Versprechen escrita por Hitokiri-chan


Capítulo 2
Capítulo 2 - Mittlerer




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O telefone não parava de tocar, a pilha de papel em cima da mesa do policial não parecia incomodá-lo nem um pouco, muito menos a minha presença, afinal alguma coisa que estava passando na televisão tinha absolvido totalmente sua atenção. E eu só queria dar queixa sobre o roubo do meu notebook.

Sinceramente, estava começando a achar mais fácil ir para casa, dormir e esperar até o pagamento para comprar outro, sem relatar nada mesmo. Dizem que a paciência cresce com a idade, mas sinceramente meus vinte e oito anos pareciam ter dado chá de sumiço na minha.

Suspirei, constatando que já estava ali há meia hora e ainda tinha duas pessoas na minha frente. Três e meia da manhã não é horário para alguém ir numa delegacia, sinceramente.

Levantei, disposto a ir embora daquele lugar, voltando pelo corredor onde tinha entrado, até quase dar de encontro com dois policiais que seguravam uma mulher que não parava de se debater e xingar até a sexta geração dos tais homens.

- Ela me dá nos nervos. É a terceira vez em dois meses, acho que ganhávamos mais largando-a na rua. Não tem conserto. – Um policial dizia ao outro enquanto a garota tentava mordê-los.

Ela jogou os longos e levemente mal-cuidados cabelos para trás, revelando seu rosto e aqueles olhos azuis profundos que fizeram meu coração errar cinco batidas. Não... Não podia ser.

Acabei seguindo os policiais que finalmente conseguiram arrastá-la em direção de a uma das alas da delegacia, onde, eu sabia – por já ter que tirar dois amigos meus de lá –  ficavam as celas de pequenos infratores, que esperavam alguém pagar a fiança deles.

Entrei logo em seguida, vendo o policial atrás do balcão balançar a cabeça em negação, aparentemente acostumado com acena, enquanto eles a levavam para dentro de uma sala logo atrás da que eu estava. O barulho da cela sendo fechada invadiu meus ouvidos em seguida.

- Caso perdido se quer saber. – O policial, cuja identificação no peito dizia se chamar “Amano Shinji”, falou comigo, num tom sério. – Vem parar aqui uma vez por mês no ultimo ano. No começo um garoto ainda pagava sua fiança, mas agora, acabamos soltando-a depois de três ou quatro dias por pena. Ela nunca é pega em flagrante, mas dá pra ver nos olhos dela que se droga e acaba sendo culpada por pequenos furtos.

Se drogava? Furtos? Não podia ser quem eu estava pensando que era então. Mesmo assim...

- Qual o nome dela? – Perguntei, sinceramente amedrontado em ter de ouvir a resposta.

- Hizaki. Ela insiste em dizer que se chama Shiroyama Hizaki, mas essa pessoa simplesmente não existe, por mais que eu revire os registros. Como ela não tem documentos, nunca descobrimos o nome real. – Meu estomago afundou vários centímetros, me fazendo sentir um repentino mal-estar.

- Eu pago... – O policial ficou me encarando. – A fiança dela, eu pago.

Acho que eu não estava com uma cor muito boa, porque até o tal de Amano tinha alguma preocupação esboçada nos olhos.

Eu nunca soube o que tinha acontecido com Hizaki, um dia eles simplesmente se mudaram, logo depois de ela completar dez anos. Fizeram a mudança quando eu tinha ido viajar. Voltei e não havia nada lá. Não me despedi dela. Só tinha o vazio da casa.

Eu a procurei, tentei descobrir onde ela tinha ido morar, por alguns meses, até perceber que não ia dar em nada. Não poder ajudá-la me corroeu dia após dia. Nesses anos que se seguiram, fui aprendendo a colocar minha culpa em algum lugar bem escondido dentro da minha memória, onde o remorso não continuasse a me matar.

Um dia eu me esqueci de lembrar.

Esqueci de me lembrar que não tinha cumprido minha promessa.

No tempo que levei para preencher o cheque com o valor da fiança, todos os meus encontros com ela passavam por minha mente.

Dei meu nome a ele e Amano me encarou como se aquela peça que faltava do quebra-cabeças tivesse ido pro lugar. É, ela usava meu nome. Ela se lembrava do meu nome.

- Por um acaso sabe o sobrenome dela? – Eu já esperava pela pergunta.

- Sei, mas se ela não te disse, não serei eu a dizer. – O barulho da cela se abrindo cortou a conversa e a loira apareceu pela porta por onde tinha desaparecido, sem a companhia de policiais dessa vez.

Ela passou os dedos pelo cabelo e me encarou. Sem esboçar nenhuma reação.

- Não fica animadinho não. Pagou minha fiança, mas eu não vou transar com você. – E desatou a andar em direção a saída que provavelmente conhecia tão bem quanto a entrada.

Era brincadeira, não?

Segui-a assim que retornei do meu choque, conseguindo alcançá-la quando ela já tinha chego na calçada. Segurei seu braço firmemente, sem machucar, apenas para mantê-la no lugar.

- Hiki? Kageyama Hizaki, certo? Não faça de conta que não me conhece. – Ela se desvencilhou dos meus dedos num tranco.

- Sinceramente? Preferia não conhecer. De qualquer forma, sim, você foi aquele cara que disse que ia me livrar dos meus pais. Aquele cara que prometeu e nunca cumpriu. Mas veja bem, eu me livrei deles, independentemente dos meios, eu consegui fazer sozinha. Obrigada por pagar a minha fiança, era isso que queria ouvir? Agora pode parar de me incomodar e viver sua vida? – Fiquei alguns segundos digerindo aquela informação. A menininha que usava rosa e era toda tímida agora estava... Assim?

- Eu te procurei, por muito tempo, tentei saber onde você tinha ido, mas não tinha nada, seus pais desapareceram com você enquanto eu viajava. Eu voltei e sua casa estava vazia. Pára com isso, vem pra minha casa comigo, toma um banho. Eu não sei se você tem um lar ou algo assim, mas sinceramente, pelo que aquele oficial falou, não. Eu sei que quebrei a promessa, mas eu não queria ter feito isso. Você era e ainda é a pessoa com quem eu mais me preocupo. - As palavras sairam em jorros, rápidas, antes que ela resolvesse sair correndo de novo.

Ela estava longe de ser a menininha um pouco gordinha que um dia eu cuidei. Aquela calça jeans suja e justa, junto com a blusa regata (que um dia tinha sido branca) marcavam bem o corpo escultural que substituiu a infantilidade que eu conhecia. Os cabelos mais longos, a altura... Pareciam ter roubado minha princesinha.

- O bonitão não tem nada melhor pra fazer do que cuidar da menina-problema? – O sarcasmo dela não teve problema nenhum em se apresentar a mim. Mais uma coisa que me deixava ainda sem rumo.

- Nunca tive nada melhor pra fazer, lembra?


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