Livre Arbítrio: Eu Escolho Você. escrita por MilaBravomila


Capítulo 19
Capítulo 19




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Apesar de sentir todos - os anjos - me avaliando, com exceção de Daniel, eu tentei ao máximo manter o controle e o foco no treinamento. Até que não foi assim tão difícil. Quando eu começava a lutar, era como se eu ligasse um interruptor e meu corpo se voltava exclusivamente para esta função. Eu me entregava a luta totalmente e o lado do meu cérebro ciente de Cam, Arriane e Ravena e todos que estavam ali, simplesmente se aquietou.

Na hora dos duelos começarem eu tive uma grande surpresa. Meu desafiante foi ninguém menos que meu amigo Taurus, um nephilin de quase dois metros e um corpo parecido com o de um armário. Ambos empunhávamos uma espada, sendo a minha muito mais leve e delicada que a dele, mas igualmente resistente. Eu sempre escolhia as armas mais leves e finas, elas me permitiam maior agilidade, que era meu ponto mais forte. Eu não tinha nem trinta por cento da força bruta de Taurus, mas minha agilidade para escapar de seus golpes duros e revidar rapidamente, equilibrariam bem o duelo. Nossa luta foi a segunda e se desenvolveu de forma natural. Ele não era um adversário com o qual eu tinha que me preocupar em me conter, ele era muito bom, realmente letal. Mas meus instintos e habilidades falaram mais alto. Nós já estávamos lutando a uns bons minutos e nos equilibrávamos. Da arquibancada eu ouvia os gritos e aplausos que vinham dos espectadores. Daniel estava como mediador, prontamente preparado para intervir no momento certo. Sinceramente, eu não sabia se podia vencer. Taurus era o adversário mais forte que eu já tinha lutado, nenhum outro nephilin se comparava a ele.

Eu tinha acabado de me esquivar de um ataque frontal, perfeitamente executado. Precisou de toda minha força e rapidez para que a espada de Taurus não encontrasse diretamente meu coração. Minha esquiva perfeita resultou em uma oportunidade para eu liquidar a luta. A parte de trás de seu pescoço estava a centímetros de mim e eu sabia que ele não teria tempo para se defender. Levantei minha espada para o golpe final, mas ele fez um movimento inesperado com o corpo jogando seu peso contra mim, me fazendo perder o equilíbrio. Fomos para o chão, todo o peso do seu imenso corpo caindo sobre mim. Eu não conseguia respirar direito, tudo estava acontecendo muito rápido. Com a queda, tanto eu quanto ele tínhamos deixado nossas espadas caírem. A dele estava mais próxima de nós, mas ainda fora de meu alcance. Eu percebi que não era do interesse dele recuperar as armas. Era óbvia a vantagem que ele tinha em uma luta corpo a corpo comigo, eu não teria chance. Taurus investiu sobre mim, sufocando-me ainda mais. Essa luta estava praticamente perdida, ele estava me dominando e eu não tinha força o suficiente para tirá-lo de cima de mim. Daniel estava de pé bem próximo a nós e eu pude sentir toda a tensão de seu corpo nos observando. Ele estava prestes a interromper o combate.

Mas eu vi uma brecha. Quando Taurus se ajeitou para encaixar o golpe final que me imobilizaria totalmente, eu vi sua guarda poucos centímetros aberta, do lado direito de seu rosto. Com toda a força que tinha desvencilhei meu braço direito o suficiente para realizar o movimento, que resultou em uma cotovelada certeira abaixo de seu olho esquerdo. O impacto não foi muito forte, mas encaixou num lugar bastante sensível. Imediatamente sangue começou a brotar de seu rosto e escorrer sobre mim. Seu corpo vacilou um instante devido a dor e ao susto e então eu livrei meu outro braço e o estiquei o máximo que pude, eu sabia que a espada dele estava próxima de nós. Eu não conseguia enxergar direito porque sangue e suor escorriam pelo rosto e meus sentidos estavam começando a falhar, a pressão do corpo dele sobre o meu não me deixava respirar direito, estava me sufocando. Foi então que eu senti o cabo firme da espada sob meus dedos. Eu a agarrei e num movimento certeiro mirei na direção de seu pescoço, parando a poucos centímetros de acertá-lo.

A luta terminou.

