O Filho Pródigo e Deus escrita por Bardo Maldito


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Esta fic,apesar de ser de Supernatural,não conta com nenhum dos personagens da série.A explicação é mostrada aqui.



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Esse diálogo surgiu durante uma campanha de RPG de Supernatural,aonde um dos personagens,Charles Fountain,era atingido por um feitiço de expulsão de anjos e ia parar no Solarium,o ponto mais alto do Céu,aonde fica Deus.

Aqui,cabe uma explicação: em Supernatural,nunca foi especificado para onde vão os anjos atingidos pelo feitiço de expulsão,então,adotamos o conceito de que ele vai pra um lugar totalmente aleatório em questão de localização ou dimensão.Ou seja,pode ir tanto pra esquina do lugar aonde foi expulso como pro último círculo do inferno.Aqui,Charles foi mandado para junto de Deus.Coincidência?Talvez não.

Antes de contar a história da conversa de Charles e Deus,cabe explicar quem exatamente ele é.Logo,aqui explicarei a história de Kadoshiel,um Derafim que decaiu e adotou o nome de Arion,e,posteriormente,Charles Fountain.

Kadoshiel foi criado como um serafim para habitar diante da Glória de Deus, emanando vozes e imagens extraordinárias para o claro objetivo de exaltar seu Criador. Ele convivia com uma legião que cumpria mesmo propósito, circundando e sobrevoando o Trono. Certa época, Kadoshiel desprotegeu seu rosto encoberto da fronte Divina e olhou direto para o antro de poder indescritível à sua frente. O dilúvio de luz afogou sua consciência em instantes, e ele teve uma visão: um mundo esférico em três dimensões, suspenso em um jovem e expansivo cosmos; um mundo cheio de fluxos químicos e leis naturais, habitado por seres vivos multiformes. Aquela experiência afetou profundamente o espírito do serafim, que passou a vagar pelo reino celeste imaginando aquela nova realidade, aquela nova existência; um novo plano em que seu espírito seria encoberto de carne, sangue e instintos.
Retornando ao seu lugar de dever, permaneceu por muito tempo em silêncio em meio àquelas vozes e luzes, até que resolveu descobrir seu rosto uma segunda vez e olhar na face do Criador para fazer o pedido escandalizador de se tornar um ser mundano. Todos os seres santos à sua volta, que mantinham cobertos seus rostos, cobriram também seus ouvidos para o voz que blasfemava, e se afastaram. Apenas outros três permaneceram com o ultrajante, olhando exatamente na mesma direção. Arcanjos passaram por ali com suas espadas desembainhadas para saber o motivo da desordem. Eles se cobriram com as asas para se protegerem da presença de Deus, enquanto se aproximavam. Destacaram quatro silhuetas estáticas diante de todo aquele poder e ouviram a blasfêmia ecoando na mente de todos os próximos. A aproximação era dolorosa, então se afastaram e guardaram o fato para si mesmos

Não muito distante desse episódio se sucedeu o grande monólogo de Deus, repleto de ordens verbais que culminaram na criação do universo e tudo que nele há. E os filhos humanos de Deus já andavam sobre a Terra. O querubim Lúcifer, que tinha um grande afeto por todo o Céu pela dádiva de sua beleza e de seus cânticos, negou-se a se ajoelhar diante da humanidade recém-nascida depois de uma ordem explícita do Criador, trazendo vários sectos à sua causa. Foi um fato que escandalizou os celestiais de tal maneira que irrompeu a guerra no Céu. Independentemente do motivo que deu início à batalha, todos os anjos que possuiam mentes e cobiças estranhas sofreram pela ameaça de serem caçados, capturados e escoltados para a beira Abismo. Kadoshiel fugiu da perseguição e nunca mais viu os amigos que suportaram ficar de pé junto com ele, diante de Deus. Separou-se tanto das legiões angelicais que margeou o limite do oblívio, até que, inacreditavelmente, se deparou com uma fenda ondulante que dava abertura para o universo, para o físico. Lançou-se através da abertura, e ficou perdido por tempos imemoriais no vazio até enfim passar por galáxias, constelações, pelo nosso Sistema Solar e finalmente encontrar a primícia da Criação, o planeta Terra, que viu em sua visão. Ele se precipitou na atmosfera rasgando os céus da região mediterrânea como um relâmpago e atingiu metafisicamente o solo, que respondeu com um terremoto terrível. O anjo caído havia impactado a cidade-estado de Esparta, no ano de 464 aC.
No dia que precedeu o cataclismo, a jovem Cinthia estava consumando seu casamento com o soldado espartano Epicuro. A noite foi alegre para os dois e terminaria tranquila se não fosse pelo desastre que exterminou quase toda a população pela manhã. O casal sobrevivente deixou Esparta e migrou para Atenas, para tentar uma nova vida. O soldado não sabia que sua esposa havia engravidado.

