Capítulo 1. Melancolia

Eu nunca acreditei em Papai Noel. Nem mesmo sei por que, mas desde que me entendo por gente, eu duvidei da existência do velho barbudo de vermelho que só trabalha uma vez por ano. Eu também nunca acreditei no coelho da Páscoa, afinal coelhos não põe ovos.

Contudo, demorou um pouco mais para mim acreditar que aliens, viajantes do tempo, espers, fantasmas e youkais daqueles desenhos do tipo ‘a justiça sempre vence o mal’ que passam na TV não existiam realmente. Não... eu provavelmente já sabia, mas não queria admitir. Eu desejava do fundo do coração que todas essas criaturas fictícias aparecessem repentinamente para mim, por que comparado esta minha vida normal, o mundo que esses programas divulgavam parecia muito mais excitante, e eu queria viver nesse mundo também. Eu queria ser a garota corajosa que se encontra com o lindo guerreiro  e juntos salvam o universo, eu também não me importaria em ser uma personagem moe que é sempre salva dos perigos pelo príncipe, ou quem sabe uma maga poderosa que consegue banir todos os demônios com um único feitiço.

Infelizmente a realidade é cruel, porque a realidade é a realidade, e sendo que eu sou uma pessoa real, nenhum desses eventos aconteceu comigo. Fiquei deprimida por um tempo ao constatar que as leis da física ainda exerciam certo poder ao meu redor, mas superei tudo rapidamente e parei de procurar por Óvnis, parei de olhar shows de caça-fantasmas na TV, parei de tentar fazer meu lápis levitar.

Assim que terminei o ensino fundamental e saí de vez desse mundo de fantasia e permaneci firmemente presa á realidade. Com pensamentos simples e pacatos na minha mente, eu me tornei uma normal e despreocupada estudante do Ensino Médio.

Foi assim até o dia em que eu conheci aquela pessoa.

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E então eu entrei na escola do meu bairro. Estou seriamente arrependida dessa decisão, pois a escola fica localizada exatamente no cume do Monte Fuji, e eu terei que escalar todos os dias pelos próximos três anos, mas essa é uma das únicas escolas públicas desta área que aceitaria o meu vergonhoso histórico escolar.

Acabei dormindo um pouco mais do que devia, pois como todos sabem, você dorme melhor quando está prestes a acordar, e eu nunca abrirei mão daqueles últimos dez minutinhos, então é melhor desistir dos pensamentos de ir para a escola despreocupadamente.

É o primeiro dia, e estou praticamente atrasada. Provavelmente terei que repetir esse mesmo exercício todos os dias. Isso é deprimente...

Amarrei meu cabelo no habitual rabo de cavalo enquanto subia aquela ladeira, e assim cheguei à escola. A cerimônia de entrada foi tão entediante que nem é digna de nota, e agora que eu percebo, vários dos meus antigos colegas também estão aqui, ou seja, minha vida escolar vai continuar a mesma, não importa onde eu esteja. Todos estavam com aquele olhar esperançoso e cheio de incerteza em seus rostos, aquela sensação desagradável e saudosa de entrar em uma escola nova, mas para mim não é esse o caso.

Os garotos vestem blazers esportivos, e as garotas, uniformes de marinheira. Uma combinação bizarra, vinda daquela mente pervertida do velho diretor que tem fetiche por colegiais, sem dúvidas. Enquanto eu pensava coisas inúteis, eu e meu colegas não tão novos assim nos dirigimos á sala 1-5.

Nosso professor representante era Okabe-sensei, de educação física. Depois de um longo discurso sobre handball, ele repentinamente mandou nos apresentarmos.

Uma por uma as pessoas se apresentaram, dizendo seus nomes, escolas, hobbyes, comidas favoritas, estado civil, e outras besteiras. Logo a minha vez chegou, e eu discursei meu texto cuidadosamente bem pensado, sem tropeçar nas palavras ou corar. Senti aquela sensação de completar uma tarefa desagradável invadir meu corpo enquanto voltava a me sentar.

A pessoa atrás de mim se levantou, e Ah! – eu nunca esqueceria disso, pelo resto da minha vida – se preparou para falar.

— Meu nome é Suzumiya Haruki, me formei na Escola Média do Leste - Eu não me preocupei em virar para trás ao ouvir a voz ríspida de um garoto - Não me interesso em humanos normais, porém se alguém aqui for um alien, um slider, um esper ou um viajante do tempo, me procure. Isso é tudo. – dizendo isso ele se sentou, como se não houvesse dito nada de mais, ignorando habilmente os olhares indignados e curiosos que lhe eram lançados.

Me virei para trás para olhá-lo, seguindo o exemplo dos meus colegas.

Ele tinha um cabelo castanho escuro, liso e bagunçado. Seu rosto era lindo, e estava cheio de indiferença e desafio enquanto o resto da turma o encarava. Seriedade e determinação brilhavam naqueles olhos escuros e profundos, que escanearam toda a classe antes de pousarem em mim, o que me deixou levemente corada, eu admito.

Ele estava tentando ser dramático? Chamar a atenção?

Depois de alguns segundos daquele silêncio denso e desagradável, o professor fez sinal para a próxima aluna continuar, e a atmosfera pesada se dissipou.

E assim nós nos conhecemos. Inesquecível.

Eu queria realmente acreditar que tudo não passava de uma coincidência.