Hogwarts nunca mudava, pelo menos aos olhos de Lily. Era sempre a mesma rotina, os mesmo colegas, mesmos professores e a mesma magia de sempre. Porém nunca deixava de ser brilhante e inspirador.

Quatro anos já haviam se passado e a ruiva ainda sentia seu coração dar saltos de alegria quando ela retornava, e apertar-se furtivamente quando ela deixava as mágicas locações do castelo. A ruiva tinha um medo, do qual ninguém nunca soube, nem mesmo Severo. Ela temia que tudo fosse um sonho, uma fantasia, ou que fosse um engano, e a mandassem de volta para Cambridge.

Lily nunca soube o real motivo para ser tão diferente das outras pessoas com quem convivia antes de Hogwarts. Ela nunca se adaptou muito bem em nenhuma escola, muito menos esbanjava amigos ou popularidade. Aquilo também de fato não a magoou, quiçá no fundo ela sempre soubesse que havia algo alternativo para ela, em mundo completamente diferente.

Tirando-a dos devaneios o Professor Dumbledore iniciou um discurso, em um jantar de praxe, sobre o perigo do lago negro à alunos aventureiros, e o quão grande é a biodiversidade das criaturas que lá habitam.

Lily não entendeu de imediato, mas ao seguir o olhar do diretor na direção em que esse mirava, ela logo compreendeu a razão para o sermão público. Na mesa da Grifinória estavam os marotos, James, Pedro e Sirius com os pulmões em plenas gargalhadas contidas, enquanto Remo revirava os olhos sorrindo.

Eles tinham aprontado algo, provavelmente jogado alguém dentro das profundesas daquela água misteriosa e perigosa. O estomago da ruiva se inquietou com a possibilidade de ter sido um aluno do primeiro ano, porém depois de alguns instantes de reflexão ela concluiu que a situação seria bem mais grave caso fosse uma criança de 11 anos cercado de sereianos.

Por instinto ela encarou a mesa da sonserina, Severo não estava no jantar. Isso foi o bastante para Lily perder a fome e, após o término das palavras do professor, ela se levantou e foi até a enfermaria correndo.

– Severo! – Ela exclamou ao encontra-lo sentado em uma cadeira, sendo examinado em meio a ala hospitalar. Ele tinha ferimentos estranhos nas pernas e nos pescoços, e tremia de frio, encharcado da cabeça aos pés.

– Ele está bem, foi só um susto, não se preocupe querida. – Assegurou Madame Pomfrey.

– Mas... o que aconteceu? – Lily já tinha suspeitas do ocorrido, mas tinha que confirmar seus temores para destribuir socos em alguns rostos charmosos por aí.

– Foi aquele madilto Potter, ele me jogou no Lago Negro... – Antes que ele pudesse continuar ela o abraçou, o mais forte que seus braços magros permitiam. Ela sentia saudades de seu melhor amigo, e tinha se preocupado cronicamente com ele.

– Não se preocupe, eu vou resolver isso... descanse, eu volto já – Sem esperar que Severo começasse a protestar, ela se levantou num pulo, caminhando às pressas para o Salão Principal.

Seu peito se apertava só de imaginar seu amigo nas profundezas do habitat de criaturas tão perigosas, e um leão urrava de ódio ao pensar no quanto aqueles garotos teriam rido de Snape.

Felizmente ela não teve que entrar no meio do jantar e arrancar pela gola do uniforme aqueles quatro garotos mediocres. Eles estavam ali, num corredor perto da Entrada Principal ainda se recordando do agonia alheia.

– Potter! Sua criatura despresível, miserável! – Ela gritou pegando a varinha nos bolsos das vestes.

Lily nunca tinha levado detenção antes, nem mesmo pelo soco que ela dera em Sirius (ele aparentemente não a dedurou), mas aquela parecia uma boa ocasião para ter sua primeira punição escolar. Era um motivo nobre, uma força muito maior que crescia dentro dela, e que clamava para revidar em James.

Antes que ela pudesse empunhar sua varinha em direção ao garoto assustado, Alice a desarmou.

– Expelliarmus! – A amiga pegou a varinha de Lily no ar e a guardou. – Você está maluca?! Iria ficar semanas em detenção!

A ruiva olhou ao redor, boa parte dos alunos saíram da Salão ao ouvir os berros dela, havia um grande grupo em volta da confusão que acabara de ser evitada. Porém todos olhavam para Lily alarmados, provavelmente ninguém esperava aquela reação dela, qualquer que fosse o motivo.

– Ele jogou Severo no Lago Negro! Teria valido a pena qualquer punição para ve-lo com verrugas em todo rosto! – Ela exclamou olhando raivosa para Potter, que estava ainda perplexo demais para se defender das ofenssas.

– Você jogou o Severo no Lago? Ele poderia ter se machucado! – Frank se aproximou de Alice e Lily, olhando acusadoramente para o colega de dormitório.

– Eu... Err... Lily, foi só uma brincadeira... Eu não ia deixar que ele se machucasse de verdade. – James se aproximou, havia algo no olhar dele muito diferente de todas as vezes que Potter e Evans se olharam... Parecia que ele estava magoado.

– Você pretendia o que?! Dar um susto amigavel?! E caso os sereianos o atacassem?! Você iria mergulhar e salvá-lo de lá?! – a ruiva perguntou inquisidoramente.

James fez uma aproximação perigosa, passando as mão pelo rosto de Lily ele a olhou mais uma vez nos olhos, da maneira que a deixava pertubada.

– Não tenha dúvidas que eu mergulharia e o salvaria – A voz dele era sedosa, porém firme. A jovem de cabelos acaju não conseguia não mergulhar nas profundesas dos olhos castanhos que a encaravam, e ela soube que sua pernas estariam tremendo.

Ela tinha que aceitar, James Potter era um idiota, porém era lindo, desafiando os limites da perfeição.