Nos meses que sucederam a viagem, os dois conseguiram se estabelecer na cidade de Atenas, e Cinthia deu à luz um filho único, que chamou de Arion. Eis que estava ali, nos braços de uma mortal, dormindo como um anjo, a encarnação de Kadoshiel.
Arion teve um infância normal, exceto pelas características peculiares que abrangiam uma força que era um pouco maior para sua idade e um estranho príncipio de gosto por carne fresca que mantinha em segredo. Ele não relembrava de seu passado nem tinha consciência de sua real natureza. Um ancião que se vestia de túnica e capuz pretos sempre penalizava o garoto com um olhar severo quando se encontravam, ocasionalmente, cruzando rotas nas ruas.
Arion completava 16 anos no dia em seu pai, Epicuro, retornava de uma comitiva na distante região da Ásia Menor, depois de 8 anos ausente. Foi um momento jubiloso na vida de uma mulher e um filho que não esperavam mais a reconstituição total da família, mas essa foi a segunda vitória depois da sobrevivência do terremoto que derrubou Esparta. O pai vigoroso pouco aparentava mundança pela idade ou pelo cansaço depois daquele todo aquele tempo, mas seu comportamento mudou. Seu relacionamento pela família se tornou basicamente mecânico e teatral, sem intimidade ou honestidade mútua. Epicuro demonstrava muita impaciência com seu filho quando Cinthia se ausentava, até que aquilo se transformou em castigo corporal. Certa vez, Arion chegou a empurrar seu pai com tal força que ele foi arremessado contra uma parede que se rachou, e pedaços do teto caíram. O soldado se levantou e se recompôs com os olhos completamente negros, com um sorriso estampado no rosto. Imediatamente, o garoto sentiu uma força se expandindo em seu âmago, algo que nunca sentiu antes. Sem que ele soubesse, havia um halo luminoso envolvendo sua cabeça. Ao falar em línguas inumanas e estender a mão aberta para seu pai possuído, uma fumaça foi expelida da boca do homem como se irrompesse de um vulcão, retirando-se rapidamente do lugar.

Arion passou pela adolescência e se tornou adulto com aquela experiência inesquecível em sua consciência. Seu pai havia morrido no instante em que se chocou na parede, mesmo que a possessão tivesse persistido. Sua mãe ficou muito vulnerável e doente depois de ter visto seu marido recém-chegado morto pelas mãos do próprio filho, até que fatidicamente terminou por se suicidar.
Para o rapaz não havia escolha senão fugir, uma vez que foi acusado pelo crime de assassinar um herói de guerra. A pena, obviamente, era a morte. Partiu então para o centro da Grécia e correu para as montanhas num ritmo aparentemente incansável, caçando e se alimentando de alguns animais pelo caminho, sem paciência para sequer assá-los. Não era tão ruim, apesar de tudo. Pareciam até mais saborosos. No final, despistou a todos, que acabaram por abandonar a missão.
Chegando a um monte, escalou-o até seu cume, onde se sentou e meditou por bastante tempo, olhando de cima as planícies e acalmando sua mente. Ele relembrava de alguns fragmentos fátuos. Luz, vozes e poder. Mas então ressurgiu a sensação do antigo desejo enquanto era apenas um espírito. Seus irmãos celestiais. O furor da guerra. O tempo incomensurável que passou no vazio. A dor física da encarnação. Em instantes ele se lembrou de tudo. Antes da vida, ele era um serafim. Institivamente, pronunciou seu nome com uma voz reverberante e grave que ecoou pelo lugar: Kadoshiel. Sua íris ficou policrômica e o solo tremeu. Foi uma epifania incrível e ele já não mais pensava como um rapaz que temia a perseguição dos homens, tampouco como um exilado que temia a perseguição dos anjos, pois seu desejo se concretizou.
Desceu do monte com aquela nova consciência, deixando para trás as antigas memórias, tanto espirituais quanto carnais, mantendo como vívido apenas seu nome terrestre, Arion. Saciou suas ânsias ancestrais naquele mesmo mesmo lugar, estudando o mundo dos vivos, sentindo os fluxos dos seres e os da natureza.

