é sempre assim! escrita por joss


Capítulo 4
ESA 4 - Ouvindo um som no Café Ville Leonora


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 04 de "É Sempre Assim...!"
Enjoy ^_~



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O Café Ville Leonora ficava em uma rua pouco movimentada e procurava manter um estilo vitoriano e pomposo como se ficasse no meio da França. Tinha um pequeno café com cadeiras e mesas redondas de madeira, dois sofás de tecido vermelho sujo e muitas estantes de livro, que escondiam o pequeno palco de madeira onde os músicos montavam seus instrumentos, naquela noite era um trio jazzista composto com uma guitarra semi-acústica, um baixo elétrico e uma pequena bateria. Os músicos eram esquisitos e sujos, o baterista meio pançudo, todos meio velhos.


Guta estava linda com um casaco de veludo púrpura, calça jeans e uma blusinha preta com miçangas brilhantes. Os cabelos presos para trás em um rabo de cavalo comprido, liso e dourado. Com suas mãos de unhas marrons segurava a xícara de chocolate quente, assoprando em seu interior. Não estava tão frio assim para se tomar um chocolate quente, ainda era Maio! Mas Guta estava tentando se concentrar em outra coisa que não fossem os cachinhos castanhos dos cabelos de André, que caiam lindamente por cima de seus olhos enquanto ele sorria... para Joyce, apertando a mão delicada da namorada contra as suas.

Ele estava de jeans, como sempre, e uma camiseta azul clara e um agasalho de algodão verde escuro. Joyce estava de meia fina e sapatos carmim com bico arredondado de cetim e fivela de strass, uma sainha preta de renda que caía perfeitamente com sua blusa de cetim também carmin de gola rolê agarradinha no corpo marcando os detalhes em renda de seu sutiã.

Joyce não estava olhando para André como Guta, ela tinha seus olhos castanhos fixos em Renato que se curvava por cima de uma estante para pegar um livro lá longe, deixando a pontinha da cueca aparecendo, amarelinha de elástico grosso. Era algo sexy, ela pensava consigo mesma enquanto mordiscava os lábios de batom rosa cremoso.

Renato estava tentando se distrair, um pouco de saco cheio de segurar vela o tempo todo para André. Esgueirava-se por entre as prateleiras tentando alcançar o livro “Quem mexeu no meu queijo?”, título que parecia perfeito para o momento que estava vivendo, com André beijando os lábios doces de sua amada Joyce.

- O chocolate está uma delícia. – Guta comentou depois de engolir um largo gole de chocolate quente, já frio de tanto assoprar para não queimar a língua.

- É mesmo? Acho que depois vou querer um! – Joyce disse sorrindo.

- Ah eu vou lá pegar um pra gente. – André se levantou indo à direção do caixa, onde uma mulher gordinha de uniforme branco o atendeu.

- Nossa, o Renato está mesmo gostoso! – Joyce comentou, ainda sem tirar os olhos dele. – Tem malhado muito aquele corpinho, né?

- É sim. – Guta disse sem se virar, fingindo interesse. Às vezes incomodava-a que Joyce ficasse fazendo esse tipo de comentário sobre outro garoto quando andava de mãos dadas e beijava a boca de André. – Não é à toa que as meninas caem ao monte em cima dele.

- Mas ele deve ser gay. – Joyce conseguiu fazer Guta se virar para ela com cara de espanto. Depois deu de ombros. – Tipo assim, eu nunca vi ele com outra menina.

- Nem eu. Mas não acho que ele seja gay!

- Eu tenho lá minhas dúvidas.

- Às vezes ele olha pro decote das meninas... e você viu como ele está todo cheio de dedos pra cima da Sofia, não é? – Guta comentou bebendo de novo seu chocolate.

- Ele deve estar disfarçando. Sabe como é...! – Joyce deu um risinho. – E o que você acha do irmão do André?

- Ele seria uma graça se não fossem aquelas roupas. – Guta logo deu sua opinião, antes que ficasse óbvio demais que ela não estava interessada em nenhum deles porque estava interessada em André. Aliás, sentia-se meio besta por ter que ficar disfarçando, mas Joyce chegou nele primeiro e agora ela perdera o direito de proclamar André como seu amor secreto. Tinha que esquecer dele logo, isso sim.

