Creio que ainda estão com uma dúvida.    Quando e por que me apaixonei pela morte.  Bem, respondo-lhes agora.

Ao longo da minha vida ouvi e vi pessoas falando da morte, chorando e culpando-a pelo destino.

Vi quadros obscuros retratando-a.  Todo esse tempo sempre pensei: 'A morte é assim tão má? Ela so faz o que se deve fazer.'  

E ao longo dos anos meu amor por ela so foi aumentando. Vocês se perguntam e alegam como todos os outros: Que garota louca! Amar algo que nem sabemos se existe. E eu respondo-lhes novamente, que não me julguem pela coragem.   Eu realmente não me importo com o que pensam, aqui neste buraco fico apenas rindo desses pensamentos desnecessários sobre mim que vocês insistem em ter.

Eu vi a morte; e ela é linda. Tão linda quanto os anjos brancos, por que a morte não tem rosto e ainda sim posso ver aquilo que se parece lágrimas sairem de onde deveriam ser seus olhos. Ela chora e sofre pelas pobres almas que carrega, o que me faz pensar que um dia já forá um humano pecador, que de ter tirado tantas vidas com a mão coberta de sangue e um sorriso no rosto, acabou por chorar eternamente.

Novamente pergunto-lhes... Quem seria a morte antes do pecado? 

Um peixe talvez, ou algum anjo de gelo, frio o suficiente para congelar as almas e o choro daqueles que sofreram na vida e após ela.  Daqueles que agora, vivem outra vida cruel novamente, que voltaram a viver de acordo com seu carma.

Pobre morte que chora aos inocentes que carrega, não podes voltar a sofrer vivo, por que mesmo essa alma sem rosto possue  um coração. Essa é a causa do teu sofrimento, teu coração que pulsa com a culpa, toma a forma de água que jora do nada.

O que te faz tão bela e tão pura.

Aqui nesse buraco lembro-me de minhas outras vidas esquecidas, que agora morta me deixam lembrar. Oh, eu era tão feliz, vejam aquela garotinha que corre em roupas de trapo, sou eu, em busca de flores para meu avô doente. Talvez ali eu já pensasse em ver a morte; que outro motivo me dariam para a felicidade dessa que vêem correr tão alegremente? 

Sim, desde o começo da minha alma, desde o dia que me criaram da matéria divina e bruta, que sou considerada um monstro.

Penso que já tenha sido amante do pecado, para sentir tamanho prazer em ver uma carne morta, tamanho prazer em sangue e lágrimas. As coisas que sofrem me parecem belas.

Desde as lesmas derretidas ao sal, aos homens que matam e morrem na guerra. 

O mundo é tão cruel que me faz banhar-se em meio a agonia.