Tanya Denali escrita por AnnaJoyCMS


Capítulo 20
Capítulo 19. As Sem-Razões do Amor*


Notas iniciais do capítulo

N/A: Olá! Vi que tenho novas leitoras nesta fic! Fiquei super feliz e surpresa! =)
Apareçam, girls! Deixem reviews, me add aos amigos! Fico mto feliz com isso! :D
Espero que gostem deste cap.! Divirtam-se! *-*



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"E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração...

E quem irá dizer que não existe razão..."

(Renato Russo)


19. AS SEM-RAZÕES DO AMOR*

– Não há disputa. – respondi um pouco irritada, mas em um sussurro muito baixo, assim como ela também havia falado. E continuei desafiando-a. – Você sabe muito bem o que está havendo aqui. Nenhum outro sequer teria chances.

– Você pensa que sabe o que está havendo. – Retrucou. – Mas você sabe da impossibilidade.

Quê impossibilidade? – sibilei agora exasperada. Humanos não poderiam nos ouvir, nem de perto. – Nós nos beijamos. Foi perfeito!

– Não. – Encarou-me um tanto enojada. – Não foi perfeito e você sabe disso. – E em tom complacente, argumentativo, assinalou baixo e rápido. – Alguém da nossa espécie seria natural, fácil para você... Tão fácil quanto respirar.

Jasper chegou à porta, percebendo a tensão da discussão sussurrada, mas não nos interrompeu. Não virei para olhá-lo. Eu encarei minha irmã e respondi fria e ironicamente, antes de disparar correndo na neve:

– Eu não preciso respirar...

Corri por alguns minutos em direção à minha árvore preferida. A mesma em que Edward viera me encontrar para Nessie contar a visão de Alice. Aqui era longe o suficiente. Subi em um átimo e me acomodei.

Não. Kate não tinha razão. Eu estava absolutamente certa sobre meus sentimentos. Eu o amava. Isso era tão claro e tão simples na minha cabeça...! Repassei nosso primeiro beijo um milhão de vezes. A forma como nos encaixamos. Foi perfeito...

Como ela ousava se intrometer dessa forma? Jamais agi assim com ela...

Bom... Houve o dia em que pensei em intervir em seu relacionamento, mas recuei. Eu não pude...

Apesar de todas essas convicções, em uma parte muito pequena de minha mente, a insegurança continuava atacando insolente. E a diferença de espécies? E quando aproximar-se a lua cheia? Ele vai mudar? Ele disse que me ama. Mas depois... Falou em “vampira dourada”. Essa lenda de novo... E a visão da Alice?

Perdida nestes pensamentos, só percebi sua aproximação quando ele já subia na árvore e sentava no galho ao meu lado.

– O que houve amor? – disse Lucca suavemente. Seu perfume me fez esquecer todos os medos e inseguranças. Seu sorriso franco me deslumbrou e ele se inclinou para roçar os lábios nos meus suavemente. Minhas pálpebras oscilaram e a corrente elétrica desceu da minha boca direto para as partes mais íntimas do meu corpo.

– Kate. – disse baixo. Não adiantaria esconder. Ele já deve ter percebido a atitude reprovadora de minha irmã.

Lucca assentiu demonstrando que, de fato, sabia do que eu estava falando. Depois cravou aqueles olhos de ônix líquido nos meus, o coração acelerou-se em expectativa em seu peito e ele, então, falou com intensidade:

– Estou apaixonado por você Tanya Denali. No momento em que te vi soube que jamais seria o mesmo. Para mim não importa que você seja uma vampira. Eu vejo uma criatura digna e altruísta que nega sua natureza para respeitar vidas. Vejo sua sensibilidade de artista, sua beleza... – ele discursava veemente, eu estava paralisada diante daquelas declarações avassaladoras.

Era possível amar mais este homem? Era possível não amá-lo?

