Eu afundo em culpas.

         Nada poderia deixar aquele cenário mais melancólico. A essência de um cemitério já é por si mesma algo frio e doloroso. Talvez, assim se resumia o filme que se passava em sua mente. E a sensação que pairava sobre seu peito. Aquela chuva caía para lavar o sangue que manchava suas mãos. Seu rosto.

         Ou tentava fazer isso.

         O jovem olhava fixamente para os túmulos á sua frente. Seus olhos estavam num tom tão monocromático quanto todo o resto ao seu redor. Estranhamente, ele era o único ali presente.

         A única pessoa visível.

         Vagarosamente, foi lendo os nomes que estavam cravados simetricamente em cada lápide, pousadas sobre o chão. Eram nomes conhecidos. E como se uma espada acabasse de transpassar seu peito, um pesado sentimento de culpa caiu sobre si, fazendo com que as lágrimas fossem inevitáveis. Era fácil distinguir a água da chuva do líquido que escorria de seus olhos.

         Cravou a mão sobre o peito e caiu ao chão, ajoelhado, diante dos túmulos. A respiração ficou pesada. Parecia que algo lhe fechava a garganta, e era impossível o ar chegar até seus pulmões. Passava as mãos sobre os cabelos, tentava esconder o próprio rosto. Era um completo estado de desespero. Quem passasse por ali poderia dizer que o jovem estava sofrendo pela perda de alguém querido. Esta seria a realidade.

         Se a culpa não fosse dele.

         Gritou, o mais alto que pôde. Não sabia se era raiva, loucura, remorso... Seu coração estava aflito. As imagens que passavam em sua mente o perturbavam ainda mais. Música, sorrisos, brincadeiras, uma amizade construída ao longo de tantos anos. Sua mente estava mergulhada na dúvida. Era capaz de morrer ali mesmo, se não tivesse sentido, novamente, e tão nostalgicamente, aquele toque em seu ombro.

        - Por que está se culpando? – Seu falar tão doce estava bem próximo aos ouvidos dele, num misto de cinismo e ironia.

         - O que você está fazendo aqui? – O jovem emergiu do desespero em que estava, com a velocidade de uma fuga.

         - Ora, fiquei curioso para saber o por quê de sua vinda até aqui.

         - Não tenho mais porque lhe dar satisfação. Desapareça.

         - Mas é claro. – Aquela “pessoa” se levantou e permaneceu atrás do jovem, que mantinha-se ajoelhado. – Porém, creio que você se esqueceu de nosso trato.

         - Não há trato algum. E você sabe disso. – O jovem levantou-se e ficou de frente para o outro aparente rapaz.

         - Não há? – Sorriu. – Por que você chora?

         - O quê?

         - Está arrependido pelo que fez?

         - Eu só... – O jovem não conseguia responder. Antes isso, tentou esconder o rosto novamente com as mãos.

         - Está triste? Eu vejo que o remorso está corroendo o seu coração... Sabe que o passado é algo intocável, não é? Sabe que não poderá voltar atrás... Então, por que você chora? Não é mais agradável sorrir?

         - Cale-se! – No impulso de sua raiva, tentou acertar o rosto do rapaz à sua frente. Mas foi como se ninguém estivesse ali, e o que seu membro fez foi atravessá-lo, fazendo com que seu rosto se dissolvesse e o resto de seu corpo desaparecesse.

         - Ora, ora. Está alterado, de fato. – Falava novamente em seu ouvido, mas já estava atrás de si. – Mas não se preocupe, Takanori. O seu destino lhe aguarda.

         - O qu—

         - Apenas feche os olhos. E logo encontrará aqueles por quem chora. – Sorriu novamente, não dando tempo para que Ruki se virasse.

Por que você ainda respira?