Tanya Denali escrita por AnnaJoyCMS


Capítulo 8
Capítulo 7. Tirreo


Notas iniciais do capítulo

N/A: Prontinho, chará! Aí está mais um cap.! Não consegui postar ontem por causa de problemas no site!
Vou te compensar postando outro mais tarde!
Boa leitura!



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7. TIRREO

____________Continua na Narrativa do Diário de Athenodora__________

Olhei para meu filho, resoluta.

Sim. Meu filho.

Parecia que via Rômulo na minha frente. A semelhança era incrível.

Tive ímpetos de arrojar-me até ele e apertá-lo de encontro ao peito, mas não podia arriscar; com toda certeza, eu o machucaria. Além disso, ele parecia em choque por causa dos meus olhos; seu semblante era de pânico.

ÉS UMA VAMPIRA! – ele gritou e recuou alguns passos. Um rosnado escapou de sua garganta.

Então, ele sabia. Não eram somente meus olhos que o assustavam, ele sabia muito bem o que eles significavam.

– Sim, Tirreo. Sou uma vampira, mas não vou machucá-lo. Por favor, confie em mim. – falei baixo e pausadamente para acalmá-lo.

– Não confio em monstros! – ele cuspiu. Senti como se me faltasse o chão.

– Escute Tirreo. Podes imaginar que não sou uma vampira qualquer. Veja, conversamos em um idioma morto...! Em etrusco, o idioma em que fui criada, há muitos séculos pelos meus pais. Eles se chamavam Varro Athenodorus e Tescla. – ele arfou com a menção aos nomes de meus pais, eu continuei, lentamente. – Estes nomes lhe são familiares? Vejo que você também foi criado usando esta língua milenar...

Tirreo agora estava paralisado, em choque. A compreensão inundando seu rosto. Perdeu a cor por alguns segundos. Sua respiração arrastava-se pesada e célere.

Levantei-me, ergui a cabeça e o encarei. Seu lindo rosto, tal qual o de seu pai, estava torcido em uma expressão de dor e recusa.

Meu filho aparentava ter, no máximo, trinta anos de idade. Embora, tenha nascido há tantos séculos...

Esta era mais uma prova. Ele, de fato, era um lobisomem, assim como, seu pai e toda sua ascendência. Tirreo era alto, e como Rômulo, aparentava muita força física, vestia uma túnica e tinha os pés no chão. O frio das montanhas parecia não incomodá-lo.

Ele cerrou os olhos com força e, por fim sussurrou, ainda de olhos fechados:

– Dizes ser filha de quem?

– Varro Athenodorus e Tescla. Sou etrusca, Tirreo. Nasci no declínio de nossa civilização, quando Roma se erguia. Casei-me com Rômulo, o primeiro rei da Cidade Eterna, e dei à luz um varão. Meu nome é Athenodora.

­– NÃO! – ele gritou arquejante, e demonstrando conhecimento, não só do que havia acontecido comigo, mas também do que o veneno de minha espécie é capaz, ele continuou aos berros. Lágrimas surgiam em seus olhos. – O VAMPIRO DESGRAÇADO TRANSFORMOU-TE EM UM MONSTRO? COMO SE EU PRECISASSE DE MAIS UM MOTIVO PARA ODIÁ-LO...

Os minutos se passavam. Continuei de pé, como uma estátua, esperando que Tirreo se acalmasse. Sua respiração foi aos poucos se tornando mais lenta e compassada. Seu rosto serenou e ele chorou, copiosamente.

Eu me mantive impassível, aguardando. Nada precisava ser dito, seu choro desesperado me dizia sem palavras que ele sabia que meu sacrifício em holocausto, para salvar sua vida, fora improfícuo. Ele sabia dos meus tormentos de séculos infindáveis. Ele sabia de cada angústia que tenho passado. Ele sabia...

Quando finalmente, se acalmou, veio o meu maior presente:

Ati*... – meu filho! Chamou-me de mãe! Em etrusco... Oh! – O que foi que te fizeram ati? – a voz tomada de tristeza e amargura.

Emoções totalmente desconhecidas se apossaram de meu corpo eternamente morto.

Controlei-as.

Eu não tinha tempo para isso. Precisava avisá-lo. Precisava ter certeza.

– Tirreo, meu clen**. Precisas ir embora daqui. Logo ele virá caçá-lo. Ele já encontrou seu rastro. Diga-me, tu trazes o Sinal da Lua Cheia?

