Livre Arbítrio: Eu Escolho Você. escrita por MilaBravomila


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

*_* Muito origada pelo review!! Espero q continue gostando :)



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Eu estava de pé em frente ao espelho do vestiário feminino, amarrando meu cabelo curto e negro em um mini rabo-de-cavalo e ajeitando os pequenos grampos azuis que usei para prender os fios rebeldes que insistiam em fugir do elástico. Era quarta-feira de manhã e meu segundo treino começaria em poucos minutos. Estava tão ansiosa! Depois da visão que tive do meu passado e da visita reveladora de Daniel há duas noites, eu mal podia esperar para entrar naquele ginásio e provar pra mim mesma do que era capaz.

Desde que cheguei a Shoreline, senti uma atração irresistível em assistir aos treinos dos guerreiros, sempre dizendo a mim mesma que era apenas uma forma de passar o tempo e tentar pensar menos em Daniel, que estava sempre longe daqui. Mas agora que sabia a verdade, parece que a curiosidade e a vontade de estar lá triplicaram.
Daniel disse que eu podia deixar o grupo dos novatos, mas eu não tinha certeza disso. O encontro com o banido e a vitória sobre o nephilin no primeiro treino poderiam apenas ser casos isolados, não significava que iria acontecer de novo, não é?

Ao sair do vestiário, Miles estava a minha espera.
- Quem vai ser seu adversário hoje, Luce? Espero que eles não me forcem a fazer dupla com você! – ele disse sorrindo começado a caminhar na direção do tatame secundário, onde já havia pessoas se aquecendo sob a supervisão de Malak – Sabe como é, – continuou ele – não quero ter que bater em você.
- Não se preocupe você não corre esse risco, Miles. – respondi sorrindo, apesar de sentir uma pontada de vergonha. Eu tinha contado a ele e Shelby sobre o que descobri a meu respeito, mas não que eu deixaria de treinar com ele e passaria para o outro lado. Com certeza ele ficaria desapontado.
Ele me encarou confuso e eu rapidamente completei em tom de desculpas:
- Daniel disse que eu poderia treinar com os outros a partir de hoje, foi mal.
Ele fingiu que estava feliz, mas ele não mentia tão bem assim.
- Legal... hum... boa sorte então!
Eu agradeci e me virei para ir em direção ao tatame principal.
- Tente não matar ninguém, OK? – ele ainda completou antes de se virar e me deixar completamente sozinha a minha própria sorte.
Eu estava confusa. Parte de mim estava excitada, mas outra parte – a sensata – achava que tudo era uma grande loucura. Mesmo que meu corpo fosse capaz de realizar os movimentos certos e eu me lembrasse de algumas coisas, enfrentar um bando de nephilins treinados não me parecia tão fácil, aliás, impossível era a palavra certa.

A maioria dos alunos já estava se aquecendo quando me aproximei. Bizarro. Eles eram homens e mulheres em cujo sangue corria sangue divino, batalhavam a muito tempo e estavam totalmente preparados para qualquer desafio, como bem provaram durante o ataque a Shoreline, e, ainda assim, lá estava eu, uma simples humana, tentando me infiltrar no grupo. Eu só podia estar ficando louca.
- Olha quem chegou! Minha humana favorita de toda a escola!
Virei-me para encarar Taurus sorrindo radiante em minha direção.
- Sou a única humana aqui, Taurus.
- Mas ainda é minha favorita! – ele respondeu me dando um abraço meio de lado, com apenas um dos braços, e piscando com o olho direito.
Eu ri.
- Fiquei sabendo dos seus feitos. Você vai ser uma boa adversária nos treinamentos. – ele falou enquanto começava um alongamento.
- Fala sério – eu disse enquanto imitava seus movimentos – só vou assistir vocês por hoje, com certeza meu lugar é lá com os outros. Não se preocupe, não vai ter que acabar com sua humana favorita.
- Acho que você está se subestimando, senhorita Price. – disse uma voz angelical atrás de mim. Era Ravena. – Daniel me contou sobre suas habilidades.
Virei-me. Ela estava, como sempre, divina, e sustentava um olhar curioso sobre mim. Eu ia responder que havia um engano nisso tudo, mas minha voz ficou presa na garganta quando vi Daniel ao lado dela. A coisa menos ridícula que consegui fazer, além de ficar com cara de boba, foi dar um pequeno aceno com a cabeça.
- Vamos ver o que você pode fazer, então. – ela completou com um sorriso que me deixou, digamos, confusa.
Ravena se encaminhou graciosamente para o centro do tatame e imediatamente os alunos se voltaram para ela, interrompendo suas atividades. Daniel me lançou um sorriso rápido e suas asas gentilmente acariciaram meu braço enquanto ele passou por mim para se juntar a Ravena. Eu estremeci.
- Hoje nós iremos fazer um treinamento mais focado em ataque armado. – começou ela, voltando-se para o grupo – Como vocês podem perceber, logo ali atrás, encontram-se diversas opções de armas que nós normalmente utilizamos durante as batalhas.

Todos nós viramos na direção de uma mesa posicionada a poucos metros de nós. A longa mesa estava coberta por um manto branco e sedoso e, sobre ele, haviam vários tipos de espadas e outras armas antigas. Quer dizer, “antigas” era um modo de dizer. Pareciam absolutamente impecáveis, mas não eram opções que encontramos facilmente a venda na internet. Pela minha rápida avaliação, havia muitos tipos de espadas, adagas, manguais*, machados de guerra** e um monte de outras coisas que eu não fazia idéia de como se chamavam. Maravilha. Era tudo o que eu precisava: um bando de armas estranhas que eu não fazia idéia de como manejar.
- Na última vez em que treinamos com armamento, vocês aprenderam como desarmar o adversário e a como se defender em uma luta desigual, onde o outro estava armado e você não. – Ravena continuou a explicação - Hoje, vocês terão que atacar. Usarão todo o conhecimento de vocês para bloquear os ataques, desarmar o adversário e incapacitá-lo.

