Era uma manhã de domingo, Demétria acordou com o barulho da chuva batendo na janela do quarto. Levantou-se pegou um short, uma blusa e um casaco e foi até o banheiro trocar-se.

Quando ia em direção a cozinha e passou pela sala, encontrou Selena assistindo a algum tipo de programa de moda.

-Bom dia – Disse Selena dando um sorriso.

-Bom dia. Onde está o David? – Demétria perguntou dando pela falta da presença do irmão.

-Saiu. Não quis dizer aonde ia, estava parecendo tão...

Selena suspirou.

-Tão o que? Irritado? Típico. – Disse a garota se jogando no sofá.

-Quer saber, vocês se parecem muito.

-Não consigo ver como.

-Os dois são decididos, vão atrás do que querem e quando estão irritados não tem quem agüente.

-Eu não me acho nem um pouco parecida com o David!

-Eu queria saber por que vocês são assim – Ela fez uma pausa – Sempre brigando e se acusando.

As duas permaneceram em silêncio por um momento. Demétria pensava no que iria dizer e Selena aguardava pacientemente sua resposta.

-Bem – Demétria começou – É complicado

Sua voz não passava de um simples sussurro.

-Não vamos falar disso Okay.

A garota se levantou e foi em direção a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma maçã, depois foi até a varanda e se debruçou na sacada.

A chuva caia forte e incessante, o mar – para o qual a varanda tinha vista – estava agitado e o vento soprava frio.

Demétria apertou os braços contra o peito no momento em que sentiu uma rajada cortante de vento. O casaco fino não ajudava muito a conter o frio. Ela pensou aonde David teria ido em meio aquele temporal e porque estaria tão irritado segundo o que Selena disse. Logo os pensamentos sobre o irmão foram afastados por outros.

Ela sorriu enquanto se lembrava de quando era menor e corria pela descalça pela chuva e achava a melhor coisa do mundo.

Porque não? Ela pensou.

Colocou a maçã ainda intacta sobre a mesa da varanda e depois se sentou em um dos degraus da escada e tirou os sapatos, desceu as escadas e andou até a frente da casa.

De início se sentiu um pouco idiota por estar fazendo aquilo. O frio incomodava, mas ela o ignorou. Tirou o casaco e o amarrou na cintura, de início as gotas grossas da chuva machucaram a pele, mas logo se acostumaram.

Em poucos segundos a garota estava completamente molhada. Ela virou o rosto para cima e fechou os olhos, apenas aproveitando o momento e lembrando-se de como aquilo era bom.

A voz de Selena a desconcentrou de seu momento após alguns minutos.

-Você enlouqueceu?

Demétria deu um sorriso e respondeu.

-Talvez. Venha, é divertido.

Selena a olhou como se estivesse tentando repreende - lá por fazer algo errado, mas em apenas alguns segundos o olhar irritado deu lugar a um imenso sorriso, ela sentou-se, tirou os sapatos e correu para a chuva.

Tirou o casaco e o amarrou na cintura assim como Demétria. Ela não conseguia nem ao menos se lembrar da última vez que havia feito algo assim.

As duas correram pela chuva rindo e brincando como duas garotinhas de seis anos. Mesmo pisando na lama e caindo várias vezes, não se importaram. Nem ligaram para estarem sujando as roupas ou para os pequenos arranhões que as quedas causavam, apenas aproveitaram como se nunca mais fosse haver outra chuva e outra oportunidade daquelas.

Depois de quase duas horas, a chuva começou a cessar e as duas subiram de volta a varanda.

Enquanto se secavam continuavam rindo.

Já eram quase oito da noite quando David entrou em casa carregando algumas sacolas de mercado.

-David, onde você estava? – Selena perguntou exibindo a preocupação.

-Precisava de um tempo. Ér, mais olha eu comprei algumas coisas.

Demétria prestava atenção no irmão. Ele tirou as compras das sacolas. Biscoitos, refrigerante, pizza, iogurtes e mais algumas coisas, por alguma estranha razão, todos os itens eram das marcas e sabores preferidos dela.