Ele afastou um pouco a túnica do ombro direito e mostrou. A grande marca – redonda como a lua cheia –, subcutânea, mas em alto relevo, estava ali. Era idêntica a de Rômulo.

– Cresci sabendo de tudo, ati. Meu avô Varro, não me escondeu nada. Só pensávamos que tu estivesses morta. Quando me tornei adulto, as transformações começaram e meu envelhecimento foi gradualmente, desacelerando, até que parou. Desde que meus avós deixaram este mundo, já anciãos, tenho vivido sozinho de feudo em feudo, cidade em cidade. Caçando para me alimentar e me escondendo. Busco lendas, rumores de criaturas míticas... E então, enquanto os humanos migravam de alguma região infestada de vampiros, eu fazia o caminho inverso, aguardava a lua mudar e atacava. Destruí muitos vampiros, durante todo este tempo em que me preparava para enfrentá-lo: Caius Volturi. O monstro que matou meu pai e fez com que minha mãe tirasse a própria vida.

Eu balancei minha cabeça infinitesimalmente. Ele precisava compreender que não podia enfrentar Caius sozinho. Mas ele continuou:

– Sei que dependo da lua cheia para fazer isso. Vou esperar por este ciclo. A lua agora míngua e tenho meus instintos mais fracos nestes dias. Por isso, não percebi sua aproximação. Quase não sinto o incômodo com seu cheiro, mas em poucas semanas a lua recomeça a crescer e meu olfato, minha audição e minha força descomunal voltam ao normal. É assim que tem acontecido.

– Mas, Tirreo escute, ele já te descobriu aqui. – eu começava a soar alarmada com sua veemência. Se ele também herdou a coragem e a determinação do pai, ele não iria embora... – Estiveste transformado há algumas noites atrás e ele reconheceu o cheiro de lobisomem. – continuei argumentando – Esquece que ele conhece o cheiro muito peculiar de sua linhagem, clen?! Não é como os outros vampiros que você tem destruído. Sua espécie está cada vez mais extinta, muito por culpa do próprio Caius que andou matando muitas linhagens de Filhos da Lua, a sua procura. Precisas ir embora. Ele não pode encontrá-lo agora, que estás vulnerável. Seu avô não te falou da fêmea dourada? Que haveria de ajudá-lo a destruir Caius e os outros Volturi?

– Sim, ele me contou. Mas acho que se trata de uma lenda. Vago errante há tantos séculos e nunca a encontrei. Ele me disse que não seria uma humana, seria uma vampira. Uma vampira especial... Não teria olhos de monstro. Ele dizia que de alguma forma ela seria dourada... Haveria de ter os cabelos da cor dos raios do crepúsculo e se uniria a mim para destruir aquele que desgraçou meus pais. Mas onde ela está? Você sabe ati?

– Eu não sei Tirreo. Nunca compreendi totalmente isso. Todos nós temos os olhos vermelhos. Mas sei que não é uma lenda. É uma profecia e há de se cumprir, clen.

Ele pausou brevemente e me confidenciou com o ar meio sorridente e orgulhoso, igual ao de seu pai:

Ati, a linhagem de meu pai não termina comigo. Houve uma época em que estive cansado de vagar sozinho, conheci uma bela e jovem camponesa e constitui com ela uma família. Vivemos isolados nas montanhas, ao norte. Tivemos sete filhos, cinco varões e duas meninas. Nossos filhos cresceram e nos deram netos. Havia uma tradição que, de alguma forma, a família de minha esposa e outras famílias da região fossem descendentes de clãs etruscos que teriam migrado para lá, com o declínio de nosso povo.

“Então, quatro dos nossos cinco meninos começaram a apresentar o Sinal da Lua Cheia quando se tornaram adultos. Além de cinco dos nossos netos. As transformações começaram e então, eles ganharam mundo a fim de cumprir nossa missão. Quando minha querida esposa veio a falecer, confiei nosso clã ao meu neto mais velho, pois meus filhos estavam todos longe, e resolvi voltar a Toscana de meu nascimento longínquo, para enfrentar meu destino, com ou sem a dourada. Só não imaginava encontrar a minha ati aqui...”

Meu filho me resumia séculos em poucas palavras, mas trazia tanto alento para minha sobrevida desgraçada... Eu e Rômulo tínhamos descendentes. Caius não conseguiu destruir o nosso amor infinito.

– Diga-me, Tirreo, onde exatamente está sua famí... – neste exato momento interrompi minha pergunta com o som ao longe de um tropel célere que só poderia ser de vampiros voando em nossa direção. Girei minha cabeça na direção do som, em pânico. Um rosnado explodiu em meu peito.

