Eu estava tenso. Tinha acabado se encorajar Luce a escolher uma das armas para o duelo. Eu sabia que ela se sairia bem, mas a adversária que Ravena escolheu para combatê-la era muito boa. Lucinda teria um teste e tanto. Ela se virou após ter escolhido sua arma. O par de sai, óbvio. Suas mãos seguravam os sai pela empunhadeira e pela base das lâminas, Camille com certeza teria uma adversária a altura. Meu coração estava acelerado e meu corpo inteiro estava tenso, pronto para intervir a qualquer momento se algo saísse do controle, esse era o meu papel: interromper o golpe fatal. Mas eu não podia negar, não sabia se conseguiria me controlar sem intervir no primeiro instante em que Luce ficasse em perigo. Esse seria um teste para nós dois. Eu tinha que aprender a confiar nela, tanto quanto ela tinha que aprender a se defender sozinha. Eu jurei a mim mesmo que nunca a deixaria em perigo novamente, mas se as coisas saíssem do controle, ela deveria saber se manter a salvo. Na verdade, sua alma sabia, só teria que relembrar.

Luce se posicionou de frente para Camille, que a todo momento movimentava sua gladius* em movimentos circulares. Ela estava se aquecendo e, ao mesmo tempo, mostrando a Luce que tinha domínio sobre o assunto, um modo de intimidação. Lucinda, no entanto, parecia bastante a vontade. A apreensão que vi em seus olhos momentos antes, se desfez no instante em que ela encontrou os sai.

Dei o sinal para começarem. Camille mal esperou que eu me afastasse e já fez um rápido movimento de ataque, colocando força e agilidade no golpe. Uma faísca brilhou no instante em que a gladius de Camille encontrou os sai posicionados em X, cruzados em frente ao corpo de Luce, que rapidamente revidou o ataque, chutando a lateral da coxa da perna de apoio de Camille, ao mesmo tempo em que, com suas armas, empurrava a espada da outra para o lado.

Um sorriso brotou em meu rosto. Observei um leve espanto em Ravena e uma confusão tremenda na face de Camille. Sem dúvida ela não esperava por isso, um erro grave. Nunca subestime seu adversário.

Foi a vez de Luce partir pro ataque. Seu rosto estava sério e ela estava completamente compenetrada na luta. Ela começou uma série de ataques rápidos contra a nephilin que só conseguia se defender, aturdida pela qualidade e agilidade dos golpes. Lucinda se movimentava com graça e leveza. Seu corpo longo e magro parecia dançar sobre o tatame. Seus movimentos eram precisos, firmes. Se Camille não fosse tão bem treinada, já teria sido derrotada. Era como se Lucinda e os sai fossem um só, complementavam-se perfeitamente. Nem preciso dizer o quanto estava linda, fatal. Com um rápido desvio em meu olhar, percebi o fascínio que induzia a todos que a assistiam. Os outros guerreiros estavam extasiados, assim como eu. Camille, em um movimento desesperado, tentou uma rasteira. Luce deu um passo pra trás e desviou, mas foi tempo o suficiente para a nephilin tentar atingi-la pelo lado direito, mirando a espada no pescoço de Luce com toda força que tinha. Tudo acontecia em câmera lenta, pelo menos para mim. Eu consegui visualizar a intenção da nephilin assim que ela iniciou o movimento e cheguei a pensar que atingiria seu objetivo. Instintivamente, meu corpo se contraiu e comecei a me movimentar em direção a ela: eu iria interromper o ataque e a luta. Já estava indo longe demais, eu não podia permitir que minha Lucinda fosse atacada desse jeito. Senti a mão firme de Ravena segurando meu pulso, me impedindo de intervir. Nosso olhar se cruzou apenas por uma fração de segundos, foi o suficiente para ela transmitir tudo o que precisava. Eu estava sendo irracional, a luta tinha que continuar e Ravena estava tentando fazer com que eu percebesse isso. Mas era quase impossível me manter parado enquanto via uma ameaça desse tipo se aproximando da razão da minha existência. Quando voltei minha atenção ao duelo, foi como se eu estivesse novamente no século XIV, onde minha guerreira Lucinda era imbatível, primorosa. Instantes antes da lâmina afiada da gladius tocar seu pescoço, Luce fez uma esquiva surpreendente, levantou seu braço direito e encaixou a lâmina da espada adversária entre a lâmina do sai e um dos tsuba**, uma das projeções cegas da empunhadeira do sai. Quando a lâmina encaixou, Luce torceu o sai duramente e Camille viu sua espada sair de seu domínio e ir de encontro ao chão. Luce atacou com o braço esquerdo ao mesmo tempo em que desarmava a outra com o braço direito. A lâmina de seu sai estava indo de encontro ao coração de Camille, quando, com um rápido movimento, eu corri e segurei o pulso de Luce, impedindo que atingisse a nephili por poucos milímetros.