Ps: I Love You escrita por Jibrille_chan


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

A Hana me enxeu ra postar esse capítulo hoje XD~



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~Inverno~

O restaurante da senhora Takashima tinha suas portas fechadas, e suas mesas foram afastadas. Apenas as cadeiras estavam lá, as cortinas cerradas. Ruki entrou no restaurante, olhando em volta, vendo se achava algum conhecido. Seus olhos bateram em Kai e Nao, que pareciam não ter chegado a muito tempo.

- Kai? Hey!

- Ruki, quanto tempo! Você parece ótimo!

- Obrigado. Eu estou atrasado?

- Não, não está.

As últimas cortinas foram fechadas, e as velas foram acesas. No canto do restaurante havia uma mesa contendo uma urna funerária e uma foto. O padre estava parado ao lado, esperando pela atenção de todos. Uruha foi até sua cadeira, ao lado de sua mãe, dando uma última ajustada no terno preto que vestia. Seus olhos avermelhados foram até a foto de Aoi ao lado da urna funerária.

Sua mente parecia ainda não ter processado a informação de que não iria mais vê-lo no dia seguinte. De que não iria mais tocá-lo. Que ele não iria mais sorrir e cantar. Não parecia real que Aoi tivesse morrido e tivesse o deixado pra trás.

- Bem, como Aoi costumava dizer... Vamos começar a festa. – começou o padre. - Shiroyama Yuu não era um homem de palavras, ele preferia música. Era uma pessoa cheia de vida e muito amado, como podemos ver pela urna que foi desenhada pelo seu companheiro, Kouyou.

Uruha deu um sorriso tímido, abaixando levemente a cabeça. O padre continuou.

- Sua vida pode ter acabado agora, mas nós ainda podemos ouvi-lo. Ele vive dentro de nós para sempre, nos nossos corações. Como sua canção favorita.

O padre olhou para o funcionário do restaurante, esperando que ele colocasse a música. O rapaz levou alguns segundos para perceber que era com ele, e depois foi apertar o botão de play no rádio. Hiroto sorriu de canto, como se pedisse desculpas aos presentes.

A melodia preencheu o silêncio do lugar, começando calma e suave. Nao se levantou, pegando uma garrafa de whisky e indo até a urna. Pegou um dos muitos copos que haviam em frente a urna, servindo-se e bebendo, prestando homenagem ao seu amigo. Depois foi substituído por outro, e assim seguiu-se. A música tinha se transformado numa melodia um pouco mais agitada, com uma letra não exatamente educada. Uruha riu baixo junto com Ruki, enquanto a senhora Takashima olhava horrorizada o padre acompanhar a letra da música.

A porta abriu-se novamente, dando passagem a uma moça de cabelos longos e negros, um sorriso simpático no rosto, arrastando uma mala vermelha carmim. Procurou Uruha com o olhar, e depois foi até ele, deixando a mala pelo caminho.

- Hey, Kou... É bom te ver, irmão.

- Sara... Bom te ver também, irmãzinha.

Takashima Sara sorriu outra vez, abraçando sua mãe, depois foi até a urna funerária, pousando uma mão sobre ela.

- Olá, Aoi...

Pegou um dos copos, e serviu-se, em homenagem ao cunhado. Aos poucos a festa foi ganhando ar de festa, as pessoas se servindo e conversando. Alguns vinham dar pêsames a Uruha, que matinha-se firme para não chorar ali. Do outro lado do salão, Ruki sentou-se em uma cadeira ao redor do balcão, ao lado de um belo rapaz.

- Olá, eu sou Ruki.

- Eu sou o Yuki.

- Você é solteiro, Yuki?

- Sou.

- Você é hétero?

- Sou.

-Ah... – o menor se levantou e saiu.

Em outro canto do balcão, Kai conversava com a senhora Takashima.

- O Uruha não chamou os pais dele? Por que não estão aqui?

- Eu falei com a mãe dele. Parece que o pai do Yuu fez outra operação e não pode viajar.

- Então... por que ela não veio sozinha? Quero dizer, é o Havaí, não a Irlanda. Era o único filho deles.

- Não pergunte pra mim.

Ruki continuou andando, dessa vez com um prato na mão, usando de desculpa. Aproximou-se de outro rapaz, que parecia algo promissor.

- Oi... gostei do seu pingente.

- Ah, obrigado.

- Ruki.

