"Quero tudo que é estilete

faca, lâmina, metal ..."

Pôs os fones e apertou o 'play' no iPod, pondo a música barulhenta no último volume.

Observou Kaoru e os outros se preparando, cada um ao seu modo...

...E é claro que Kyo também tinha o seu.

"Tudo que espete, fira, brilhe

faça mal... "

Se isolou dos outros, se sentando em uma cadeira afastada.

Analisou suas mãos...Suas unhas, grandes e deliciosamente pontiagudas.

Arrastou as unhas de sua mão esquerda sobre a pele de seu braço direito, levemente, sentindo alguns arrepios.

"Quero tudo que golpeia

o que sabe ser cruel ... "

Suspirou, balançando levemente a cabeça ao ritmo da música.

Voltou a arrastar as unhas por toda extensão de seu antebraço, dessa vez um pouco mais forte, observando algumas marcas avermelhadas se fixarem na pele pálida.

Sorriu, fechando os olhos.

"... O que vê perspícuo e melhor

as almas quando odeia. "

Kaoru observava o vocalista de longe, apenas seguindo os movimentos da mão de Kyo com o olhar.

Era impressionante o quanto masoquista Kyo podia ser, e ainda mais saber que ele faria coisa pior no palco.

Doía no guitarrista moreno.

"Quero o corte exato e preciso

para arrancar do centro, da carne

do fundo da carne

a minha indignação..."

Kaoru observou, abismado, Kyo afundar mais e mais suas unhas as arrastando em sua pele, rasgando-a.

O Líder deixou uma expressão de desgosto se formar em seu rosto quando viu que as feridas recém abertas agora sangravam.

Shinya, que seguira o olhar do moreno, agora também observava o vocalista se mutilar, como se aquilo fosse a coisa mais divertida do mundo.

"Quero gritar, uivar, mudar o mundo

e gerar e acumular e destilar veneno

de dentro do coração."

Tooru voltou a abrir os olhos, observando pequenas gotículas de sangue se formarem nos cortes.

Sorriu de canto.

-T-tooru...

Kyo ergueu o rosto, vendo um baterista preocupado o chamar. Tirou os fones.

-Hai?

-O show...Vai começar...

O loiro sentiu um frio no estômago ao ouvir aquilo.

Não importava há quantos anos ele fizesse shows, sempre sentiria um frio na barriga antes de subir no palco.

No dia que não o sentisse mais, se aposentaria.

-Claro, claro. - o loiro sorriu, limpando o braço na barra da camiseta preta.

Se levantou da cadeira.

Antes que pudesse protestar ou qualquer coisa do gênero, Shinya o abraçou, forte, escondendo o rosto na curva entre seu pescoço e seu ombro.

-Me dói muito ver você se destruindo, Kyo-kun. - o menor ouviu Shinya sussurrar próximo ao seu ouvido, com a voz levemente embargada.

O vocalista suspirou, retribuindo o abraço e dando um beijo na testa de Shinya.

-Vamos, Shin.

Os dois se separaram do abraço.

Kyo observou Shinya sorrir fraco antes de segurar sua mão.

E apertá-la firme.

Como se aquilo fosse a única coisa que desse segurança ao baterista.