Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 28
Capítulo 28




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Ao pôr-do-sol a Pam entrou na agora nossa casa como um furacão descontrolado. Assustou-me a sério. Era sábado, eu não trabalhava e como tal tinha adormecido ao nascer do sol. Estava apenas em roupa interior na cozinha a tomar o pequeno-almoço às 19 horas e pulei assustada quando ela entrou.

 - Preciso falar com o Eric já!

 - Credo, Pam, estás a testar a minha resistência ao stress?

A Pam, além do Eric era a única pessoa que sabia o que se passava comigo e qual a razão. Ao longo dos últimos meses acabei por lhe contar.

Por um lado pode-se dizer que ela gostou da informação. A ideia de ver o seu criador apaixonado por uma vulgar humana fazia-lhe confusão. Não sendo eu propriamente vulgar ela entendia essa diferença como uma característica especial que me fazia merecedora da companhia de um vampiro do calibre dele. Por outro lado concordou que era melhor ninguém saber. Esse tipo de novidade era capaz de não ser bem recebida.

Para uma vampira a Pam estava realmente nervosa. Acalmou-se um pouco quando me viu e ficou a admirar-me com um sorriso.

 - Oh Pam, deixa disso! Vou chamar o Eric.

 - Não é preciso, já aqui estou! Que se passa?

 - Preciso de falar a sós contigo! – Disse ela

 - Podes falar na frente da Alex. Seja o que for ela aguenta. – Esta confiança na minha capacidade de aguentar era talvez exagerada

A Pam pareceu pensar por uns segundos e depois desbobinou tudo de uma vez só.

 - O Afonso ligou – Olhando para mim, traduziu que o Afonso era um dos espiões pagos pelo Eric para se manter à frente de qualquer ataque – A autoridade foi informada pelo James – E voltou a explicar-me que era um vampiro mais novo que o Eric que ambicionava à muito ser responsável de uma área – que o esquema levado a cabo contra a SC foi motivado pelo rapto da humana com quem agora vives. O Afonso diz que o James está nas sete quintas e que dentro em breve a autoridade se irá reunir para te julgar, Eric.

O Eric ficou muito silencioso e parecia quase uma estátua. Sem pestanejar, sem respirar, só o cabelo dele mostrava algum movimento através duma brisa que corria na casa pela porta aberta deixada pela Pam.

Não sabia se havia de falar ou deixa-los ali a olharem um para outro em silêncio.

Por fim ele sentou-se, sorriu para mim e falou:

 - Não posso fazer nada para evitar o que já foi feito. Até estranho que o James tenha levado tanto tempo para tentar algo contra mim. Quando a autoridade me chamar, nessa altura poderei dar a minha versão.

Parecia muito calmo. A Pam nem por isso.

 - Eric. Temos que pensar num plano. Numa defesa! Não sabemos se nos chamam amanhã!

 - A SC preparava à muito a guerra contra nós. Foram eliminados sem mortes. Não vejo motivo para a autoridade pôr em causa o meu discernimento.

 - O James vai alegar que tudo foi feito para a defender – disse a Pam, apontando para mim

 - O James está a pegar por onde pode. Eventualmente haveria de levantar questões sobre a nossa relação. A autoridade que decida.

Havia uma questão que estava entalada na minha garganta

 - O que te pode acontecer se a autoridade considerar que não devias ter feito o que fizeste?

 - Não te preocupes com isso agora! – Disse

 - Diz-lhe a verdade! – Gritou a Pam

Eu senti a verdade mesmo antes de ele abrir a boca

 - Se eu for considerado culpado, serei condenado à morte final! – E eu entornei o café em cima da mesa.

Era a primeira vez na nossa relação que era ele que estava em perigo e não eu. Ou melhor pensando, desta vez não era só eu, seriamos os dois. Se ele fosse condenado à morte eu não escaparia por certo também. Não iriam deixar uma humana como testemunha por aí.

O mundo estava a desabar-me debaixo dos pés e eu estava num turbilhão emocional.

Que fazer? Lutar? Fugir? Tinha que haver uma solução!

O Eric deu-me a mão. Pude sentir a sua calma e de alguma forma também me acalmou um pouco.

 - Vai tudo correr bem! Eu tenho provas mais do que suficientes para a minha defesa. Eles preparavam a guerra contra nós. Não me acontecerá nada!

A Pam saiu e deixou-nos a sós.

 - A autoridade não pode considerar que tu e eu não devíamos estar juntos? – Perguntei

 - Eles sabem há muito. Não há nada que eles não saibam. Enquanto não houver provas de que a nossa relação pode ser nociva para a nossa espécie não há motivo para ter algo contra – explicou ele – Há muitos vampiros com humanos nos tempos que correm e, mesmo antes da revelação, era já uma situação comum. É verdade que a situação não se arrasta por muito tempo, ou o humano morre ou é transformado mas repara que não estamos a fazer algo que nunca tenha sido feita anteriormente. Todos os membros da autoridade têm humanos por perto, mais ou menos próximos que servem de alimentação. Podem dizer que não nutrem amor por eles, o que é verdade mas tem uma espécie de carinho, como os humanos tem por um animal de estimação e não abrem mão deles com facilidade.

Por mais que ele me tentasse sossegar com as suas palavras, eu sentia que não haveria de ser assim tão simples como ele queria fazer parecer. Dentro de dias o homem que eu amo ia ser julgado por me amar e poderia morrer e eu com ele. Isto era realmente a tal catástrofe que ele falou na noite em que me foi buscar à porta da igreja da SC.

A nossa vida em comum parecia não correr o risco de cair em rotina e monotonia. Tivemos apenas uns meses de sossego e a morte voltou a pairar sobre as nossas cabeças.


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