- São as coisas que você mais gosta. – Disse David se dirigindo a Demétria.

-Porque comprou essas coisas? – A garota perguntou desconfiando da atitude do irmão.

-Considere um pedido de desculpas. – Ele deu um meio sorriso.

-Acha que pode comprar minhas desculpas com... Compras?

Ele não respondeu.

-Acho que todo aquele tempo longe afetou sua memória e você realmente esqueceu tudo que sabia sobre mim não é?

Ela foi para o quarto deixando David e Selena sozinhos na sala.

Demétria se deitou na cama e pensou que talvez até estivesse sendo um pouco dura demais com o irmão. Depois de aproximadamente uma hora, Demétria acabou dormindo e teve uma sequência de sonhos.

‘’Uma garotinha, devia ter uns nove anos, andava sozinha por uma casa escura a espera que alguém chegasse para lhe buscar. Ela estava com medo e chorava muito, não tinha idéia do que acontecia.

Uma mulher entrou na casa com um garoto um pouco mais velho que ela. As lágrimas escorriam pelo rosto dele.

A garotinha mesmo pequena sabia que estavam lhe escondendo algo. Ela gritava freneticamente, na esperança que alguém a ouvisse.

Até que finalmente teve uma resposta. Do garoto que havia chegado com a mulher. Ele a segurava pelos ombros e gritava:

-Sabe que ele não vai voltar! Nunca mais!

-Não! Não! Não!

A menina gritava se recusando a aceitar a noticia que lhe davam da forma mais difícil possível. ’’

‘‘ Demétria estava sentada na varanda de casa olhando para baixo, pensando em só deus sabia o que. A porta abriu e um garoto que ela não reconheceu o rosto saiu de dentro da casa carregando duas malas.

Apesar de não reconhecê-lo ela sabia que tinha uma forte ligação com ele e inevitavelmente, como se as palavras dançassem sozinhas para fora de sua boca, perguntou:

-Porque você vai embora?

-Não quero ficar aqui, curtindo minha vida dentro da deprimencia em que essa casa se tornou.

-Mais e eu?

-Você vai ficar bem. Tenho certeza que vai.

-Por favor! Fique aqui comigo. O que eu vou fazer sem você?

As lágrimas escorriam pelo rosto dela e as palavras saiam desesperadamente entre os soluços.

-Preciso ir – Ele disse.

Um taxi parou na frente do jardim, o garoto entrou e Demétria ficou olhando o carro sumir ao longo da rua. ’’

Quando Demétria acordou já era manhã. O despertador tocava alertando que se não acordasse iria se atrasar para a escola.

Enquanto se arrumava procurou não pensar nos sonhos que havia tido.

Quando saiu Selena ainda não havia acordado. Pegou um taxi para chegar à escola mais rápido.

Chegando lá não conseguiu evitar não pensar nos sonhos e no que eles lembravam, sentiu uma lágrima quente escorrer pelo rosto e correu para o banheiro. Lavou bem o rosto respirou fundo antes de sair.

Quando voltou para o pátio Sterling vinha em sua direção.

Ele percebeu os olhos um pouco vermelhos da garota e sabia que tinha algo errado. Quando se aproximaram, antes de trocarem qualquer palavra, ele a abraçou.

Ela se sentia incrivelmente bem nos braços dele. Depois de alguns minutos eles dissolveram o abraço.

-Bom dia. – Ele disse exibindo seu sorriso impecável.

Ela apenas sorriu.

Sentada em um banco Taylor olhava os dois com uma raiva crescente. Ela ainda não sabia o que ia fazer com Demétria, mais sabia que tinha que ser algo grande.

No pequeno espaço de tempo que havia se dado entre o término dela com Sterling vários garotos já haviam pedido para ficar e até namorar com ela.

