Margaret Através do Espelho escrita por Alice Moor Schiller


Capítulo 7
Capítulo 7




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No capítulo anterior...

- É um prazer conhecê-lo, Sr. Joel. – Eu disse, sorrindo.

- Digo-lhe o mesmo, Margaret. Eu estava ansioso por te conhecer. – Ele sorria.

- Licença, Joel, vou levar Mag ao novo aposento dela. – Sarah fez uma pequena reverência e voltou para o corredor.

Naturalmente, eu e Diego fizemos o mesmo.

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Quase que em frente à mini-biblioteca do Sr. Joel, havia outra porta. Sarah me disse que aquele era o quarto de Diego. Então o meu não devia estar muito longe...

- Mag, este é o seu quarto. – Estávamos parados em frente à última porta do corredor sem saída. A porta já estava aberta e ela estava estendendo a mão em que segurava a pequena (nem tanto se comparada a uma que eu usei quando entrei no zoológico pela primeira vez...) chave que parecia ser feita de ouro.

- Obrigada, Sarah. Prometo não incomodá-la enquanto estiver aqui. – Eu disse, pegando a chave.

- Você não incomoda de forma alguma, querida. Descanse, certo? Amanhã nós conversamos sobre... hum... A sua contribuição. – Ela tentou usar uma palavra que fosse mais adequada.

- Sim, eu vou descansar. – Disse, sorrindo. Eu precisava mesmo descansar...

Sarah é rápida. Eu não devia me impressionar tanto com isso, foi quando recebeu o sangue dessa quiróptero que Diego deixou de ser lerdo, mas se ele corria na velocidade da luz, então existia algo mais veloz que a luz: Sarah.

  - Vou procurar comida. – Simon sussurrou em meu ouvido, todo guloso, desceu do meu ombro até a pontinha dos meus dedos e pulou para o chão. 

- Diego! – Eu chamei, quando percebi que ele estava tirando a chave do quarto dele do bolso e virando-se em direção a sua porta.

- Sim? – Ele perguntou, olhando para mim.

- Quero conversar com você. Será que pode vir aqui um instante? – Eu perguntei.

- Ah... Então tá. – Ele disse, sem entender direito o que eu queria.

Então ele entrou no meu quarto, eu fechei a porta atrás de mim e comecei a despejar tudo que eu queria falar para ele, todas as minhas incertezas. Sequer reparei na decoração do meu novo quarto.

- Você reparou em como Saya estava confusa? – Perguntei.

- Sim. Ela ainda não deve ter estabilizado a memória. – Ele falou, ainda sem entender muito bem.

- Diego...

-Diga!

- Eu estou com medo... Com medo de não conseguir mais voltar para casa. Tem quatro anos que estamos aqui, caramba! Eu nem sei se meus pais ainda estão vivos.

- Eu já te disse que os velhos sabem se virar. – Ele sorriu torto.

- Mas eu não sei. Eu quero voltar para casa. Eu quero que isso tudo acabe. Que lugar é esse? O que está acontecendo? Eu quero morrer. Não suporto mais. Não... Não suporto... – Eu me joguei na cama, abraçando o travesseiro, me encolhendo, deixando as lágrimas molharem meu rosto.

Diego tirou a capa, ficando somente com sua calça jeans e sua camisa regata preta, então se sentou próximo a mim e segurou meu rosto delicadamente, pondo sobre o colo dele. Ele enxugou minhas lágrimas com seu toque suave, enquanto elas teimavam em escorrer. Quando eu consegui parar de chorar, no aconchego do seu colo, que me trazia aquela sensação de lar, ele começou a fazer cafuné em mim. Eu fechei os olhos, lembrando de como mamãe me acariciava a cabeça para me fazer dormir. Lembrando de quando eu tinha 12 anos e sonhava com o meu lindo baile de debutante.