Lucca provou não só que conhecia meus problemas com Kate, mas também que enxergava minhas dúvidas e inseguranças. Ele não estava somente declarando que corresponde ao meu amor absurdo, mas também que me conhece, que me enxerga.  

– E, na verdade – continuou ele – paixão e amor sequer definem o que aconteceu comigo quando te vi pela primeira vez. Vai além... Eu gravito em sua direção. Perdi minha individualidade e passei a existir por você e para você. – sua mão direita subiu até meus cabelos. Ele puxou uma mecha, cheirou de olhos fechados, depois os colocou atrás da minha orelha. Eu que já tinha perdido a capacidade de responder há muito tempo, somente olhava para Lucca sem conseguir organizar minhas ideias. Ele abriu os olhos lentamente e sorriu.

Eu, sem pensar no que fazia, me atirei para cima dele. Envolvendo seu pescoço com meus braços e colando nossos lábios com urgência. Só que Lucca perdeu o equilíbrio e nós despencamos do alto da grande árvore centenária que era o meu refúgio preferido.

Temendo machucá-lo consegui mudar nossas posições durante a queda em um movimento muito ágil e ele caiu por cima de mim. Nenhum de nós se feriu, mas ainda assim:

– Tanya! – ele tentou me repreender pelo meu gesto, em meio a sua gargalhada deliciosa. Eu também ria, tentando encobrir meu desejo profundo.

Lucca por fim se deu conta da proximidade dos nossos corpos colados, e o riso deu lugar a um arfar intenso e alto; seguido por um beijo desesperado. Deixamos nossas mãos passearem pelos nossos corpos livremente. Afaguei sua nuca e suas costas, deixei que minhas mãos descessem mais e as deslizei pela pele macia de suas costas, agora por baixo da camiseta. Estremeci quando senti um sinal esférico em alto relevo nas costas dele, bem do lado direito e tive certeza que era o Sinal da Lua Cheia. Ele também estremeceu e livrou meus lábios com um grunhido alto, para então trilhar um caminho pelo meu pescoço em direção à clavícula, deixando por onde passava um rastro em chamas elétricas. Sua mão esquerda deslizou pelo meu pescoço e colo, para ir encaixar-se com perfeição ao côncavo do meu seio enquanto ele gemia meu nome em minha pele, como se fosse um cântico, uma prece; o que fazia a pulsação elétrica do meu desejo subir e descer em espiral pelo meu corpo. Seu coração batia em um ritmo insano.

Seu braço direito sustentava o seu corpo sobre o meu e a sua musculatura era perfeita e evidente. Seu corpo inteiro era como uma oferenda dos deuses, todo para mim. A mão que massageava e apertava meu seio, encaixando-se nele como uma luva, deslizou lentamente para minha coxa, de forma que ele pudesse puxar minha perna e encaixar seu baixo ventre exatamente sobre o-ponto-do-fio-de-alta-tensão-desencapado entre as minhas pernas.

Eu uivei alto, o que provocou tremores desesperados pelo corpo dele.

Sua boca se chocou com a minha novamente, só que agora de forma violenta. Voltei a sentir o seu gosto em minha língua, literalmente. Um novo corte que já cicatrizara... Isso não o desestimulava, muito pelo contrário, provocou um movimento involuntário de sua virilha, que me fez arquear as costas da neve. 

Lucca... – sibilei em chamas. Meu corpo gelado estava em chamas, de uma forma que nunca estivera antes. Era uma necessidade. Inexplicável. Indescritível. Ele era tão quente, tão perfumado, macio e delicioso...

Com o movimento das minhas costas, sua boca desceu novamente ao meu pescoço e tombando sua cabeça ligeiramente de lado, Lucca invadiu a minha incisura supra-esternal com sua língua, me fazendo perder a razão de vez. Minhas mãos que, até então, se demoravam em suas costas, desceram num átimo até o seu traseiro, que parecia ter sido entalhado por algum mestre renascentista, e o apertou trazendo-o de novo ao encontro do meu ponto mais sensível. Lucca percebendo o que eu queria, enfatizou o movimento devagar. Meu grito de prazer, em resposta a isso, deve ter sido escutado no chalé. Meus olhos se reviravam irracionalmente. O seu volume por debaixo do jeans era tão pronunciado, que pela minha larga experiência de séculos, eu podia imaginar o quão bem dotado Lucca parecia ser. Uma parte muito pequena de minha mente se perguntou como ele conseguiu se relacionar com mulheres humanas sem incapacitá-las...

