Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 18
Um jogo para dois


Notas iniciais do capítulo

Outro...



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Se você já esteve cara a cara com um ciclope enfurecido que segurava seu pescoço com o máximo de força que ele tinha, então você sabe como eu estava me sentindo. Ele estava prestes a me matar, e eu ( é claro ) não queria aquilo.

Não tinha forças para lutar, ou fazer nada. Meus pés se mexiam inutilmente no ar tentando acertá-lo, mas passavam muito longe.

"Não adianta!" Ria ele. "Você já era agora!"

Nossa... Quantas vezes eu já tinha ouvido aquilo? Eu reagi do único jeito que eu pude. Juntei todo o resto de ar que tinha nos meus pulmões e assoprei o olho dele. Como ainda estava irritado e vermelho, aposto que aquilo deve ter doido.

"Argh!" Rugiu ele.

Ele me lançou com toda a sua força para longe, enquanto usava as mãos para limpar o olho. Eu bati rudemente contra a parede e caí em um sofá. Tudo estava girando. O lugar ficou mais escuro, e depois clareou de novo. 

"Ah... Isso deve ter sido só um sonho..." Murmurei, enquanto não enxergava nada.

"Não apostaria nisso." Falou Ares do meu lado no sofá. Eu olhei para ele depressa e vi que ele parecia totalmente calmo, enquanto tomava mais alguns goles de sua bebida. 

"Ei! Enche mais um!" Exclamou para o barman.

"Seu...!" Eu estava prestes a xingá-lo dos piores nomes que eu conseguia me lembrar, quando o meu pé foi puxado brusticamente pelo ciclope. "Ah!" 

Ele me atirou na parede oposta com tanta força quanto da outra vez, mas dessa eu fui mais esperta. Assim que bati contra a parede, tentei me por de pé para esperar o próximo movimento e não ser pega de surpresa. Consegui. 
Observei ele chegar perto mais perto e com um olhar cheio de fúria. E vermelho, é claro. Muito vermelho. 

Ele levantou a mão e tentou me dar um soco, mas eu consegui desviar no momento certo. Eu corri na direção oposta e peguei a minha bolsa no chão. Eu pensei: "Um arco e flechas, e rápido!" e tcharam! Lá estava.
Eu tirei um arco da bolsa e as flechas ficaram lá. Eu peguei uma e mirei no ciclope. Tentei fazer o mesmo que tinha feito no treino com Apolo. Eu mirei o melhor que pude ( já que o bar só era iluminado por aquelas estúpidas luzes de neon) e soltei. A flecha acertou o trasseiro do ciclope e ele berrou de dor e raiva.

"Aaaah! Maldita seja!" Exclamou ele.

O cilcope resmungou algumas coisas para mim que eu aposto que não eram elogios em grego nem nada, e continuou vir na minha direção. Eu não sabia mais o que fazer... Como poderia vencer um brutamontes como ele?
Eu tentei correr, mas pensei de novo. Não poderia ir a lugar nenhum sem que ele me pegasse. Foi aí que tive uma ótima idéia. Eu corri para frente do sofá que Ares estava e fiquei de costas para ele, enquanto o ciclope se aproximava cada vez mais.

Pude sentir que Ares não tinha entendido o meu plano. Ele ficou parado me olhando com curiosidade tentando adivinhar o meu próximo passo. Coisa que eu esperava que ele não conseguisse fazer.

"Ah não! Estou totalmente indefesa e encurralada aqui! O que eu vou fazer agora?" Perguntei fingindo preocupação para o ciclope. Ele caiu nessa.

"Ha! Sua tonta!" Riu ele triunfante. "Você provocou sua própria derrota!"

Eu sempre pensei qeu ciclopes fossem burros, mas nunca achei que seriam tanto assim. Eu revirei os olhos. Ele estava avançando em passos desajeitados. Eu olhei diretamente para o ponto onde queria estar. O balcão do bar. Fechei os olhos, desejei e assim que o ciclope deu um soco, não era eu que estava lá mais.

