Tanya Denali escrita por AnnaJoyCMS


Capítulo 10
Capítulo 9. A Carta


Notas iniciais do capítulo

N/A: Olá, florzinhas! =)
Aqui está nosso capítulo de hj!
Boa leitura e divirtam-se! *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/124696/chapter/10

9. A CARTA

Per favore, sente-se Ms. Phelps. Fique à vontade. – ofereceu Simeonini, gesticulando nervosamente, assim que entramos na sala de sua casa.

Eu me sentei no sofá e aguardei enquanto ele pendurava seu casaco e cachecol no cabide vertical ao lado da porta. Ele resolveu que seria melhor que fôssemos para um lugar mais discreto para conversar, embora estivesse visivelmente intimidado e apavorado pela minha presença.

Era uma casa simples e pequena, perfeita para um velho solitário. A sala era aconchegante. O sofá em que me sentei ficava de frente a duas poltronas individuais, com uma pequena mesa de centro. Na parede atrás das poltronas, ao lado do corredor de acesso aos outros cômodos, havia uma estante com muitos livros e antiguidades. Nas paredes havia muitos quadros de pintura a óleo e gravuras, inclusive sobre a lareira.

Eu tentava agir da forma mais humana possível, o que não ajudava muito com o raciocínio dele, porque, desta forma, o deslumbre substituía o medo.

– Sim, Sr. Simeonini, eu procurava por um lobisomem. Um legítimo Filho da Lua. Mas não o estava caçando de forma alguma. Meu interesse é outro e, pelo visto, o senhor sabe onde posso encontrá-lo.

– Sim e não, minha cara. A senhorita encontrou o rastro de um dos últimos que restam, porém o último de uma linhagem milenar. – disse ele sentando-se na poltrona à minha frente.

– A linhagem de Rômulo, o primeiro rei de Roma? – perguntei mostrando que não era totalmente ignorante. Ele assentiu e continuou.

– Exatamente. Sou um de seus descendentes. – afirmou orgulhoso e continuou. – Era de meu pai o rastro que a senhorita seguiu na Antártida.

– Seu pai? – perguntei surpresa, não imaginei que o parentesco fosse tão próximo. – Mas ele seria o quê? Hã... Um dos netos de Tirreo? – ele sacudiu a cabeça surpreso com o meu conhecimento a respeito e respondeu a minha pergunta:

– Não. Meu pai é filho de um dos bisnetos de Tirreo. O único que tinha o Sinal da Lua Cheia. – e observando minha reação à menção do sinal, completou, vendo que eu o compreendia. – Eu não possuo o sinal. Provavelmente, minha mãe não era de uma família descendente dos antigos etruscos. Com o passar dos séculos as gerações foram se misturando muito, então é difícil saber. Mas é nisso que meu pai acredita.

– E onde ele está?

– Quem poderia saber... Meu pai desaparece por um tempo. Corre por algum lugar bem isolado. Depois de algumas semanas, às vezes meses, ele retorna para ver como eu estou.

– E Gianna?

– Bom, se a senhorita conhece minha irmã, deve estar intrigada pela nossa diferença de idade. – eu sinalizei com a cabeça e ele continuou – Acontece que, Gianna e eu, não somos filhos da mesma mulher. Entenda, meu pai viveu uma vida solitária durante muitos séculos, assim como os outros Filhos da Lua de sua ascendência – ele se referia ao pai com verdadeira adoração – até que, de volta nesta região, conheceu minha mãe, um pouco antes da 2ª Grande Guerra. Nós vivemos em um local isolado, como eremitas, até que a guerra terminasse. Após a morte de minha mãe, fui para um colégio para jovens rapazes e meu pai voltou à vida solitária e errante pelo mundo.

“Sua espécie se tornou muito populosa, e matou a grande maioria dos descendentes não só de nossa linhagem, mas das outras também. Um dos seus líderes foi o responsável por grande parte dos massacres, há vários séculos... – ele fez uma breve pausa e continuou. – Bom, quando eu tinha em torno de 45 anos de idade, meu pai conheceu a mãe de Gianna. Porém, ela não foi criada com ele como eu fui. Sua mãe a levou para longe do que ela chamava de ‘toda esta loucura’ e nós acabamos perdendo contato com ela, muito embora elas soubessem onde nos encontrar, nunca procuraram por nós... – acrescentou tristemente – Hoje, meu pai vaga sem poder cumprir sua missão, aguardando que a profecia se cumpra.”