Mas então eu caí na droga da toca de um coelho. Era fim de ano. A terceira guerra mundial acabava de estourar. Papai foi intimado a combater, por nosso país. Foi ai que minha mãe decidiu que me enviaria para viver com uma família da Suíça. Era um dos poucos países neutros na guerra.

Diego era nosso vizinho, meu amigo de infância. Meus pais eram muito amigos dos pais dele. Ele tinha um irmão mais velho, que também foi enviado para guerra, assim como o pai dele. A mãe de Diego também conseguiu enviá-lo para viver com uma família da Suíça, embora fosse difícil sair do país em tempos de tanta instabilidade e conflito.

  Eu lembrava que havia um senhor, uma mulher, um bebê e uma garota de cerca de cinco anos vivendo naquela casa. Tinha um lindo jardim. Logo no primeiro dia em que chegamos, eu e Diego corremos pelo jardim, brincando de pega-pega. É claro que eu venceria, ele era bem lentinho.

*Flashback*

Olhei para trás para me certificar de que eu não corria em vão. Sim, ele ainda me seguia. Eu podia ver o garoto correndo a cerca de 5 metros de distância. Eu tentava aumentar a velocidade ao máximo que podia. Mas isso não durou muito tempo. Simplesmente comecei a cair, cair, cair. Down, down, down... Parecia uma queda eterna. As paredes eram de terra, dava para dizer que era uma toca de coelho, tatu ou sei lá o que.

Mas havia mesas, xícaras, colheres, sofás, bules e livros flutuando ali e era sem dúvidas muito mais profundo e largo que qualquer toca de coelho comum. Após um minuto caindo e caindo, olhei para cima e vi Diego aproximando-se. Quando ele chegou perto o suficiente, segurei a sua mão, perguntando loucamente o que estava acontecendo e se eu estava sonhando.

- Calma. Vai ficar tudo bem, prometo. – Ele dizia.

Foi uma longa queda até finalmente nos batermos em terra firme. Olhei para cima na intenção de ver de onde havíamos caído, talvez tivesse algum jeito de voltar pelo mesmo caminho. Mas tudo que vi foi um teto quadriculado de preto e branco. O mais estranho foi que nesse exato instante, eu e Diego fomos puxados por alguma força (se fosse um lugar normal, eu chamaria de gravidade) para o teto.

Um lêmure (que praticamente se camuflava naquele piso) surgiu do nada, dizendo:

- Quem são vocês? Estão me fazendo perder tempo! Já é tarde! Estou atrasado! A Rainha Azul vai cortar minha cabeça!

- Hey, onde estamos? Como assim um lêmure que fala?! – Perguntei, espantada, levantando e sacudindo meu vestidinho preto e branco no estilo bonequinha, que estava cheio de terra.

- Onde estão?! Ora, mais que pergunta! Isso é algum tipo de piada? Como assim “como assim um lêmure que fala”? Garota engraçada! Todos os lêmures falam. Ai meu Deus! Já é tarde! Não me faça perder tempo.

O animalzinho listrado saiu correndo em direção a uma parte da parede circular do cômodo. Eu podia jurar que ele ia arrebentar a cara daquele jeito, mas a parede não passava de um pano preto.

- Vamos, Diego! – Eu gritei, correndo na mesma direção que o lêmure.

*Fim do Flashback*

-Diego, será que vamos mesmo conseguir voltar? – Perguntei, sem abrir os olhos.

-Claro. – Ele disse, soando mais confiante do que eu sabia que ele realmente estava.

- Acho que você se acomodou demais vivendo por aqui com essa Sarah. – Resmunguei.

- Você está com ciúmes. – Ele afirmou, deixando seu lindo sorriso tomar sua expressão.

- Estou. E às vezes é bem inconveniente você ler minha mente. – Fiz cara de coxinha.

Ele acariciou meu rosto, sem deixar o sorriso sumir. Os olhos dele brilhavam como nunca. Olhava para mim como se estivesse apaixonado.

- Eu estou apaixonado.

- Por Sarah? – Perguntei.

- Não, bobinha. Por você. Você sabe disso, não tenha ciúmes.