- Mas aquele brinco na boca é mesmo sexy... – Joyce replicou com mais um risinho. – Será que é muito difícil beijar na boca com aquilo?

- Por que você não pede pra ele um beijo pra descobrir? – Guta provocou com uma cotovelada em Joyce.

- Ahhhh... eu não, vai lá você! – Joyce deu uma cotovelada em Guta, retribuindo como duas garotinhas brincando na praia.

André logo retornou com dois chocolates quentes, um para ele e outro para Joyce.

- Cuidado que estão bem quentes! – alertou quando colocou as duas xícaras na mesa. – Deu vontade de colocar um chantilly, mas você ia reclamar.

- Ia mesmo! Chantilly engorda! – Joyce reclamou mesmo assim e em agradecimento deu um selinho nos lábios macios de André.

Enquanto o quarteto fantástico se divertia dentro da livraria-café, Erick estava do lado de fora tentando se equilibrar com a câmera na mão. Procurava focalizar um pequenino leão de pedra com a boca aberta sentado na ponta do corrimão da escada feita de cimento com cinco degraus que levava à porta do Café Ville Leonora. A correia da câmera Canon passava por seu pescoço e ele tentava permanecer imóvel enquanto ajustava o disparador para uma foto sem flash que tinha certeza que ficaria o máximo. Usava mais uma de suas esquisitas calças de flanela, dessa vez quadriculada de branco e vermelho como o uniforme do time de futebol da Croácia e camiseta preta lisa de mangas compridas. Passava o dedo na lente girando-a de um lado para o outro procurando o foco perfeito.

Finalmente conseguiu enquadrar o leão de pedra boquiaberto, pegando meio de lado, em um perfil estranho e congelado. Estava prestes a apertar o botão do disparador de sua câmera digital quando um decote em V branco e peitos redondos com um colar de contas amarelo pararam bem no meio de sua tela, borrando todo o foco. Ainda esperou um tempo para ver se a pessoa ia se tocar e sair da frente, mas não, continuou ali parada.

Erick ergueu o olhar por cima da câmera e perdeu toda vontade de fotografar o leão quando encarou Cecília, com uma mão na cintura, usando um colante branco e decotado de forma indecente, calça jeans escura agarrada ao corpo e sapato de bico fino preto e liso. Os cabelos soltos e esvoaçantes.

- Ah, você está aí, que ótimo que não está atrasado. – falou arrebitando o nariz daquela forma pavorosa que sempre fazia.

Erick nem se deu ao trabalho de responder, soltou a câmera no corpo e suspirou aborrecido esperando que Cecília comentasse mais alguma coisa idiota.

Cecília por sua vez deu uma bela olhada nas roupas ridículas de Erick e detestou ser vista no finíssimo Café Ville Leonora com aquele garoto vestido como um palhaço de circo. Ela imediatamente virou-se para trás jogando a bolsa preta por cima dos ombros e gritou de um jeito mandão:

- Anda Sofia, sua lerda! Estamos atrasadas!

- Já vai! – Sofia respondeu vindo de longe, um pouco atrapalhada com o mule preto que teimava em escapar do pé. Usava um vestidinho preto na altura dos joelhos e tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo baixo e liso.

Erick perdeu o fôlego quando a viu: estava mais do que linda. Estremeceu quando percebeu que a garota vinha segurando seu portfólio, uma pasta preta de couro fina e larga. A idéia de que ela viera vendo suas fotos pelo caminho o perturbou imediatamente...

Cecília impacientou-se e entrou no Café Ville Leonora correndo para a mesa onde estavam seus amigos para cumprimentá-los. Já Sofia subiu as escadas com graça sem a menor pressa e parou diante de Erick estendendo a pasta preta para ele:

- Você esqueceu lá no jornal.

- Ah, foi. – se fez de desentendido procurando olhar para outra coisa que não fosse a boca de Sofia brilhando com o batom cintilante e cor-de-rosa, mas simplesmente não conseguia deixar de olhar aqueles lábios divinos.

- Até que suas fotos são boas, especialmente aquelas amarelas... o que é aquela água? Tinta? – indagou curiosa.

