Quando Jacob chegou perto do carro parou hesitante. Voltou-se novamente para mim. O nosso olhar cruzou-se e ficamos assim presos um no outro durante segundos. Jacob encarava-me e o meu coração batia descontroladamente. Não ia aguentar ver aquele olhar quente desviar-se do meu. Depois, contrariamente a tudo o que podia esperar ele voltou para trás correr dirigindo-se a mim. Fui atingida por um abraço tão forte que achei que todos os meus ossos iam estalar. Fiquei louca de alegria ao perceber que afinal ele não me deixaria. Talvez não fosse demasiado tarde para recomeçar.

 - Odeio-te Bella… Mesmo… - Disse depois de me largar – Então porque raio não consigo deixar de te amar?

Voltou a abraçar-me, estávamos tão perto um do outro, e o silêncio à nossa volta era tão grande que quase era capaz de ouvir o coração dele bater. O nervosismo fez-me doer o estômago quando pensei no que aconteceria depois daquele abraço.

Quando ele me largou os nossos rostos estavam incrivelmente perto. Olhei directamente nos olhos dele. Se ele me beijasse naquele momento eu não o ia afastar mais. Simplesmente pensei em deixar-me levar pelo momento. Talvez fosse mesmo assim que as coisas deveriam acontecer.

Jacob apenas encostou a sua face à minha e beijou-me no cabelo. O cheiro que ele inalava era fantástico. E eu tinha de admitir que o meu corpo respondia de forma entusiástica aquele odor.

- Bella, eu sei que acabei de confessar que te amo, estou consciente do significado disso mas sei que não sentes o mesmo que eu.

Preparei-me para lhe responder mas ele impediu-me colocando o dedo na minha boca para me interromper.

- Sei bem que ainda o amas e que é muito cedo para mudar isso. Já deu para perceber pela conversa que são demasiadas feridas abertas… Que tipo de homem seria eu se tentasse forçar a situação? Quero apenas estar sempre contigo… Primeiro vamos tentar curar esse teu coração, certo?

Não consegui responder, abanei apenas com a cabeça num gesto afirmativo.

- Eu tenho muito tempo… - Acrescentou – Vai tudo voltar a ser como dantes, vais ver… Prometo.

A conversa tinha sido complicada, tal como a imaginara, mas agora sentia-me profundamente aliviada, um enorme peso tinha subitamente saído dos meus ombros e por isso eu estava mais feliz. Ficamos deitados na relva, sob o sol, durante algum tempo, pousei a minha cabeça no peito de Jacob, era tão reconfortante, ele irradiava um calor que me fazia sentir bem. Fora um momento especial, só nosso, estávamos de facto de volta à nossa harmonia habitual. Falamos sobre coisas banais, Jacob contou-me várias histórias, pôs-me a par dos acontecimentos recentes, relatou-me os poucos avanços que tinham conseguido fazer até ao momento para alcançar a Victoria. Até me contou algumas palhaçadas dos rapazes da alcateia e eu fartei-me de rir. Assim o tempo passou rápida e agradavelmente. Quando nos apercebemos já tinha passado imenso tempo da hora do almoço então, preparei um lanche reforçado para nós e fizemos uma espécie de pic-nic improvisado no meu jardim.

O dia foi mesmo inteiramente dedicado a nós os dois. Confesso que esperava à muito por um dia assim, ultimamente tinha voltado a sentir-me só e poder usufruir da companhia de Jacob era fabuloso. Ele estava muito bem-disposto pelo que me pareceu que também estava a gostar do dia. 

Charlie chegou a casa apenas no fim do dia. Enquanto eu cozinhava Jacob foi à reserva buscar os livros da escola, tínhamos relaxado o dia todo mas eu andava muito preocupada com as notas dele. Não queria vê-lo prejudicado por minha causa, prometi dar-lhe uma ajuda com os trabalhos de casa.

O jantar foi realmente agradável. O Charlie e o Jacob conversaram sem parar. Eu gostava de vê-los assim. O meu pai adora a companhia de Jacob, eu senti que ele estava feliz por tê-lo ali e por saber que estava tudo bem entre nós.

No fim de jantar Charlie sentou-se no sofá a ver televisão, estava tão cansado que pouco depois tinha adormecido. Decidi deixa-lo descansar e não o acordar. Arrumei rapidamente a cozinha com a ajuda de Jacob e subimos para o meu quarto, assim não corríamos risco de acordar o Charlie, podíamos estar mais a vontade. Sentei-me na cama enquanto Jacob espalhava uma enorme quantidade de livros e papelada pela minha secretária. Não pude deixar de me rir da expressão dele ao olhar para aquela trapalhada, parecia-me completamente perdido.

Charlie nunca teria permitido que eu tivesse levado alguém para o meu quarto antes, embora “alguém” estivesse estado sempre lá. Era tão bom quebrar as regras do meu pai, subir rapidamente para o quarto enquanto ele fingia ir embora e eu fingia ter sono. Ficava sentada na cama ansiosa por vê-lo saltar pela janela. Era tão doloroso lembrar que até a minha respiração se tornava mais lenta e o ar mais insuportável, sentia-me sufocar lentamente.

