Blake estava sentada a frente do espelho na penteadeira que dividia com mais três garotas. Cada uma no seu estágio de arrumações. Blake prendia seus cabelos dentro do véu do hábito, ainda presa no seu sonho da noite anterior. As outras a olhavam esperando uma explicação de quem eram os caras com quem ela tinha virado a noite. Batidas na porta se seguiram brutas. – Blake! – O tom da voz era bem masculino. A garota mais próxima da porta abriu, encarando os dois homens que estavam de pé a sua frente. – A Blake está acabando de se arrumar. Vocês podem... – Sam nem esperou a moça acabar de falar, invadindo o quanto de uma vez.

   Parou do lado de Blake, olhando para seu reflexo, sério. – Você precisa vir com a gente, agora. – Blake olhou para o reflexo de Sam e se levantou na mesma hora. Sam pegou em seu pulso a arrastando para fora do quarto no mesmo instante não dando tempo nem para ela inventar uma desculpa para as suas companheiras de quarto. Olhou para Sam, quando estavam fora do cômodo. - Mas o que foi que aconteceu, criatura? – Só então Dean abriu sua boca, parado perto do Impala. – A gente te explica melhor assim, que eu conseguir um copo de café.  – Blake olhou para Sam, respirando fundo. Dean não parecia estar de bom humor. – O que é que você está esperando para entrar no carro?

 ~*~

   Melanie levantou o tronco da cama de uma vez, com os olhos arregalados. Passou a mão pela testa levemente suada e olhou em volta rapidamente, tentando se localizar. Ao visualizar que eram suas parceiras de quarto e que elas dormiam com uma tranqüilidade de se admirar, conseguiu se acalmar. Nunca tivera um sonho tão nítido antes. Aterrorizante, era a palavra perfeita para aquilo.

   Levantou de sua cama e descalça mesmo caminhou até o banheiro. Lavou seu rosto enquanto colocava os pensamentos em ordem. Não fazia sentido nenhum aquilo. Respirou fundo e mordeu o lábio inferior, demonstrando certo grau de preocupação. Ela tinha atacado alguém com seus caninos pontiagudos! Parecia que já tinha visto aquela pessoa antes, porém, não sabia dizer de onde exatamente. Podia sentir o gosto do sangue em sua garganta, impregnado. Talvez fosse só impressão. Suspirou, precisava distrair e tirar aquele absurdo da sua cabeça. 

   Abriu seu notebook e começou a fazer suas coisas de sempre: abrir e-mails, xeretar no fórum, ver o que acontecia no Twitter, dar uma olhadinha nas noticias, esse tipo de coisa que absorviam sua atenção. Sentada na frente daquela telinha era melhor as pessoas fazerem de conta que ela não estava ali. Ao entrar no site de noticias, se surpreendeu ao ver que tinha uma vinda de Sarasota. Clicou e não pode esconder o leve choque ao ler a manchete: “Garoto é encontrado morto com duas marcas suspeitas no pescoço.”. Olhou a fonte da notícia. Era um desses sites meio sensacionalistas que não dava para confiar muito. Ao passar os olhos pela imagem e ver a foto do garoto, Melanie sentiu um grande, desconforto. Conhecia o garoto de algum lugar.

 ~*~

   Blake entrou na cafeteria ainda se perguntando qual motivo daquela agitação logo de manhã. Sam não falara nada durante o curto trajeto até porque a música alta não ajudava muito. Dean sentou-se com a sua cara, fechada e pediu por um café espresso extremamente forte e algumas panquecas para forrar o estômago.  Sam pediu apenas um suco e Blake não pediu. – Tem certeza que você não vai comer nada? – disse Dean, ainda com o rosto sério. – Eu só quero saber o porquê de ser arrastada para cá as nove da manhã, sem saber o motivo! – Blake respondeu seca. – Bem vinda a minha vida. – respondeu Dean ironicamente.

   Sam resolveu falar algo antes que continuassem naquela discussão. – Ontem, quando voltávamos para nosso quarto, um garoto que vinha correndo, esbarrou na gente, bem assustado. – Dean suspirou. – Eu achei que era só um garoto idiota qualquer que aprontou alguma e que tinha sido flagrado. Coisas normais dessa idade. – Dean bebeu um gole do café dando um sorrisinho. Blake continuou com cara de pouco amigos. – E o que isso tem demais? – As panquecas de Dean chegaram e ele tratou de atacá-las. – O garoto amanheceu morto. – Sam disse um pouco sério. – Por um vampiro.

