Hermione não conseguiu dormir naquela noite, suas dúvidas perturbavam a todo momento, lembrou-se dos meses em que já trabalhava ali, do fim de semana com Draco, da época da faculdade, de todos que haviam maltratado. Reconheceu que tinha medo. Medo de se envolver demais, de sofrer demais, de mostrar quem era, de revelar o que sentia. E como sentia... Cada vez que o via, seu coração queria saltar pela boca, suas mãos ficavam trêmulas, um calor espalhava-se por seu corpo.

Essas dúvidas se arrastaram por dias, semanas. Cada vez mais e mais difícil olhar para si mesma, ver seu reflexo no espelho era doloroso, encarar Draco se tornava impossível vendo-o sair com todas aquelas mulheres. E o pior era ter que comprar presentes para elas, marcar os jantares e encontros.

Sentada perto da janela, sentindo a chuva fina que caia sobre a cidade, ela tomou duas decisões: voltaria a ser ela mesma e só por enquanto, tentaria não sentir. Só por enquanto.

Antes que Nott entrasse em sua sala, Hermione o cercou:

_Quero mudar, me tornar mais sofisticada. E preciso da sua ajuda.

Ele piscou os olhos rapidamente:

_Eu ainda não acordei, é isso. A dona “não ligo para moda” quer minha ajuda para se tornar sofisticada.

_Não está sonhando e estou falando sério. Vai me ajudar?

Ele cruzou os braços, a avaliou de cima a baixo batendo um dos pés no chão. Ela não estava agüentando aquele silêncio e começou a ficar impaciente. Nott deu um longo suspiro:

_Ok. Não será uma tarefa difícil. – pegou ela pelo braço e começou a praticamente arrastá-la pelos corredores. – Vamos começar imediatamente.

Pegaram o elevador e quando chegaram ao andar, Hermione não acreditou no que viu: um andar inteiro lotado de araras de roupas, prateleiras cheias de sapatos e outras coisas.

_Seja bem vindo a uma das maiores concentrações de moda de Nova York! Aqui se respira moda, se sente moda, são metros quadrados cobertos por moda, por isso, seja bem boazinha e feche a boca. Esse seu queijo caído não fica bem em você. – e saiu andando por entre as roupas.

Nott era perito em moda, já havia trabalhado para algumas das revistas mais famosas e estava ali somente em consideração a Malfoy. Suas mãos pareciam se mover sozinhas, pegando roupas, escolhendo, devolvendo para os cabides ou jogando nos braços de Hermione. Após escolher um pequeno monte de roupas, sapatos e acessórios, olhou para ela:

_Então, sabe como combinar as roupas, ou precisa de ajuda nisso?

_Não se preocupe, já tive minha fase de fashionista antes de entrar na faculdade.

_E por que abandonou? – perguntou incrédulo. – Essa é uma fase que nunca se deve abandonar.

_Longa história, outro dia te conto.

_Não, vai me contar hoje, enquanto dão um jeito neste seu cabelo mal tratado. Vamos logo! – e a arrastou de novo pelo prédio.

Enquanto mexiam em suas unhas e seu cabelo estava sendo hidratado, Hermione contou a Nott sua história.

_E por isso se tornou uma baranga? Faça-me o favor, senhorita Granger, tente arrumar uma desculpa melhor para se justificar.

_Ei, dá para parar o sermão? Estou disposta a mudar, não?

_Está. – disse meio a contragosto. – Mas ficarei de olho, para ter certeza.

Uma hora e meia depois de chegar a editora, Hermione enfim chegava ao escritório  de Draco. Mesmo atrasada, havia chegado antes de seu chefe e Pansy, então se pôs a organizar a mesa dele.

Draco chegou cedo para seu horário normal, estava de mau humor como em todos os dias, só queria sentar-se em sua mesa e gritar com alguém. Mas estancou na porta de sua sala. De costas para ele havia uma mulher aparentemente bela, porém, seu queixo caiu quando ela se virou. Ele a via ali, mas poderia mesmo ser Hermione?