- Bella, terra chama Bella! – Jacob chamava insistentemente. A minha consciência estava dispersa. Se ele tinha falado antes para mim eu não ouvira nada.

- Desculpa, estava distraída.

- A sério? Olha que não se notou mesmo nada – Gozou – Por quanto vendes esses teus pensamentos?

- Podes esquecer, não valem grande coisa. Vamos ao que realmente interessa, trabalhos de casa – Disse tentando mudar de assunto – Não me parece que a coisa esteja fácil, tens ai uma montanha de trabalho.

- Pois… tenho andado a baldar-me – disse coçando a cabeça e rindo naquele jeito dele encabulado dele.

- Ao trabalho então! Não penses que vou fazer os trabalhos por ti, vou ler qualquer coisa, qualquer dúvida é só dizeres e eu ajudo. No fim vejo o que fizeste.

- Não era bem isso que eu tinha em mente, mas tudo bem, rendo-me – resmungou contrariado. 

Estendi-me na cama e tentei concentrar-me no livro enquanto Jacob trabalhava.

- Bella… - interrompeu Jacob pouco tempo depois – Queria fazer-te uma pergunta. Mas acho que não vais gostar que eu toque no assunto.

- Podes falar – respondi curiosa.

- Achas possível que ele volte um dia?

Jacob estava sério e eu olhei-o atónita. A pergunta tinha sido como um estalo na minha cara, rápido, surpreendente e completamente inesperado. Não precisa pensar muito para lhe responder.

- Não, é impossível que isso aconteça – respondi rapidamente.

- Como podes ter tanta certeza disso?

- Antes de ir ele deixou tudo bem claro. Fui um erro, do qual se mostrou bem arrependido. Então porque voltaria? Afinal, depois de analisar bem as coisas eu percebi que me devia ter preparado para um momento como aquele. Nunca foi natural ele amar-me. 

- Nem acredito que digas uma coisa dessas Bella. Como não era natural? Ele é um monstro. Tu és a pessoa mais especial que eu já conheci. Tens-te em tão baixa conta…

- Jacob pára com essa história de monstro. Tu não sabes do que falas. Nunca o conheceste, a ele ou ao Carlisle… não imaginas… Carlisle é a pessoa mais bondosa e altruísta que existe. Como é que alguém como ele pode ser um monstro? Nenhum dos Cullen jamais o será. Para além disso eu não tenho nada a desculpar-lhe, não me amar não é um crime – disse-lhe encarando-o tristemente.

- Por favor não fiques triste! Desculpa ter tocado no assunto – disse, aproximando-se rapidamente de mim. Agarrou-me pela cintura, encostou o meu corpo ao dele. Ficamos demasiado perto, colocou a mão no meu rosto e empurrou-o para próximo do dele – Se existe coisa que eu não suporto é ver-te sofrer!

De seguida aproximou os lábios dele dos meus e beijou-me sofregamente, sem aviso prévio, nada o faria prever, fui completamente apanhada de surpresa. Os seus lábios moviam-se violentamente contra os meus pedindo avidamente uma resposta da minha parte, no entanto eu permanecia estática, incapaz de reagir. Aquilo era diferente de tudo o que tinha experimentado antes, quente, intenso e sem receios. Jacob demonstrava todo o seu desejo sem cuidados, o meu corpo também respondia ao dele e no entanto ali estava eu, incapaz. Ele acabou por senti-lo e afastou-se mim.

- Nunca deveria ter feito isto, foi mais forte que eu - Jacob baixou o olhar, envergonhado, incapaz de me encarar – Eu disse-te que não íamos ter pressa e agora isto… desculpa, traí a tua confiança, prometo que não volta a acontecer.

Mantive-me calada durante uns segundos, sem saber muito bem o que lhe dizer, estava tão confusa. O que existia entre nós era mais que uma simples amizade, ele era demasiado importante para mim, eu nunca o poderia negar, embora nunca o tivesse conseguido admitir. Então, mais tarde ou mais sedo as coisas tinham que ser definitivamente esclarecidas. Mas estarei eu preparada para isso, será a altura certa? Conseguirei faze-lo feliz? São imensas as dúvidas e tão escassas as respostas.

- Eu não estava à espera – Acabei por dizer a medo.

- Deu para entender Bells – Proferir num tom praticamente inaudível. Estava triste, magoado com a minha reacção fria e distante – Eu vou-me embora. Amanhã tens aulas cedo, ainda há o funeral. Posso sempre acabar os trabalhos noutra altura, não são assim tão urgentes.

Agarrou nos livros e cadernos e saiu disparado pelo meu quarto como uma bala fazendo-me antes sinal para não o acompanhar a porta. Percebi o que ele sentia. Jacob prometera-me que iria ter calma mas ao mesmo tempo também me tinha confessado o seu amor. Agora eu tinha-o rejeitado, isso não era uma coisa fácil de se lidar. Eu própria estava com muita raiva de mim.