Preocupação.

É isso que eu estou sentindo agora, nesse gelado trem que está me levando de volta à Death City. Não com o que acontecerá comigo, sei como me cuidar, mas sim com o que está acontecendo com as pessoas ao meu redor, tanto aqui ao meu lado quanto lá no Shibusen. Exatamente porque as únicas pessoas que sabem de minha missão são Chichiue, Liz e Patty.

Não avisei a ninguém sobre isso. Nem Maka, nem Soul, nem Black Star, nem Tsubaki, nem os professores e muito menos Chrona.

Eu me sentiria muito pior se eu contasse para Chrona sobre a missão, partisse e a deixasse preocupada comigo. Por isso, pretendo somente contar à ela quando eu já estiver em Death City, são e salvo, mas tenho certeza de que três dias de ausência tenha sido o suficiente para perguntarem de mim ao meu pai e ele contar o que está acontecendo.

Eu nunca tinha reparado muito em Chrona antes. Na verdade, antes ela me parecia repugnante e detestável. Pensar que ela buscava poder por meio de almas humanas por puro medo me dava raiva, mas admito que fiquei feliz ao vê-la purificada e matriculada na escola de Chichiue. Feliz ao ver Chrona se esforçando para ajudar com os objetivos da escola, procurando missões para fazer e prestando atenção nas aulas, mas eu, como filho do diretor, queria ver ela tirando notas melhores.

Então, me aproximei dela.

Tentei fazê-la utilizar outros materiais para estudar, além das anotações de Maka. Também tentei fazê-la pegar missões menos complicadas do que as que ela costumava pegar, expliquei à ela que ela não precisava se esforçar tanto para receber mérito, que as coisas no Shibusen não funcionam como Medusa fazia funcionar a vida dela. Mas muitas vezes me irritei com a postura e os cabelos assimétricos de Chrona e começava a gritar.

Nunca antes em minha vida eu tinha me empenhado tanto para ajudar alguém, muito menos uma menina como Chrona, que antes era vista como inimiga. O pior disso tudo é que passei a realmente gostar de ajudá-la, gostar de estar em sua companhia. Passei a gostar de tudo nela, por mais que fosse assimétrico.

Me deixava muito satisfeito quando Chrona chegava sorrindo timidamente e gaguejava para mim que ela tinha tirado uma boa nota ou tinha completado uma missão sem ouvir nenhum comentário inconveniente ou indesejável de Ragnarok. Ficava feliz de ver que o que eu tinha feito por ela estava dando frutos!

Mas, desde o dia em que ela passou um dia numa missão e voltou chorando e mancando porque havia machucado a perna durante a luta, tenho sentido uma enorme necessidade de protegê-la. Passei a pegar missões mais difíceis, para evitar que Chrona as pegasse. Mas agora, ao ver Liz e Patty tremendo de frio e machucadas sentadas no banco a minha frente, percebo que foi um erro bobo. Percebo que o que eu deveria ter feito era somente avisar Chrona de que ela não deveria escolher missões como aquelas e deixar que algum Death Scythe fizesse o trabalho.

E agora, também percebo que onde quer que Chrona esteja é o meu lugar, que meu lugar é ao lado dela e que é assim que eu conseguirei protegê-la física e emocionalmente, ao invés de arriscar minha própria pele e a das minhas armas, ao invés de me machucar e depois ter que assisti-la chorar, sem eu saber o que fazer a respeito disso.

Quero permanecer ao lado dela e poder fazer com que ela tenha a vida feliz que merece e nunca teve.