Aparatei inesperadamente, a alguns metros de distância do grande bosque, numa estradinha rural ladeada por cercas vivas e emaranhadas, iluminada pelo luar. Vestia uma capa preta por cima de minhas vestes púrpuras e onerosas. Mais a frente, eu pude ver um cemitério. Com um morro à esquerda e uma igreja à direita, infestado de túmulos de trouxas que antes pisaram naquela aldeia. O céu estava nigérrimo como um mar obscuro. Aos poucos se formava uma espessa neblina em meio à paisagem campestre.

Eu estava em Little Hangleton. Naquelas terras de pragas, Tom fora sepultado. Como se atreveram a atirá-lo naquele lugar? Um lugar tão odiado, tão desprezado por ele. Era muita insolência! Eu mal podia crer na inconsideração que acabaram de cometer. Havia se passado dias, e ele ainda estava lá, semi-morto, esperando por mim. Enterrado sob as mesmas pedras que um dia pertenceram a seu pai, seu coração ainda batia.

Um estrondo vindo da varinha feita de teixo e pena de Fênix, que àquela altura já havia sido esquecida, porém guardada com extrema vigília sob minha proteção, abriu uma cratera na entrada do pequeno aposento subterrâneo. E lá estava ele. Pálido, imóvel, acorrentado como um verdadeiro monstro. Sorri com gosto ao pensar no medo que todos um dia sentiram de Milorde. Até mesmo na morte, ele era uma ameaça.

Com uma das mãos retirei um frasco de meu bolso, o qual continha um sangue específico. Bruto, prateado e chamejante. Sangue de unicórnio. O que em outras ocasiões poderia ser chamado de maldição, agora seria a chave de uma vida. Assim que a luz da antiga varinha de Lord Voldemort clarificou as paredes, cobras começaram a entrar, silvando eufóricas em torno de meu mestre.

Tudo saiu como o planejado. Tom jamais fora morto. Ele era minha horcrux, e eu a dele. Enquanto nossa verdade prevalecesse, nós seríamos eternos. Com poucas e cuidadosas palavras eu disse a ele o quanto o amo. Assim que abriu seus olhos, ainda mais vermelhos e cruéis do que antigamente, ele sorriu para mim, estendendo-me a mão.

"Quanta ousadia, Bellatrix! Quanta honra! – Tom levantara de uma só vez, quase que rastejando. Sua voz se assemelhava a um sibilo de serpente. Palavras arrastadas e riscadas condiziam com seu olhar, encarando-me com ardor. – "Sabe... As páginas de uma mente tão cobiçosa tendem a ser perfeitas... Minha Bella, minha doce e querida Bella..."