"Seu idiota! Imbecil! Cego!" Rugia Ares ao ser atingido pelo soco. "É para acertar ela, e não eu!"

O ciclope pareceu ficar confuso. 

"Mas... Você não é ela?" Perguntou o ciclope analisando Ares, e tentando descobrir se ele não era uma garota. Eu ri. Não pude evitar.

Ares ficou vermelho de raiva. O Deus da guerra, confundido com uma garota? Aquilo deve ter atingido ele mais do que o soco. Ele apertou o copo tão forte na sua mão que ele quebrou em mil pedacinhos. O próximo seria o ciclope, se Ares não quisesse que ele lutasse comigo.

"Vá atrás dela agora." Exigiu Ares apontando para mim. "Ou eu arrebento a sua cabeça e esmago o seu minúsculo cérebro com a sola do meu sapato!"

O ciclope estremeceu e olhou para mim. Estava irritado novamente, e parecia ter um novo motivo para lutar.

"Vou destruir você, fraca semideusa!" Exclamou ele.

"Já estou cansada..." Reclamei apontando a flecha para ele. "Das pessoas me chamarem de fraca!"

Eu atirei a flecha e ela o acertou bem no meio do olho. Ele rugiu de dor e desapareceu em uma núvem de poeira amarela, que deixou Ares em um tom brilhante de dourado.

Ele revirou os olhos e resmungou alguma coisa. 

"Sua sorte não vai durar para sempre, Kelly." Falou ele. "Mas enquanto você não morre... Eu assisto uma boa luta."

"Já falei que não sou nenhum tipo de entretenimento." Protestei pulando de cima do balcão e caindo em pé. "E se você pensa que...!"

Senti como se alguém tivesse me dado um soco no estômago. Por um segundo pensei que tivesse sido ele, mas Ares não tinha movido um músculo. Então eu senti novamente todas as veias do meu corpo arderem. Aquela dor foi quase insuportável. Eu cambaleei para trás e me sentei em um dos bancos do bar. A dor passou. Eu respirei fundo e olhei em volta. Nenhum dos outros motoqueiros tinha sequer olhado para cá. Nenhum deles tinha percebido a briga, o que eu achei muito estranho.

"Isso só vai piorar. Mas acho que sabe disso." Falou ele. Eu levantei os olhos para olhá-lo e ele continuou. "Essa sensação é a energia correndo pelo seu corpo. Vai aumentar a medida que você acaba com eles. E, é claro, vai atrair mais monstros. Isso é claro se você não morrer antes."

"Tudo isso..." Eu murmurei sem força. "Por que você é um mau perdedor."

Seus olhos arderam, mas isso logo passou.

"Na verdade... É porque eu estava entediado." Ele olhou para o barman. "Mais um. E capriche."

Se eu fosse o barmam cuspiria no copo enquanto ele estivesse distraído, mas isso não vem ao caso. Nesse momento eu me toquei de uma coisa. O barman ficou ali o tempo todo enquanto eu estava lutando. Ele viu o ciclope, me viu com um arco e flecha, e viu o monstro virar pó bem ao lado de Ares.

"Aqui." Ele olhou para mim com a mesma expressão desinteressada de antes. "Tá olhando o que?"

Eu pisquei.

"Você... Não viu nada, não é?" Perguntei. "Digo... O que aconteceu aqui..."

"Olha. Eu trabalho nesse lugar há um tempo. Já vi muitas brigas, e essa não me surpreendeu em nada." Falou ele limpando o mesmo copo de antes. "E daí que você tem uma arma? Muita gente aqui também deve ter."

Ares fez um barulho. Eu me toquei o que ele queria dizer.

"Claro." Falei. "A névoa. Ele acha que eu tenho uma arma. E... Foi você que fez isso."

"Será que você é incapaz de me dar o benefício da dúvida?" Perguntou ele fingindo estar ofendido. "Bem. Sim. Voc~e está certa."

Eu revirei os olhos. 

"Eu não quero nem saber."  Falei. "Me deixe em paz, e me diga como voltar para casa."

