Mais um dia comum. Será?

Estava na mesa do café passando geléia de morango na torrada quando ouvi minha mãe gritando da porta da sala.

-Querida a correspondência chegou!

A animação dela não chegava a mim. Os requerimentos enviados algumas semanas para diversas universidades estavam sendo respondidos esta semana. Encaminhei minha solicitação para cursos na área de humanas, ainda não tinha decidido entre Pedagogia ou Letras e aguardava as cartas de Edward para decidir a faculdade.

A cada nova carta meu coração se apertava e o da minha mãe crescia. Ela estava muito empolgada com tudo e reclamava horas já que eu não respondia aos requerimentos. Iria decidir junto com Edward a qual faculdade iremos. Já passamos o colegial separado a faculdade não né!

Edward queria cursar medicina em Harvard e eu adorei os programas de aula em Yale, um dos dois teria que ceder e isso estava irritando minha mãe, para ela minha faculdade deveria vir em primeiro lugar e não a opinião de um garoto que eu namorava pela internet, mesmo ela conhecendo Edward e gostando dele, nunca aprovou este nosso namoro.

-Mae! Ainda estou dentro do prazo de resposta. Esta semana mesmo já terei enviado a resposta a faculdade que escolher, só estou analisando algumas taxas e cursos extracurriculares.  

-Sei, sua resposta vai depender de um e-mail não é? – ela me olhou seria e logo emendou –

-Bom filha, eu e seu pai conversamos muito esta noite e decidimos bloquear seu acesso a internet ate o final do semestre. Sabemos que você poderá usar outros meios para namorar e não teremos como evitar todos, mas aqui em casa você não usará mais e nem adianta falar sobre as pesquisas escolares, há bibliotecas na escola com computadores para isso.

Voltei a fitar minha torrada agora já sem fome nenhuma, tinha tanta geléia ali que poderia usa-la no restante do pacote todo. Não ousei responder a ordem de minha mãe, se o fizesse minha avó ficaria ofendida com tudo o que acabei de pensar.

Mordi a torrada mecanicamente sem olhar para minha mãe que agora tamborilava com os dedos sobre a mesa esperando minha resposta. A ignorei e sai, indo sozinha a escola, a caminhada seria curta e hoje eu precisava muito que ela fosse mais longa para organizar meus pensamentos.

Resolvi não comentar nada com ninguém ainda, as coisas podiam mudar quando meu pai estivesse em casa e conversássemos durante o jantar. O dia se arrastou, as aulas pareciam mais chatas e estava sem paciência de conversar com as meninas, minha felicidade só surgiu quando cheguei em casa e mandei uma mensagem de texto via celular para ele.

De Bella Para Edward

Minha internet foi cortada. Mamãe acha que você esta me influenciando quanto a faculdade.

De Edward Para Bella

Só temos o telefone agora? Não posso te ligar todos os dias!

-Eu sei amor, vou tentar usar o computador da Alice escondido aqui em casa, ela tem um modem móvel.

-Vou ficar sem te ver hoje, isso não é justo.

-Desculpe amor. Suas cartas de aprovação já chegaram?

-Sim, fui aceito onde queria e você?

-Fui aceita também e recebi uma de Harvard hoje.

-Conversei com minha mãe hoje, ela esta pensando em comprar um apartamento para mim, podíamos dividir as despesas se você morar comigo!

Oh meus deus, eu li mesmo isso? voltei a olhar a tela do meu celular e li cada palavra pausadamente. Ele quer morar comigo? Dividir um apartamento comigo?

-Eu...nao sei. Não que eu não queira, mas meus pais nunca aceitariam e também tem o problema das taxas, minha família não tem condições de pagar meus estudos em Harvard.

-Fale com ela primeiro, vou falar com minha mãe também, decidimos o que fazer depois.

-Tudo bem, nos falamos melhor amanha. Minha mãe já esta me chamando para o jantar.

Mandamos mais algumas mensagens e desci. Jantamos como sempre, conversamos sobre poucas coisas de nossos dias e quando todos já estávamos na sala assistindo um pouco de televisão resolvi falar sobre o assunto ‘’faculdade’’.