- Takato.

- Você solteiro?

- Sim.

- Você é hétero?

- Não.

- Você trabalha?

- Não...

Sem dizer absolutamente nada, Ruki virou as costas e se afastou, deixando o rapaz procurando-o com os olhos. Uma música suave tocava, e Uruha estava sentado na mesa próxima à mesa com a urna funerária de Aoi, encarando sua foto. Tantas lembranças...

- Precisa comer alguma coisa.

Uruha saiu de seus devaneios com o prato que sua irmã colocava à sua frente.

- Ah, obrigado Sara. – ela sorriu e se sentou com ele na mesa. – Estou tão feliz que você tenha vindo... mas é tão longe, eu teria entendido.

- Não, eu teria vindo de qualquer maneira. Além disso, Aoi me pediu para estar aqui.

- Ele pediu? – perguntou Uruha, surpreso.

- Sim, há alguns meses atrás. Provavelmente por causa da mamãe. Ele sabia que ela iria fazer um “melodrama” enorme e te arrastaria junto.

Uruha sorriu fracamente, compreendendo. Parecia que mesmo naquela hora, Aoi ainda cuidava dele. O funcionário da senhora Takashima, Hiroto, limpava o balcão ali perto. Olhou para os dois irmãos, tentando ver se seria útil em algo. Achava o filho de sua patroa muito bonito.

- Eu posso servir alguma coisa?

Uruha apenas ergueu o copo vazio, e Hiroto foi completá-lo com whisky.

- Sinto muito pela sua perda.

- Obrigado – respondeu Uruha quase que mecanicamente. Quantas vezes já tinha ouvido aquilo?

- Como ele morreu?

O loiro baixou os olhos, respirando fundo.

- Tumor no cérebro.

- Legal!

Os irmãos Takashima encararam o funcionário de sua mãe, o cenho franzido. Hiroto continuou.

- A urna. É uma urna muito bonita. Eu queria ter desenhado algo do tipo. Eu enterrei o meu cachorro na caixa do rádio.

Sara e Uruha se entreolharam, e a moça fazia força para não rir de Hiroto, que continuou.

- Não é a mesma coisa.

Depois se afastou. Uruha olhou para Sara, sem entender direito o sentido daquela conversa, mas sua irmã apenas ria. Em outro canto do restaurante, Ruki conversava com um rapaz que estava encostado em uma parede, um pouco mais afastado das outras pessoas.

- Gostei da sua gravata. – disse Ruki.

- Obrigado.

- Você é solteiro?

- Sou.

- Você é hétero?

- Não!

- Você trabalha?

- Sim.

- Ruki. – o menor se aproximou, estendendo a mão para apertar a mão do outro rapaz.

- Yumehito.

Os dois se encararam por alguns segundo, as mãos juntas, então Ruki tomou iniciativa, colando os lábios. O rapaz foi pêgo de surpresa, mas logo correspondeu ao beijo do baixinho. Depois de alguns segundos se separaram, e Ruki fez uma careta, se virando e indo embora. Como ele beijava mal!

No centro do salão, Nao se levantou, se postando ao lado da foto de Aoi. As pessoas lhe ofereceram breves aplausos, e ele sorriu, tomando a palavra.

- Quando eu e Aoi fomos até o banco da primeira vez, eu estava um pouco nervoso. Então Aoi me disse “relaxe. Essas pessoas nunca vão nos dar dinheiro mesmo, então... vamos apenas nos divertir um pouco”!

Atrás do balcão, a senhora Takashima organizava a louça e recebia a ajuda de Uruha.

- Hey, deixe isso aí, Kouyou.

- Mãe, por favor, preciso fazer algo pra não falar mais com as pessoas.

- Certo... Vai ficar alguns dias aqui, comigo e com a sua irmã?

- Não, eu... acho que tenho que ir pra casa. Huh... casa...

- Bem, você sabe que aqui é a sua casa também, não sabe? Mas isso é bom. Se colocar de pé por conta própria. É uma boa coisa.

Uruha não respondeu, apenas continuou arrumando. Quando todos finalmente foram embora, Uruha finalmente pode voltar pra casa, embora ficasse a dois quarteirões da casa e restaurante de sua mãe. Abriu a porta com dificuldade, as mãos ocupadas com a urna funerária de Aoi. Acendeu a luz, depositando a urna sobre a mesa, junto com as flores que havia recebido de parentes e amigos.