Eu não sabia qual pergunta fazer primeiro. Eram tantas... O diário de Athenodora cita a tal profecia, mas eu tinha outras questões muito mais prementes:

 – Sr. Simeonini, per favore, – ainda falávamos em italiano – explique-me melhor como funcionam as linhagens. O que as diferencia? É somente o sinal? Há muitas linhagens? – ele sorriu brevemente do meu interrogatório e me respondeu:

– Não. Não eram muitas. – ele fez uma pausa e deixou seu olhar perder-se enquanto continuava. – Meu pai me explicou que ao todo eram quatro linhagens distintas: uma celta, uma nórdica, a nossa etrusca, e uma com origem nos maias da América do Sul. As linhagens, céltica e nórdica alimentavam-se de humanos, os vampiros eram seus inimigos naturais por competição pelas presas humanas, foram totalmente extintas. A nossa linhagem etrusca abdicou a este hábito alimentar, por respeito à vida humana. Isso nos possibilitou durar por muito mais tempo, através dos descendentes. Esta é a principal diferença! – exclamou ele, com ênfase. – Quanto à linhagem sul-americana, eu não sei. Não temos muitas notícias dela. Sequer sabemos de sua relação com os humanos, meu pai acredita que ainda exista algum vivo, perdido pelos Andes.

– Mas e os sinais? – insisti, estava curiosa quanto a isso. – Eles também diferem de uma linhagem para a outra.  – afirmei e ele me olhou com estranheza, talvez se perguntando onde obtive tantas informações.

– Sim, eles diferem. Olhando superficialmente, pareceriam todos iguais: um círculo, em forma de lua cheia, em alto relevo e subcutâneo, com mais ou menos, dois centímetros de diâmetro. É como se houvessem enxertado uma moeda embaixo da pele, entende? – eu assenti, ele prosseguiu. – Porém, sobre este círculo é possível observarmos na pele, pequenas manchas que imitam as manchas da superfície lunar. Estas manchas são a diferença, funcionam como uma impressão digital de uma linhagem para a outra.

– A origem, acredito eu, seja evolutiva, assim como a da minha espécie? – perguntei ainda.

– Acredito que sim. Talvez alguma ramificação evolutiva dos lobos. E, assim como a sua espécie, acabaram se tornando lendas. Mitos distantes.

Eu processei aquilo por um segundo. Era fascinante! Como eu passei dez séculos sem ter contato com absolutamente nada disso? A risada fraca de Simeonini me fez voltar à nossa conversa e ele perguntou, visivelmente curioso:

– Por que procurava por um Filho da Lua, Ms. Phelps? Acredito em sua sinceridade quando me disse que não caçava meu pai. Mas, então, qual é seu interesse? Onde teve acesso a tantas informações?

Contei minha história, resumindo tudo para Simeonini. Falei sobre Nessie, a filha híbrida de meus amigos, e de Irina, minha irmã, que os denunciara aos Volturi, por respeito à lei. Expliquei rapidamente sobre a lei e as crianças imortais. Ele pareceu chocado a respeito de Nessie, mas percebi que seus olhos estreitaram-se e seu coração acelerou quando falei, especificamente, dos Volturi e o que eles fizeram com a minha irmã. Não citei nossos nomes, nem nossa localização, mas expliquei sobre meus planos de vingança e minha viagem ao hemisfério sul. Ele me ouvia concentrado e sério. Quando falei de minha incursão no castelo de Volterra, ele inclinou seu tronco para frente, apoiando-se nos joelhos em sinal de extremo interesse. Mas quando falei do diário atual de Athenodora, seus olhos saltaram nas órbitas. Imediatamente, retirei as folhas arrancadas do bolso e deixei que ele as lesse. Quando acabou de ler, Simeonini olhou para a janela, sem realmente enxergar nada e sussurrou para si mesmo:

Madonna mia! Não posso acreditar nisso...