"Deixar você em paz?" Ele repetiu. "Garota tola. E como acha que eu vou me divertir nas férias? Assistindo TV? Já disse para você. Lutas de verdade são bem mais interessantes, e já que você está com um novo professor... Vamos ver no que isso dá."

"Férias..." Repeti pensativa. "Se você vai continuar com isso só durante as suas férias... Então não deve durar muito."

Ele encolheu os ombros.

"Não." Concordou. "Só uns 50 anos."

"50 anos?!" Exclamei. "Como assim você tem férias de 50 anos?!"

"Ei! Eu sou imortal, idiota. 50 anos para mim não é nada." Ele falou. "É como se você tirasse dois meses de férias."

"Mas para mim é demais! 50 anos?! Então... Só vou estar livre de você aos... 69?!" Eu não estava acreditando naquilo.

"Vamos nos divertir muito em família, não é mesmo sobrinha?" Sorriu ele.

Eu queria me matar. Como assim?! Eu mal estava aguentando os 2 meses que ele se mudou para a casa ao lado. Como ia suportar mais 50 anos? Argh!

"Não. Isso não vai acontecer." Eu falei levantando do banco. "Eu... Eu quero ter uma vida calma, e...!" 

"Devia ter pensado nisso antes de se meter comigo." Falou ele encolhendo os ombros.

O barman abafou um riso. E eu olhei para ele com raiva. Ele não devia estar entendendo nada da conversa, mas pode compreender que eu estava ferrada e isso bastou.

"Quero ir para New Jersey. Onde esse bar fica?" Perguntei.

"Eu tenho cara de guia turístico? Compre um mapa." Falou ele. Foi a vez de Ares rir.

Eu não tinha mais nem um pingo de paciência. Com um movimento rápido eu quebrei o grampo do meu cabelo transformando-o em uma espada. Encostei a lâmina da ponta do nariz dele. Ele parou de limpar o copo no mesmo instante.

"Que tal se eu desenhar para você?" Perguntei. "Bem no meio da sua testa. Aí você vai melhorar as suas noções geográficas?"

Ele engoliu em seco.

"Jersey!" Exclamei. "New Jersey. Para onde fica?" 

"E-É para a direita. É seguir reto, e-e-e vai achar o lugar." Ele gaguejou. Pela primeira vez eu pude notar que ele tinha mostrado alguma emoção em seu rosto. Estava morrendo de medo. Pena que eu não estava nem aí.

"Legal." Falei. "Você não viu nada, entendeu?" 

Ele assentiu e eu abaixei a espada. Ela voltou a ser um grampo e eu a coloquei novamente no cabelo. Ele voltou lentamente a limpar o copo, e eu me voltei para Ares. 

"Acha que é o único que consegue infernizar alguém? Isso é um jogo para dois." Falei.

"Oh! Estou morrendo de medo." Falou ele. "Vem com tudo, pirralha."

Eu estava esperando ele pedir. Olhei em volta. Todos os motoqueiros estavam distraídos, mas eu sabi de algo que iria chamar a atenção deles. Olhei para Ares usando todas as minhas habilidades teatrais.

"Haha! você é demais!" Eu ri e ele ficou sem entender. "Nem acredito que vai pagar uma rodada grátis para todo mundo que vier para o bar!

Nesse exato momento todos os motoqueiros olharam para Ares. Eles correram para o balcão do bar quase tão rápido quanto as suas motos correriam.

"Sua peste!" Exclamou Ares. "Eu te pego!"

Ele pulou para cima de mim, mas eu fui mais rápida e me joguei no chão. Ele bateu contra o banco que eu estava sentada e a multidão de motoqueiros o alcançou. Eles inventaram um nome para ele que eu acho que era Will. Todos eles começaram a cantar "Will é um bom companheiro, Will é um bom companheiro, Will é um bom companheiro, ninguém pode negaaaar!"enquanto davam tapinhas nas suas costas.

