O pai era empresário, contabilizava vinte por cento das ações da fábrica têxtil de sua família. Nos fins de semana, seu passatempo era emprestar dinheiro a pobres-diabos que já estavam com o nome sujo na praça e não tinham como pagar as dívidas, e depois lhes cobrava juros absurdos que lhes sugavam até os parafusos dos móveis caso não pagassem o empréstimo em dia. William Bach era um dos agiotas mais conhecidos de Hamburgo – e teve seus passos seguidos pela filha.

     Katherine Bach tinha afinidade com os números desde que aprendeu a contar e sempre foi muito apegada ao pai. Acompanhava-o sempre e sabia de cor todos os seus esquemas e condições, e assumiu o lugar de William assim que completou dezoito anos – um mês depois de vê-lo sofrer um infarto.

     A morte do pai trouxe a Katherine um desalento que parecia interminável, do qual ela só se viu livre ao tomar frente dos negócios. Ela se livrou dos fantasmas da morte do pai, mas sentia que faltava alguma coisa... Tinha horror da vida de socialite que levavam a mãe e a irmã mais velha, porém não podia deixar de ter uma vida social – vivia rodeada de muita gente rica, e não lhe faltavam ofertas de namoro e pedidos de casamento.

     Contudo, nada disso lhe interessava. Nenhum homem lhe apetecia. Todos lhe chamavam fria, e diziam que ela só queria saber do trabalho do pai, alguns arriscavam falar que estava sofrendo uma depressão profunda por causa do trauma da morte do pai.

     Nada disso. Katherine apenas não queria se envolver com alguém que, a seu ver, vivia futilmente e não valia o seu tempo. Enfim, não tardou para que ficasse conhecida em seu meio como A Agiota.