- Nada mal pro primeiro dia, hein Luce! – Taurus falou em meu ouvido. Parecia que ele tinha farejado meu pavor.
Daniel assumiu o treino a partir daí. Ele foi até a mesa e escolheu uma bela espada tom de bronze. Ele fez diversos movimentos demonstrando como deveríamos fazer, discursando sobre cada movimento e suas conseqüências. Ele era realmente incrível. Os alunos olhavam pra ele de forma a querer absorver tudo o que ele tinha pra ensinar. Eu até escutei dois nephilins atrás de mim comentarem que ainda não estavam acreditando que estavam sendo treinados por ele. Esses momentos me davam raiva. Todos conheciam a história dele mais do que eu. Era nessas horas em que eu me sentia um peixe fora d’água. Pelo que percebi, sua fama de guerreiro era quase tão grande quanto a do anjo que caiu por amor e foi amaldiçoado. Ele era uma lenda da qual me envergonhei por não conhecer.

Voltei minha atenção para sua aula magistral. No final, ele e Ravena fizeram alguns movimentos de simulação de combate, focando nos pontos onde deveríamos ter mais atenção. Então, a hora do combate chegou. Daniel e Ravena foram chamando duplas de nephilins para duelar entre si. Eles deveriam escolher, cada um, uma das armas sobre a mesa para o combate. Diversas lutas aconteceram e foram realmente muito interessantes. Eu estava fascinada por estar ali e compreendendo tão bem o que estava acontecendo. Em um dos duelos, uma nephilin mais velha e de aparência intimidadora conseguiu se sair muito bem utilizando um dos letais machados de guerra. Ela teria vencido, se seu adversário não fosse Taurus. Ele tinha uma força física tremenda e muita experiência também. Era um dos melhores. A batalha foi emocionante, os dois bastante habilidosos. Nos instantes finais Taurus conseguiu desviar de um belo ataque da nephilin e revidou habilmente, mirando sua espada lateralmente, bem no pescoço dela. Um grito ficou preso em minha garganta. Eu achei que ela seria decapitada bem na minha frente! Muitos soltaram gemidos de surpresa, mas, quando olhei, ela não estava morta. Daniel havia interferido no momento exato, bloqueando a espada de Taurus com a sua. Foi por tão pouco, que alguns fios loiros do curto cabelo da nephilin, que se soltou durante a batalha, caíram sobre o tatame.
- Muito bem. – elogiou Daniel olhando para ambos os alunos – Bela luta.
Ele estava sorrindo. Acho que ele tinha tudo sobre controle o tempo inteiro, mas precisava chegar tão perto? Meus pensamentos foram cortados quando ele se virou em minha direção, os olhos violetas fitando os meus, e disse:
- Sua vez, Lucinda.
Minhas sobrancelhas levantaram e minha boca abriu levemente. Eu definitivamente não estava esperando duelar, não desse jeito, armada e com o coração batendo tão rápido que parecia que ia explodir.
- Eu.. é... – gaguejei – não sei se é uma boa idéia...
- É uma ótima idéia – Ravena interveio. A felicidade com que ela disse essas palavras me fez bubir um calafrio pela espinha – Camille...

Uma nephilin que estava a poucos metros de mim se levantou obedientemente, andou em direção a mesa e escolheu rapidamente sua arma. Era uma bela espada. Tenho certeza que lhe era familiar, uma vez que ela a ficava girando em movimentos rápidos, como se fosse um aquecimento, enquanto se dirigia para frente do tatame. Eu engoli seco. Olhei na direção de Daniel, pensando que ele iria intervir a meu favor, mas ele se limitou a sorrir e me apontar a mesa com a cabeça. Ótimo. Eu só esperava que ele fosse rápido o suficiente para me salvar também.

Aproximei-me da mesa das armas. Havia tantos tipos de espadas, que eu não saberia qual delas escolher. Eu só tinha a certeza de que queria uma leve e que não fosse muito grande, pretendia pagar o menor mico possível, se é que era possível. De repente, meu olhar se prendeu em um par de pequenas espadas gêmeas no canto esquerdo da mesa. Elas eram do tamanho quase exato do meu antebraço e estavam cruzadas em um X. Eu as reconheci imediatamente. Eram as mesmas da minha visão. Não tive dúvidas e as escolhi. Quando as toquei eu imediatamente soube a melhor maneira de segurá-las: não pelos cabos, mas entrelaçando meus dedos entre o cabo e a base da lâmina. Perfeito. Elas faziam parte de mim agora. Eram extensões do meu corpo.

Dirigi-me ao centro do tatame, de frente para minha adversária, Camille. Ela era alta, esguia e estava pronta em sua posição. Era fácil perceber a confiança e o domínio que ela possuía com a espada. Eu duvidava, porém, que suas habilidades fossem maiores que as minhas. Com aquelas duas pequenas espadas nas mãos, eu estava em casa.


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Notas finais do capítulo

*http://pt.wikipedia.org/wiki/Mangual
**http://pt.wikipedia.org/wiki/Machado_de_guerra



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