Livre Arbítrio: Eu Escolho Você. escrita por MilaBravomila


Capítulo 52
Capítulo 52




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/127430/chapter/52

Dizem que cada pessoa tem um destino, uma missão. Eu estava certa de que a minha era estar com Daniel pra sempre, mas estava errada. Uma semana foi o tempo que tive com ele até que a implacável revelação do destino batesse a minha porta. Tudo foi muito rápido, tão rápido que eu apenas acompanhei os fatos, mas não pude processá-los, não até agora.
Eu e Daniel estávamos deitados juntos, tranqüilos, quando de repente eu senti meu corpo sendo arremessado contra a parede do quarto. Abri os olhos assustada e a cena que vi me tirou o ar: Daniel estava de pé na minha frente, suas asas totalmente estendidas, e em suas mãos o brilho flamejante de sua espada dourada. Seu corpo estava me bloqueando totalmente, me protegendo contra o inimigo. Bem a nossa frente estavam Cameron, Roland e Arriane, em posição de defesa voltados para a figura do centro, Gabrielle.
Ela estava linda, como sempre, mas sua beleza dessa vez parecia diferente, parecia aterradora, perigosa. Meus instintos se acenderam instantaneamente. De alguma forma bizarra, ela era o
inimigo. Com uma inspiração profunda, senti o corpo dela absorver o calor do quarto como se fosse um aspirador e a temperatura caiu vertiginosamente.
Cameron mudou a posição ligeiramente, se movendo para mais perto de nós. Roland deu um passo pro lado, na direção de Arriane. Reparei também que havia um rombo enorme na parede onde antes havia uma linda janela fumê, mas em que momento o rombo apareceu me foi perdido.
- O que você está fazendo, Gabrielle? – a voz de Daniel saiu confusa como se ele não quisesse acreditar no que seus olhos estavam lhe mostrando.
- Vim fazer o que sempre desejei, meu amor, mesmo que acabe comigo, essa noite tudo termina.
Então as peças se juntaram em minha cabeça, a desconfiança de Daniel e Cam sobre um traidor entre os anjos, os ataques certeiros a Shoreline, os banidos e os Primeiros, tudo com apenas um único objetivo: me destruir.
- Veio por mim, não é, não pelo fragmento. – eu falei olhando-a diretamente.
- Tudo acaba hoje, querida, essa noite.
A voz de Gabbe era fria, robótica. Ao seu redor, longos fios negros se materializaram e tremularam em volta dela em movimentos irregulares, a maldade que saía deles era tangível, assustadora.
- Gabbe... – a tristeza na voz de Daniel foi tão grande que me deu pena. Apesar de estar pronto para batalhar e me defender com a vida, ele estava profundamente triste.
- Seu ódio era tão grande que nem percebeu que a seguíamos. – a voz de Roland nos atingiu, mas os olhos dele estavam fixos em Gabrielle e nos fios negros que tremulavam a sua volta.
- Todos nós desconfiávamos que havia alguém de dentro, mas eu sempre soube que era você. – Cameron falou diretamente e sua voz atravessou o quarto gelado – Por isso a segui.
- Não seja idiota, Cameron, é claro que eu sabia que você estava me vigiando – Gabbe foi taxativa e direta enquanto os fios negros se agitaram ainda mais – Pensa que não percebi que você me observava de perto enquanto fingia estar se recuperando? Pensa que não sabia do plano compartilhado com Roland e Arriane de me seguir? Me poupe dessa sandice!
- Então por que não nos deteve? – foi a vez de Arriane perguntar.
- Porque pra mim pouco importa a presença de vocês aqui hoje ou não, vocês não serão capazes de impedir o que está por vir.
O silêncio caiu entre nós e a tensão aumentava a cada segundo. Daniel não se moveu um milímetro e os olhos de Gabbe estavam fixos nele.
- Sei que vou te causar dor, mas um dia, no futuro, você vai compreender... e vai me amar.
- Você não consegue entender que se você matar Luce, não haverá futuro pra nós? Que estará condenando todos à perdição e que amar vai estar totalmente fora de possibilidade, nem se quiséssemos? – Daniel perguntou a ela ainda com uma profunda tristeza em sua voz.
- Então eu acho que vai ser uma coisa boa você não poder amar a mais ninguém. – ela respondeu.
Com essas palavras, Gabbe abriu as asas, antes tão lindas, agora totalmente negras e opacas, e saiu pelo rombo na parede.
Roland, Arriane e Cameron acompanharam-na com o olhar e Roland falou sem conseguir disfarçar a preocupação:
- Daniel, ela vai convocá-los, temos que impedir.
Cameron me olhou. Seu corpo estava totalmente recuperado da viagem no tempo que salvou minha vida, mas seus olhos estavam abalados e isso era muito raro.
- Não adianta. – ele disse ainda me encarando – Não podemos impedi-la nem tão pouco fugir a tempo.
