Livre Arbítrio: Eu Escolho Você. escrita por MilaBravomila


Capítulo 38
Capítulo 38




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Eu estava de pé no centro do tatame principal com o par de sai apertado em minhas mãos. Meus companheiros de batalha já estavam posicionados e armados. Trocamos apenas olhares rápidos antes de a luta começar, mas já foi o suficiente pra sentir o nervosismo deles diante de nossa situação. Arcanjos eram muito bons e eu sabia que Gabbe era excepcional, pois Daniel sempre confiava a ela as tarefas de maior importância.
Ela estava a postos do outro lado, de frente para nós, e me olhava fixamente. Em minha mente, imagens de nosso último encontro giravam sem parar: as palavras agressivas e minha genial idéia de jogar na cara dela que eu sabia de seus sentimentos por Daniel estavam pesando mais em mim agora do que nunca... talvez fosse o medo, eu acho.
Chacoalhei a cabeça de leve para espantar tais pensamentos. Eu precisava me concentrar na batalha que seguiria. Eu sabia que para termos uma chance remota de vencê-la, teríamos que permanecer unidos. Teríamos que defender uns aos outro e, como grupo, tentar derrotá-la Era isso que Daniel estava tentando dizer com suas palavras iniciais.
Daniel se posicionou entre ela e nosso grupo e perguntou em voz alta:
- Prontos?
Nós três acenamos uma vez, enquanto Gabbe permaneceu imóvel me encarando fixamente. Instantes antes de Daniel autorizar o combate eu reparei em algo muito importante: Gabbe não portava arma alguma. Isso era um mau sinal. Só podia significar que ela não precisava disso pra me vencer, me humilhar. Perfeito.
Daniel autorizou o início da luta. Nós três a rodeamos, empunhando nossas armas e cercando cada espaço. Tinha certeza que Russel e John também já tinham percebido que ela estava desarmada e que devia estar tramando algo.
John, que era alto e magro e muito veloz, deu o primeiro golpe com seu machado de guerra e, inexplicavelmente, dois segundo após a investida, John estava voando em direção às pessoas que assistiam ao combate. Foi tudo tão rápido e violento que eu mal pude enxergar o que aconteceu. Em fração de segundos, Gabrielle estava empunhando a arma dele, que já estava totalmente fora de combate, e vinha partindo pra cima de nós.
Éramos apena Russel e eu agora... e um Arcanjo muito zangado vindo em nossa direção.
Eu percebi a intenção de Gabbe instantaneamente. Eu e meu companheiro estávamos a poucos metros de distância um do outro e assim que ela partiu pro ataque eu vi que ele era sua vítima, não eu. Ela estava tentando me deixar por último.
- Abaixa! – gritei pra Russel me lançando em sua direção.
Gabbe era rápida demais, mas meu alerta fez Russel se esquivar na hora certa e o machado de guerra dela passou a milímetros de seu peito, rasgando sua camisa. Com um movimento rápido ele tentou revidar, golpeando-a no rosto com o cabo da espada, mas ela deu um impulso e voou a poucos metros acima do chão. John, que não esperava tal movimento, se desequilibrou e caiu, apoiado em uma de suas mãos, e isso deu a Gabbe a oportunidade de finalizá-lo. Do alto ela investiu contra ele, mas bem no último momento eu consegui pular para impedi-la.
Bom, o meu plano era simples: pular sobre ela e agarrá-la, antes que ela pudesse atingir meu companheiro, mas os reflexos sobre-humanos dela a faziam totalmente impossível de ser pega de surpresa. Assim que me aproximei para abraçá-la, ela girou o corpo rapidamente e me acertou um belo chute bem no meio da cara.
Teria sido pra nocautear qualquer pessoa, se eu não tivesse defendido a tempo. Mas mesmo assim, o impacto em mim foi tão forte, que eu voei a alguns metros de distância e bati violentamente contra o tatame. Todo o lado direito do meu corpo gritou na hora e meu braço esquerdo, que havia recebido o impacto de seu chute, estava com a dor mais aguda que já senti.