Não. É o remédio no contador de gotas do hospital no quarto da minha mãe. Ele se sentiu tentado a falar, mas hesitou. Ia parecer idiota – ou completamente psicótico – uma coisa dessas agora. Na verdade tinha feito aquelas fotos em um momento muito-pessoal-irritado porque simplesmente o remédio parecia não fazer efeito nenhum em tirar sua mãe da cama do hospital.

- É, tipo assim. – respondeu tentando evitar o assunto. Sofia tinha mesmo olhado suas fotos, droga!

- Hmm. – a garota fez dando de ombros com um sorriso.

- Meu deus você ainda está aí? – Cecília berrou da porta impaciente. – A coisa já vai começar, se importa de tirar umas fotos daqui? - E depois Cecília sumiu para dentro da livraria de novo.

Erick suspirou aborrecido e encarou Sofia:

- A sua irmã é tão insuportável. – disse simplesmente antes de marchar como um soldado para dentro da livraria com a câmera em uma mão e a pasta do portfólio em outra.

Sofia sorriu animada, sentindo-se meio tonta porque aquela frase dizia exatamente – mas com outras palavras – que ela não era insuportável como a irmã. Era um bom sinal, não era?

Quando Sofia seguiu Erick para dentro da livraria a música já estava tocando, um jazz bonitinho bem baixo que não atrapalhava em nada a conversa dos amigos.

- Sofia, senta aqui e tome um chocolate com a gente! – Guta chamou dando uns tapinhas na cadeira do seu lado. Sofia sorriu e se sentou ao lado da amiga. – Sua irmã está estressadíssima!

- É eu tô sabendo...! – Sofia riu.

Cecília estava mesmo uma pilha, parada batendo o pé enquanto dizia para Erick tirar fotos disso ou daquilo sem a menor importância, fazendo-o até fotografar o caixa do café, onde a mulher rechonchuda atendia aos clientes. Sofia tentou, mas não conseguia tirar os olhos de Erick enquanto ele parecia um fotógrafo profissional para lá de aborrecido com os comentários infundados de Cecília, era até bonitinho a cara de saco cheio que ele fazia quando Cecília apontava alguma nova coisa para ele fotografar, como um cinzeiro em cima de uma mesa.

Renato se aproximou de Sofia sentando-se do lado da garota em uma das cadeiras vazias da mesa. Ele sorriu para ela e ela retribuiu o sorriso procurando se concentrar nos músicos que tocavam a música lentamente sem nenhuma pressa.

Joyce e André se entrelaçaram em um beijo sem fim durante toda a apresentação e Guta começou a se sentir a seguradora de vela master, porque de um lado estava o casal vinte se beijando e do outro, Sofia e Renato no maior flerte da vida. Era irritante.

Depois de um tempo Renato pediu para dançar com Sofia e André se empolgou convidando Joyce para dançar também. Não tinha pista de dança no Café Ville Leonora então eles improvisaram dançando por entre as estantes.

Ao final da apresentação Guta já estava morrendo de tédio.e se sentindo “deixada para a titia”. Cecília correu para falar com os músicos antes que eles fossem embora e Erick se largou em uma das cadeiras vazias, abrindo e fechando a mão direita:

- Ai, meu dedo já está doendo de tantas fotos. – reclamou.

- Quantas fotos vão usar no jornal? – Guta perguntou curiosa.

- Sei lá, mas duvido que usem mais que duas! – o garoto respondeu irritado, virando os olhos para as estantes onde Sofia e Renato ficaram o tempo todo dançando. André e Joyce estavam se beijando pro lado de lá também e Erick dividiu sua atenção entre o foco das fotos e na dança de Sofia com Renato se perguntando quanto tempo levaria para eles se empolgarem com os beijos fogosos de André e Joyce e começarem a se beijar também... mas por sorte aquilo não aconteceu ali.

Logo depois Sofia uniu-se a eles sentando-se ao lado de Guta e tirando os sapatos:

- Meus pés estão me matando..! – reclamou com um sorriso idiota no rosto.

- Também você está dançando há horas... – Guta comentou.

- Nem percebi.

- Claro que não percebeu! Só ficou faltando o gran finale! – Joyce comentou se aproximando e Erick teve certeza de que estava no lugar errado, na hora errada e ainda por cima ouvindo coisas que não queria saber.


- Não vejo a hora de ir embora. – comentou aborrecido.


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Notas finais do capítulo

Deixa um recado pra mim, vai :D



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