Eu engatinhei (literalmente) tentando sair da multidão sem ser esmagada. No chão eu notei uma coisa que não tinha visto antes. Era a chave da moto do ciclope. Quando ele explodiu ela deve ter caído. Normalmente eu não pegaria coisas dos outros desse jeito, mas o monstro tinha tentado me matar. E além do mais... Ele era um monstro. Então estava tudo bem.

Peguei a chave e saí da multidão. Eu sabia que não ia demorar muito para Ares se livrar daqueles mortais, por isso tinha que agir rápido.

Eu saí do bar rindo do que tinha feito. Já tinha pregado peças antes nas pessoas, mas nada comparado á essa. 

Olhei para a loja de colchão que ainda estava aberta do outro lado da rua. Algumas pessoas estavam dormindo sobre aqueles colchões, o que eu achei bem estranho. Mas eu tinha problemas maiores para enfrentar. 

Eu procurei desesperadamente a moto do ciclope, e posso dizer que não foi nem um pouco difícil achá-la. Ela era a única que tinha só um retrovisor. Por que será?

Eu subi nela, mas antes deu ligar a chave na ignição Ares fez com que as portas do bar se abrissem violentamente atrás de mim. Eu me virei e vi que ele estava bem irritado. E o melhor disso tudo é que eu não estava nem aí.

"Sabe o que eu vou fazer?" Perguntou rangendo os dentes.

"Pagar a conta?" Zombei.

Ele sorriu.

"Arrastar você até lá." Ele apontou com o queixo para a loja de colchões.

"Oh! Agora sou eu quem estou com medo." Fingi. "Aí o que? Vai cantar para eu dormir?"

"Para sempre." Completou ele para e minha surpresa. Eu franzi o cenho. "Vários colchões de lá são encantados por Morfeu, o titã do sono. Se deitar neles, você nunca mais acordar."

Não estava achando mais graça. Meus olhos se arregalaram e fitaram as pessoas deitadas lá. Elas dormiriam para sempre?! 

"Mas... Que horror." Eu murmurei. "Mas e aquelas pessoas?! Elas vão..."

"Nesse momento devia estar mais preocupada com você do que com qualquer um." Advertiu ele. 

Ele tinha razão. Embora doesse vê-las caindo em uma armadilha tão cruel, eu não poderia ajudar naquele momento. Fiz uma promessa a mim mesma de que voltaria lá depois para salvá-las. 

Eu liguei a moto e ela roncou.

"Isso se você conseguir me pegar, não é?" Desafiei.

Acelerei a moto e ela começou a ganhar velocidade, e muita velocidade mesmo. Por ela ser a moto de um ciclope, devia ser feita para suportar grande quantidade de peso. Só que eu comparada á ele, não era nem mesmo um saco de feijão. Ela era muito rápida, e acho que mágica também, pois se eu me inclinasse nem que fosse um centímetro para a direita ela me acompanhava. 

Foi aí que eu fui descuidada. Sabe... Eu adoro velocidade, e eu amo correr. E esse é o problema. Se eu corro demais, a adrenalina toma conta de mim. É como uma droga... Simplesmente viciante! Eu estava tão envolvida com aquela velocidade, que me esqueci completamente de Ares. Me esqueci do meu pai, de Apolo, de Afrodite, da minha mãe... Acho que não saberia nem mesmo qual era o meu nome se alguém me perguntasse. A única coisa que existia para mim era a rua vazia, o vento gelado soprando e levando meu cabelo para trás, e a doce, doce velocidade.

"Não tente fugir de mim!" Vociferou Ares. 

Ele surgiu do meu lado com a sua Harley.

"Sinto muito, tio. Mas você não manda nas corridas! Isso aí é comigo!" Eu exclamei.

Acelerei a moto que ficava cada vez mais rápida, enquanto Ares me seguia irritado. Mas pela primeira vez, eu não liguei. 



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Notas finais do capítulo

Já estava na hora dele levar o troco, não é?Mas será que ela consegue chegar viva em casa?Espero pelos reviews de vocês!Até o próximo.