O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate


Capítulo 3
Capítulo 4




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P.O.V – Hellena

Isaiah havia me deixado só para que eu fizesse minha refeição novamente, segundo ele, quando se é jovem, precisamos de muita alimentação freqüentemente.

Sentei-me à mesa acompanhada de Blake.

Mantinha meus olhos desviados dos seus, fitando qualquer lugar que não fosse o azul profundo dos olhos poderosos dela. O arrepio de sua presença não saia de minha espinha, e eu sentia o fraco cheiro de damas da noite e chocolate.

-Porque sempre quando chego perto de um imortal, sinto esse arrepio? É um saco. – reclamei cruzando os braços.

-É nossa... Chamamos de assinatura. Sentimos quando um ser da noite se aproxima, como um aviso, para tomar cuidado. Você se acostuma. – revirou os olhos bebericando o conteúdo de seu copo.

O liquido vermelho e de odor saboroso desceu por sua garganta me dando sede, eu podia sentir o sabor doce e delicado da bebida dos imortais.

Virei meus olhos para a cortina de veludo negro, ela caia fortemente cobrindo a janela. O dia estava quente, e o sol pesava sobre a cabeça dos trabalhadores. O odor de suor deles chegava ate meu olfato delicadamente feroz.

Viver no tempo medieval ainda era perturbador para mim, parecia que a qualquer momento eu abriria os olhos e tudo não passaria de um sonho.

Escorreguei meus dedos pelo cetim do meu vestido, o contato da minha pele com ele me causava uma sensação estranha, e tudo a minha volta parecia ampliado e mais colorido. “Coisa de imortal jovem” era o que todas diziam, e afirmavam que era a melhor época que se poderia viver. Onde tudo é belo e novo.

Para mim não parecia que tudo era belo e novo.

Um serviçal entrou na pequena sala, lançando seu cheiro por todo canto, o saboroso e quente sangue chicoteou-me meu olfato causando um frenesi horrível em meu sistema nervoso.

Eu que achava que Edward era um fresco. Que clichê.

-Hellena. – Blake me advertiu. Abri os olhos parando de respirar.

O homem se aproximou e ficou em pé ao meu lado. Tirou uma faca do bolso e abriu um talho em seu pulso, chiou com a dor da carne cortada. Seu sangue pingou em um copo.

Estendeu o copo para mim, peguei-o e ele saiu.

Ficamos bebendo em silencio. Não gostava desse silencio, parecia desconfortável e quase pinicava minha pele, o silencio só era bom na companhia de outra pessoa.

Suspirei olhando novamente para o lado. Parado perto das janelas negras estava um menino de treze anos, sua cabeça tinha um ferimento de sangue seco, e sua imagem tremulava. Espírito.

Fazia parte do meu dom ver pessoas mortas. E isso não era algo que eu considerava muito confortável. Alguns não achavam o caminho, tipo “achar a luz no fim do túnel” e ficavam vagando por ai.

Sua imagem tênue me dava ânsias.

Espíritos estavam por todo canto, e imaginar que quando eu era humana eles estavam em todo lugar, me vendo trocar de roupa e coisas do tipo, não melhorava agora que eu podia ver-los.

-O que quer? – perguntei na defensiva.

-Como? – Blake me olhou.

-Espírito. – não olhei-a, apenas continuei a fitar o menino.

-Minha mãe... – choramingou.

Bufei, eu não tinha tempo para cuidar de órfãos mortos. Estreitei os olhos e ele se dissolveu, sumindo.

-O que houve com ele? – ela perguntou.

-Foi embora. – dei de ombros me levantando.

-Não devia tratar os espíritos assim. – advertiu-me.

-Se eu fosse ser gentil com todos, passaria o dia inteiro falando com pessoas que ninguém vê. – fui andando em direção a porta. Uma súcubo entrou.

-Majestade, Corine e Roslyn estão discutindo.

-O que houve?

-Consorte.

Voltei-me para Blake. Meneei a cabeça chamando-a para fora da sala.

Chegamos ao lugar da briga onde duas mulheres estavam agachadas, rosnando e mostrando as presas. Os olhos em fendas escuras e as mãos abertas em perigosas garras.

-O que esta acontecendo? – chiei me interpondo entre as duas, outras mulheres seguraram as agressoras com os braços atrás das costas.

-Ela seduziu meu consorte! – uma delas gritou tentando pular.

Nenhuma das presentes demonstrou surpresa. A maioria possuía consortes, e todas sabiam do risco de ter eles sempre por perto, por mais unidas que todas fossem, ter um homem por perto sempre tentava uma.

Consortes era o que mais chegava perto de um parceiro para nos. O tal estava proibido de deitar-se com outras súcubo, podia ser qualquer fêmea de qualquer espécie, menos uma súcubo.

Quando é escolhido, o homem faz um juramento de lealdade, e a partir daí, ele ficam unidos pelo sangue. Mas nunca dava inteiramente certo.

Temos certo fraco por coisas proibidas.

-Parem! – ordenei. – É uma ordem!

Todas se calaram. Podiam ser as criaturas mais voláteis, mas quando se tratava de sua futura rainha, respeitavam-me. Todas ficaram com os músculos rígidos, me encarando esperando minha resposta.

-Chega.

-O que faremos então? – perguntou à acusadora.

Suspirei, ser uma líder era muito mais difícil que eu imaginava. Levar-las ao tribunal seria uma perda de tempo, isso acontecia com a mesma freqüência que elas arranjavam outro homem.

-Como se chama? – perguntei a que perdera o consorte.

-Corine. Sou da água. – se apresentou.