Não demorou muito até que pudesse entrar em sensitividade e harmonia com as correntes naturais, além de transmutá-las. Aos poucos aprendeu a solidificar e a vaporizar a água; fazer um graveto entrar em combustão; curar um animal manco, matar uma caça com uma maldição em vez de precisar alvejá-la. Reaprendeu a projetar, de si mesmo, sons e visões da realidade (como quando estava no Céu), controlando forças e ondas. O anjo encarnado demorou 11 anos em estado de iniciação na região da Ftiótida. Vez ou outra, peregrinos passavam pela região desabitada por pessoas e se deparavam com aquele homem fazendo algumas coisas surreais. Alguns tentavam se esconder quando descobertos, mas eram surpreendidos pelo homem, que aparecia do nada e apagava suas memórias, deixando-os inconscientes com um leve toque de dedos na testa. Questionando-se do porquê da tanta cautela, parou de agir assim. Começou a agradar livremente os poucos que passavam com seu espetáculo da vida, inclusive revelando seu nome para eles. Os forasteiros chegavam até mesmo a oferecer sua caça, demonstrando reverência. Arion era muito grato, apreciando e aceitando o ato, e abençoava a saúde e os mantimentos deles.
Depois de toda essa transformação, Arion resolveu rumar para sul e deixar a floresta. Desejou visitar Esparta, cidade fulminada pela sua Queda, onde deveria ter nascido. Deixou para trás um paraíso, com uma diversidade na fauna e flora dez vezes maior que a anterior.
Chegando à cidade, encontrou um povo que ainda tentava se reestabelecer. Muitas ruínas sobraram como lembrança da tragédia. Arion se sentiu muito mal com aquilo e se culpou. Lembrou-se, então, que havia nascido em Atenas, mas seu sangue era espartano. Que sentiu o coração de Esparta pulsar quando seu espírito celestial colidiu nele, concedendo carne e sangue para que nascesse entre os seus.
Arion, então, vestiu colete e elmo e forjou sua própria espada. Por 100 anos, enfrentou inimigos nas guerras helênicas, honrando seu sangue.

Arion era divinamente imponente em campo de batalha. Esbravejava e sua voz açoitava o ar como um trovão. Rugia para os inimigos como leão, antes de os matar. Ele aquecia sua espada a tal ponto que se tornava incandecente, destroçando carruagens em chamas. Até a chuva era infecciosa para o acampamento inimigo; soldados desfaleciam contraindo doenças agudas.
Arion também era claramente temido entre os seus, que já não tinham receios que seu irmão de guerra não era um mortal. Para eles, estava claro que era uma notória entidade do Monte Olimpo, enviado para auxiliá-los. O guerreiro sobre-humano, entretanto, não ofereceu a revelação real, apenas preferiu ratificar a ideia de que era proveniente da Morada dos Deuses. Permitiu-se ter seu corpo pintado com símbolos místicos e a aceitar sacrifícios, pois veio desenvolvendo uma alimentação peculiar desde pequeno. Mas não aceitou se tornar general ou receber qualquer outra patente alta. Queria avançar e lutar dentro de sua frota como um simples filho da Grécia.
Aos 127 anos, depois do século triunfal que consagrou Arion como herói, o mesmo se despediu dos deveres bélicos sob o pretexto de que precisava retornar à Morada Celestial. O povo se despediu de seu salvador que se tornou lenda e, posteriormente, foi narrado como uma divindade olímpica. Arion, o deus da vida e dos fluxos de energia.
Nos séculos que se seguiram, Arion foi invocado em preces por curandeiros e alquimistas do mundo inteiro para obterem sucessos em suas tentativas. Raramente eram atendidos e seus sacríficios aceitos. O deus agora procurava experimentar a vida humana, assumindo um nome e se mudando para um país a cada geração que se passava, sempre aprendendo mais sobre o mundo e aumentando a sutileza de suas habilidades. Hoje, Arion vive com o pseudônimo de Charles Fountain. Ele é um cientista que coleciona para si diversas graduações de Física e Biologia desde o século XIX.

Na história,Charles estava em uma reunião,quando é atacado por dois caçadores,e,embora consiga imobilizá-los,um deles consegue distrair Charles e fazer o selo que expulsa Charles dali.Então,Charles é mandado para o Solarium,aonde conversa com Deus.A conversa que ele tem com o Senhor é transmitida no próximo capítulo.


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Notas finais do capítulo

Continua no próximo capítulo.



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