-Mae, pai, podemos conversar sobre a faculdade? – eles me olharam esperando que eu logo dissesse o obvio –

-Bom, conversando com o Edward ele me contou que passou em Harvard e que a mãe dele estava pensando em comprar um apartamento próximo a faculdade. Nós pensamos em dividir este apartamento e estudarmos juntos, eu sei que as taxas são altas, mas posso conseguir um estagio e auxiliar nas despesas. – falei em um fôlego só para não perde a coragem –

-Filha – meu pai falou chamando minha atenção -  você esta propondo a nós que aceitemos que more com seu namorado?

-Mais ou menos isso pai.

-Filha – meu pai respirou fundo agora e apertou a mão de minha mãe – o que não ficou claro em minha pergunta?

-É...bom...nada pai, é isso mesmo que o senhor entendeu, pedi para estudar e morar em Harvard com Edward.

-Entao você quer que aceitemos sua mudança, sua entrada em uma universidade cara a qual não podemos arcar com as despesas e ainda o fato de morar com seu namorado virtual?

-Sim – disse já fitando meus pés, colocando assim não parecia mesmo uma boa idéia –

-Oh querida – ele falou agora se levantando – é claro que não – ele já gritava passando as mãos pelos cabelos – Voce enlouqueceu? O que pensa que nós somos/ Idiotas? Que vamos esperar seu primeiro semestre para recebê-la em casa grávida de um adolescente inconseqüente?

-Não filha, você não vai. Nem que eu tenha que te enviar para a Universidade do Alasca, mas com ele você não vai. –seus olhos pareciam querer saltar e seu rosto estava muito vermelho -

-Suba, vá para o seu quarto, estou sem cabeça para continuar esta conversa.

Subi correndo tropeçando em alguns degraus devido a meu atual problema de visão. Sim, eu estava chorando, desesperada e com uma dor muito forte no peito. Bati a porta com forca me jogando na cama, enfiei meu rosto entre os travesseiros e chorei, gritei, mordi até que meu corpo não agüentou mais e cai no sono.

Na manha seguinte acordei com muita dor de cabeça e mais de 40 ligações e mensagens perdidas. Sabia que teria que responde-las e explicar tudo o que aconteceu em casa, mas só poderia faze-lo na escola, longe dos olhos de meus pais.

Fui para o banheiro, fiz minha higiene pessoal sem nem me olhar no espelho. Na mesa do café só encontrei minha mãe e a mesma não me dirigiu nenhuma palavra ou olhar, pelo menos não teria que ouvi-la logo pela manha, isso já me deixou mais tranqüila.

Meu telefone voltou a tocar, por estar no silencioso ela não percebeu. Terminei meu café sem ao menos ingerir uma gota do leite a minha frente e fui para a porta esperar minha carona. Rosálie chegou 10 minutos depois e quase entrou em choque ao me ver. Tudo bem, eu deveria esta horrível, mas era para tanto, olhei para o espelho e eu mesma gritei com o que vi.

Os olhos fundos e sem expressão, os cabelos mal presos e com aparência desgrenhada e para completar meu loock, um conjunto de moletom cinza. Eu estava realmente péssima.

-Nossa Bella, anotou a placa do caminhão?

-Não! Mas peguei o nome do condutor, isso ajuda?

Contei tudo o que tinha acontecido a ela, minhas duvidas, medos e inseguranças, quando terminei Rose me olhava assustada. Meu telefone tocou e eu movi minhas mãos para atende-lo mas Rose foi mais rápida e o tirou de mim.

-Edward é Rose. Bella não pode falar, não se preocupe, ela esta bem, nos de apenas 30 minutos. Beijos.

Rose voltou ao celular e agora digitava alguma coisa.

-Alice!

-Alice esquece as aulas, vá para minha casa agora, sem perguntas, apenas esteja lá em 10 minutos.

Ela desligou o aparelho e voltou a me fitar.

-Voce vai cabular aula hoje.

Ela falava seria e parecia pensar em alguma coisa, pois fechou um pouco os olhos e apertou o volante acelerando o carro sem nenhum cuidado. Não ousei falar nada enquanto voltávamos a sua casa.