Tirreo viu o pavor em meu rosto e olhou na mesma direção. Voejei, pela primeira vez, até bem junto dele, podia sentir o calor sobre-humano de seu corpo e o perfume inacreditavelmente forte e doce de obsidinium. Sibilei alarmada:

– São eles, Tirreo. De certo seguem meu rastro. Vá! Depressa!

Ele avaliou minhas palavras por alguns instantes, pesando suas poucas chances de enfrentá-los com sua força e instintos prejudicados pela fase da lua, e sussurrou:

– Não posso deixá-la, ati. Venha comigo... – olhos suplicantes em meu rosto de pedra. Mas eu não podia... Não podia...

– Seria pior, clen. Vá! Agora!

Ele suspirou, deu alguns passos de costas olhando nos meus olhos, depois girou lentamente o corpo e disparou correndo o máximo que podia em direção ao alto da montanha.

E eu fiquei de pé, ali. Esperando por Caius. Os passos se aproximavam cada vez mais. Senti os cheiros. Era Caius acompanhado por mais cinco vampiros da guarda. Quando chegaram onde eu estava quatro deles passaram direto bem ao meu lado, seguindo diretamente pelo mesmo caminho que Tirreo fez, como rajadas de vento, esvoaçando o tecido de minha capa. Caius estancou ao meu lado, e o outro vasculhou o pequeno esconderijo da gruta antes de seguir os outros.

Seu olhar queimava minha face marmórea, com ódio total. Recusei-me a aceitar a realidade: Tirreo não teria chance com eles. Não assim, de forma tão desigual, nessa fase da lua. Minha respiração acelerou-se quando me dei conta que eu mesma havia trazido Caius até o paradeiro de meu filho. Fora dos dias de lua cheia, Caius não teria reconhecido o perfume de obsidinium, e não encontraria mais o cheiro de lobisomem, como eu mesma não senti.

Ele só me olhava. A raiva o impedia de me dizer qualquer palavra. Sua mandíbula estava travada e as mãos fechadas em punho.

Os minutos mais longos e desesperadores dos muitos séculos de minha segunda vida arrastavam-se ali. Quando, por fim, a guarda de Caius trouxe Tirreo até nós. Foi preciso que quatro vampiros o segurassem, dois em cada braço; arrastando-o até que ele estivesse ajoelhado em nossa frente. Eu não fazia ideia de como estava meu rosto. Caius o lia minuciosamente, sem tirar seus olhos de mim, até conseguir perguntar irônica e pausadamente, controlando o ódio:

– Você não me disse que ele já estava morto, amore mio?

Só pude olhar dolorosamente para meu filho, por quem sacrifiquei minha vida humana, desejando ter algo mais que pudesse dar em troca de sua vida. Mas eu não tinha... Nada...

Tentava pedir-lhe perdão com meu olhar. Não encontrei voz para suplicar pela vida dele, embora eu conhecesse Caius. Isso só apressaria as coisas.

– Finalmente – bradou Caius olhando de mim para Tirreo – vou extirpar essa linhagem imunda de lobisomens que descendem daquele que recebera desta mulher, todo o amor que deveria ser MEU. SOMENTE MEU! – fez uma pausa e gritou – ASSISTA ATHENODORA! ASSISTA A MORTE DE SEU REBENTO!

E, bruscamente, deu o sinal, com o qual em fração de segundos a guarda avançou em meu filho, desferindo-lhe golpes mortais, até quebrarem-lhe o pescoço. Imediatamente seu batimento cardíaco enfraqueceu.

Tirreo não gritou, sequer gemeu...

Não beberam o seu sangue, tampouco este foi derramado. Largaram o corpo de Tirreo ao chão e num timing perfeito impediram, em pleno ar, que eu me arrojasse em direção ao corpo dele como eu, inconscientemente, já estava fazendo. 

Seguraram-me para que ainda pudesse assistir Caius aproximar-se perfidamente dele e, mordendo, seu pescoço, dar-lhe o golpe fatal injetando o veneno em seu sistema, que tremeu convulsivamente e parou, de súbito quando seu coração calou-se para sempre... 

______________Fim da narrativa do Diário de Athenodora ____________

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Notas finais do capítulo

N/A: *ati = mãe em etrusco**clen = filho em etrusco.Bom, e então? O que achou??? Eu queria que fosse triste... Consegui?!Bjokas e obrigada por ler, Ana! *---*