Rachel saiu correndo pela porta dos fundos, o coração saindo pela boca. Foi direto pra escola, onde, graças a deus, não teria que encarar o olhar dos seus avós por 6 horas. Quem diabos seria Lismicc? Já podia imaginar seus avós conversando:
- Aí está a prova de que ela é uma vagabunda, como Paul, meu velho. Aposto que fica namorando pela rua, em vez de estudar e ser alguém na vida. E, como a sorte não está mesmo do nosso lado, é um favelado esse tal Lismicc.
Lagrimas de emoção se escorreram pelo rosto de Rachel. Tinha um orgulho imenso de seus pais, de tudo que fizeram. De repente, começou a vir uma vaga lembrança em sua cabeça. Pichação...
Apelido estranho e sem sentido...
Parou no meio do caminho e sentou na calçada. Pegou na mochila o velho diário de adolescência de sua mãe, que tinha surrupiado em um armário aos três anos. Não o lia desde os 11 anos, pelo receio de cair no choro por horas apenas na página 1 como da última vez. Folheou, folheou, chegou numa página que tinha uma foto em preto e branco de um caderno todo rasgado com a capa rabiscada segurado por uma mão que tinha uma pulseira inconfundível: "Slling" e um coraçãozinho. Olhou com carinho para seu próprio pulso. A única erança de sua mãe. Bom, hoje em dia só se dava para ler "ing" e uma ponta de um coração, mas tudo bem.
Voltou os olhos para o caderno. Havia uns garranchos com uma letra de médico:

"É muita felicidade pra uma menina só... Diário, eu tenho um admirador secreto! Meu deus, EU, que jamais fui sequer paquerada na vida, tenho um admirador secreto! Acredita que hoje, quando voltei do recreio, o meu caderno de matemática estava todo pichado com corretivo? Até tirei uma foto! Com a máquina da minha bisa, mas tudo bem."

E vinha uma assinatura, que mostrava que sua mãe definitivamente não tinha muito tempo para escrever. Espremendo os olhos, Rachel pôde ler alguma coisa em branco na capa do caderno. Algo como "Jne.. t.. mo.. s.." a assinatura era a única coisa legível.
Wimicc.