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Em Karakura o vento dançava calmamente na calada da noite, choaqualhando as árvores e fazendo com que suas folhas caíssem. Todos dormiam tranquilamente debaixo de seus tetos e viajavam pela terra dos sonhos.

Mas a terra dos sonhos era a última coisa que passava na mente do Substituto de Shinigami Kurosaki Ichigo.

“Mas o que..”

 Ele perambulava pela cidade, estava tudo deserto. Lojas quebradas, carros batidos ou abandonados, prédios e casas destruídos. Todo o cenário que via todos os dias estava um caos. Ele andava receoso pelas ruas da cidade querendo entender o que estava acontecendo.

Entrou em uma loja, que estava com a porta arrancada do lugar e o vidro da mesma estilhaçado pelo chão. Estava tudo uma bagunça, móveis revirados e destruídos. Ele olhou bem o lugar e viu manchas por toda parte, ele não sabia distinguir o que era pela escuridão do local, então se aproximou de uma poça e se agachou na frente dela, passando a mão e sentindo algo molhado e meio seco. O cheiro era terrível.

Ele olhou mais a frente, embora estivesse escuro dava para ver que depois da poça um rastro saindo dela ia para trás de algumas mesas reviradas e uma estante derrubada. O garoto seguiu o rastro e rodeou a mesa.

Ele desejou nunca ter feito aquilo

Eram corpos, de um casal e uma criança. Não se mexiam, e estavam cobertos de sangue. Ichigo sentiu seu estômago revirar e o pânico começar a invadi-lo. Correu para fora da loja e começou a olhar em volta, o desespero o corroendo por dentro a cada vez que entrava em casas ou lojas e via mais mortos, alguns em uma situação horrenda.

“Pai? Yuzu? Karin?” – Ele abriu a porta de casa gritando sua família. “Estão aqui? Sou eu, Ichigo!”

Ichigo andou pela casa, não achando seu pai ou suas irmãns.

“PAI, MENINAS.” Ele berrava pela casa, apenas para os móveis revirados e destruídos. Não sabendo mais o que fazer correu para fora e foi em direção a loja do Urahara. Suas pernas falhavam e ele não tinha idéia do que fazer. Fechou os olhos enquanto corria querendo que aquilo acabasse, que não fosse verdade. Quando tropeçou em algo e acabou caindo no chão.

“Merda” Praguejou com a mão na cabeça, enquanto olhava o que o havia feito cair. Seus olhos quase soltaram de seu rosto ao encarar Ishida, imóvel no chão. Ele levantou e foi até o amigo, o chamando. Mas ele não respondia. Levantou e olhou ao redor, o que o deixou em choque.

Seus amigos de escola estavam no chão, imóveis, com feridas graves e sangue escorrendo delas. Quando viu suas irmãns não soube o que fazer. Onde diabos estava seu pai afinal? O que estava acontecendo? Ele já sentia as lágrimas quentes escorrendo por suas bochechas. E foi quando mais a frente ele avistou Rukia, encostada em uma árvore, sangrando e imóvel como os outros. Ele correu em direção a Shinigami e abaixou na sua frente, a chamando.

 Ela não respondia.

“Rukia? Por favor, me responda! O que houve com você? O que houve aqui? Rukia!”

Ele viu os olhos dela tremerem, e ela os semi-cerrou virando a cabeça com dificuldade para ele.

“I-Ich..” Ela se contorceu e cuspiu sangue. Ichigo olhou pra ela, seu rosto em plena aflição. “Fuja..” Ela pediu com a voz rouca “Saia daqui.. Enquanto pode”
“O que diabos você está falando? Eu não posso deixar vocês aqui desse jeito! Estão todos machucados, eu..”
“Não, é tarde demais para nós. Você precisa sair daqui” Ela cuspiu mais sangue “Apenas vá”
“Não!”
“Me escute uma vez na vida, seu idiota!”

Ichigo estava em pânico. Fugir? Ele não fugiria. Ele não deixaria todos ali. Rukia respirava com dificuldade e ele viu que uma lágrima escorreu no rosto da pequena Shinigami

“Por favor, se salve.” Ela pediu “Eu não posso ver você morrer também” 

Ichigo ficou atônito com as lágrimas que desciam pelo rosto Rukia e estava prestes a dizer palavras que fossem reconfortá-la, mas sua ação fora impedida por um som ensurecedor. Um grunhido? O som acertou seus ouvidos como uma martelada. Rukia fez uma expressão assustada, e por mais que sua respiração estivesse fraca ela ofegou e arregalou os olhos. Ichigo seguiu seu olhar.. E a única coisa que viu foi uma máscara com com chifres e uma espada negra o atravessando.

Sua própria espada negra.

Ele acordou ofegando, o suor pregando sua camisa em suas costas e pingando de seu rosto. Fora um pesadelo? Olhou pela janela e encontrou a cidade como sempre, inteira. Seu coração batia loucamente dentro de seu peito como prova do sonho ruim que tivera.

- Maldição. – limpou a testa de suor – O que foi aquilo?

Ele começou a se acalmar, e agora seu coração apenas batia mais forte que o normal. Ficou sentado na cama, encarando o lençol. Então lembrou da ultima parte do sonho antes de acordar, um ser com uma máscara com dois chifres empunhando Tensa Zangetsu e o atacando.

- Aquilo.. Era eu? – o rosto do garoto endureceu, lembrou do casal e a criança, as milhares de famílias mortas, da cidade destruída. E então, de seus amigos e sua família.

Deitados e imóveis. Sem respiração.

Não acreditava que poderia ter feito aquilo. Como ele machucaria as pessoas que gosta? Mas então lembrou de sua luta contra Ulquiorra, que depois de acabar brutalmente com seu inimigo ainda machucara Ishida.

Ele apertou seus punhos e praguejou.

- Que espécie de monstro eu sou?