Taurus rolou para o lado, sua respiração acelerada e o rosto completamente ensangüentado devido ao corte. Eu estava exausta e respirei fundo, aliviada por me livrar de seu peso sobre mim. Permaneci deitada de barriga para cima, esperando até o momento eu que meu corpo apagaria. Foi a luta mais intensa que já tive, tirando os treinamentos com Daniel, é claro. Mas ele nunca representou perigo real pra mim, bom, não que Taurus significasse, mas contra Daniel eu sempre sabia que no fim ele me pouparia de um dano maior. Foi incrível.

Daniel se ajoelhou ao meu lado e levantou meu tronco, de forma que eu me sentasse. Ele continuou apoiando minhas costas. Meu corpo inteiro doía.

- Você está bem? - ele perguntou tentando parecer controlado, foi em vão. Eu conseguia ver que seus olhos avaliavam meu corpo a procura de danos maiores e também que o tom violeta estava um pouco desfocado.

- Sim - menti. Mas minha voz saiu tão fraca, que era melhor eu não ter tentado.

- Luce, como você está? - Taurus estava ao meu lado, mostrando estar realmente preocupado. Apesar de seu rosto ensangüentado e o olho ferido, ele parecia mil vezes melhor do que eu, mesmo eu o tendo vencido.

- Melhor levá-la a enfermaria - ele disse virando-se para Daniel, que prontamente começou a me pegar no colo. Eu recusei.

- Estou bem! - minha voz saiu baixa, mas aparentemente melhor. Eu não queria sair dali carregada, eu tinha vencido, que droga!

- Você não está bem, você precisa ... - Daniel começou a protestar, mas o interrompi.

- Daniel, eu vou ficar bem, só preciso respirar um pouco, só isso.

Eu me livrei de seus braços, que insistiam em querer me levantar. Vagarosamente pus-me de pé. Eu até que não estava tão mal quanto pensei inicialmente. Meu corpo estava bastante dolorido por ter agüentado o peso de Taurus e feito tanto esforço, mas eu já estava me restabelecendo. Não havia feridas abertas ou concussões. O sangue que manchava minhas roupas, felizmente, não era meu.

Daniel ainda me apoiava com um braço, seria impossível fazê-lo se afastar.

- Me desculpa - eu falei pra Taurus, começando a me dirigir pra arquibancada, onde os alunos nos encaravam boquiabertos. Ninguém podia acreditar que eu tinha derrotado um guerreiro tão bom - nem eu!

- Isso vai passar logo! - ele respondeu sorrindo, referindo-se ao corte perto do olho - Você foi incrível!

- Nossa, pensei que iria perder - falei sinceramente - nem acredito, foi muita sorte minha conseguir alcançar sua espada.

- Não foi sorte, Luce, foi habilidade. - Daniel foi quem falou. Ele estava sério, mas o desespero havia se dissipado de seus olhos depois que me viu andando e falando.

- Ele tem razão, você foi muito bem. É uma guerreira incrível. Estou honrado. - Taurus disse orgulhosamente, deu um breve aceno com a cabeça e se virou.

Respirei fundo. Quando alcançamos a arquibancada, um grupo de nephilins abriu espaço para que eu me sentasse. Eles ainda estavam me encarando surpresos, foi quando ouvi Ravena assumir o próximo combate, que rapidamente desviou a atenção deles. Agradeci internamente por isso.

Daniel ficou de pé diante de mim. Eu o encarei. Eu devia estar imunda e rasgada e completamente descabelada, mas seu olhar era de orgulho e de amor.

- Você foi incrível. Você é incrível. - ele falou completamente admirado. Senti-me ruborizar instantaneamente.

- Eu tive sorte, só isso. - falei baixinho, desviando o olhar.

Ele pôs a mão em meu queixo e virou meu rosto pra cima. Somente o toque de seus dedos fez todas as dores diminuírem.

- Você sempre foi uma lutadora incrível, Lucinda, e não tem nada de sorte nisso. E eu amo ver você lutar assim e se sair tão bem. Estou muito orgulhoso e você também deveria estar.

Sorri timidamente. A verdade era que eu estava orgulhosa. Taurus era um lutador fantástico e saber que eu o tinha derrotado, fazia meu coração pular de alegria.

- Im-pres-sio-nan-te. - Arriane, sempre ela, apareceu atrás de Daniel para fazer seu comentário.

- Obrigada. - respondi com outro sorriso.

