Antes do Amanhecer escrita por Edward Mond


Capítulo 1
na estrada


Notas iniciais do capítulo

Sobre o título: Queria ter colocado ‘Na noite mais escura’ mas isso seria plágio de título e quando me dei conta, mudei! Fiquei pensando e pensando e resolvi colocar ‘antes do amanhecer’, pois dizem que a hora mais escura é antes do amanhecer. Bem, espero que gostem... ^^



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1

na estrada

 

Remexeu-se no banco do carro. As nádegas pareciam estar dormentes de tanto tempo acomodadas naquele estofado desconfortável, as pernas gritavam para serem esticadas, as costas choravam com a péssima posição e os olhos se cansavam de ver a estrada passar e desaparecer no horizonte sem fim. Não havia música para alegrar a viagem, somente monotonia, tédio e mais nada, o vazio da longa e cansativa viagem, que tirava dos viajantes alguns poucos bocejos.

 

Os viajantes não eram muitos, só dois, ocupando os dois bancos da frente, o motorista e um passageiro, quer dizer, uma. Já passavam por uma placa quando ela resolveu reclamar a falta de algo mais divertido naquela chatice constante.

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– Por que não põe um CD? – questionou a garota.

 

– O som tá quebrado – informou o motorista, que por sinal, era o pai da garota.

 

– Precisamos mesmo viajar?

 

– Faz muito tempo que você não vê a sua avó, você poderia ser menos egocêntrica e pensar que ela já está quase morrendo? – irritou-se, batendo as mãos no volante.

 

Ela permaneceu calada. Os olhos, duas bolas que às vezes não se distinguiam o castanho escuro da íris e o negrume da pupila, voltaram a fitar desconsolados o vazio da estrada e a vegetação marginal a ela. A face, alva, contraia os músculos com a leve irritação provocada por aquele pequeno diálogo. A boca, crispada, de lábios umedecidos e avermelhados. Os cabelos variando de um tom castanho a um ruivo escuro que se confundiam entre o ondular dos fios. A cabeça pendia e era apoiada pela mão, onde no pulso havia uma pulseira de prata, reluzente e bela. Pulseira da qual fora dada por sua mãe, antes dela partir, dela também herdara o nome, Annabel, e somente isso ficara de memória, o resto, o tempo tratou de apagar.

 

– Por quanto tempo vamos ficar lá?

 

– O necessário.

 

Remexeu-se no banco. Odiava quando as respostas eram incertas. Lembrou que trouxera o celular, metera a mão no bolso da calça, mas quando retirou, o aparelho estava sem carga. Murmurou ‘droga’ baixinho, enquanto colocava o celular de volta no bolso. Havia prometido não esquecer de ligar quando chegasse lá, mas seria difícil encontrar o celular no meio da bagunça daquela mala, pior seria se tiver esquecido-o em casa, ficaria sem notícia dos amigos durante toda a permanência naquele lugar que ela tachava de fim de mundo.

 

Lembrava-se bem do lugar onde sua avó morava, não chegava nem a ser uma cidade. A igreja era o centro, ao redor cresceram casas em ruas tortas, com árvores velhas de troncos retorcidos, as ruas eram de pedras irregulares e mal colocadas, praticamente não haviam carros e muito menos a necessidade de ter um. Ao redor do povoado, vilarejo, ou seja lá o nome que se dê aquele miúdo conglomerado de habitantes, formava-se um pequeno bosque, cortado por um rio. Era tudo muito desértico e abandonado, esquecido ali no tempo, a tecnologia desenvolvia as cidades e marginalizava locais como aquele que se tornavam ‘apagados’ do mapa.

 

Sentiu uma certa sonolência, a estrada se perdia de vista, a visão embaciava, escurecendo lentamente, adormeceu. Os leves solavancos do carro provocados pela viagem a faziam acordar momentaneamente, mas voltava a dormir, os olhos pesavam e a mente retornava ao mundo fantasioso dos sonhos.

 

Via uma mulher, de longos cabelos luminosos, que se estendiam até a cintura, seus olhos brilhavam como pérolas e sua pele parecia tão alva, envolvida num vestido que parecia ser feito de água, os lábios, quase da cor da pele, se abriam e articulavam seu nome, os braços finos se erguiam, parecia querer abraçá-la. Os cabelos balançavam, mas não havia brisa, a boca articulava, mas não havia som, mesmo assim, sentiu naquela figura o cálido toque materno. Chamou-a e correu em sua direção, era ela, não havia outra expectativa, não podia ser mais nada, era ela. A mulher, que julgava ser sua mãe, continuava parada, de braços abertos, a boca articulando e um olhar que disparava aquele sentimento materno. Odiou-a por toda a infância por tê-la abandonado, mas, naquele instante, queria abraçá-la e senti-la próxima. Corria e corria, até que abraçou-a, sentiu os braços finos e pálidos abraçá-la e abraçaram-se.

 

Não era cálida, nem morna, era gélida, fria. Os braços pálidos se esqueletizaram, a face tornou-se ossuda e magra, sentia uma respiração ártica inalar um ar pesado e sombrio e, quando ergueu os olhos, a mulher se desfigurara, não era mais quem julgava que era. Estava presa, presa nos braços daquela cadavérica criatura, empurrava, empurrava, mas a força dos seus braços era inútil. Gritou, mas a voz era nula, sentiu o ar faltar, berrou... E, quando conseguiu se livrar da criatura, seu corpo foi jogado no nada do sonho, sentiu seu ombro doer e, então, acordou.

 

Quando abriu os olhos, o ombro doía mais que tudo. Olhou para os lados, o carro se encontrava parado. Concluiu logo que haviam batido em algo, o que causara a freada brusca que a acordara.

 

– Você está bem? – perguntou seu pai.

 

– Estou – disse, não querendo comentar sobre o ombro, provavelmente seria uma dor passageira – o que aconteceu?

 

– Acho que atropelei uma pessoa – falou ele, com os olhos marejados pela culpa – Ele veio na minha frente...

 

– Você tem certeza? – indagou Annabel – talvez a viagem o tenha cansado.

 

Notou então que já se fazia noite, a única luz naquela estrada, que parecia sem começo nem fim, era a dos faróis do carro.

 

– Você fica aqui que eu vou olhar...

 

– Certo.

 

Annabel se encostou no banco. O ombro doía levemente, era uma dor aguda, talvez o deslocara, ou era uma mera dorzinha que parecia ser enorme mas não se passava de nada, só dor. Já o pai da garota, este abriu a porta e saiu do carro, caminhou até a frente e parou, estático.

 

– Então? – perguntou, metendo a cabeça para fora da janela.

 

– Não... não há ninguém! Eu juro, eu vi alguém!

 

– É melhor pararmos, o senhor deve estar cansado.

 

A lua, no topo do céu, se fazia alva com seu luar branquelo. As estrelas brilhavam trêmulas no céu e as nuvens desapareceram naquele lugar, parecia tudo calmo. O motor do carro voltou a ser ligado, o veículo entrou em movimento e os seus dois viajantes seguiram viagem, agora até o hotel mais próximo, em busca de uma estalagem para descansar durante a noite.


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Notas finais do capítulo

Obrigado ^^

Ps: Só espero que a parte do sonho não tenha ficado confusa, mas sonhos são confusos mesmo.



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