– Você tem certeza? – perguntou ele de repente, sussurrando em meu ouvindo.

– Sim... – respondi imediatamente sob a respiração desnecessária, mas que teimava em ofegar. – Você não? – perguntei, agora buscando seus olhos.

– Muito... Eu... Quero muito. Você nem imagina o quanto. Mas...

– Mas?... – instiguei. Por que ele hesitava? Eu não entendia. Era evidente que ele me queria, tanto quanto eu o queria. Lucca ainda estava apoiado sobre o braço direito, então, saiu do meio de minhas pernas e continuou grudado a mim, só que pelo lado do meu corpo, me encarando concentrado. Nossos corpos ainda pulsavam, nós ainda ofegávamos.

– Eu havia imaginado nossa primeira vez juntos de uma forma mais romântica. – respondeu ele, em meio à respiração entrecortada e um pouco sem jeito. Sem jeito de ter para onde ficar mais... FOFO! Eu sorri compreendendo, isso o estimulou a continuar. – Sei que somos experientes até demais. Mas você é muito especial para mim. Nossa primeira vez é muito importante pra mim, e o fato de já termos vivido tantas experiências com outras pessoas não nos impede de fazer isso com mais romantismo...

Não me senti rejeitada. Não com a forma que ele me olhava, me beijava e acariciava. Era evidente que Lucca me queria. A insegurança tinha ficado definitivamente para trás...

E dar o romantismo que ele desejava não seria nenhum sacrifício, muito pelo contrário. Seria... Perfeito! Então, eu sorri e perguntei:

– O que você tem em mente?

– Pensei em planejarmos um encontro. Só nós dois, – respondeu ele compenetrado, o olhar esfacelante. – Daqui a alguns dias...

Alguns dias? – minha voz subiu uma oitava junto com minha sobrancelha que, involuntariamente, arqueou. Ele riu antes de explicar:

– Sim. Quero estar mais forte, para que você possa se soltar mais comigo e não precise se preocupar em ser tão cuidadosa como você tem sido. – explicou ele. Eu relaxei, fazia sentido. Em alguns dias haverá mudança da fase lunar. Depois ele completou intenso, me fazendo perder o raciocínio. – Quero você solta, entregue. Sem nenhum embaraço causado pela diferença de espécies, e vamos ter uma noite só nossa...

– Está bem! – concordei rindo. E eu poderia negar alguma coisa a ele? – Um encontro, então! Na lua crescente você estará mais forte?

– Sim. Força física mesmo; não estarei tão frágil como estou agora. Meus sentidos começam a ficar mais aguçados... – esclareceu ele.

Frágil? Você caiu da árvore comigo e não quebrou nada... – argumentei – Um humano teria se machucado muito numa queda dessas, principalmente agarrado com um corpo de pedra feito o meu...!

– Na verdade, a coluna doeu um pouquinho – admitiu ele, envergonhado – mas foi suportável...

– Você está bem? Onde está doendo? – interrompi alarmada. Lucca riu.

– Tudo bem amor. Eu estou bem. Já passou... Passou na hora que você começou a afagar minhas costas... – disse ele um tanto malicioso.

– Hum... Eu senti o Sinal...

– Ah, sim! Você quer vê-lo? Está curiosa? – eu balancei a cabeça afirmativamente.

Lucca, então, levantou-se e sentou de costas para mim, puxando sua camiseta preta e exibindo aquelas costas anatômica e perfeitamente definidas. Por um milésimo de segundo, senti um orgulho possessivo. Ele era meu. Lindo, perfeito, romântico e... Meu. Eu mal podia acreditar na minha sorte...

