As lágrimas escorriam pelo rosto de Mari, que sorria para Hiroshi, que a encarava de olhos arregalados.
     -Você falou! - e sem se conter, puxou a garota num abraço. - Nem acredito! Estou muito feliz!
     Abraçando-o de volta, Mari percebeu que sua cabeça ficava na altura do peito do rapaz, e podia ouvir o coração de Hiroshi bater rápido.
     -Mari-chan, preciso te falar uma coisa muito importante. - sua voz estava mais pesada.
     Hiroshi a segurou pelos ombros e a levou até a ponta da cama, sentando-a. Puxou a cadeira para ficar na frente de Mari e, segurando as mãos dela, falou:
     -Eu não poderei te visitar mais. É uma longa história, não há tempo de te contar. Na verdade, eu não posso dizer. Só o que precisa saber é que estou muito encrencado, e vou ficar ainda mais quando ele descobrir que vim aqui. - Hiroshi suspirou e, abraçando-a de novo, disse: - Por favor, não fique brava. Se nos encontrarmos de novo eu poderei estar diferente... Droga, eu não posso explicar! - olhou-a com carinho, secando o rosto dela, molhado por lágrimas novas. - Não se esqueça desses dias que passamos juntos. Foram muito importantes para mim.
     Ele segurou o rosto de Mari e, aprozimando-se devagar, alcançou os lábios dela, Movia-se com delicadeza, como se ela pudesse quebrar. O corpo de Mari parecia ser de chumbo, porque ela não conseguia de mover, só correspondia ao beijo. Hiroshi se afastou e, colocando a testa na de Mari, sussurrou:
     -Não se esqueça de mim. Cuide-se Mari-chan, e fique bem.
     Quando abriu os olhos, tudo que Mari pôde ver foi a sombra dele se distanciando. Antes de dormir, ela chorou de tristeza por Hiroshi ir embora sem dar muitas explicações. E chorou também de alegria por ter falado, e pelo beijo.

     A cada passo que dava, Hiroshi ficava mais ansioso. Sabia que o fato dele ter ido visitar Mari era motivo suficiente para levar uma bronca. E ao beijá-la foi como provocar uma briga ainda maior.
     Chegou ao pequeno conjunto de prédios iguais, e depois de se apresentar ao porteiro foi em direção ao seu apartamento. Não era grande, mas o suficiente para ele ficar por um tempo.
     Assim que alcançou a porta, sentiu que a noite seria longa. Sem acender nenhuma luz, foi até a cozinha e pegou uma garrafa com água na geladeira. Ao fechá-la, ouviu a voz que temia.
     -Venha até aqui.
     Sabia que ele apareceria, só não achou que fosse tão rápido. Respirando fundo, Hiroshi foi para a sala ainda escura.
     -Deixe a luz apagada e sente-se logo. - falou a voz brava. Quando Hiroshi sentou, disse: - Pensei que minha ordem havia sido clara. Porém, você não em obedeceu. Posso saber por quê? 
     Hiroshi achou que seria melhor ficar em silêncio, esperando o resto da bronca. Mas quando a voz voltou a falar estava ainda mais brava.
     -É bom você começar a se explicar Mamoru, antes que eu perca de vez minha calma!
     -Eu quis visitá-la hoje. Não sei porque, foi uma vontade mais forte que eu. Simplesmente senti que precisava ir lá. - seu corpo tremeu, e ficou feliz por estar escondido no escuro.
     -Você sentiu?! Ora, não me diga que está criando afeto por aquela garota?! Francamente Mamoru, acho que está perdendo a cabeça.
     -E se for isso mesmo? Ambos sabíamos que isso poderia acontecer!
     -Não deveria ser assim! Desde aquela noite você só vem cometendo erros. Espero que não tenha esquecido qual é seu papel nessa história. - a voz ficou um pouco mais baixa. - Ou eu terei que fazer você se lembrar de seu objetivo.
     -Isso não será necessário. - Hiroshi apertava as unhas nas mãos, tentando conter a raiva.
     -Ótimo. Assim você me poupa. Vou ficar de olho em você. E isso significa que tudo que fizer eu estarei acompanhando de perto. Ah, e antes que eu me esqueça: você está de castigo por causa do beijo. Uma semana sem comida é o suficiente para você pensar se ela vale todo esse seu esforço.
     O silêncio tomou conta do apartamento, e Hiroshi, percebeu que estava sozinho. Ligou as luzes e, deitando no sofá, pensou em tudo que havia escutado. Seu objetivo já deveria ter sido realizado, mas desde o começo sabia que não seria nada fácil. E as coisas estavam ficando cada vez mais complicadas.
     Não havia como voltar, seu caminho estava traçado. Sentindo que uma enxaqueca estava chegando. Hiroshi fechou os olhos para dormir. E teve sonhos com Mari.
    
                                                     *