Lágrimas de Prata escrita por Virants


Capítulo 7
Capítulo 6. Pensamentos Negativos


Notas iniciais do capítulo

A banda brasileira CPM 22 possui uma música intitulada Pensamentos Negativos. Se quer ter uma agradável surpresa ao ler o Capítulo 6, escute a música durante a leitura.
Acreditem, vai ser uma experiência legal.



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– O que aconteceu? – tentei abrir os olhos, mas a iluminação não ajudou. Estava um silêncio tremendo. Não sabia onde estava.
                Me sentia fraco. Tentei me levantar, mas não achei apoio algum, então me sentei. Não escutava um ruído sequer. Pela primeira vez eu soube o que era o silêncio de verdade. Dessa vez eu consegui abrir os olhos e gostei da visão que tive.
                – Lar, doce lar – disse enquanto sorria e percebia que estava no meu apartamento, sentado na cama.
                Levantei e fui para a varanda, tentando entender o porque de tanto silêncio. Não havia nenhum carro ou pessoa andando pela rua. O céu estava cinzento como eu nunca tinha visto. Senti algo estranho e uma brisa forte e muito fria tocou meu corpo. 
                Não entendi o porque, mas... Eu queria chorar. Senti como se tivesse perdido tudo, se nada mais existisse, como se minha vida fosse inútil e vazia. As lágrimas logo escorreram... Lágrimas comuns. Eu estava chorando como um bebê, estava berrando, dando socos na parede... Tudo isso sem entender o porque...
                – O que está acontecendo? Onde eu estou? – as palavras saíram entre os soluços.
                – Você está onde queria e como queria estar... – uma voz grave e fria saiu da sala de estar, ouvi o som da porta sendo fechada.
                Fui rapidamente para a cozinha e peguei uma faca. Seja lá quem for, eu estaria preparado.
                – Bryan... Cadê você? – a voz dele me dava calafrios, e não me era estranha. Olhei para o chão e percebi sua sombra se aproximando. Me escondi atrás da parede e assim que ele estava perto o bastante, pulei para trás dele e pus a faca em seu pescoço, não esquecendo de imobilizar um de seus braços.
                – Quem é você? Como vai entrando assim no meu apartamento? – disse com raiva. Ele deu um riso sarcástico e ficou em silêncio, parecia saber que eu odiava ser ignorado.

Inspirei o ar profundamente, tentando me acalmar, mas um comentário inesperado me irritou ainda mais:
                – O que foi? Ficou com raivinha, é? Que bom, adoro irritar as pessoas – disse num tom cínico que fez uma de minhas artérias saltarem em minha cabeça.
                Pressionei a lâmina da faca serrilhada contra sua garganta, forçando-o a parar com o comentário.
                – Você acha que pode fazer isso comigo?
                – Por que não poderia? Esse é o meu apartamento, esqueceu? – usei certo tom de superioridade, mas ele deu outro risinho sarcástico.
                – Olhe nos meus olhos e diga que você pode fazer isso comigo – além de me irritar ainda estava me desafiando.
                Empurrei ele contra o sofá, fazendo com que caísse. Seja lá quem for, estava me provocando demais.
                – Olhe aqui, seu idiota – falei com notável ódio. Ele se virou de uma vez para mim.
                Senti uma tontura repentina e minha visão escureceu por um segundo. Aquilo não podia ser verdade... Como podia?!
                – O que foi? – ele riu novamente, enquanto se levantava e vinha em minha direção – O gato comeu sua língua? Ou só está surpreso por me ver? – ele ficou em minha frente e me tomou a faca, brincando com ela, fazendo movimentos perfurando o ar e sempre finalizando em um golpe no próprio coração.
                – Você... Você... – gaguejei bem lentamente.
                – Eu sou você? Isso que ia dizer? Sim, Bryan, eu sou você – ele continuou brincando com a faca.
                – O que aconteceu comigo... Com você? – perguntei confuso.
                – Simples, isso é o que acontece quando você não aguenta a dor – disse enquanto apontava para o rosto estranhamente deformado e muito magro. Aquela aparência somada ao seu jeito de falar lhe dava um aspecto sombrio, me dava à impressão de estar falando com um ser maligno.
                Sentei no sofá... Como ele poderia ser eu? Mas ele... Eu... Era tão irritante que não me deixou refletir um pouco.