Mas lá estava ele...! O Sinal da Lua Cheia.

Era incrível! Levei meus dedos para tocá-lo novamente. Era exatamente como Marconi descreveu. Parecia que uma moeda de um centavo fora encravada na pele dele. Era circular como a lua cheia, em alto relevo e sobre ele era possível ver as manchinhas como as da superfície lunar. Lucca estremeceu com meu toque.

– As manchas são exatamente idênticas as de Rômulo e Tirreo. – completou ele orgulhoso.

Lucca não se deitou novamente, continuou sentado só que agora, de frente para mim. Voltei ao primeiro assunto:

– Bom... E o que exatamente você chama de “um encontro”? – perguntei divertida. – Esqueceu que sou uma vampira?!

– Não amor. Faremos o que você quiser. O conceito de encontro que você escolher.

– Tudo bem! – sorri. – Vou pensar! – ele riu daquele jeito que eu amava, sorrindo com os olhos.

Eu me pus de pé num salto ágil e repentino e o chamei para apostarmos corrida até o chalé. Já devia estar na hora de Lucca se alimentar.

Passamos o restante da tarde junto dos outros. Carlisle tinha muito que perguntar a Lucca, mas nós não nos separamos em nenhum momento. Esme, Carmem e Eleazar estavam conosco. Os nômades recém-chegados acompanharam Emmett, Rose, Jasper, Edward, Garret e Kate em um jogo de hóquei improvisado no lago que servira para a patinação artística mais cedo. Faltavam jogadores, mas isso não os impediria de se divertir.

Bella, Alice e Nessie estavam em meu atelier trabalhando juntas em uma pequena peça de mármore que eu deixara esquecida em algum canto.

Com o cair da noite, Bella subiu para acomodar Nessie na cama. O dia havia sido muito longo e cansativo para a pequena. Lucca também me informou que precisava dormir. Eu o acompanhei até sua barraca.

– Entre um pouquinho. – pediu ele. Eu o olhei incredulamente e Lucca compreendendo completou sorrindo. – Ela não é tão pequena quanto parece. Veja por dentro.

Ele segurou minha mão e me puxou para dentro da barraca.

De fato, havia mais espaço do que pode supor quem vê a barraca de fora. Parecia aconchegante demais. O cheiro dele era forte, delicioso. O saco de dormir era bem grosso e quente, sentei-me nele. Estava escuro, mas uma penumbra fraca e persistente, vinda da iluminação do chalé, invadia o ambiente.

É claro que isso não me impediu de analisar tudo minuciosamente. Havia alguns livros. Reconheci dois de poesia, que eu também tinha. Havia também uma potente lanterna e uma bolsa de roupas. Suas grandes botas próprias para caminhadas na neve estavam em um canto.

Lucca escorregou para dentro do saco de dormir após tirar o tênis, e eu me inclinei para depositar beijos suaves em seus lábios. Ele afagava meus cabelos carinhosamente e anunciou murmurando contra os meus lábios:

– Vou sonhar com você...

Eu sorri.

– Eu te amo. – disse ele entre meus beijos. Ocorreu-me, então, que apesar de Lucca já ter me declarado seu amor mais de uma vez; eu ainda não tinha feito o mesmo. Levantei meu corpo e alcancei um dos livros de poesia dele, que eu conhecia muito bem, porque também tinha e gostava. Lucca franziu as sobrancelhas, tentando entender o que eu faria. O livro tratava-se de uma compilação de alguns poetas portugueses e brasileiros. Abri direta e facilmente na página que eu queria e li para ele:

.

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.”

.

Quando terminei, vi que Lucca estava de olhos fechados com um sorriso terno no rosto. Seu coração batia tranquilo e eu percebi que aquele era som mais importante do mundo para mim agora. Ele tomou seu tempo por um segundo e disse ainda de olhos fechados:

– Só tentando memorizar o som da sua voz dizendo, enfim, que me ama...