   Blake mudou de expressão na hora. Aquilo mudava o cenário. – Não me diga que foram achadas duas marcas, como dois furos no pescoço dele? – Sam respirou fundo, fazendo que sim com a cabeça. – Sam, nós três sabemos que vampiros não fazem apenas dois furinhos delicados ¹. Isso é uma imagem romântica. – Os três se olharam como se concordassem. Três garotos entraram na cafeteria. O do meio virou para os outros dois e disse meio indignado. – Eu sou quase atacado por um lobisomem e o que os meus melhores amigos fazem? Escondem-se! Me deixando sozinho! – Blake, Dean e Sam olharam novamente ao ouvirem a palavra lobisomem. – Você deveria nos agradecer por ter registrado a sua grande proeza. – disse o que estava à direita, em tom irônico, se dirigindo ao balcão.

   Dean acabou de mastigar o último pedaço de panqueca em sua boca. – Ótimo. Vampiros e lobisomens numa cajadada só. – Sam respirou fundo, pensando. Dean conhecia aquela cara. – Vamos, gênio, desembucha. – Sam olhou de canto para o irmão. – Precisamos investigar as duas histórias direito.  Seja lá o que for que eles tenham, seria interessante darmos uma olhada. – Dean deu de ombros. – É só a gente ir até lá e pedir do nosso jeito. – Sam ia discordar quando Blake deu uma risadinha de deboche. – Algum problema, irmã? – Blake suspirou olhando Dean. -Doçura, você tem que aprender a usar outras armas além do seu poder de persuasão. Me dê alguns minutos  no banheiro e veja se aprende algo. – Blake se levantou e foi até o banheiro, deixando-os curiosos.

   Blake voltou do banheiro, vestindo apenas mais um shorts curto e justo e uma baby look branca justa. Dean e Sam ficaram observando de seus lugares. Blake se aproximou dos três, cheia de sensualidade e sem esconder o seu interesse na história de lobisomem. Ficou um tempo conversando com eles, ainda. Dean já estava ficando meio impaciente. Os caras pagaram a conta e saíram, com Blake acompanhando-os, sendo abraçada pelo do meio, fazendo de conta que nem conhecia os Winchester. Sam e Dean se olhavam, sem saber o que fazer. Ficaram mais um tempo ali sentados, até que Dean levantou da cadeira, olhando para fora, firme. No mesmo instante, Blake entrou na cafeteria, séria. – Eu peguei o que vocês queriam agora só pegar a minha roupa de volta e a gente vaza daqui. – Nenhum dos dois quis ir contra. 

~*~

   Melanie estava se sentindo realmente incômoda. Nada do que fizera até agora tinha resolvido. Seus olhos fixos na foto do garoto, tentando lembrar-se da onde ela o conhecia. Mordia o lábio inferior com força, devido à ansiedade. Observou que o sol brilhava forte, então decidiu se roçar e caminhar um pouco até a cafeteria mais próxima. Café era sempre uma coisa que a acalmava. Pegou seu celular e deu uma olhada nas amigas. Nunca achou que sono ia lhe causar tanta inveja.

   Sentiu a temperatura agradável que fazia do lado de fora do quarto. Tudo o que ela queria mesmo era que aquela sensação fosse embora. Ou ao menos que toda, aquela angústia  fosse justificável. Seu pensamento estava longe, quando passou em frente a um carro e viu o seu reflexo no vidro. Tinha esquecido como era de verdade, sem toda maquiagem e quilos e quilos de roupa. O seu moletom parecia, agora, a melhor roupa do mundo.

   Atravessou a rua, rumo a cafeteria e se deparou com alguém conhecido, parado na banca de jornal. Custou a acreditar no que via. Austin exibia um olho roxo, um machucado no nariz e várias outras escoriações pelo rosto. Será que tinha acontecido algo serio entre os meninos? Arqueou a sombrancelha, ao considerar a hipótese, se aproximando. – Austin... Tá tudo bem com você? – A primeira reação do garoto foi olhar para ela com os olhos arregalados. – Melanie! – passou a mão pelo cabelo castanho. – Assim você me mata! – deu uma risadinha. O garoto suspirou. - Eu estou bem sim. – Melanie olhou bem pros machucados, duvidando muito daquilo.