Seus olhos correram pelo pequeno apartamento. Podia sentir a presença dele ainda ali, as lembranças ainda vivas na sua memória. Pegou novamente a urna, indo até seu quarto, e deixou-a  sobre o baú que ficava ao pé de sua cama. Depois afastou, olhando a caixa de madeira bem trabalhada. Seu companheiro. Seu amor.

Sem nem ao menos se trocar, sentou-se na cama, deixando as luzes acesas como estavam. Passou a mão no seu celular que estava sobre o criado mudo e discando um número já muito conhecido. Ouviu os toques e também ouviu o som de um aparelho vidrando sobre a cômoda que ficava na sala.

Hey, aqui é o Aoi. Não posso atender. Deixe uma mensagem aí!

Uruha deitou-se na cama, apertando o botão de rediscagem. Jogou o cobertor sobre si, cobrindo até sua cabeça, as lágrimas rolando enquanto ouvia aquela mensagem da caixa postal do celular de Aoi. Não queria esquecer a voz dele. Porque jamais a ouviria de novo.

O tempo parecia alheio pra ele, passando sem que visse. Preparou um café bem forte, e colocou-o em duas xícaras. A secretária eletrônica repassava os recados, mas ele não prestava a menor atenção.

- Uruha, aqui é o Kai. Você está bem? Está tomando banho? Não se esconda do mundo. Já faz mais de uma semana... Eu estou aqui, viu? Eu fui até o seu apartamento e ninguém respondeu. Onde você se enfiou? Dê algum sinal de vida. Adoro você.

Uruha abriu o guarda-roupa, a mão deslizando pelas roupas de Aoi, o perfume dele ainda estava lá. Pegou um terno qualquer, vestindo-o, e depois levou as duas xícaras para o quarto, deixando uma sobre a urna de Aoi. A televisão estava ligava, passando um filme ocidental antigo, em preto e branco ainda. O casal principal trocava juras de amor, e aquilo só fazia Uruha se sentir pior.

Mais dias se passaram, e Uruha resolveu dar uma volta no quarteirão. Não conseguia dormir, de qualquer maneira. Enquanto andava, a última discussão que tivera com o moreno ecoava em sua mente. Que motivo idiota que havia arrumado pra ficar brigado com ele. E o que mais poderia querer da sua vida, principalmente agora em que a razão dela jazia numa urna funerária?

Ao voltar pra casa, jogou-se na cama, novamente vendo aqueles filmes antigo, até que caiu num sono inquieto. Quando a televisão emitiu um som mais alto, acabou acordando, meio assustado. Pegou o controle, desligando-a.

- Aoi, apague a luz. É a sua vez...

Virou-se na cama, indo para o lado de Aoi. Apenas para notar a cama vazia. Abriu os olhos, olhando aquele vazio e encarando o silêncio. Sentou-se na cama, tentando pensar. Um pequeno sorriso se formou nos lábios enquanto se levantava, ouvindo o violão de Aoi vindo da sala. Foi até o encosto do sofá, abraçando o moreno, sentindo seu perfume. Ele apenas cantava.

- “Eu só quero ver você quando você estiver sozinho. Gostaria apenas de ter você se eu puder. Eu só quero estar lá quando a luz da manhã explode no seu rosto, que se irradia. Eu não posso escapar, eu te amo até o fim...”¹

Uruha sorriu, abraçando-o com mais força.

- Todos os japoneses criados no Havaí cantam?

- Ah, apenas os bem dotados, meu anjo.

- Eu não consigo dormir sozinho.

- Mas eu estou aqui, amor.

- Eu tenho sonhos terríveis...

- Não me conte. – respondeu o moreno, com aquele seu típico sorriso de canto.

- Yuu. Eu não quero voltar pro trabalho. O que eu devo fazer?

- Não vá. Fiquei aqui comigo.

Uruha sorriu de canto, beijando o rosto do moreno, depois soltou-o, dando a volta no sofá.

- Eu não tenho um plano, Aoi.

- Tudo bem, meu anjo. Seus planos não funcionam, de qualquer maneira.

- É... tem razão.

Chegou do outro lado, deitando-se no sofá vazio e frio, finalmente adormecendo.

Continua...


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Notas finais do capítulo

¹ Tradução da música Love You 'Till the End, da banda The Pogues. Sugiro que baixem ^^ É linda! *-*



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