– Então, não os abra. – murmurei melodiosamente, enquanto me inclinava e beijava-lhe as pálpebras. – Durma e, como você prometeu, sonhe comigo meu amor, pois se eu pudesse dormir também sonharia com você. – ele suspirou e eu, relutantemente, saí da barraca, deixando-o descansar.

Já do lado de fora, enquanto eu fechava o zíper da barraca. Vi que os outros voltavam do lago e vinham direto para entrar pelos fundos.

Kate me olhou visivelmente exasperada, com certeza por eu estar saindo da barraca de Lucca.

Reparei que muitas emoções passaram pelo rosto de Karl: surpresa, especulação, constrangimento e... Talvez ciúme. Não tentei ler as impressões dos outros rostos.

Não me importei com nenhum dos dois. Resolvi agir naturalmente, indo na direção deles:

– Então... Quem ganhou? – perguntei.

– Os Cullen. – Karl apressou-se em me responder. Eu ri e disse:

– Bom. Você e Eike não sabiam, mas eu não sei por que Kate e Garret ainda insistem em jogar em qualquer time contra Edward.

Edward riu torto para mim e disparou para o quarto, provavelmente para dar boa noite à Nessie antes que ela adormecesse profundamente.

Todos entramos.

Os outros se acomodaram na sala, ainda discutindo os principais lances do hóquei. Segui para meu atelier pensando em trabalhar na escultura de Lucca que comecei ontem. As horas de sono dele seriam longas e torturantes, e enquanto eu pudesse me manter concentrada na peça de mármore extravasaria toda a saudade.

Fechei a porta do galpão, a pequena peça de mármore na qual Alice, Nessie e Bella estiveram trabalhando durante a tarde estava lá. Olhei para o lobo que, muito provavelmente, Nessie tenha insistido em esculpir e sorri, puxando o lençol da minha grande escultura.

Neste momento, ouvi a voz de Karl lá no chalé, perguntando para alguém:

– O que tem lá?

– É o atelier de escultura de Tanya. Ela acabou de ir pra lá... Fique à vontade para juntar-se a ela. – respondeu Kate. É claro! – Ela não se importa...

No segundo seguinte, com uma batida fraca na porta, Karl se fazia anunciar:

– Posso entrar?

– Fique à vontade, Karl. – respondi educadamente.

Ele entrou lentamente. Seus olhos vermelhos sondaram com curiosidade à sua volta, analisando cada detalhe. Quando, finalmente, viu a grande escultura inacabada ao meu lado, ele levantou as sobrancelhas. Hum... Era tão visível assim a imagem de Lucca ali?!...

– Então, você é uma vampira e artista plástica?!

– Sim. – respondi sorrindo. – Quem dizer, é só um hobby!

Ele caminhou na minha direção lentamente, perdido em pensamentos, como se considerasse firmemente alguma ideia. Virei para as prateleiras na parede para pegar alguns instrumentos de trabalho. Quando me virei, vi que ele estava próximo recostado no outro balcão. Preparei-me para recomeçar a trabalhar na escultura quando ele disse: 

– Não sei se poderia me acostumar com sangue de animais com tanta rapidez quanto Garret... – declarou ele em tom agoniado.

– Perdão?... – perguntei me virando para ele. É claro que eu havia ouvido perfeitamente sua confissão. Só não compreendi minha relação com ela. Além disso, por que ele precisaria acostumar-se com nosso estilo de vida?...

Se eu não tivesse vivido quase dez séculos com ela, não imaginaria sua influência nas ponderações aflitas de Karl.

– Karl, o quê exatamente Kate te disse? – minha voz firme, tilintando impassível. Seus olhos de rubi, que fuzilavam o chão, faiscaram para mim surpresos.

– Como?... – ele balançou a cabeça infinitesimalmente.

– Apenas convivência, Karl. Conheço minha irmã e sua determinação. – Karl parecia nervoso quando se aproximou de mim. Instintivamente dei um passo para trás.