- Então lutamos. – Daniel finalizou com firmeza.
A voz grave e decidida do meu anjo ecoou pelo quarto e eu tive duas certezas naquele momento: a primeira era que Daniel e os outros morreriam pra me salvar e a segunda era que essa era a última noite da minha vida.
Daniel se virou para me encarar e muito foi dito sem palavras. Com a certeza de que ele morreria por mim e eu morreria sem ele, eu chorei.
- Não vou deixar você. – ele disse estendendo a mão que não segurava a espada dourada e secando delicadamente minhas lágrimas quentes com os dedos.
Não respondi, não poderia. Apenas me joguei em seus braços e o abracei forte.
- Eles estão vindo! – a voz de Roland ressoou enquanto olhava para baixo através do buraco na parede.
Daniel me carregou junto a ele e passamos pelo buraco logo após Cameron, Arriane e Roland. Gabbe estava no gramado da frente com os braços abertos em cruz e os punhos sangrando. Ela girava sobre o próprio eixo a uns vinte centímetros acima do chão, enquanto entoava palavras na língua antiga que não compreendi, mas que me gelaram a espinha. Conforme ela girava, o sangue que pingava avidamente pela ferida profunda de seus pulsos formava um círculo perfeito ao redor dela e as frias sombras negras se misturavam a ele.
Vi Cameron se posicionar ao meu lado e apertar firmemente uma longa e bela espada nas mãos. Do outro lado, estavam Arriane e Roland também devidamente armados e preparados.
Daniel estava a minha frente e apontava sua fiel espada para frente, mas eu podia sentir a tristeza emanando dele, provavelmente por não acreditar no que Gabbe estava envolvida.
Um cheiro forte de carne podre, sangue e enxofre me invadiu e observei incrédula enormes figuras sombrias surgirem do chão, do círculo onde o sangue divino de Gabrielle se misturava às sombras serpenteantes.
- Preparem-se! – Cam gritou ao meu lado. Seu corpo esbelto e saudável só não estava mais tenso que o de Daniel a minha frente.
As figuras aladas foram surgindo e um grito de horror ficou retido em minha garganta. Elas eram enormes, repugnantes e exalavam a podridão fétida da mais pura maldade. Eu poderia estar louca, mas jurava estar ouvindo gritos desesperados vindo de dentro das criaturas, como se fossem gritos de almas torturadas e agonizantes. A noite antes tão agradável, estava fria, tão fria que me congelava os ossos e fazia a fumaça densa se formar com minha expiração, e bem na minha frente eu estava prestes a testemunhar uma guerra divina do Bem contra o Mal em sua forma mais pura.
...
Daniel, Cameron, Arriane e Roland eram mortais. Com incrível destreza eles executavam uma dança fatal e liquidavam implacavelmente àquelas criaturas que eram o mal encarnado. Eu vi que a batalha era dura, talvez a pior de suas vidas, de suas existências, mas eles estavam lutando por muito, por todos os outros, pelo destino de muitas almas.
Daniel, entre todos, se destacava, tanto pela graça dos movimentos quanto pela eficiência. Com um único giro de sua arma divina eu o vi decapitar a dois demônios de uma só vez e empalar o terceiro em seguida. Era hipnotizante vê-lo lutar.
Eu assistia a tudo paralisada. Os anjos faziam uma espécie de barreira diante de mim e estavam afastados apenas o suficiente para que as lâminas de suas espadas não me atingissem. Os demônios surgiam cada vez mais numerosos e eu assistia serem aniquilados pelo batalhão celestial.
Mesmo com minhas habilidades recém-adquiridas de guerreira e mesmo que carregasse o par de sai em minhas mãos, certamente eu não estava a altura desta luta. Os demônios eram fortes, rápidos e mortais demais para que eu sequer pudesse pensar em enfrentá-los... mas eu pensava. Ficar ali parada, impotente, me consumia. Ver que para cada demônio abatido mais outros dois surgiam pelo portal que Gabbe criou com o próprio sangue era demais sem poder fazer nada.
Senti uma aproximação por trás e os pêlos de minha nuca eriçaram. Era Gabbe, que eu tinha me esquecido completamente. Ela vinha em minha direção com o aspecto totalmente diferente do que fora um dia. Era somente uma sombra consumida pelo ódio. Sua pele estava pálida e sua pele brilhava a suor frio. Seu belo rosto estava com olheiras e com o semblante retorcido de dor. Parece que ela estava pagando um alto preço para ter o controle sobre tais criaturas. Mas ela estava de pé e vindo na minha direção, por trás da parede divina que me guardava.
Gabrielle empunhava um objeto sinistro. Era uma espada longa e fina. O aço era negro e brilhante e apesar de ser um belíssimo objeto, me dava arrepios. Era evidente que não era uma espada comum. Ela a segurava como se lhe ardesse as mãos, mas isso não a estava impedindo de avançar sobre mim. Suas asas negras bateram um par de vezes e logo ela estava perto com a lâmina apontada em minha direção. O sangue ainda escorria de seus pulsos e caía pelo chão.