- Sério, nada mal mesmo. - ela continuou dando um pequeno saltinho e sentando-se ao meu lado. - Você realmente tem treinado com ela, garotão. - Arriane se virou para Daniel que começou a responder quando foi interrompido.

- Caracaaaa!!! - Shelby pulou em mim pelas costas. Tudo o que meu corpo não precisava era de um apertão extra. - Não, só pode ser brincadeira! É sério que você derrotou Taurus no duelo?! E eu perdi!!! - ela estava fula da vida.

A princípio eu achei que ela estava zuando com a minha cara, mas logo percebi que Shelby estava realmente frustrada por ter perdido tudo.

- Onde você estava? Pensei que estaria aqui, como sempre. - perguntei me desvencilhando de seu corpo.

- Eu estava na biblioteca conversando com Owen e perdi a hora! Eu não acredito nisso! - ela reclamou consigo mesma.

- Bom, então você perdeu uma vitória e tanto da Lucinha aqui. - Arriane falou apontando pra mim com o dedão.

- Me conta t-u-d-o ! Sério, preciso de detalhes! - Shelby disse freneticamente.

Então Arriane começou a descrever a luta e todos os detalhes que ocorreram. Elas nem pareciam notar que eu estava bem no meio e que era sobre mim que estavam falando. Parecia até que estavam discutindo a cena favorita de um filme. Eu fiquei pasma. Arriane se empolgou cada vez mais com a narração e Shelby era toda ouvidos. Elas eram tão parecidas nisso, como podia?

Daniel esticou a mão pra mim e eu a agarrei, agradecida. Fiquei de pé ao seu lado e ele me abraçou.

- Toma um banho e descansa meu anjo. - ele sussurrou em meu ouvido - eu preciso voltar pra aula.

- Não vai não. - falei de um jeito manhoso. Eu queria mesmo era sair daqui e comemorar com ele minha vitória, não queria que ele me deixasse. - Tem certeza que tem que ir? - perguntei me aproximando mais dele. Ele tremeu levemente.

- Não... - ele respondeu me beijando rapidamente - mas preciso. E não fala mais desse jeito comigo senão eu pego você, te levo pra longe e nunca mais trago de volta. - ele falou bem pertinho de mim, me olhando nos olhos e apertando meus quadris.

Passei meus braços em volta do seu pescoço e encostei minha boca em seu ouvido.

- Só se for agora - eu disse de forma baixa e provocante.

Ele se afastou apenas o suficiente para me encarar. Um sorriso malicioso escapou de meus lábios e dos dele. Infelizmente, Cam apareceu nesse instante.

- Formidável! - ele falou em alto e bom som, claramente nos interrompendo. Devia ser uma habilidade intrínseca aos anjos surgirem de repente e de forma inesperada. - Você me fez ganhar cem dólares! - Cam olhava pra mim, divertido.

Nesse momento Arriane e Shelby se aproximaram, já finalizando sua conversa sobre meu desempenho na luta.

- Quem foi que apostou contra Luce? - Shelby perguntou incrédula.

- Eu. - Roland respondeu aparecendo atrás de Cam. Ele estava com uma nota de cem dobrada ao meio entre dois dedos da mão. Cam, sorrindo, a pegou.

- Agradeço. - Cam disse com um leve aceno em minha direção.

Isso estava ficando estranho. Um grito agudo vindo do tatame principal fez com que todos nós virássemos de repente naquela direção. Era o fim de outro duelo entre os nephilins, Ravena havia acabado de intervir.

- Eu te vejo depois. - Daniel falou antes de me dar um selinho e sair em direção aos outros alunos.

Aproveitei a deixa para me retirar.

- Com licença, mas preciso me trocar. - falei já saindo de perto deles. Shelby veio atrás de mim.

Ela me acompanhou - não em silêncio, é claro - até o vestiário. Sentou-se em um dos bancos e, enquanto aguardava eu sair do banho, continuou a tagarelar sobre o que Arriane tinha contado a ela. De vez em quando eu soltava uns sons em concordância, mas eu não estava prestando muita atenção. Após o banho vesti meus jeans, tênis e uma blusa cinza de lã com gola alta, os dias estavam cada vez mais frios. Quando saímos do vestiário, o treino estava quase no fim e a maioria já havia se dispersado. Não encontrei Daniel ou nenhum dos outros anjos, exceto Ravena permanecia no local, aparentemente verificando se uma nephilin alta e magra que havia acabado de duelar estava bem.