– Perdoe-me por falar de você pelas suas costas com a sua irmã. Na verdade, ela não tem culpa. Fui eu quem a interpelou perguntando sobre você e o Filho da Lua. – o tom que ele usou para se referir a Lucca me incomodou, mas isso é apenas parte do preconceito, da hostilidade natural entre as espécies.

– Sim. E por que você faria isto? – pressionei, fazendo-me de ingênua. Seus olhos tentaram prender os meus e ele avançou mais um passo.

– Porque você é interessante demais Tanya. Senti-me atraído no momento que coloquei os olhos em você, assim que chegamos. Tudo que você e Kate representam na nossa história, a vida que vocês construíram aqui e... A sua beleza surreal. – confessou ele com intensidade, sem fazer rodeios. Fez uma pausa para que eu processasse tudo aquilo e continuou. – Mas notei que você e ele estavam tão próximos, porém não quis acreditar que... – interrompeu-se sugestivamente. Eu podia muito bem completar seu raciocínio: “... não quis acreditar que você se interessaria por aquele cão...” Pensei.

– Bom... E o que ela te disse, Karl?

– Nada demais. Por favor, não se aborreça com ela. – pediu ele ansioso. – Mas ela me contou de sua solidão e tristeza após a morte da outra... – ele hesitou em resposta à minha expressão, que eu não fazia a menor ideia de qual seria. E continuou, enfim. – Irina. E... disse que você pensa estar encantada por este... lobisomem. Mas que você só está confusa e precisa de um belo e gentil vampiro que cuide de você, como Garret tem cuidado dela.

E você acha que poderia ser este vampiro, Karl?! Pensei irônica.

– Então ela lhe deu este tipo de esperanças? – perguntei visivelmente irritada. Karl recuou.

– Bom... Sim... – hesitou constrangido. Mas afirmou enfático. – Isso não faz o menor sentido, afinal!... Uma vampira com um lobisomem...! – refletiu ele, dando voz ao seu preconceito.

Suas palavras tocaram fundo dentro de mim, reverberaram até o cerne dos meus ossos. Por um centésimo de segundo imaginei a gama de preconceitos que Lucca e eu enfrentaríamos em nosso mundo. Nós, vampiros vegetarianos já éramos vistos com estranheza... “Alguém da nossa espécie seria natural, fácil para você...” O argumento de Kate ecoou mordaz, em minha mente...

Fitei os olhos vermelhos que me encaravam suplicantes, depois pensei nos olhos negros e doces do meu Lucca se declarando para mim: “Estou apaixonado por você Tanya Denali. No momento em que te vi soube que jamais seria o mesmo.” Então, pensando na poesia que há pouco havia lido como forma de expressar meu amor para Lucca, disse para o vampiro que me aguardava ansioso:

– Sinto muito, Karl. Mas há no amor alguma razão?

Ele não respondeu a minha pergunta retórica. Eu cobri novamente minha escultura com o lençol e guardei minhas ferramentas. Depois virei para ele e disse:

– Com licença, Karl. Mas eu preciso conversar com minha irmã e tem de ser agora...

Quando a porta do atelier se fechou atrás de mim e eu caminhava lentamente até Kate, pensei ter ouvido Karl balbuciar para si mesmo lá dentro algo como: “Não vou perdê-la para um cachorro...” Intenso e cheio de mágoa.

Ignorei, por agora. Não adiaria mais minha conversa com Kate.


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Notas finais do capítulo

N/A: Então, é isso... Espero que tenham gostado! Comentem e me deixe saber! ahsuahsuahs

A poesia que a Tanya leu para o Lucca e emprestou seu nome ao capítulo é de Carlos Drummond de Andrade.

Tudo isso é obra e invenção criativa de Stephenie Meyers, alguns personagens foram criados por mim, para melhor desenvolver os personagens lobisomens Filhos da Lua e dar um final melhor para a Tanya no pós-BD!

*.*bjokas*.*