In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 25
Última Prova


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem!



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P.O.V. 3ª Pessoa

Ainda estavam dormindo quando o buraco negro foi se formando aos poucos, mas a viagem pelo mesmo foi tão rápida que eles não acordaram, pelo contrário, continuaram a cabeça em seus sonhos enquanto o corpo físico repousava agora sobre uma grama macia.

Filipe acordou depois de algumas horas, o sol ofuscou seus olhos tão acostumados ao cinza, ele se levantou para analisar o local onde estavam, era apenas a parte de cima de uma colina, não era muito alta, mas de lá era possível ver uma parte de um pequeno vilarejo, lembrava aquelas vilas que apareciam em desenhos infantis.

— Bom dia! Good morning! Buen día! – Ele falou alto o suficiente para acordar os outros três.

— Shit. (Merda) – Tyler disse quando abriu os olhos. – Any idea? (Alguma ideia?)

—Just a village (Apenas um vilarejo)– Filipe respondeu

— Well, wait, what if it will be a calm day? No tragedies? After all, what can happen to a village? (Bem, espere, e se for um dia calmo? Sem tragédias? Afinal, o que pode acontecer a um vilarejo?) - Tyler falou com um sorriso otimista.

— It would be great, but don’t get too much optimistic, you know the luck that we have. (Seria ótimo, mas não fique muito otimista, você sabe a sorte que temos) – Isabelle disse sarcástica.

— She’s right, so, let’s explore? (Ela está certa, então, vamos explorar?) – Rosa disse e todos assentiram. Eles desceram a colina calmamente, as pessoas das ruas estavam sorrindo, eles escutaram dois homens falando em espanhol e Rosa entrou em uma padaria para ter mais informações.

— Hola, buenos días, perdona que te moleste, pero mis amigos y yo estábamos tomando un viaje y que perdí hace unos días, puede usted por favor nos dicen dónde estamos y qué día es hoy? (Olá, bom dia, desculpe incomodar, mas eu e meus amigos fomos fazer uma viagem e estamos perdidos há dias, você pode por favor nos dizer onde estamos e que dia é hoje?) - Rosa perguntou a um homem de bigode atrás do balcão.

— Claro señorita, usted está en Guernica, y hoy en día es el 26 de abril de 1937, hay algo más que pueda hacer para ayudar? (Claro senhorita, vocês estão em Guernica, e hoje é 26 de abril de 1937, há algo mais que eu possa fazer para ajudar?) – Ele disse com um sorriso solidário.

— No, gracias. (Não, muito obrigada.) – E ela saiu da padaria, mas assim que a porta se fechou atrás dela, Rosa caiu no chão e começou a chorar. Tyler correu para perto dela, colocou-a nos braços e com os outros atrás, seguiu de volta para o topo da colina. Filipe e Belle haviam conseguido algumas maçãs nas árvores enquanto Rosa estava na padaria, eles dividiram entre os quatro. Após vários minutos, Rosa finalmente se acalmou.

— Te equivocaste (Você estava errado) – Ela falou olhando para Tyler. - Nunca vamos a tener un día tranquilo. (Nunca vamos ter um dia calmo)

— ¿Cómo es eso? ¿Qué encontró? (Como assim? O que você descobriu?) – Tyler perguntou.

— Estamos en Guernica, 26 de Abril de 1937. Sepa lo que le pasa a esta ciudad en un par de horas? Un bombardeo de la aviación alemana. Más de un millar de personas morirán por ellos testar si el maldito avión funciona. ¿Sabes qué? Voy al centro del pueblo, a lo mejor no voy a morir pronto y todo termina? (Estamos em Guernica, dia 26 de abril de 1937. Sabem o que acontece com essa vila em algumas horas? Um bombardeio de aviões alemães. Mais de mil pessoas vão morrer para eles testarem se a porcaria dos aviões funcionam. Quer saber? Eu vou lá para o centro da vila, quem sabe eu não morro logo e tudo acaba?) – Ela falou e voltou a chorar.

— Cálmate, cálmate, no te vas ahí abajo, vamos a salir de aquí, ¿de acuerdo? No podemos cambiar la historia. (Calma, calma, você não vai lá em baixo, vamos ir embora daqui, ok? Não podemos mudar a história.) – Tyler disse e a abraçou. Belle estava olhando fixamente para a vila.

— Por que estás com olhos de vidro? – Filipe perguntou para Belle.

— O que é isso? – Ela perguntou.

— É quando você está prestes a chorar, se forma aquela parede de lágrimas em seu olho, mas nenhuma quebra o vidro até que você pisque algumas vezes. Eu gosto de olhos de vidros, as pessoas ficam bonitas com eles. Inventei esse nome quando era pequeno.