De longe, eu vi que Russel atacar Gabrielle com toda sua força, mas ela o desarmou e derrubou facilmente. Nós iríamos perder... e feio. Ela já o tinha dominado e ele estava no chão sem sua espada e me parecendo ferido. Eu não podia perdê-lo, tinha que fazer alguma coisa! Ela levantou o machado para infringir-lhe o golpe “fatal” – é claro que Daniel não permitiria tal coisa, mas acabaria com a participação dele na batalha, com certeza. Eu não pensei duas vezes, da distância em que eu estava só havia uma coisa que eu podia fazer: eu arremessei meus sai em sua direção na tentativa de salvar Russel do ataque.
Isso a pegou quase desprevenida – quase. Ela deu um impulso pra trás para desviar de minhas armas, que nem de perto a ameaçaram, mas que foram suficientes para salvar meu colega. Ele se recuperou e pegou novamente sua espada. Gabbe me encarou friamente, com raiva por eu tê-la impedido. Russel se moveu o mais depressa possível em minha direção, ele queria me dar cobertura, uma vez que EU estava desarmada. Ele se aproximou de modo que eu fiquei atrás dele.
- Você está bem? – ele berrou pra mim, sem tirar os olhos dela, que começou a andar lentamente em nossa direção.
- Sim. Nós temos que ficar juntos, Russel! Ela que nos separar e isso não pode acontecer! É nossa única chance! – eu disse atropelando as palavras. Eu já estava de pé e em posição de defesa, mas me sentia nua sem minhas armas.
Um sorriso cínico se formou no rosto dela, que parecia poderosa e extremamente fatal andando até nós.
- Eu sugiro que você se renda, garoto... – ela disse em sua mais doce voz – Minha luta não é contra você.
Eu engoli seco. Minha suspeita acabou de se confirmar e eu estava mais ferrada que nunca.
- Porque você não tenta me tirar então, Loirinha?
Russel falou debochadamente apontando sua espada na direção dela e me protegendo com o corpo.
Ela riu.
- Ok, foi você quem pediu... – ela disse antes de sumir. Literalmente sumir.
- Pra onde ela foi? – ele perguntou desesperado. Nós olhávamos por todos os lados, mas parecia que Gabbe tinha sido tragada pela Terra. Meus instintos se aguçaram ainda mais. Ela não poderia ter sumido... ela deveria estar por aqui... mas nós apenas não podíamos vê-la.
Foi então que me ocorreu.
- Russel, fica atento! Ela está se movendo muito rápido, nossos olhos não conseguem acompanhá-la! Presta aten...
Minha frase foi interrompida por um estrondo alto que, depois eu reparei, era do corpo de Gabbe atingindo o de Russel. O empurrão foi tão violento que ele caiu instantaneamente, desacordado.
Gabbe parou a centímetros de mim. Nossos rostos na mesma direção, nossos corpos tensos.
- Agora, querida Luce, somos eu e você.
...
Se você é humano e tem de lutar contra um Arcanjo caído que te odeia, a melhor coisa a fazer é: dar seu melhor. Um interruptor pareceu se ativar dentro de mim que passou do modo “batalha de avaliação” para o modo “luta de verdade”. Nossa disputa não era mais sobre passar ou não numa avaliação, era questão de sobrevivência ou morte – pelo menos era o que minha mente registrava. Meus instintos, minhas defesas, tudo estava em alerta máximo.
Eu sabia que era uma boa guerreira, mas contra Gabbe, eu estava em total desvantagem. Ela possuía reflexos mais rápidos, era mais veloz e muito mais experiente que eu. E podia voar. Bom, isso era uma coisa que sempre me deixou receosa em ter que enfrentar um anjo de verdade. Quando eu treinava com Daniel – nos melhores dias de minha vida – ele sempre tentava passar pra mim maneiras que eu tinha de reverter esse quadro. Daniel sempre me
disse que a maior vantagem de um anjo sobre um humano também podia ser sua maior fraqueza: suas asas. Eu teria que usar todo meu conhecimento e inteligência para vencê-la e usar a s asas dela contra ela.