Uma luz branca ofuscante surgiu na frente dela e eu fui obrigada a virar o rosto e por o braço frente aos olhos. Quando percebi, Daniel estava duelando contra Gabbe e um clarão absurdo surgia toda vez que suas espadas se tocavam. Era como fogo e gelo, preto e branco, certo e errado.
- Luce, sai! – a voz de Daniel saiu alta do local do duelo contra sua ex-amante.
Eu percebi o que ele queria dizer, pois senti os pelos da minha nuca se eriçarem mais uma vez. Um demônio enorme estava se aproximando de mim, aproveitando a brecha de Daniel.
Eu dei um giro e um pique pro lado esquerdo, mas a criatura era rápida demais.
Ouvi um som seco perto de mim e vi que o corpo de Cameron se chocou contra o da criatura que me ameaçava e em segundos, a espada dele a transformou em pó. Nossos olhares se cruzaram apenas por um ínfimo segundo até que ele tivesse que virar para duelar com outros dois demônios que apareceram perto dele.
Tudo estava acontecendo tão rápido, mas eu podia reparar que a cada minuto, a luta ficava mais e mais intensa e complicada para os anjos que estavam agora muito prejudicados em número. Roland, Arriane e Cameron se esforçavam ao máximo para deter os Primeiros que não paravam de brotar do chão, enquanto Daniel travava uma luta intensa contra Gabbe, que estava absolutamente mais forte que antes, graças à barganha que tinha feito.
Será que era isso? Tudo o que eu tinha que fazer era ficar observando como meus amigos e meu amor se acabariam?
Então eu vi minha chance. Daniel além de lutar contra Gabrielle, estava encarando outros dois demônios que resolveram emboscá-lo. Com um golpe duro, ele desestabilizou a ex-anjo, que se desequilibrou tempo o suficiente para eu agir. Eu tinha que terminar com isso. A luta dela era contra mim e eu não sabia como, mas meu instinto dizia que se Gabbe fosse destruída a
ponto de seu sangue condenado parar de escorrer, o portal seria fechado e assim teríamos uma chance.
Nunca em minha vida eu pensei em matar alguém, muito menos um anjo – caído ou não – mas Gabbe já não era uma criatura celestial e estava disposta a condenar a todos por sua vingança. Eu tinha a chance e não podia desperdiçar.
Ela se desestabilizou com o golpe de Daniel e apoiou a espada negra no chão como uma bengala, e eu cheguei bem nessa hora. Chutei com toda minha força provida pelo sangue da guerreira que corria em minhas veias. O objeto sinistro saiu de sua mão e caiu a poucos metros dela. Gabbe foi pega de surpresa e o segundo que levou para ela entender o que tinha acontecido foi o suficiente para mim. Dei-lhe um soco bem encaixado no meio do peito, e se fosse uma humana qualquer como eu, teria fraturado o esterno facilmente. Não fraturei seu osso, mas ela perdeu o ar dos pulmões e cambaleou pra trás até cair no chão. Não pensei duas vezes, eu peguei a arma que ela soltou das mãos e a segurei firme.
Assim que toquei o objeto, uma corrente elétrica atingiu meu corpo por completo, mas eu continuei, estava focada demais, determinada demais a acabar com tudo, a salvar meus amigos e meu Daniel. Ele, que sempre me salvou, seria retribuído agora.
Levantei a espada negra e me lancei na direção de Gabbe, que estava paralisada no chão, ainda sem ar. Ela me encarou com espanto, com medo, enquanto eu encaminhava a lâmina negra para seu coração.
Ouvi o grito desesperado de Daniel ao longe dizendo meu nome, mas eu não podia parar agora. Cravei a espada no peito de Gabrielle e senti ela atravessar a pele, os ossos e a carne até atingir seu coração. Ao mesmo tempo em que a espada entrava no corpo dela, eu senti como se a lâmina também penetrasse em meu próprio corpo. Era como se eu estivesse matando a mim, não a ela, como se estivesse enfiando a espada negra e sinistra em meu próprio peito.
Senti a lâmina perfurar minha pele, meus ossos e minha carne e vi um brilho de satisfação nos olhos de Gabbe pouco antes da vida se esvair de seu corpo. O tempo pareceu parar e olhei na direção em que eu sabia que Daniel estaria. Ele estava chorando desesperado e voava em câmera lenta em minha direção deixando um rastro de lágrimas cristalinas no ar. Tudo foi se movendo cada vez mais devagar, o espaço e tempo pareceram se unir e eu fiquei feliz que a última visão que teria nessa vida seria a do meu anjo loiro, do meu amor eterno.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Chegando o fim, gente!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Livre Arbítrio: Eu Escolho Você." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.