   Austin ficou quieto, olhando Melanie. Gostava muito mais daquela que estava a sua frente da agora. Nada daquela predadora sexual. Não conseguia evitar aquele sorriso. – Bem, pela sua cara... Eu acho que eu virei sonâmbulo e devo ter brigado sozinho, porque eu não lembro como tudo isso veio parar na minha cara. – Melanie deu uma risadinha. – Vem, vamos tomar um café. – Os dois saíram andando juntos. Melanie nunca tinha visto Austin daquela forma.

 ~*~

  Sam, Dean e Blake estavam espremidos diante da ela do notebook de Sam em extremo silêncio. Ao fim do vídeo, se entreolharam, esperando o primeiro abrir a boca . Blake suspirou. – Qual é gente?! Eu diria que isso é no máximo um idiota vestido qualquer vestido de lobisomem. –Sam suspirou, coçando a cabeça. – Mas você não disse que viu marcas de arranhão no cara? – Blake parou pensativa. Dean estava de braços cruzados, sério. – Uma coisa eu aprendi nesses anos de caça. Reconhecer a fúria selvagem nos olhos do inimigo. Esse lobisomem pode não ser real, mas a raiva é. – Levantou pegando a garrafa de uísque.

   Blake pensava ainda no que eles podiam fazer diante daquela situação, aonde poderiam começar a investigação. – Sam, me empresta seu notebook um segundo? – Sam deu de ombros. Blake puxou o aparelho para si e começou a digitar, abrindo várias janelas. Sam espiava. – HD virtual? – Blake deu um sorrisinho. – E uma forma de manter os arquivos dos casos organizados. – disse, voltando a observar tudo que estava na tela. Dean olhava ao longe, se servindo de sua garrafa pelo gargalo, vendo aquele monte de coisa saltando na tela. Assustador. – Eu vou precisar da ajuda de vocês. – Blake disse, sem tirar seus olhos da tela.

~*~

   Austin e Melanie aproveitaram que estavam na cafeteria e compraram algo para os demais. Melanie estava adorando Austin mais a fundo, era um garoto muito engraçado. Teve que reconhecer que ele tinha o seu charme e que se tivesse a chance, não recusaria. – Seu sorriso é muito bonito. Ainda mais sem aquele véu para atrapalhar. – Melanie ficou sem graça. Fazia tempo que ela não ouvia um elogio tão sincero.

   Entraram no quarto dos meninos e certo ar de cumplicidade emanava deles. Ninguém tinha reparado ninguém além de Joe. Ele observou bem o sorriso que compartilhavam, os olhares que se encontravam, companheiros. Ele estava todas essas semanas tentando encontrar uma brecha e tudo que ganhara foram sorrisinhos cordiais. Melanie deu um suspiro. – Eu vou chamar as meninas. – saindo do quarto. Austin observou que Joe olhava para eles. – Ei, cara, tudo bem? – Só então Joe reparou que exibia sinais de tensão e forçou um sorriso para contornar. – Ta, ta tudo bem. Só que eu acabei de acordar. – virou de costas. Ele terminaria aquele romance ali, a qualquer custo.

 ~*~

   Dean olhava Blake, meio sério. – Você vai querer mesmo entrevistar todos eles? – Devia ter uns doze perfis ali. Blake olhou igualmente séria para Dean. – Não tem como conseguir mais informações se não for perguntando a eles! – Dean suspirou. – Mas são doze pessoas! Não tem como diminuir esse número? – Blake revirou os olhos. – Você é um preguiçoso mesmo. – Dean olhou para a cara dela. – Eu sou o que?! Sabe quantos desses malditos monstros eu já cacei? – Blake fez um cara de “não to nem ai”.

   Sam observou os dois. Isso que dava deixar dois teimosos juntos. – Olha, vocês dois. A gente se divide, dá quatro para cada um. – olhou Blake. – A gente imprime esses dossiês e depois a gente se separa, okay? – Blake levantou de sua cadeira e andou até Dean, séria. – Eu não me importo com quantas criaturas você tenha topado, Dean. O que me importa é essa sua atitude. – Manteve seu olhar, os dois tensos. – Você não precisa só de força, uma cara intimidadora e punhos. – virou-se na outra direção, saindo do quarto com Sam. Dean ficou olhando na direção da porá. Ainda sem acreditar no que tinha ouvido.