Fomos andando em direção ao restaurante e encontramos Miles no caminho.

- Parabéns. Eu soube o que houve. - ele disse me dando um breve meio abraço.

- Valeu. - respondi alegremente. Era bom ver Miles agindo normalmente comigo. Eu sabia que ele sabia sobre Daniel e eu - ele era muito próximo a mim pra não reparar - e que isso o magoava. Eu nunca dei esperanças a ele, nunca insinuei que poderíamos ser mais que apenas bons amigos, mas no fundo, eu sabia o que ele sentia por mim e me incomodava. Eu não gostava de magoá-lo dessa forma. Ele era um cara tão legal, um amigo tão bom! Era bonito, inteligente, divertido, mas eu não conseguia enxergar ninguém além de Daniel e ele sabia disso. Eu não queria um clima chato entre nós.

Fomos almoçar e tudo transcorreu da melhor maneira. Todos, obviamente, já sabiam das notícias do ginásio, então fui novamente alvo dos olhares curiosos, mas isso já não me incomodava tanto. Fiquei muito feliz em saber que Taurus passava bem e que estava tranqüilo em relação a tudo isso. "Foi uma luta incrível, Luce. Você foi ótima. Só não espere me vencer novamente na revanche!" foi o que ele me disse sorridente quando nos encontramos no intervalo da primeira pra segunda aula.

Estávamos acabando de sair da sala no último tempo de aula. Eu estava cansada e precisava muito da minha cama e de um bom lanche. Despedi-me de Shelby, que ficou pra tirar algumas dúvidas com Steven e Miles foi me acompanhar até o dormitório feminino.

- Luce... - ele começou enquanto caminhávamos pelo campus. Fazia ainda mais frio nesse final de dia. - eu posso te perguntar uma coisa? Uma coisa pessoal?

- Claro, Miles, o que quiser. - respondi parando no caminho e olhando pra ele. Uma garoa começava a cair.

- Você e Daniel, vocês... - ele parou, mas eu sabia o que queria perguntar.

- Miles...

- Não - ele interrompeu meio sem jeito. Eu sabia onde isso ía dar, e não queria chegar lá - Olha, me desculpa, eu sei que não devia estar perguntando algo tão pessoal. - ele respirou fundo.

- Miles, você sabe o que eu e Daniel temos, isso ía acontecer mais cedo ou mais tarde. - falei de uma vez, ele tinha que entender.

- Você sabe o quanto você se arriscou, Luce? Você sabe o que podia ter acontecido? - seu tom estava mais exaltado, quase como se ele estivesse brigando comigo.

Soltei um suspiro forte.

- Olha, você é meu amigo e eu te respeito muito, mas tem coisas que você não tem que se meter - eu disse duramente. Já basta Arriane e os outros se metendo em minha vida íntima, ele já era demais.

- Você podia ter morrido! - ele falou, definitivamente brigando.

- Mas eu não morri! - respondi no mesmo tom - E eu não me importo se tivesse acontecido eu não me arrependo de ter arriscado!

- Você pode não se importar com sua vida, mas tem gente que se importa com você! - ele disse com o tom ainda mais bravo.

- Eu já sou adulta, Miles, posso tomar minhas próprias decisões! Nem você, nem ninguém têm nada a ver com isso! É a MINHA vida!

- Mas você podia ao menos pensar nos outros! Pensar que certas atitudes que você toma podem magoar pessoas que amam você. - seu tom passou de raiva para amargura. Eu não fui capaz de responder. - Apesar de você não se importar com sua vida, eu me importo. Eu me preocupo com você.

- Eu não pedi pra que se preocupasse. É a minha vida, Miles. - eu falei de uma forma fria demais, mas não agüentava mais essa situação.

Ele respirou fundo. Minhas palavras doeram fundo nele. Nós nos encaramos apenas por um segundo antes dele falar:

- Eu sou muito estúpido. Eu nunca vou poder competir com ele. Como eu poderia vencer um anjo? - suas palavras foram mais pra ele mesmo do que pra mim, mas meu coração se apertou ao ouvir a dor e a desesperança contidas em suas palavras.

Miles se virou e começou a se afastar e lágrimas quentes rolaram pelo meu rosto.


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