Antes do Amanhecer escrita por Edward Mond


Capítulo 2
hospedagem


Notas iniciais do capítulo

Fiquei meio temeroso por esse capítulo, mas fui na coragem de escrevê-lo, pois, sem ele, não posso chegar aos próximos...



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2

hospedagem

 

Era por volta das nove, quando um carro estacionou em frente a um hotelzinho ao lado de um posto de gasolina. Do automóvel saíram um homem alto, meio barbado e uma jovem de cabelos ondulados que eram uma mistura de castanho com ruivo. Os dois eram iluminados pelo luar, que os banhava com sua luminosidade alva.

 

– Vamos ficar por aqui? – retrucou Annabel, enquanto entravam no hotelzinho dirigindo-se a recepção.

 

– Boa noite – atendeu uma mulher velha de nariz delgado e comprido, os cabelos secos caídos sobre a face fina.

 

– Quanto custa a pernoite? – indagou o pai da garota.

 

O recinto da recepção era de piso e paredes de madeira, havia uma escada num canto que conectava aos andares onde haviam os quartos, o balcão da recepção, uma mesinha de canto meio empoeirada onde ficava um telefone antiguíssimo e uma fotografia enorme que pendia na parede, era um lugar que cheirava a um mofo úmido misturado ao odor de madeira envelhecida.

 

Discutidas as taxas a serem pagas, os dois novos hóspedes tratam de levar suas bagagens e se acomodarem no quarto.

 

– Amanhã, o café estará pronto às sete, já jantamos, contudo se quiserem algo posso requentar.

 

– Não obrig... – tentou recusar Annabel, mas a comida requentada foi aceita pelo seu pai.

 

A porta do quarto se abriu e os dois puderam entrar, a mulher da recepção sorriu um sorriso enjoativo e fechou a porta do quarto. O cômodo tinha duas camas, entre elas uma mesinha de cabeceira, numa parede uma janela que deixava entrar tanto a luz do luar quanto a luz dos faróis de carros que paravam ali ou passavam em altas velocidades, uma porta noutra parede levava ao banheiro e só.

 

– Nossa, que espelunca – reclamou a garota, pondo as coisas sobre a cama – quanta poeira...

 

– É melhor do que nada e, se não quiser jantar, comerei seu prato! – retrucou o pai da garota – Vai ficar com fome até amanhã?

 

– Prefiro, a comer essas coisas de beira de estrada.

 

– Se é assim, vou telefonar para sua avó do telefone da recepção, volto em alguns instantes.

 

Annabel ficou sozinha no quarto. O cômodo parecia meio amedrontador, a menina andou até o banheiro e ligou à luz, as paredes eram revestidas de azulejos velhos e amarelados, um sanitário num canto, um chuveiro no outro e uma pia velha com um espelho rachado. Ela caminhou até a pia, girou a torneira provocando um leve guincho, ouviu-se o arrastar vagaroso da água pelos canos, até brotar da torneira. Ela, então, formou uma concha com as mãos, acumulou um pouco de água e, abaixando a cabeça, molhou a face fatigada pela viagem.

 

Repentinamente, sentiu um toque gélido percorrer-lhe toda a espinha vertebral. Olhou-se no espelho, os sentiu a mesma sensação do pesadelo, aquele pesadelo estranho que tivera enquanto dormira na viagem. Sentiu os pelos da nuca arrepiarem-se e sua respiração passou a tragar um ar enregelado que doía nos pulmões.

 

Segurou-se na pia. Uma tontura, parecia mergulhada num turbilhão, o chão faltava-lhe os pés e, o ar, os pulmões. A vista fraquejou, as pálpebras tremularam, sentiu uma respiração fraca próxima de sua nuca e, quando deu conta, havia alguém ali, atrás, sua imagem refletia no espelho junto com a dela. Mas a vista, fraquejada, a tontura e a imagem se perdiam, só ficaram os olhos, eram dois olhos de ameixas, tão purpúreos e fortes que possuíam quem os olhasse... Caiu.

 

– Annabel? Annabel? – acordou com leves batidinhas no rosto.

 

A voz do pai, num tom de preocupação, a tranqüilizavam, por se ver longe daquele olhar arroxeado. Sussurrou que estava bem com uma voz fraca, abrindo os olhos levemente e percebendo que se encontrava no chão do banheiro.

 

– Você vai jantar sim!

 

– Mas... – tentou recusar.

 

– Isso é fraqueza! Estou mandando mocinha, vamos jantar!

 

Não restou nenhuma alternativa. Recuperada do rápido desmaio, ela desceu as escadas com a ajuda do pai e acabou tendo que comer a comida requentada enquanto ouvia as histórias que a velha da recepção contava sobre os estranhos viajantes que ali passavam. Mesmo assim, a história mal era ouvida, a mente de Annabel se encontrava em outro lugar, enquanto comia a sopa, tentava relembrar a imagem daquilo que vira, mas só se lembrava dos olhos, olhos enormes de íris cor de ameixa, confundindo-se com o brilho da pupila.

 

Quando foi dormir, não conseguiu esquecer aquele olhar que até aquele momento ainda lhe arrepiava os pelos da nuca, entretanto não conseguia esquecê-lo, ele se tornara fixo, parecia não abandonar a sua mente e, ao mesmo tempo, que temia aqueles olhos ameixa, eles pareciam, de uma certa forma, despertar nela um desejo, algo selvagem.

 


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