Seus cabelos claros caiam em uma franja e uma longa trança baixa, como sempre usávamos. Suas calças de couro rangiam à medida que se movia, a maioria de nos preferia usar roupas com calças, se sentiam mais confortáveis para se movimentarem.

-E você? – virei à cabeça na direção da outra.

-Roslyn. Sou da água também.

-Minha própria irmã de elemento. – Corine cuspiu as palavras.

-Corine! Se contenha. Brigar com sua irmã por um homem? Têm tantos por ai. – sorri de canto sendo acompanhada por todas. Corine se preparou para responder, mas ergui uma mão impedindo-a. – Sei que possui seu orgulho, e que quer um castigo para Roslyn, e acho que tem razão.

Todas se silenciaram esperando a sentença.

-Tem um consorte Roslyn?

-Tenho sim majestade.

-Não precisa me chamar de majestade. – fiz um gesto com a mão. – Sabe que traiu a confiança de sua própria irmã de elemento. E se fosse o seu consorte, o que pensaria?

Ela nada disse, apenas ficou de cabeça baixa.

Torci as mãos.

-Interromperam minha refeição por isso. – passei a mão pelos cabelos, desfazendo meus cachos de um jeito frustrado. – Perdeu o direito pelo seu consorte Roslyn, não poderá se encontrar com ele, e ele esta livre para ter a súcubo que quiser por dez anos.

Ergueu os olhos escuros.

-Justo. – concordou.

-Peça perdão a sua irmã.

Sua face entrou em combustão por ter de se humilhar tão publicamente, mas obedeceu calada. Estendeu uma mão com dedos longos e elegantes, de unhas pintadas de azul marinho.

-Perdão irmã.

Corine ergueu o queixo.

-Esta perdoada.

Apertaram as mãos.

-O que esta havendo aqui? – Kahlan apareceu pelo corredor, os cabelos chicoteando sua face, sendo lançados por todo canto. Sua beleza e brilho deixavam ate a mim tentada, fazia parte do carisma extra que súcubos do espírito tinham.

As súcubo que restavam fizeram mesuras com a chegada de outra dama do espírito. Seus cabelos negros como a noite, contrastavam com seus olhos lavandas e a pele pálida.

-Kahlan. – falei calorosa. – Resolvendo um problema.

-Vamos conversar. – ela me chamou com um gesto de mão.

Segui-a por mais corredores, por onde quer que passássemos, novas súcubos meneavam a cabeça em respeito e com educação. Chegamos em seus aposentos, ela abriu a porta e me deu passagem.

Ela me indicou uma cadeira. Sentamos frente a frente.

-Será uma ótima líder minha prima. – sorriu, mas sua voz estava fraca, demonstrando sua infelicidade, assim como seus olhos turquesa brilhavam de um jeito opaco.

-Kahlan, eu não quero ser uma líder. – falei com a voz tão fraca quanto a sua, o choque com minha face impetuosa, que tentava demonstrar a força que eu não tinha.

-As súcubo precisam de alguém para uni-las, para fazer com que vejam o caminho certo a seguir, e nos, sempre sabemos o caminho certo a seguir. Estarei ao seu lado, como sua conselheira.

-Não é isso que quero para mim nem para ti. – segurei suas mãos.

-É necessário. – disse benevolente.

Prensei meus olhos.

-Ficaremos nos duas infelizes. – soltei todo o ar de uma vez só. Esvaziando meus pulmões e esvaindo meu coração junto com ele. A fraca luz que era impedida de penetrar no quarto por novas cortinas de veludo, criava um ambiente soturno e triste.

Tudo ali cheirava a frescor, água do mar e terra molhada. O espírito estava aninhando em alguma daquelas almofadas de cetim azul celeste, mas a água era a eterna companheira dele.

Pousei minha mão no descanso de braço da cadeira. Ergui meus olhos escuros para o teto cheio de pinturas da renascença. Querubins voavam por todo canto, junto com harpas e flautas.

Não existia súcubo mais gentil que Kahlan, tanto da parte do espírito, quando da água que residia em sua virtuosa alma.

Deve haver algum jeito, pensei comigo mesma.

-Kahlan... – fui interrompida assim que minha mãe entrou com um vento cheirando a azaléias e groselha. Fitou nós duas e franziu as sobrancelhas, moveu a cabeça e continuou.

-Vamos para o mundo humano, já. – comandou e saiu.

Minha prima me olhou.

-Vá se arrumar Hellena, está na hora de por tudo que aprendeu em pratica.

Sai de seu quarto, deixando-a com suas próprias magoas. Fazia parte desse poder, dar a vida, e tirar a própria.

Fui na direção do meu quarto, ainda perplexa pelo que estava acontecendo, seria minha primeira ida em três anos de volta para o outro mundo. De volta para as lembranças.

Fitei meus pés e abri a porta de meu quarto.

A luz acertou meus olhos com força, me segando por um momento. O cheiro do meu jantar ainda residia ali. Mesmo depois de tantas refeições, minha fome ainda não havia passado.

A energia que eu consumia se gastava rapidamente, feitiços e dominações eram terrivelmente cansativos, isso consumia parte de mim.

Sentei na frente da escrivaninha, passei minha mão por meu rosto, tirando as lagrimas que insistiam em cair. Suspirei apertando meus lábios, ofeguei assustada quando vi Blake parada atrás de mim.

-Que droga Blake, pare de esconder a si mesma! – gritei.

-Esta irritada porque estamos voltando? – ergueu uma sobrancelha.

-Não estamos voltando. Só vamos passar alguns dias lá... Não é?

-Você é uma súcubo Hellena, uma guerreira. Você é uma princesa. – dito isso ela sumiu. Como todas sempre faziam.

Princesa.


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Notas finais do capítulo

alguns probleminhas para postar, talvez demore mais que o previsto



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