Eu não pude deixar de sorrir. Mas logo o meu sorriso se desfez.

- Eu não quero beber sangue. – Engoli seco, me enojando só em pensar em tal situação.

- Você vai descobrir que é bem melhor do que parece. – Seu sorriso ganhou um tom maldoso.

- Ah, claro. Até parece.

-Relaxe, Mag. – Ele adotou o apelido. – Amanhã Sarah vai conversar direito com você, ninguém vai te obrigar a fazer nada, certo? Eu já disse que fiz isso para te trazer para perto de mim. – Ele me tranqüilizava. – E também... É um pouco egoísta, mas viverei pela eternidade... Não quero te perder no meio do caminho, entende?

Eu levantei a cabeça do colo dele, sentando-me ao seu lado e o olhando no fundo dos olhos cor de mel.

- Diego, eu ainda acho que podemos encontrar algo que nos ajude em Narnia. – Eu mudei de assunto. Ele estava mesmo sendo egoísta, embora eu o entendesse... Acho que se eu fosse imortal, ia desejar que ele também fosse.

- Tudo bem. Você ainda tem tempo para decidir quanto a isso. Deve ser bem ruim ter que se transformar na criatura que você mais odeia... – Ele fez uma pausa e voltou a falar. - Eu acho que seu lêmurizinho devia saber como voltar aquele lugar onde o encontramos pela primeira vez. – Ele jogou as palavras e apertou a mandíbula como um cão raivoso.

Eu dei de ombros. Era a mais pura verdade. Mas Simon sempre inventava alguma desculpa quando eu tentava saber como chegava até o lugar quadriculado com paredes de pano. Devia ter alguma forma de voltar pelo mesmo lugar do qual viemos ou sei lá.

- Sabe, acho que eu me acomodei mesmo. Eu quis desistir de voltar. Mas eu vou te ajudar de todo jeito, eu prometi que tudo ficaria bem e se para você não está bem assim... Você vai voltar para casa, viu? – Eu assenti. – Mas eu já tenho tudo que eu preciso, eu tenho o meu lugar aqui, uma família. E eu tenho você.

Ele começou a aproximar lentamente o rosto do meu. Eu sabia o que ele queria. No entanto, coloquei o dedo indicador na pontinha do nariz de Diego e disse:

- Você não está querendo dizer que quer continuar aqui, né? Com essa história de ter um lugar e uma família nesse mundo... – Essa idéia me preocupava.

- Não pense assim. Vamos continuar procurando o caminho, só isso.

Ele não tinha respondido minha pergunta, era como se estivesse evitando. Isso estava me deixando louca. Mas eu não podia me deixar levar por coisas futuras. Insistir nisso só ia provocar conflitos. Ele tinha razão, só precisávamos continuar procurando o caminho, pronto. O resto era o resto, por mais que me preocupasse o tamanho da dificuldade que ele teria em se afastar de sua rainha...

Diego voltou a aproximar seu rosto do meu. Dessa vez eu não o impedi, deixei que nossos lábios se encostassem, deixei que o beijo rolasse. Os círculos que ele desenhava em minha bochecha com seu polegar me provocavam arrepios. Eu envolvi as costas do garoto com meus braços, percorrendo com a mão direita da lombar até a nuca. Ele deixou que cada uma de suas mãos alcançasse os meus seios, apertando-os levemente, massageando. Eu corei. A respiração dele estava ofegante. Percebi que ele precisou se esforçar bastante para conseguir interromper o beijo.

- Desculpe. Eu... – Ele disse, desviando o olhar do meu rosto avermelhado.

-Shh... – Eu fiz, colocando o indicador em frente aos meus lábios. – Não precisa se desculpar. – “Eu gostei. Por mim podíamos continuar”, pensei, esquecendo que ele ouviria.

Diego levantou e pegou sua capa no chão. Quando saiu do quarto, ele ainda gargalhava.

                      

By: Alice M. Schiller


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Notas finais do capítulo

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