Em um movimente rápido, eu investi contra Gabbe. A primeira coisa que eu teria que tentar seria desarmá-la. Ela esquivou de meu ataque e partiu para o contra-ataque, levantando o machado de guerra contra mim. Imediatamente eu me abaixei e rolei pro lado. Parei em uma posição estratégica, como havia planejado. Ela tentou uma segunda investida com o machado e eu astutamente estiquei minha perna e a girei o mais rápido possível. Eu não só desviei do segundo ataque, como consegui encaixar uma bela banda. Ela se desequilibrou um pouco e eu rapidamente estiquei o braço para o machado, agarrando-o, ao mesmo tempo em que a socava na barriga.
Para bloquear meu soco ela soltou o machado e eu o joguei para longe.
Estávamos empatadas.
Da platéia eu ouvi muitos gritos e aplausos e a voz estridente de Shelby se sobressaiu. Eu tinha sido foda mesmo, mas estava muito longe de vencer a luta.
Gabbe partiu pra cima de mim mais uma vez e eu atentei para mais um detalhe importante: Ela estava lutando com raiva. Essa foi outra lição que Daniel me deu e que eu aprendi. Lutar com raiva faz com que cometamos erros, faz com que os instintos se sobressaiam à prudência. Ela me atacou frontalmente e uma esquiva foi fácil de ser feita. Girei o corpo e tentei um golpe certeiro, que ela bloqueou. Gabbe tentou uma cotovelada com investida que eu bloqueei na hora certa.
Nós passamos a trocar algumas tentativas de golpes, mas nenhuma de nós conseguiu progredir muito: ela porque estava com raiva e eu porque era limitada e mais fraca que minha oponente. Meu corpo humano já estava começando a apresentar sinais de cansaço e eu logo perderia se não fizesse alguma coisa. Eu tentei minha cartada final.
Ela tentou um cruzado de esquerda e eu girei rapidamente, dando um impulso a mais. Isso fez com que eu fosse parar atrás dela. Não conversei e agarrei-a por trás, não no seu corpo, mas pela base de suas asas. Eu estava fora do alcance dela e imobilizando suas asas da melhor maneira possível.
Ela tentou se livrar de mim, mas meu aperto era forte. A única chance que eu tinha era de conseguir, naquela posição, fazê-la desistir. Mas isso seria impossível, ela nunca desistiria. Talvez, em um combate de verdade, isso já fosse o suficiente para que um companheiro meu acabasse com ela, mas eu estava sozinha, e não via saída pra mim. Até que eu vi o reflexo prateado de um dos meus sai a alguns metros de distância. Se eu conseguisse alcançá-lo...
Fui tentando chegar perto da minha arma favorita e uma chama de esperança se acendeu dentro de mim. Gabbe lutava freneticamente para se soltar, mas eu a tinha pego no ponto mais vulnerável: se ela recolhesse as asas, estaríamos de igual pra igual. Eu cheguei bem próxima ao sai mas não via chance alguma de pegá-lo sem soltar Gabbe e, se eu fizesse isso, seria meu fim.
Mas eu tinha que arriscar.
Eu a empurrei com a maior força que consegui fazer e baixei na direção do sai. Ela, no entanto, foi mais rápida. Uma vez que eu a soltei, Gabbe girou velozmente e voou na direção da arma, pegando-a antes de mim.
Eu apenas vi o reflexo da lâmina prateada vindo em minha direção e já não havia nada que pudesse fazer. Eu apenas senti um impacto estranho. Não foi a lâmina do meu sai atingindo meu peito, como eu esperava, mas um calor imenso em minha frente, protegendo meu corpo. Daniel.
Ele pôs o próprio corpo na frente do meu e a lâmina do sai empunhado por Gabbe parou imediatamente, a apenas uma irrisória distância do peito dele.
- Chega. – ele falou com a voz grave, encarando-a fixamente.
Minha respiração estava acelerada e meu corpo entorpecido. Eu levei um segundo a mais para perceber que Cam estava parado atrás de Gabbe, abraçando-a, travando seus movimentos.
Daniel e Cam tinham acabado de salvar minha vida, outra vez.


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Notas finais do capítulo

Essa Luce é mto sortuda msm...

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