– Então, consegui pegar o diário do ano de 1207, para compreender melhor o que ela queria dizer e encontrei isto. – falei baixo, abri o livro na parte interessante, em que Athenodora conta seu reencontro com o filho Tirreo e entreguei nas mãos ansiosas de Simeonini.

Ele agarrou o livro com cuidado, compreendendo imediatamente a delicadeza e a importância do documento que tinha em mãos e leu por vários minutos. Eu aguardei pacientemente, observando-o.

Simeonini a cada página ficava mais emocionado e terminou de ler sobre a morte de Tirreo com os olhos marejados de lágrimas. Dei um tempo para ele se recuperar. Ele colocou o livro sobre a mesa de centro, levantou-se com dificuldade, foi até a cozinha e, trêmulo, se serviu de um pouco de água.

– Devo oferecer-lhe...

– Não, obrigada! – eu o interrompi sorrindo levemente.

Quando ele estava na poltrona novamente, sentado à minha frente sem saber o que dizer, eu continuei contando sobre meu triste encontro com sua irmã. Ele me escutou boquiaberto, com toda certeza não sabia de qualquer ligação de sua irmã com os Volturi. Entreguei-lhe a carta, ele a abriu depressa. Os olhos novamente úmidos. Gentilmente, após uma olhada rápida no manuscrito, ele leu em voz alta, permitindo que eu também tomasse conhecimento:

“Querido Marconi,

Sinto tanto por jamais tê-lo procurado... Entenda. Cresci com minha mãe tentando nos afastar e chamando nosso pai de louco. Ela tinha tanta mágoa dele, Marconi; contava-me das vezes que ele sumia por várias semanas, e depois voltava dizendo que estava nos Alpes. Eu sei que havia um segredo. Algo muito grave, mas que ela nunca me disse e eu sei que você sabe do que se trata.

Passei pela vida, todo o tempo me sentindo diferente, fora de lugar neste mundo. Jamais entendi por que. Nunca pude me relacionar normalmente com as outras pessoas a minha volta. Sempre tive dificuldade com isso.

Assim que minha mãe faleceu, coloquei uma mochila nas costas, e decidida a encontrar meu lugar neste mundo, comecei a viajar. Sonhava em conhecer tantos lugares, fazer tantas coisas, até que encontrasse meu verdadeiro eu... Você já sentiu saudades de algo que sequer conhecia? Era exatamente assim que eu me sentia.

Até que, um dia, visitando a Toscana; conheci uma cidade chamada Volterra. Você já deve ter ouvido falar. Tantas lendas... Acabei, casualmente descobrindo que, em grande parte, muitas eram verdadeiras. O fato é que, decidi que ficaria em Volterra por mais alguns meses e resolvi encontrar um emprego temporário.

O emprego que mudaria minha vida para sempre.

Comecei a perceber que meus patrões não eram normais. Havia algo de errado naquela empresa, na qual eu era recepcionista. Os hábitos, as roupas, a aparência deles: a pele, a beleza inumana... Até o dia que eles se mostraram realmente como eram e me revelaram o segredo. Eu trabalhava para vampiros, meu irmão. Vampiros com olhos vermelhos, belíssimos, que brilhavam ao sol e que tinham uma vida eterna de talento, agilidade, beleza e poder.

São os guardiões dos segredos e da ordem em seu mundo e se chamam Aro, Caius e Marcus, os Volturi.

Toda essa magia me cegou e me subiu à cabeça. Já não tinha mais laços familiares e nem de amigos. Eu os adorava como deuses e esperava ser transformada em um deles, desde o dia em que soube que isso era possível. Frívola, fútil e ambiciosa, fechava os olhos para os massacres que aconteciam naquele torreão, e pior, ajudava e desejava fazer parte deles.

Até o dia em que todos saíram para uma viagem. O julgamento de um clã muito importante aconteceria. Eu fiquei incumbida com a inebriante tarefa de tomar conta de tudo até que eles voltassem. Aro prometeu me transformar em imortal assim que eles retornassem, e eu não podia estar mais feliz.

No entanto, para minha confusão, após sua chegada, tudo parecia estranho. Havia um incômodo no ar. Obviamente, eles não me colocariam a par de nada do que tinha acontecido no julgamento, mas alguma coisa estava errada, fora de lugar.

