Merda, merda, merda, merda, MERDA!

– Morre, morre, morre, morre, MORRE!

Por que aquele ciclope maldito não morre?!

– Que bom que você continua calmo - Mat falou entrando no quarto e fechando a porta com um empurrão de um dos pés, já que sua mãos estavam ocupadas segurando uma bandeja com comida.

– Como é que eu mato esse ciclope?! – pausei o jogo e virei para ele, para perguntar.

– Mata o bicho montado nele antes - ele respondeu, depositando a bandeja em cima da minha cama, que estava desocupada.

Mas é claro!

...

A falta de chocolate está me deixando lerdo.

– Mello, a comida.

– Eu não quero - respondi. Não tinha nenhum chocolate lá mesmo.

– Mello - Matt me chamou de novo, mas desta vez em um tom diferente, mais sério - Eu nunca pensei que fosse dizer isso algum dia, mas...Larga esse jogo e vêm comer.

Quando seu amigo viciado em video-game te manda desligar o jogo para almoçar, você vai almoçar.

Não que Matt tivesse esse costume, mas quando ele não me pedia, ele mandava eu fazer alguma coisa, normalmente era algo sério, ou importante para ele.

Pelo visto ele estava preocupado comigo.

...

Tudo bem, afinal, ele foi até buscar a comida pra mim.

Salvei o jogo e sentei na cama ao lado dele.

– Agora sim - ele sorriu.

– Aconteceu alguma coisa no salão? - perguntei, e como ele pareceu surpreso, completei - Você parece estar um pouco irritado.

Eu o conhecia bem o suficiente para perceber o que seu sorriso tentava esconder.

– Irritado? Hum... Talvez um pouco - ele respondeu, mas sem falar mais nada depois.

Ficamos comendo em silêncio por um bom tempo. Eu não estava com vontade nem com humor para ficar conversando, e parecia que Matt também não.

– Aonde vai? - ele perguntou quando eu levantei da cama em direção à porta do quarto.

– Estou com sede.

Ele olhou para nossos copos vendo que estavam totalmente vazios, e se levantou também - Pode deixar que eu vou.

– Eu prometo que não vou atacar ninguém, Matt - falei, e antes de sair do quarto pude ver seu olhar desconfiado me acompanhando.

Mas ele não veio atrás de mim. Um voto de confiança talvez?

...

Okay, talvez "prometer" seja uma palavra muito forte. Acho que "tentar" seria o termo mais adequado aqui.

Os corredores do orfanato estavam desertos. Lógico, todos deveriam estar almoçando agora.

Até o corredor que dava na cozinha, eu não encontrei uma pessoa sequer; e isso até que era bom, afinal, ficava mais fácil de cumprir a  “tentativa" de não atacar ninguém.

Mas ao chegar na cozinha, essa sorte acabou. Já tinha alguém lá.

Era Alex Corliss.

– Mello? - ele falou surpreso quando eu entrei, e abriu um grande sorriso, abaixando o talher que segurava a meio caminho da boca.

Então ele já sabia meu nome?

– Você não deveria comer junto com os outros? - perguntei desinteressado, observando o prato de comida na sua frente.

Ele suspirou - Eles são tão... Sem graça.

Temos concordar que essa foi uma resposta meio estranha.

– Mas... - ele sorriu de novo - Como está indo o castigo?

...

Que pergunta idiota foi essa?!

– Sabe, eu posso te ajudar, se você quiser - e tirou um bombom do bolso da jaqueta preta que usava.

Chocolate...

Aquele bombom com certeza tinha uma deliciosa camada crocante envolvendo-o e um recheio cremoso ainda mais delicioso de chocolate ao leite.

Oh, tentação!

Mas não importava o quanto aquele bombom parecesse delicioso, como se me chamasse com uam voz que apenas eu conseguisse ouvir.

Porque se tinha uma coisa que eu odiava ainda mais do que ficar sem chocolate, era ser subestimado.

E aquele cara estava me subestimando. Ele achava o quê? Que eu ia ser fraco a ponto de sucumbir à tentação no primeiro dia de tortura?

Tá legal, agora cumprir esse castigo maldito era questão de honra!