany sorriam enquanto observavam Santana e Kurt suspirarem aliviados.

Highway run

Into the midnight sun

Wheels go’round and ‘round

You’re on my mind

            Quinn amaldiçoou o DJ da festa que resolveu tocar Faithfully bem naquele momento. A loira fechou a porta atrás de si enquanto ouvia o trinco do outro lado e sentia o vento frio tocar seus ombros. Rachel estava na beira da piscina, mas sequer a olhou.

Restless hearts

Sleep alone tonight

Sendin’ all my love

Along the wire

            Quinn aproximou-se e Rachel fez menção de se virar, porém a loira foi mais rápida e abraçou os ombros da morena, envolvendo-a com o casaco.

            - Achei que estivesse com frio.

            - Eu estou bem.

            - Não, você não está. Nunca esteve e não quer que eu te faça sentir-se bem.

            Rachel saiu do abraço e virou-se para Quinn, a loira tinha os olhos ardendo em vivacidade e excitação.

They say that the road

Ain’t no place to start a family

Right down the line

It’s been you and me

Lovin’ music man

Ain’t all it’s supposed to be

Oh girl, you stand by me

I’m forever yours

Faithfully

            As duas se encaravam como se quisessem passar os sentimentos pelo olhar, os olhos de Quinn tinham efeito calmante em Rachel. Passavam toda a segurança que Finn não tinha, toda a intensidade que Finn não possuía, todo o amor que Finn fingia sentir e que ela, justo ela, sentia.

            - Você está com medo, admito que eu fui culpada, mas eu não seria capaz de te ferir novamente.

            - Por que não? Você já feriu tantas vezes...

            - Eu gosto de você, é tão difícil acreditar que esse é um bom motivo para te fazer feliz?

            Rachel Berry viu arder uma chama diferente em Quinn Fabray e ela percebeu ali, enquanto seu coração acelerava, que podia acreditar naquelas palavras.

Circus life

Under the big top world

We all need the clows

To make us smile

Throgh the space and time

Always another show

Wondering where I am

Lost without you

            Quinn olhou para Rachel, viu algumas lágrimas escorrerem pela face da morena, limpou-as delicadamente e aproximou-se. A morena quis se afastar, mas Quinn apanhou as mãos dela e sorriu.

            - Eu quero te mostrar uma coisa.

            - Me mostrar o que? Eu sei que fico vulnerável quando gosto de alguém, eu sei que não posso confiar nas pessoas, eu sei que não posso me entregar porque eu sempre acabo machucada e magoada!

            - Eu quero te mostrar um novo significado pra tudo isso que você abomina, eu quero e vou te mostrar o que eu sinto.

            Rachel tentou responder, mas não conseguiu. Porque no instante seguinte, seu corpo foi puxado delicadamente para junto do corpo de Quinn. Ali estava quente, ali era protegido. A morena ergueu a face e deparou-se com um sorriso, Quinn abriu os lábios e começou a cantar a música que antes, lhe trazia lembranças ruins:

And being apart ain’t easy

On this love affair

Two strangers learn

To fall in love again

I get the joy

Of rediscovering you

Oh girl, you stand by me

I’m forever yours

Faithfully

            E naquele momento, enquanto Quinn a conduzia na pequena dança, a palavra “fielmente” pareceu real e palpável. Era real porque Quinn era real e porque o sentimento dela é real. Faithfully parecia ter outro sentido agora, um sentido que não trazia lembranças ruins e más sensações...

            - Esse é um dos novos significados: eu não quero que você fuja de mim. Eu sou e vou ser sua, pra sempre, independente de tudo.

            - Mas...

            - Eu não sou ele, Rachel. Eu sou Quinn Charlotte Fabray, a garota que percebeu tarde demais que gostava de você e que percebeu ainda mais tarde que podia te fazer feliz. Eu sou uma garota, não sou um príncipe encantado. Mas eu garanto que se você me der uma chance, eu mudo o significado que o amor tem pra você.

            - Amor?

            - Sim, amor... Eu não te disse antes? Eu te amo, Rachel Barbra Berry.

            Rachel se calou enquanto a música acabava lentamente, as duas pararam de se mover, mas não se separaram. Quinn olhava intensa para Rachel, exigindo uma resposta imediata. A neve começara a cair e estava cada vez mais frio, a morena aproximou-se um pouco mais e beijou de leve os lábios de Quinn, antes de dizer aliviada:

            - Eu odeio ter que dizer isso, mas eu também te amo.

            - Viu como é fácil? Doeu alguma coisa? – Quinn perguntou brincalhona enquanto abraçava a morena e beijava o pescoço dela. A diva soltou uma gargalhada e respondeu:

            - Não doeu e espero que não doa.

            - Nem vai doer, esse é o novo e mais importante significado. – Quinn respondeu séria e se afastando de Rachel para olhá-la melhor, a morena fez uma carinha confusa e perguntou:

            - Qual significado?

            - Amar não dói. – Quinn respondeu apaixonada antes de capturar os lábios de Rachel com voracidade.

           

“Watching the lights go down, letting the cables sleep...”

***