— Eu gostei. Eu acho que nós devíamos fazer alguma coisa, não podemos ficar sendo enviados de tragédia pra tragédia apenas para observar e sofrer. Poderíamos começar a evacuar a cidade agora. – Isabelle sorriu e enxugou uma lágrima que corria pela sua bochecha.

— As pessoas não iriam acreditar na gente, iriam dizer que somos loucos que fugimos do sanatório. Todos iríamos acabar morrendo. – O português disse.

— É, você tem razão, vamos embora. – Isabelle disse e voltou para perto de Rosa e Tyler. – Vamos?

— Belle. – Filipe chamou, agora quem estava com olhos de vidro era ele.

— O quê? – Ela se virou e se deparou com o português olhando para o céu.

— Eles chegaram. – Vários aviões estavam se aproximando rapidamente, alguns mais distantes entre si, mas outros em formação de V. Eles possuíam o símbolo do nazismo pintado nas suas laterais. Era o fim.

Os quatro saíram correndo para o lado oposto ao da vila, sentaram-se quando estavam cansados demais para prosseguir. As bombas faziam o chão inteiro tremer, como uma espécie de terremoto, só que muitas vezes pior. Os quatro estavam abraçados, tentando não escutar os gritos e choros desesperados, as bombas, os aviões, tentando – em vão -  não pensar nas vidas sendo levadas. Rosa estava em uma crise consigo mesma, sempre idolatrou a Espanha, afinal, é o seu país, ela já havia estudado em história, sabia das tragédias, mas viver e ler algo são coisas completamente diferentes. O povo sofreu muito mais do que ela jamais imaginou, e não só aqui e agora, mas por toda a história de todos os países que visitou nas últimas semanas. Ela com certeza devia agradecer mais pelo que tem, ou pelo que tinha na sua antiga vida.

Quando tudo ficou em silêncio por um tempo, eles se levantaram, mas outra esquadra de aviões já estava a caminho.

— WE HAVE TO GO AWAY! (PRECISAMOS IR EMBORA!) – Tyler gritou quando viu a nova esquadra se aproximando. – COME ON, THEY WILL DESTROY US IF WE STAY. (VAMOS, ELES VÃO NOS DESTRUIR SE FICARMOS) – Ele se levantou, colocou uma Rosa em prantos nas costas e começou a correr, mas logo parou ao perceber que corria sozinho, acenou para Filipe e Belle, os dois foram até ele e logo todos estavam correndo o mais rápido que podiam. E, pela primeira vez na vida, as meninas desejaram serem surdas para não ouvir as bombas e os gritos, cada explosão era um aperto no coração, mas o que podiam fazer? Nada, apenas correr para longe. Após algum tempo, a brasileira despencou na grama, não aguentava mais subir e descer colinas.

— FILIPE, TAKE HER! (FILIPE, LEVE ELA!) – Tyler gritou mais alto que as explosões. Filipe colocou a brasileira nas costas e assim foram os dois homens correndo, depois de mais ou menos dois quilômetros o português não aguentava mais.

— Tyler… please… let’s..stop. (Tyler…por favor…vamos..parar)– Filipe falou sem folêgo, colocou a brasileira na grama e se sentou. As bombas eram ouvidas quando o silêncio dominava, o que acontecia frequentemente.

— Ok, just for a while. (Ok, mas só por um tempo) – Tyler colocou Rosa ao lado e logo todos estavam sentados juntos. Suados, com mais sede do que fome e, com exceção de Tyler, exaustos.

— Entonces, ¿qué hacemos ahora? (Então, o que fazemos agora?) – Rosa perguntou.

— Podemos dormir, voltar ao cinza. – Filipe disse.

— No, I have a better idea. (Não, eu tenho uma idea melhor.) – Tyler disse e se levantou. – It’s with you! (Está com você!) – Tocou as costas de Filipe e saiu correndo como um garoto pequeno. Filipe se levantou sorrindo e correu atrás de Tyler. Quando percebeu que não conseguia alcançá-lo voltou para perto das garotas, tocou Isabelle, ela tocou Rosa e assim por diante, todos estavam brincando de pega-pega como se nada nunca tivesse existido, nem as explosões, nem o quarto cinza, nem nada, eles eram crianças de novo, crianças felizes que não cresceram para ver um mundo amargurado e se conformar com ele ao invés de tentar lutar.

Contudo nem tudo que é bom dura para sempre, após algumas horas eles ficaram tão exaustos de subir e descer colinas correndo que se reuniram debaixo de uma árvore e lá dormiram, mesmo que o sol ainda estivesse no céu, apenas estavam cansados em demasia para apreciá-lo e mais cansados ainda para continuar fingindo que esqueciam a dor dentro de si dos sons de bombas que ressoaram por boa parte do dia.