Taylor sabia muito bem que tinha a maior parte dos garotos da escola nas mãos, ela era popular, bonita e se importava com as vitórias ou derrotas do time de basquete. Era inteligente, todas as garotas queriam ser amigas dela, ou pelo menos conseguir imita - lá. O único problema é que ela não suportava que uma única garota, uma mísera novata idiota – Como ela pensava – poderia não querer o mesmo, e, ainda mais: Como ela podia ter perdido o único garoto que ela queria realmente para a novata? Era inaceitável.

Sterling e Demétria conversavam sobre o fim de semana. Sterling se acabava de rir enquanto Demétria contava sobre ela e Selena brincando na chuva.

O sinal de entrada tocou e cada um foi para sua sala.

A professora de história começou a falar sobre mitologia grega e logo em seguida pediu para que os alunos se reunissem em duplas para escrever uma redação sobre o que achavam dos textos mitológicos que o livro trazia.

Não seria nada estranho se novamente a professora tivesse que obrigar alguém a fazer dupla com Demétria, mais para a surpresa da garota, alguém se aproximou enquanto ela se abaixava para pegar o livro embaixo da carteira e disse:

- Será que você não quer fazer dupla comigo?

Ela levantou a cabeça para ver quem estava falando com ela.

-Okay. – Ela disse dando um meio sorriso.

Ela arrastou a carteira para o lado, sentou-se e falou:

- Que surpresa Nicholas, você falando comigo.

-Ah, claro. Ér... Se quiser... Ainda pode me chamar de Nick.

-Okay. Mas... Então, porque ta falando comigo de novo?

-Pensei que talvez você quisesse me dar mais uma chance de ser seu amigo.

Demétria pensou por um instante.

-Acho que talvez se você nunca mais me beijar.

Nicholas suspirou.

-Tudo bem.

Os dois passaram o resto da aula conversando e no fim a folha onde deveria estar à redação só tinha o nome dos dois e um título mal pensado.

No intervalo Sterling estava no treino de basquete. Demétria queria contar a ele que estava falando novamente com Nick. Ela pensou que poderia ser legal ter um namorado e um melhor amigo que eram amigos.

No fim da aula Demétria estava saindo da sala conversando animadamente com Nicholas, afinal eles haviam ficado um bom tempo sem se falarem. Quando passaram pela porta ela viu Sterling esperando no corredor.

Nicholas ainda não sabia que eles estavam namorando, na verdade ele tinha esperança de não estragar tudo dessa vez, mais quando viu o olhar trocado entre Demi e Sterling logo percebeu que havia alguma coisa entre eles.

-Oi – Demétria disse.

-Oi – Sterling respondeu olhando para Nicholas.

-Eu e o Nick voltamos a nos falar, não é... Legal?

-Ah, é claro! Se você esta feliz.

Ela balançou a cabeça positivamente.

-Pensei em te acompanhar até em casa.

-Okay.

-Ér, vai indo na frente porque antes eu preciso falar com o Zac sobre umas... Estratégias novas para... O jogo... No fim do ano.

-Vai falar... Do jogo do fim do ano... Agora? – Demétria perguntou meio desconfiada.

-É vou sim! Vem comigo Nick?

-Ah, bem, eu... Claro.

Os dois saíram andando pelo corredor. Quando Sterling viu que já estavam fora do alcance visual e auditivo de Demétria, ele parou de andar e se virou para Nicholas.

-Então, o que você quer com ela hein?

-Eu era amigo dela antes você! Não te devo explicações.

Sterling bufou.

-Pensa que eu não sei que você a beijou a força?

-Ta, mais e daí, já passou cara. Mas e você? O que está rolando entre vocês dois?

-Nós estamos n-a-m-o-r-a-n-d-o. Ah é, você não sabe o que é isso!

-Quer saber? Eu não to nem ai pra você!

Nicholas saiu andando deixando Sterling para trás.

Demétria já estava impaciente esperando Sterling, quando ele chegou correndo.

