Before Your Wings Fall Out escrita por guilhermy


Capítulo 4
Capítulo IV - Sand


Notas iniciais do capítulo

Voltando depois de séculos, acho que é pra valer. Beijos me abracem, n.



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  Tokyo é uma cidade muito calada do terraço.

  Ele estava de olhos fechados, fechados. Seus pés estavam descalços sobre a beirada do edifício. Como é gelado daqui de cima. Sua boca, num movimento frenético e incessante repetia palavras aleatórias que, soltas no vento não iriam ser ouvidas por ninguém. Havia também um longo pano azul, cujo começo era desconhecido, entretanto, se sabia que este terminava em seu pescoço, atado a ele, preso a ele.

  Em seu corpo estavam dispostos tecidos negros mal-arranjados que em conjunto formavam uma sultuosa capa – e era tudo que estava vestido. Amarrado a suas costas, duas shotguns curtas que carregava arranjada cruzadamente, dentro de uma sacola de couro, que, ao contrastar com seu sobretudo, lhe dava a aparência de uma espécie de caçador de recompensas.

  O homem nigeriano se aproximou. Os olhos claros se destacavam na pele escura do decaído. Os passos apertados o faziam passar despercebido por ali, o que era inútil, pois o transe de Zachary se estendia numa interminável fração de tempo, e ninguém sabia há quanto estava naquele lugar.

  - Eu sempre te acho – disse o africano enquanto lentamente se aproximava – é impressionante.

  E irrompendo do vazio os dois grandes olhos azuis se abriram simultaneamente, como se a voz do rapaz servisse de um martelo que quebrara seu sono estarrecedor. A claridade não o incomodara.

  - Me parece que está sendo ineficiente – e fez uma pausa – em me matar – o loiro disse sem olhá-lo. Mais um passo e cairia.

  - Vai ser a última vez – e puxou um revólver cuja luzinha insistente apontava para a cabeça do menor. O inglês por sua vez, girou nos calcanhares – fazendo parecer fácil o equilíbrio exigido – exibindo um largo sorriso e com as mãos levantadas.

  - Atira.

  E as asas se abriram – eram cinza como fumaça; E respirou fundo; E deu um passo para trás; E acenou com os dedos; E caiu. Lentamente.

  Caiu.

  E foi caindo, caindo como um pombo que acabara de ser abatido – e que de fato não fora pois a este momento Damian estava pasmo, de braços esticados no parapeito tentando entender o que diabos aconteceu ali. Agora os panos se misturaram a uma velocidade supersônica deixando o britânico num emaranhado de tecidos. Sono. Ele não se importava se iria sobreviver, ele respirava com desdém. Ele via a vida com desdém. O pano azul se esticava na velocidade como se desenrola um carretel. Aquilo provavelmente não faria diferença, porque, ao que parecia era interminável. Interminável.

  E o barulhinho irritante ia diminuindo ao mesmo tempo em que a distância de colisão ia terminando. As asas iam perdendo penas, e estas inertes no ar. Você vai bater. A mulher comentava com os olhos fixo nele, sem se mover.

  E assim ia o fazendo. Ia. Porque prestes a chegar ao chão, prestes a colidir com a multidão que caminhava paralelamente ao rapaz suicida. Ele parou. Parou. Parou mesmo.

  Como se tivesse mergulhado em água, a poucos metros do chão o último grão havia chegado ao outro lado, e por assim sendo, o tempo parou, congelou, e ficou deste jeito. Gelado.

  Mas a mulher não. A mulher encarava-o com voracidade e desprezo. Como se quisesse retira-lo daquele novo transe e ao mesmo tempo apreciasse o estado em que estava.

  Ele abriu os olhos. Abrir os olhos já estava virando habitual depois te tanto tempo.

  - Quem é você? – ele perguntava desesperado enquanto se debatia, rodando por conseqüência no ar.

  A mulher ficou calada, porque, ora, não iria respondê-la.

  - QUEM  É VOCÊ DROGA?! – ela continuou em silêncio. Diante disso o rapaz retirou a arma de suas costas, e já ia apontando para a ruiva quando esta, num súbito golpe, arrancou-lhe a shotgun da mão, puxou-lhe pelo braço, e colada a ele, juntava o cano junto a sua cabeça, prestes a atirar.

  - Escuta aqui, senhor Brown – ela dizia pausadamente, com a fala apertada entre os dentes – Você irá cair, e quando cair, irá voltar ao tempo em que estava. E quando voltar, as coisas irão mudar – e continuou – Natalie lhe colocou numa confusão muito grande meu rapaz. Uma confusão muito grande.

  E assim que ela terminou de falar, um rompante de areia veio de todos os lados da cidade, atravessando prédios, pessoas, carros, e tudo o que havia pela frente, ele continuou parado no ar, e já sentia que a mulher não lhe segurava mais o braço.

  Silêncio. Escuro. Silêncio. Escuro. Silêncio.

  - ZACHARY! – uma voz ecoando ia diminuindo em sua cabeça. Os ecos lhe dão medo.

  E num baque miserável bateu finalmente ao chão. Toda aquela velocidade acumulada ao longo da primeira queda estava ali, e a força também. Era plausível que seu corpo estivesse espalhado, esfarelado em órgãos a essa hora, mas não estava. Talvez isso fosse um efeito colateral do ritual. Aquele ritual.

  - O senhor está bem? – uma garota tocou os dedos em seus ombros, que não deixavam mais as suas asas a mostra, pelo contrário, o homem estava de terno, entretanto sua barba ainda estava lá. Os óculos estavam quebrados. Ele não entendia – O senhor está bem? – repetiu.

  Nunca olhe para a portadora de uma voz familiar. Principalmente se essa voz for de sua ex-namorada morta.


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Notas finais do capítulo

Enfim, espero que gostaram. Beijos, beijos mil beijos. Capítulo Cinco, desenvolvimento do "por que minha ex-namorada está viva?" e etc.



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