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Filipe acordou no quarto cinza, mal sabia ele que esta seria a última vez que acordaria no mesmo. Ele se levantou da cama e se sentou no chão para esperar os outros. Isabelle se juntou a ele em pouco tempo.

— Bom dia. – Ela disse.

— Bom dia. – Filipe respondeu. – Sabe, será que um dia nós voltarmos iremos nos encontrar?

— Caso algum dia nós sairemos daqui, acho que poderíamos sim, mas como?

— Bem, parte do meu nome é Filipe Pedro Braga, meu pai é um grande empresário no ramo dos terminais de carga do Porto de Lisboa, acho que dá pra conseguir algo na internet sobre mim.

— Ok, eu sou Isabelle Neves Costa, mas não há nada demais sobre mim, São Paulo é uma grande cidade. – A brasileira disse e Tyler acordou.

— Hey guys, whats up? (Ei, gente, o que está rolando?)

— I was just asking that if we came back, how we could meet each other. (Eu estava apenas perguntando que se nós voltarmos, como encontraríamos um ao outro.) – Filipe disse.

— Oh, well, I’m Tyler Masen, but I think we won’t. (Oh, bem, sou Tyler Masen, mas não acho que nós iremos.) – Tyler disse.

— We won’t what? Come back or meet each other? (Nós não iremos o que? Voltar ou encontrar uns aos outros?) – Belle perguntou.

— I don’t know. (Eu não sei). – E se calaram até Rosa acordar.

— Hola gente, como estan? (Olá gente, como estão?) – Ela perguntou.

— Bueno, ¿cómo es tu nombre completo? (Bem, como é seu nome completo?) – Filipe perguntou.

— Es muy grande, Rosa Martins Costa Fiore, ¿por qué? (É muito grande, Rosa Martins Costa Fiore, por que?)

— Sólo estaba pensando en como nos encontraríamos si alguna vez volvemos. (Só estava pensando em como nos encontraríamos se algum dia voltássemos.) – Filipe disse

— Oh, ok. – Rosa disse e todos ficaram em silêncio até que o alarme tocou, ele não tocava há muito tempo, mas dessa vez seu anúncio os deixou num misto de medo e esperança.

PREPAREM-SE PARA A ÚLTIMA PROVA. PREPARA-TE PARA A ÚLTIMA PROVA. PREPÁRATE PARA LA ÚLTIMA PRUEBA. GET READY FOR THE LAST TEST.

E, logo em seguida, a mesma voz disse uma palavra, que na verdade foram três, só que ao mesmo tempo e com o mesmo significado. AGORA. AHORA. NOW. E todos os quatro caíram no buraco negro que se formou imediatamente, só que dessa vez, seus corpos encontraram um chão metálico frio. Tudo era cinza, mas eles não conseguiam enxergar até onde se estendia seja para frente ou para cima, ou seja, não se via chão ou teto, apenas um cinza infinito.

— Qué diabos? (Que diabos?) – Rosa murmurou. Ela estava dentro de uma espécie de cesta de metal quadrada. Os outros também estavam em cestas que mais pareciam gaiolas que deixavam apenas suas cabeças para fora. Tyler estava à sua direita, Filipe à esquerda, e Isabelle do outro lado de Filipe. Novamente a porcaria da ordem de idade. As gaiolas pareciam ter sido feitas exatamente para cada um, na medida perfeita. Perfeita demais. Filipe podia escutar seu coração querendo sair do peito. Mas do nada um número gigante de cor preta se destacou em meio aocinza. Era um 5, que logo virou 4, depois 3, 2 e por fim, 1. Todo o cinza do chão se tornou vermelho, e do nada as cestas começaram a se encher de água. Quatro cordas em formato de escada se formaram no “céu” em cima de cada um. E sons horrendos ecoavam pelas paredes. Antes de poderem até mesmo gritar, o vermelho do chão se tornou mais escuro e de aparência pegajosa, mas a pior parte foram os corpos que dele emergiram. Milhares de corpos estranhos boiando numa mistura de sangue. Mas apenas quando esse líquido avermelhado alcançara seus joelhos foi que começaram a escalar a corda em cima de si.

 Estavam em pânico, mas conseguiram escalar o suficiente para ficar em pé em cima da gaiola, viram que o céu de todo aquele lugar horrendo estava daquele mesmo tom de roxo do conhecido buraco negro. Todavia assim que cada um segurou novamente na escada-corda, o buraco negro do teto começou a jorrar pedrinhas, que vez ou outra batiam nas cordas e as cortavam um pouco ou lhe arranhavam a pele.

Que ótimo dia para não ter tomado café da manhã. Foi o que Isabelle pensou ironicamente e, assim como os outros três, começou a escalar as escadas com as mãos. Apenas pensavam que deviam terminar, chegar ao fim, só assim tudo não teria sido em vão.


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Notas finais do capítulo

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