Durante o caminho Sterling insistia para Demétria cantar para ele novamente, mais ela se recusava terminantemente, então ele começou a insistir que queria tornar o namoro ‘‘ oficial’’ indo a casa dela e falando com David.

-Não precisamos dar nenhuma satisfação a ele!

-Não é satisfação, eu só pensei que seria melhor se eu fosse falar com ele.

-Aprenda uma coisa Ster... Eu faço o que eu quero! O David não manda em mim, por um acaso da vida eu tenho que morar com ele, só isso.

-Perai, você me chamou de Ster...?

-Foi. – Ela o olhou como se pedisse desculpa.

-Legal – Ele sorriu – Então, me deixa pensar.

-Em que?

-Preciso te dar um apelido também.

-Posso sugerir que você me chame simplesmente de Demi?

-É pode ser, até eu inventar um mais criativo.

Ela o olhou e revirou os olhos.

-Você é muito bobo sabia?

-Sabia sim.

Os dois riram. Continuaram conversando até chegar a casa da garota. Eles estavam se despedindo com longos beijos até que ouviram a voz de Selena.

-Ei Demétria é você?!

-É sou eu! – Ela gritou de má vontade – Já vou subir.

-Mais já? – Sterling perguntou fazendo biquinho.

-Vem comigo então.

Os dois subiram e foram até a cozinha. Sterling a abraçava pela cintura. Eles largaram as mochilas em um canto da sala e entraram na cozinha.

-Demétria eu... – Ela parou de falar quando olhou para os dois. – E você é?

-Sterling. – Ele se apresentou

Os três ficaram em silêncio por um minuto.

-Okay – Selena quebrou o silêncio – já que esta aqui Sterling, porque não ajuda também? Andem, quero vocês dois lendo aquela receita e fazendo tudo direitinho.

Os dois foram até a mesa e começaram a ler a receita. Pegaram os ingredientes e começaram a colocar em um pote, estava tudo indo bem até que Sterling deixou o pacote aberto de farinha cair no chão. As duas olharam para ele.

-Desculpe.

Selena andou até onde a farinha havia sido derrubada se abaixou e pegou o pacote do chão, colocou um pouco de farinha nas mãos e soprou na direção de Sterling.

-Desculpado! – Ela disse rindo do garoto.

Demétria fez o mesmo que Selena, mais soprou na direção dela. Os três ficaram se sujando de farinha e massa enquanto corriam pela cozinha esbarrando em panelas e pratos, fazendo a maior bagunça.

Depois de algum tempo eles se sentaram cansados no chão completamente sujo e ficaram rindo.

-É – começou Selena – Agora não temos mais almoço.

Ela disse apontando para uma enorme panela de frango cru tombada no chão, misturando seu conteúdo com farinha, leite e pratos quebrados.

- Senhora Lovato, nunca pensei que ia conhecer uma mão assim.

-Ei! Me chame de Sel, e eu ainda nem sou mãe.

-Ah, eu gostaria de ser seu filho.

Os três riram.

-Mais então, porque vocês não se limpam e pedem uma pizza enquanto eu arrumo a cozinha?

Demétria e Sterling e levantaram e foram até o quarto da garota. Ela pegou uma toalha e entregou a ele.

-Vou pedir a Selena uma roupa do David emprestada pra você, vai tomar um banho, vai.

-Vem comigo então? – Ele perguntou fazendo biquinho.

-Ster!

-Que foi?

-Olha o respeito! – Eles riram – Anda vai logo.

Ele saiu do quarto e depois voltou e disse.

-Era sério ta!

Os três comeram a pizza e depois Sterling passou o dia na casa de Demétria. À noite quando ele foi embora a garota sentiu como se faltasse alguma coisa, com ele, ela se sentia melhor, se sentia protegida.

Quando foi dormir, pensou que aquele havia sido o melhor dia de sua vida. Os pesadelos não voltaram. Ela teve apenas lindos sonhos, e havia muito tempo que ela não sonhava.

Mais claro todos os sonhos incluíam Sterling neles.