                – Por que não se mata logo, hein, Bryan? – falou em tom provocativo e sentou no braço do sofá ainda brincando com a faca – Você não quer ficar como eu? Quer?
                – Como eu vou ficar assim?
                – Você não vai ficar assim fisicamente, Bryan... Estou representando o seu interior. Entende? – continuou com o tom frio.
                Ele fez um corte no pulso, mas foi fraco demais para tirar muito sangue.
                – Você não aguenta mais nada. E a tendência é sempre piorar. Já dizia a lei de Murphy: Se há chance de algo dar errado, então dará errado – se aproximou do meu ouvido e sua voz pareceu sair de dentro da minha cabeça – Há feridas que nunca se curam e cicatrizes que nunca sumirão. A tristeza será tanta que não terá como você voltar a viver.
                – O que você está dizendo? Onde quer chegar? – me levantei, tentando ficar longe daquela coisa... 
                – Onde quero chegar? Simples, Bryan. Muito simples. Entenda logo de uma vez que a morte é a única solução para você. Talvez você esteja fadado a chorar essas malditas lágrimas por toda a vida. Talvez você nunca consiga se livrar desse carma, nunca mais vai conseguir ter amigos... Já está passando fome e vai passar muito mais. Pra que sofrer tanto, hein? – ele se aproximou e acariciou o meu rosto com um sorriso malicioso – Hein? Pra que sofrer tanto, Bryanzinho? – fechei os olhos e senti um calafrio percorrer as costas. Estava começando a ficar com medo... Medo de mim mesmo.
                Como você tem tanta certeza disso? – tentei ser mais agressivo, se tomasse o controle da situação, ficaria mais fácil pensar... Ledo engano.
                – Mais uma pergunta cuja resposta é simples – passou a faca no pulso do outro braço, dessa vez, o corte foi mais profundo, fazendo o sangue sair em jatos – Eu sou você! Tudo o que estou dizendo são pensamentos que há muito tempo você busca reprimir, mas que você sabe que podem ser verdade!

                Ele usou meu raciocínio contra mim... Busquei ser mais agressivo, ao invés disso... Ele foi mais agressivo que eu e continuou no controle da situação.
                – Bryan... Você vai se matar ou prefere viver com essa dúvida? Vamos, Bryan! – disse com uma mescla de frieza e animação, dando um ar macabro ao lugar – Que tal se você morrer?! – sua face ficou ainda mais transfigurada. Ele segurou a faca com a lâmina para baixo e pulou em cima de mim, tentando cravar a faca em meu peito.
                Consegui segurá-lo, mas ainda me sentia um pouco fraco. A faca estava se aproximando mais do meu peito. Fraquejei ainda mais, senti uma súbita falta de ar... A faca penetrou meu coração. Partindo-o em dois. A dor foi tão intensa que não consegui proferir uma palavra sequer.
                Senti uma tristeza profunda... Como há muito não sentia... Ouvi um grito de desespero no fundo da minha mente... O grito que dei aquele dia... Palavras jogadas ao vento, mais tristeza. Decepções, decepções, tristeza... A morte parecia tão acolhedora... 
                É... Acho que o único jeito é morrer mesmo. Acho que nem devia ter nascido... Nascer para sofrer? Pra que nascer então?
                – Para que nascer se vai sofrer tanto? – foi tudo que o infeliz disse antes de me segurar, correr até a varanda e me jogar de lá.
                Minhas piores memórias passaram pela minha mente. Meus pensamentos negativos estavam tomando conta de mim.
                Eu estava voando de encontro a minha morte. O vento batia em meu rosto e eu me senti como um pássaro, livre para viver e voar... Foi então que me lembrei dos bons momentos que eu ainda poderia ter, embora ainda fosse sofrer muito... 
                A esperança reacendeu dentro de mim, fazendo meu coração ferido voltar a bater... Mas era tarde, eu já estava prestes a me chocar com o carro que “amorteceu” a minha queda aquele dia.

                Quando o carro tocou o meu corpo, senti uma corrente elétrica passando por mim. Fechei os olhos por reflexo e assim que os abri, notei que estava no hospital.
                – Conseguimos! Ele voltou! – os enfermeiros e médicos comemoravam enquanto colocavam o desfibrilador do outro lado da sala.
                – Cara, você deu muita sorte! É a sua segunda parada cardíaca e você ainda tá aqui pra contar a história! – disse com ânimo enquanto ia para fora da sala junto dos outros – Agora descanse, daqui alguns minutos nós voltamos pra ver como você está.
                Eu ainda respirava com dificuldade e sentia os olhos arderem muito e minha cabeça parecia que ia explodir... Mas eu não estava tão triste como deveria estar... Ao menos... Eu dei a sorte de ainda estar vivo, como o enfermeiro disse... Mas estava com medo de dormir... Medo que meus pensamentos negativos tomassem conta de mim... Mais uma vez...
                Poucos minutos depois percebi que eles haviam voltado e traziam alguém com eles, eu já estava quase dormindo, mas ouvi novamente aquela doce e maravilhosa voz dizendo:
                – Durma bem, Bryan...

______________Lágrimas dePrata_________________

________Porque a vida é muito mais que chorar_____


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