Ela percebeu o olhar de surpresa dele e sorriu levemente:

_Bom dia, Sr. Malfoy. Sua mesa já está pronta, se me der licença, confirmarei sua agenda de hoje.

_Faça isso.

Ela já se retirava quando ele a chamou:

_Ah, Granger?

_Sim?

Ele ainda estava sem palavras:

_Ficou bem assim.

_Obrigada. – e retirou-se.

Quando sentou-se em sua mesa, pode respirar aliviada, mas só o suficiente até que Pansy apareceu a porta e com a mãona cintura, disse:

_Olha só quem resolveu se render a moda e ao glamour! – aproximou-se de Hermione, inclinou-se sobre a mesa e deu um beijinho no rosto da castanha. – Parabéns, linda. Ficou muito melhor assim. – e dizendo isso, foi para sua mesa começar as suas tarefas.

Isso surpreendeu Hermione que ficou sem palavras. Mas logo a confusão se desvaneceu, já que ambas estavam cheias de trabalho.

No horário do almoço, Luna subiu até o escritório superior e teve que respirar fundo quando viu Hermione: ela estava linda, com cabelos meio presos, saia gode até o joelho, blusa com leve decote e definindo as curvas de seu corpo. Um arrepio passou pela espinha de Luna, algo parecido com ódio e aversão, mas recuperou-se a tempo de disfarçar para quePansy não percebesse. Sorriu afetadamente para Hermione:

_Você está bonita.

_Obrigada! – agradeceu com um sorriso timido.

_Então, Pansy, vamos? Estou com fome hoje e cansada do escritório.

Pansy levantou uma sobrancelha, estava estranhando o comportamento de sua companheira, mas deixou quieto:

_Ok. Vamos. Adeuzinho, Granger. Cuide bem do chefinho até eu voltar. – e lançou um beijinho com as pontas dos dedos.

Durante a tarde, Nott resolveu visitar Draco em sua sala:

_Já viu minha obra-prima, meu amigo?

_Não entendi, Nott.

_Oras, a menina Granger.Ou vai me dizer que não reparou no quanto ela ficou sensual com aquela roupa?

_Não tenho tempo para ficar reparando nas roupas que minhas subordinadas vestem, Nott. Não é meu trabalho.

_Haha. Vai me dizer então que seu trabalho é dormir com elas? Ou melhor, com ela...

Draco bateu com o punho na mesa:

_Feche essa porta agora, Nott!

Nott fechou a porta com um sorriso irônico no rosto.

_Como soube? – Draco respirou fundo. – Ela te contou foi?

_Não preciso que alguém me fale, Draco. Até parece que não me conhece. Eu pego as coisas no ar, fora que já vi seus olhares cobiçosos para cima dela.

_Mas não quer dizer que algo tenha acontecido.

_Eu só tinha suposições, mas agora tenho certeza. Sua reação era exatamente o que eu esperava.

Draco começou a rir:

_Você conhece tão bem que chega a assustar. E se quer mesmo saber, sim, ficamos juntos por um fim de semana, mas depois, ela fingiu que nada aconteceu.

_Posso até compreender a posição dela, Draco.

_Posição dela? Posição dela em que? Em ser uma criança e fugir de algo que aconteceu? Não é convicção, é imaturidade.

_Você que não a conhece. Dormir com uma pessoa não significa conhecê-la, significa apenas que a deseja, e isso não basta para julgá-las.

_Está filosofando muito, Nott.

_Oras, meu amigo, sempre fui filosofo. De moda, mas sou. – e ambos riram. – Mas falando sério, Draco, porque não tenta compreender o lado dela ao invés de só pensar e seu orgulho ferido.

_Não estou agindo assim por causa de orgulho! – exaltou-se Draco.

_Como se eu não te conhecesse... Somos amigos desde a infância, sei que faz isso por orgulho. Talvez seja a hora de você voltar a ser quem era, meu amigo.