Os principais guardas da segurança começaram a sair em viagens frequentes e Aro parecia ter se esquecido do que tinha me prometido. Minha expectativa aumentava a cada dia. Até que uma noite, quando Aro pediu licença para entrar em meus aposentos, eu fiquei ansiosa e exultante achando que havia, enfim, chegado minha hora. Porém, ele me contou que só poderia me transformar realmente em uma vampira, se primeiro, eu me entregasse de corpo e alma para ele. Não tomei suas palavras ao pé da letra e disse que já pertencia a ele. Então, ele me surpreendeu dizendo que eu deveria me entregar como sua amante para poder me tornar imortal.

Eu, totalmente cega, concordei com aquela desfaçatez.

Ele passou a noite comigo e no outro dia, amanheci com o corpo coberto de hematomas e muito dolorido. Mas sabia que eles desapareceriam no momento que a transformação acontecesse. Entretanto, essa transformação nunca veio. Todos os dias, eu ia até Aro, sutilmente cobrar sua promessa e ele me dava desculpas infames e me pedia paciência. Inspecionava meu corpo cuidadosamente, e satisfeito, continuava me pedindo segredo.

Com o passar dos dias, perdi o apetite. Na verdade, nada que eu comia parava em meu estômago. Minha barriga começou a crescer e com o atraso em minhas regras, percebi que estava grávida de Aro. Entrei em pânico. Não sabia que uma coisa dessas fosse possível.

Tudo tem sido incrivelmente acelerado. Dormi com ele há vinte dias, meu irmão, mas já aparento quase sete meses de gestação. Quer dizer, aparento, no tamanho da barriga, por que na verdade, pareço mais doente do que grávida. Não consigo me alimentar, estou muito fraca. A ‘coisa’ dentro de mim é forte, provoca dor intensa e quase quebra meus ossos quando se mexe. Sinto que poderia ser muito pior. Parece-me que a coisa também está fraca, mas eu não sei por quê. Não sei o que falta para ela, se ela suga minha vida.

Temo pela minha vida. Fico jogada em minha cama sozinha, somente uma vampira da confiança de Aro vem me ajudar com minha higiene e imobiliza as fraturas em meu corpo, provocadas pela... ‘criança’.

Sei que não tenho o direito de pedir sua ajuda, até por que não há nada que você poderia fazer. Percebo agora o que fiz de minha vida e temo que não me restem mais muitos dias. Não recebo cuidados médicos e não faço ideia de como seria um parto de um ‘bebê’ desses. Mas tremo só de pensar.

Não tenho sequer esperanças de que você receba esta carta, mas gostaria que você soubesse que eu teria adorado ter sido criada junto de você. Nem mesmo uma foto sua minha mãe tinha para me mostrar, ela só me dizia que você era muito mais velho do que eu. O que eu não entendia muito bem...

Se algum dia você receber esta carta, saiba que o que quer que saia do meu ventre, estará vivo. Mas você não poderá procurar por ele ou ela, você não teria nem chances de chegar perto...

Mantenha-se afastado daqui e, de vez em quando, lembre de mim com carinho.

Obrigada, Gianna.”

Ao terminar, ele retirou os óculos e secou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto marcado pelo tempo, com as costas da mão direita. Eu respirava ofegante, ainda que desnecessariamente. Um pensamento martelando em minha mente: “Agora serão duas para vingar...”

– Eu sinto muito... – eu balbuciei constrangida.

– Muito obrigado, Ms. Phelps. Por trazer a carta de despedida de minha irmã para mim. – ele me respondeu muito emocionado.

Fizeram-se então alguns minutos de silêncio, enquanto nos acalmávamos. Até que Simeonini virou para mim com um novo brilho no olhar:

– Ms. Phelps – disse ele, ainda com a voz embargada – estaria disposta a ir conhecer o refúgio do meu pai nos Alpes? É o único lugar onde posso me recuperar de tudo isto. – explicou-me gesticulando para a carta.

– É claro. – respondi prontamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: E aí? O que acharam?
Bom, espero que tenham gostado!...
Me contem o que acharam por review!
bjokas e até amanhã! ;*